Acordei no País dos sonhos
Percorri léguas e léguas de caminhos esconsos
Ou de amplas autoestradas
Para me encontrar frente a um espelho
Num palácio abandonado
Este espelho é a porta de entrada
Dos que permaneceram no limbo
Para o tal Reino, onde sonhar
Significa a Vida e viver
Só representa a necessidade
Contingente da jornada
O sócio desta sociedade
Ultra secreta não precisa
De senha ou sinal para
Reconhecer seus pares
Caminhando ou vogando
Por rios serenos entre sedas
Ondeantes ao vento
- Mas a morte, a morte que nos espera
E sempre nos alcança?
Onde pára ela?
- Ela caminha ao nosso lado
Sem receio. Nós sabemos
Que ela é Rainha
E não a repudiamos
Viver em sonho e caminhar
Por suas veredas é distinção
De poetas. Eles comunicam
Fraternamente a seus pares
As rotas que tomaram,
As paisagens por onde passaram,
As histórias que ouviram
Para eles, dizer a verdade não custa
As mentiras que possam dizer
Não o são para os outros irmãos
Todos descodificam fórmulas
Ou sortilégios, são línguas
Correntes, banais
Se alguma vez acordam
Precisam logo de retomar
A onírica estrada,
Seja por que meio for
A realidade do real é-lhes fatal
Definham, acorrentados
Às medíocres rotinas
São aves ou peixes
Embora aparentem pertencer
À espécie humana
Mergulham na profundeza
Dos mares, ou planam
Muitos metros acima do solo
Ou talvez sejam outra
Espécie em gestação
A que substituirá
Mulheres e homens
Comuns de hoje;
Não sabemos
No meio do ruído
Das multidões
Estão silenciosos
E quando poderosos
Pretendem prestar-lhes
Homenagem, erguem
Estátuas e monumentos
Mas não leem sua poesia.