terça-feira, 28 de novembro de 2017

CAMPANHA CONTRA A RÚSSIA ASSEMELHA-SE ÀS CAMPANHAS DE REGIMES FASCISTAS

Não só a célebre frase de Karl Marx de que «na História, as tragédias se repetem como farsas» é adequada ao contexto presente, mas chega a impressionar pela sua justeza.
Com efeito, o processo típico das ditaduras fascistas, da identificação do «inimigo»,  como sendo o comunismo ou os «vermelhos», como pretexto conveniente para desviar a atenção das massas, foi retirado do armário bafiento do MacCartismo... mas desta vez para «justificar» a completa falência da política, da diplomacia e até do uso da força pelo Império.

Os neocons, dominando grande parte do complexo de «espionagem-militar-industrial», viram que o logro do «islamismo radical» já não pegava, que a história do ISIL= ISIS=EI estava basicamente desmascarada. Foi a partir daí que começaram a socorrer-se do velho reflexo «anti-Rússia» criado e acarinhado durante as décadas de guerra-fria, em que a Rússia (soviética, claro) representava o «mal», o «inimigo». 

Poucas pessoas - no Ocidente - têm a coragem de dizer as coisas tal como elas são, um dos quais é o autor do blog «The Saker», outro o Dr. Paul Craig Roberts
Nem um nem outro, são ou foram jamais o que se poderá classificar como «esquerdistas» ou «de esquerda»; são conservadores e afirmam-no sem disfarce. 
Mas esta sua posição de denúncia da guerra de propaganda que - em geral - antecede uma guerra a quente, deveria ser escutada, pelas pessoas de todos os quadrantes, com a máxima atenção... 

Encontram-se na propaganda actual muitos traços típicos da propaganda de Hitler e de seus congéneres: esta propaganda era criminosa, sabemos nós, com efeitos devastadores. 
O tomar uma etnia inteira, uma nação, como «culpada» do mal, deslegitimar sistematicamente actos democráticos como a votação para retorno à Rússia da Crimeia (província russa, desde o século XVIII, tendo sido «dada» à Ucrânia, um dos Estados da URSS, por Nikita Krutchov, num acto perfeitamente arbitrário, em 1954) e ainda por cima usá-los como pretexto para um cerco e um bloqueio são acções propriamente de regimes fascistas. Mas não são menos a repressão do movimento democrático de independência da Catalunha, pelo governo de Madrid. Isso, não só não fez pestanejar a oligarquia de Bruxelas, como até mereceu os mais rasgados elogios destes e dos seus homólogos da UE! 
Atribuir os males, os falhanços nacionais à «conspiração» pró-russa, foi o meio que a oligarquia encontrou para aligeirar e distrair o eleitorado das pesadas responsabilidades de Hillary, no governo de Obama, o qual foi o mais belicoso presidente dos EUA de que há memória, por detrás do discurso de bem-sonante «pacifismo» (suficiente (!) para justificar um Nobel da Paz). Muitos consideravam que Hitler era o salvador da paz, após a conferência de Munique, pouco antes do mesmo ordenar a invasão da Polónia, que deu início à IIª Guerra Mundial.
As atitudes hostis por parte da NATO ou de forças dos EUA são quotidianas, mas têm a protegê-las um ecrã de fumo de propaganda, que não permite ao grosso das pessoas ver a realidade. As provocações junto das fronteiras russas são constantes e quotidianas. 
Fazem exercícios extremamente agressivos, tanto nestas fronteiras, como nas do seu aliado, a China.  Esperam que exista um deslize, uma falha, um erro, técnico ou humano: são abutres que esperam apenas por isso para a grande carnificina... e tudo isto, porquê?
Porque já estão esgotados os recursos para manter em funcionamento o capitalismo mais predador e mais ineficaz que jamais existiu. Cedo ou tarde, sem uma guerra mundial, os oprimidos irão exigir que a oligarquia preste contas: como eles não poderão mais proteger-se com as costumeiras mentiras, terão de inventar (antes que isso aconteça) uma monstruosa operação de falsa bandeira, mais monstruosa que a de 11 de Setembro de 2001.
É importante que as pessoas mais esclarecidas esclareçam as outras e ajudem assim a tornar a cidadania mais lúcida, em especial nos países onde estão situados os centros de decisão de onde têm partido as provocações com vista a acções belicistas.



segunda-feira, 27 de novembro de 2017

EDOUARD HONORÉ GANDON, PINTOR LUSO-FRANCÊS DO SÉCULO XX

Há alguns anos, construí um blog inteiramente dedicado à obra do meu tio-avô, o pintor Edouard Honoré Gandon

Os quadros reproduzidos abaixo são uma pequena amostra da sua arte. Foram pintados por volta de 1960, pertencem portanto à fase mais tardia da sua produção. 
Tal como outras obras, pode apreciá-las no citado blog, onde coloquei uma breve biografia «In Memoriam E. H. Gandon».



Pai, Luíz Manuel P. Monteiro Baptista

                                              
                                                   Eu, Manuel Banet M. Baptista


                                                    Mãe, Georgette Banet M. Baptista


                                                Avó materna, Marie Louise Gandon Banet


                                                 Avó paterna, Júlia P. Monteiro Baptista

                       Tio-avô, Edouard Honoré Gandon

Penso que vale a pena explorar o museu virtual que é o meu site do pintor Edouard Honoré Gandon
Ele foi notável na fidelidade ao seu próprio estilo, à sua própria maneira de pintar. 
Manteve-se completamente alheio às diversas vanguardas do século XX. 
A sua obra, mal conhecida e pouco divulgada, é porém a de um observador sensível da natureza e dos homens.  

Todas as informações sobre obras suas serão bem vindas. 

O sobrinho-neto
Manuel Banet Baptista

domingo, 26 de novembro de 2017

PLASTICIDADE CEREBRAL


Este documentário mostra como as propriedades de plasticidade do cérebro estavam sub-avaliadas pela ciência. 
Os primeiros passos desta nova visão da natureza e funcionamento do cérebro são revolucionários.
Se este conteúdo fosse profundamente compreendido pelas mais diversas pessoas, seria - não apenas uma mudança de paradigma nas ciências do cérebro, o que já está ocorrendo - uma mudança geral, na filosofia, na educação, em todos os domínios da vida humana.

sábado, 25 de novembro de 2017

[OBRAS DE MANUEL BANET] TRATADO DOS MISTÉRIOS*






o vazio

       infinito, infinitesimal
des – existência, potência
       paradoxos a-topológicos
intemporais
       circunscritos à medida
de todas as coisas
       que no universo vogam
entre espaços irreais
       o vazio está   ausente
a sua objectividade é
       uma perfeita negação
através dos percursos
       incontornáveis dos corpos
extensíveis ao infinito
       mas a física diz-te
que só o vazio proporciona
       à matéria transformar
       potência em acto
       libertando a energia que perdura
       no movimento
       dos corpos materiais
diz-te afinal que a trama
espacial-temporal está
tecida de matéria e de energia
que o próprio curso
do universo é expandir-se
ritmicamente no fluxar
através do vazio
transportando-se mais além
acima e abaixo
em todas as dimensões
e a todos os instantes
não! um corpo jamais
pode fazer o mínimo movimento
sem que o vazio
o permita   sua trajectória
é tão determinada
pela massa própria
pela massa dos restantes
corpos do universo
como pelo vazio
                circundante, envolvente
que define os corpos
sinta-se o braço
movendo-se na água
veja-se a fluidez
de uma interface
em que se interpenetram
as propriedades opostas
o duro e o mole
o veloz e o lento
o longo e o curto
o pequeno e o grande
tudo enfim que faça
parte do grupo
de conceitos bipolares
a absurda relatividade
do binómio matéria / energia
é tributária
da validação do vazio
este, verdadeiramente
une o positivo e
o negativo
o quente e o frio
sinal espiralar
das superfícies de Moebius
o facto de ser indizível
é uma barreira que pode
ser transposta no magno
mistério da abstracção.

como sonhos nos viriam
à memória se não
houvesse vazio
no intervalo dos neurónios
na rede das sinapses
dendrites e axónios
que penetram
a nossa substância
como se moveria
a ave no céu
e a nuvem caminharia
silenciosa
tranquila e sombria
ao sabor dos ventos
e do sol
e dentro de cada
nível quântico
entre duas configurações
energeticamente
distintas   a física
interdita todo o intermediário
e entre passado e futuro
a extensão passa para
limite   como presente
que o fluxo anula
para percorrer a via
do grande rio do tempo
        e a onda
associada á partícula
voga de ponto em ponto
por esse universo afora
até perfazer a circum-navegação
da sua curvatura

o vazio, portanto
enforma todos os corpos
dotados de substância
material de energia interna
de movimento e de vibração
a eles nos vamos
agora dirigir...

  



      a energia


é a condensação inicial
da energia do universo
num ponto encerrando
o todo e, para além
do qual, a extensão
se perde
quando a expansão
se deu a energia
foi decrescendo como
o quadrado da distância
até atingir o limite
do frio e do
congelar da luz
         irradia
em ondas infinitas
incansáveis caminhantes
dos espaços
à constante velocidade
da luz, mas cujo
comprimento de onda
é variável.
           
assim, da energia
em acto, emerge
o novo estádio
no processo de maturação
do universo
é no duplo sentido
potencial e actual
que te direi que
a energia se deve compreender
pois, nos diz a segunda lei
que um decréscimo
de energia livre
dispersa em entropia
uma parte de energia interna

se um movimento
se pode decompor
através das mudanças de estado
é porque existe uma diferença
de potencial
em termos formais
é o somatório dos vectores
energia potencial, trabalho
e entropia
e se o estado estacionário
se pode manter
num certo intervalo
de flutuação
é porque supera
o ruído de fundo

se em todo o universo
a energia total
fosse inconstante
de que servira apelar
para um equilíbrio estacionário
todos os valores
teriam a base modificada
constantemente
pela variação da matriz
espacial- temporal
a primeira lei diz-nos
que a energia total
num universo isolado
se mantém constante
embora se transforme
ou se converta
em diferentes formas
de energia
calorífica - cinética - potencial

mas essa energia
é conversível e poderá
ser convertida
em matéria
já que o quadrado
da velocidade da luz
é igual
à energia
e= MC²
porém o fotão é imaterial
eterno não será
porque em matéria
se pode converter
mas a onda associada
à partícula não se pode
delimitar e se irradia
constantemente.


       compreendemos que
a energia do fotão
seja igual ao produto da constante
de Planck pelo quociente
da velocidade fotónica
sobre o seu comprimento de onda




a matéria

mas a matéria consubstancia-se
em partículas
átomos
moléculas
em galáxias
e nebulosas
que vemos no céu límpido
de noite no hemisfério austral
a matéria está
associada á energia
que lhe permite
fazer uma ligação
entre duas partículas
dois átomos e
construir os níveis
molecular, macroscópico
e universal
pois a matéria
se associa e se dissocia
em todo o conjunto de corpos
que se queira
          e quando se anula
é para libertar
a energia que encerra
o fluir dos átomos
cria o espaço
e o tempo
e as suas trajectórias
são desviadas por forma
aleatória criando um
‘clinamen’, ou seja,
uma via divergente
o percurso acidentado
dos átomos permite-lhes
estabelecer encontros
e ligações entre si
que nós vemos
se complexificar
em proporção
do tempo decorrido
e os diferentes componentes
da matéria são construídos
em níveis sucessivos de complexidade
as coisas que se apresentam
aos olhos ou que se podem pesar
têm uma consistência material
segundo a nossa visão
mais comum
o átomo tem certos orbitais
disponíveis para estabelecer
e manter uma ligação
é por isso que podes
ver os objectos
com uma espessura
e com uma definida forma
essa organização
tem subjacente
a organização molecular
e atómica
as características
mais relevantes
na passagem
do microscópico
ao visível a olho nu
são
a densidade e a massa atómica
para que a matéria se possa
experimentar temos que
estabelecer uma forma
de avaliar as componentes
do sistema
o princípio da incerteza
dá-nos a desigualdade
fundamental
que nos proíbe
de aumentar a precisão
do momento de uma partícula
e determinar
com igual precisão
a sua energia potencial
nesse mesmo instante


 o espaço

no espaço se movem
os objectos e por estes
se delimita o espaço
não se pode medir
o espaço na ausência
de referente
a posição do observador
influi na sua visão do espaço
existe uma relatividade
que está associada aos
movimentos respectivos
dos objectos e do observador
se este se afasta
a velocidade próxima da
da luz dá-se uma contração
do espaço / tempo
os valores da medição de uma trajectória
no espaço
dependem
das coordenadas que se escolhe
para se avaliar
uma trajectória
é necessário definir
quais as dimensões do espaço
o espaço (euclidiano) a três dimensões
que usamos na nossa percepção
do mundo é apenas um dos espaços
possíveis
em que espaço se encontra
a anti-matéria?
   como conceber a forma
quadridimensional do continuum
espacial - temporal?
apenas em equações
podemos representar
adequadamente
um grande número de dimensões
pois se a reduzirmos
de uma dimensão
a descrição do movimento
perde precisão numa variável
uma dançarina
pode ser filmada
mas o filme projectado
não dá uma das dimensões senão
por ilusão de óptica
e não nos deixamos enganar
se pudermos observar
de lado, o écran
para nós é também evidente
que o sentido do fluxo
temporal é irreversível
pois um filme
passado o fim para o princípio
dá uma sequência
contraditória
com a nossa experiência
e não se pode
em física experimental
inverter impunemente
o sentido de uma qualquer
grandeza
e uma dessas grandezas
é o ...


          tempo


            ... é um conceito
de muito difícil compreensão
podemos falar do presente
mas este não é mais que um limite
entre o que já foi e
o que ainda não existe
...................................

o movimento

existe movimento
existe, porque há vazio
e porque há energia
a desprender-se
dos corpos
materiais




a vida


a vida está em todo o universo
o universo é um ser vivo e como tal
pode ser compreendido   não existe sentido
para a palavra vida se ela não for
entendida como uma grande lei do universo

as formas que convencionámos designar “vivas”
são fracções do grande organismo único

encerram as propriedades que as ligam
ao todo   e que são:  a ordem,
a eternidade, a transformação

a ordem    porque emergem como regularidades
e fluxos direcionais, gradientes e ritmos

a eternidade, porque derivam de formas
ancestrais que por sua vez derivam de
agregados moleculares eles próprios
tributários de arranjos específicos dos átomos
e assim sucessivamente

a transformação, porque não
 só contrariam
a tendência para a desorganização
refazendo constantemente as peças
com que são construídos, como
têm em si próprios a potencialidade
de aproveitar ocorrências ocasionais
para transformar suas estruturas

a sua continuidade só é mantida
pelas inovações que se vão introduzindo
adaptando-se às novas condições
do meio ambiente
corrigindo desequilíbrios
como funâmbulos que compensam
as oscilações da corda sobre a qual
se deslocam à custa de oscilações
compensadoras do seu corpo
e da vara
que seguram nas mãos

as formas mantêm o domínio
de si próprias
pelas leis internas que
resultam da sua complexidade
organizacional

o seu funcionamento permite-lhes
filtrar do exterior
aquilo que lhes traz
maior capacidade de resposta
conferindo-lhes autonomia

a autonomia consiste
em poder distinguir
o que lhes é próprio
do que lhes é estranho
tolerar variações ambientais
por vezes bruscas
graças a fronteiras
que estabelecem com o mundo
exterior
incorporar activamente
matéria, energia e informação
desse “não eu”
e transformar as zonas
que os circundam
por processos activos de trocas
de buscas
de construção paciente dos seus territórios
estabelecendo uma rede
densa de alianças
com outros seres
contribuindo para o equilíbrio
geral de todo o universo
em que estão inseridos

as leis gerais da Physis aplicam-se
aos seres vivos, sem exceção
no entanto, sobre essas leis
os viventes estabelecem
um controlo que lhes permite
superar os turbilhões
desintegradores das forças cegas
do espaço e do tempo
da matéria e da energia

o seu processo é análogo
ao de um homem que desce
o curso de um rio impetuoso
numa canoa, sujeito à força
avassaladora da corrente
mas guardando a direcção desejada
por pequenas remadelas
que compensam as turbulências

no final, acaba por deixar
virar o seu frágil esquife
quer porque está demasiado
cansado e perde os reflexos
salutares, quer porque
um redemoinho demasiado forte
se apodera inesperadamente
do barco e o engole 

[* escrito em 1985-86]

sexta-feira, 24 de novembro de 2017

ESTE PAÍS, DE RELAÇÕES INCESTUOSAS GENERALIZADAS!

                           

Escritório de advogados de José Luís Arnaut faturou 406 mil euros com a REN*, onde é administrador

...
(*) « faturação da CMS Rui Pena & Arnaut à REN ultrapassou todo o montante que a sociedade de advogados conseguiu em 2016 (87 mil euros) e em 2015 (82 mil euros).»
...

Sabe-se que, em Portugal, é generalizada a situação descrita.
O chamado conflito de interesses suscita polémica, escândalo, demissões, na França, EUA, Grã Bretanha, etc. (em países com os quais Portugal gosta de se identificar). Mas, na verdade, aqui ... «não é problema»!

Aqui, a ética é uma para os desapossados e outra para os poderosos... por quanto tempo????

quinta-feira, 23 de novembro de 2017

A FLAUTA MÁGICA [excertos e comentários]

                                 


A«Flauta Mágica» é muito exigente no plano musical, necessita de: 
- Um grande rigor e clareza de articulação, que ajudem a compreender as palavras do texto, coisa que me parece sempre desejável. 
- No plano instrumental, a interpretação deve ser igual ao valor dos cantores. Desde a Abertura até cada ária acompanhada,  tudo deve ser servido por uma excelente orquestra.

Mozart merece o melhor. Pela minha parte, não me canso de prestar ouvido atento às suas composições: Ao seu excelente sentido melódico, aliado de uma grande frescura expressiva! O seu sentido do humor e uma densidade humana inegável... enfim, um montão de qualidades. 
Porém, há certamente razões pessoais para eu ter uma adoração especial pela «Flauta Mágica», maior que qualquer outra obra, por mais genial que seja.
Esta obra, por sinal, é inesgotável: sim, podemos relacioná-la com uma simbologia maçónica, apenas velada; sim, podemos dizer que está na origem da ópera germânica propriamente dita; e sim, esta obra pode ser lida a vários níveis. Mas é inesgotável, podemos ouvi-la sempre com prazer!

Sempre me acompanhou, na minha vida: posso dizer que constitui um «refúgio»... mas refúgio de quê? - Da fealdade e da estupidez...
... Retemperado pelos acordes solenes ou esfuziantes da «Zauberflöte», fico em muito melhor condição para os «monstros» que tenho de enfrentar, às vezes ! 

quarta-feira, 22 de novembro de 2017

GUERRA NUCLEAR POR ACIDENTE?


                                

A escalada de tensões entre potências nucleares, levada a cabo, essencialmente, pelos Estados Unidos, com a cumplicidade ou -pelo menos- a complacência dos seus aliados na NATO, é propriamente uma política suicida. 
A prová-lo estão numerosos relatórios, alguns dos quais vindos da Grã-Bretanha, fiel aliada dos EUA, que mostram que uma guerra nuclear, mesmo entre potências secundárias como o Paquistão e a Índia, causaria milhões de mortos diretos e indiretos, estes últimos por rutura dos recursos alimentares em consequência do arrefecimento brusco causado pela emissão de grande quantidade de partículas, que ficariam em suspensão na atmosfera interferindo com a luz solar (inverno nuclear). Claro que num cenário entre os EUA e a Rússia, ou entre os EUA e a China, os resultados ainda seriam mais catastróficos.
A proliferação de armamento nuclear, veja-se o caso mais recente da Coreia do Norte, é decorrente da atitude de bullying de uma super-potência, neste caso os EUA, que estão constantemente a ameaçar (e/ou efetivar) com agressão militar os Estados que não se conformem com a sua hegemonia.
Esta política dá efectivamente alento para estes países, decretados «Estados párias», se munirem da arma nuclear, pois ela funciona como salvaguarda ou dissuasora contra as ambições imperialistas. 
Porém, abandonou-se a política oficial de tentar uma redução e progressiva eliminação de armas nucleares, que foi a doutrina oficial, da ex-URSS e dos EUA, nos anos setenta e oitenta do século passado. Esta doutrina e os tratados de redução de armamentos estratégicos, com toda a série de protocolos destinados a evitar uma guerra «acidental» entre super potências, foram sendo postos em causa, um a um, no presente século. 
É preciso que as pessoas tenham consciência que esta mudança de cento e oitenta graus, na política dos EUA, não foi o resultado de um movimento de massas, duma mudança da opinião pública, ou mesmo, nos principais partidos políticos, no seu conjunto.  

Esta mudança - com potencial catastrófico - deveu-se a um grupo obscuro chamado «Neo-Cons», que advoga no seu documento fundador PNAC ( projeto para um novo século americano, 1997) exatamente todas as políticas que vêm sendo seguidas desde o início do século XXI. 
Isto não pode ser coincidência, tanto mais que este grupo tem peões seus em vários sectores da administração, qualquer que seja o «partido» no poder (Noam Chomsky costuma dizer, nas suas entrevistas, que o poder, nos EUA, é de um partido único, com duas alas, a democrata e a republicana). 
Os neocons conseguiram capturar alavancas essenciais da administração, mormente nos sectores da defesa, espionagem (CIA, NSA, etc.) e diplomacia (ex.: Victoria Nulan, que promoveu o golpe na Ucrânia, com o pleno acordo de Obama).

O clima de suspeição e de constante bullying às potências nucleares menores, ou com capacidade de se tornarem nucleares a breve trecho, não apenas vem contrariar a doutrina da não proliferação de armas nucleares e de destruição massiva, adotada pela ONU e pelos Estados que têm assento permanente no Conselho de Segurança, vem também aumentar a probabilidade de «guerra nuclear por engano», ao fazer subir a tensão a níveis nunca antes vistos, mesmo no auge da guerra-fria, no início dos anos 60, aquando da crise dos mísseis de Cuba.

Se não houver uma inflexão política entre os aliados da NATO, limitando e depois eliminando a influência desta tenebrosa máfia dos «neocons» nas administrações dos EUA, sejam elas democratas ou republicanas, o mundo continuará à beira da destruição. 
Como indicam muitos relatórios oficiais sobre questões de defesa, a probabilidade de uma tal ocorrência é maior envolvendo pequenas potências nucleares e/ou por um encadeamento de falhas, de acidentes infelizes, nos dispositivos de controlo, do que num cenário onde as principais potências se confrontam diretamente e acabam por recorrer às armas nucleares, na sequência de uma escalada bélica.

As pessoas de boa vontade, que lutam pela transformação das políticas no sentido de uma proteção do ambiente, preocupadas com o efeito de estufa antropogénico (não irei discutir aqui se ele é, ou não, tão grave como advogam, apenas me refiro à mobilização que este tema desencadeia) deveriam pensar que, sem segurança global, sem eliminação metódica e controlada dos armamentos de destruição massiva, todo o futuro do planeta, da espécie humana, está posto em causa. 
Assim sendo, que sentido tem não fazerem com que todo o peso das campanhas de opinião e de movimentações de massas se oriente para a urgente tarefa de desativar o perigo de uma guerra nuclear?
Não serão eles cúmplices, por estarem objetivamente a dar campo aos que advogam e produzem um retorno às políticas de «guerra fria»? 
A política, seja em que domínio for, mede-se pelas prioridades que se dá: é escrutinando essas prioridades que se consegue conhecer as verdadeiras intenções. 
Eu, sinceramente, já não acredito na sinceridade de certos ecologistas, os que advogam a mudança para um modo de viver saudável, a redução da «pegada de carbono», etc.,  mas que não se emocionam, não fazem nada, viram a cara e assobiam, quando se coloca a questão da guerra e da paz, dos esforços que têm de partir da cidadania para pressionar governos a mudar o rumo de suas políticas. 

Também bastante ridículos me parecem os que se dizem radicais anti-autoritários, que não aceitam entrar em coligações (sem dúvida limitadas, mas efetivas) com outros, com genuína boa-vontade, para erguer um poderoso movimento pacifista. Com efeito, mesmo que não existissem armas nucleares e que a ameaça de destruição global não se colocasse, o facto é que os sistemas de organização de guerras, de militarismo, de exércitos, tanto para flagelar os exércitos inimigos, como populações indefesas, incluindo as próprias, sempre foram o essencial  do autoritarismo.

O fracasso ou a não-priorização dos ecologistas e dos anti-autoritários, com outros grupos e tendências, para erguerem um sólido movimento pacifista, é a maior falha que aquelas correntes exibem. É com imensa tristeza que verifico esta situação, muito ao contrário das tradições e dos valores próprios das referidas correntes.