A IIIª Guerra Mundial tem sido, desde o início, guerra híbrida e assimétrica, com componentes económicas, de subversão, desestabilização e lavagens ao cérebro, além das operações propriamente militares. Este cenário era bem visível, desde a guerra na Síria para derrubar Assad, ou mesmo, antes disso.
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segunda-feira, 17 de dezembro de 2018

NUM CONTEXTO DE CRISE, O OURO SERÁ DE NOVO MONETIZADO

Durante cerca de 5000 anos, o ouro e a prata foram usados como metais monetários. Além disso, também eram usados em joalharia. 
O único período em que os metais ouro e prata foram desmonetizados corresponde à janela estreita temporal, em termos históricos: desde que Nixon, em 1971, decidiu unilateralmente  e «provisoriamente» cancelar a convertibilidade do dólar em ouro, conforme constava dos acordos de Bretton Woods (1944)... até hoje! 
Num intervalo de tempo de mais de 40 anos, o ouro (e a prata) tem sido relegado ao papel de matéria-prima. Curiosamente, neste mesmo espaço de tempo largo, o ouro tem-se comportado como o melhor investimento, ultrapassando os índices de acções (Dow Jones, Nasdaq, etc...). Além disso, o dólar está constantemente a desvalorizar-se em relação ao ouro: estava a 35 dólares a onça de ouro, em 1971; agora, ronda os 1250 dólares.

Aproxima-se uma outra grande crise que, segundo muitos analistas dos mercados, fará com que a crise de 2008 se pareça com «um passeio no parque», não apenas em termos de destruição de capital, como de vidas e de capacidades produtivas... 
Os grandes bancos e os fundos que gerem as fortunas dos bilionários, já se estão - há muito tempo - a precaver, comprando ouro o mais barato possível, em grandes quantidades. 
Os bancos centrais, sobretudo dos países do Oriente, estão a fazer o mesmo. 

                  

               

O BIS (o banco internacional que funciona como entidade reguladora da actividade dos bancos centrais no mundo inteiro) já tinha instaurado de novo o papel do ouro, através das regras ditas de «Basel III» (O referido BIS tem sede em Basel = Basileia, na Suíça).


    Gold: Zero-Risk Monetary Asset | Bank of International Settlements

Mas, para que os grandes bancos possam adaptar-se a essas regras, elas são postas em prática 6-7 anos após terem sido acordadas. Basel III está plenamente em vigor a partir de 1 de Janeiro de 2019. 

Com estas novas regras, o ouro é de novo monetizado, em certa medida, visto que passará a poder ser parte das reservas próprias dos bancos, ao mesmo nível que obrigações do tesouro (treasury bonds) e dinheiro líquido (cash), o que se designa por «Tier 1» ou seja, activos com risco zero (1) ... 
Num sistema em que os bancos podem emprestar apenas numa certa percentagem dos activos que possuem em reserva, a inclusão do ouro nestes activos, contabilizado para esse fim, terá - com certeza - efeitos a longo prazo, tanto no comportamento dos bancos em relação ao ouro, como na própria cotação do ouro, que deverá subir consideravelmente.

Não se admirem que estes factos não estejam nas primeiras páginas dos jornais económicos: sem essa discrição, os bancos e negócios teriam de pagar muito mais caro pelo ouro.  

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quarta-feira, 8 de agosto de 2018

A POLÍTICA DE SANÇÕES, UM SINTOMA CLARO DA PERDA DE INFLUÊNCIA

                           Resultado de imagem para iran sanctions 2018


Quando é preciso exercer pressão, ameaçar, fazer guerra económica, isso significa que a liderança de um país não tem mais capacidade de provocar a adesão dos aliados e o respeito dos adversários.
As sanções unilaterais que Washington tem promovido como forma de impor a sua vontade, embora as apresente com o pretexto falacioso de que o faz para «punir» actos supostamente contra os direitos humanos das populações, são a maior evidência da decadência dos EUA e da complexa rede de dependências económicas, políticas, institucionais e militares que se tem auto-designado por «Ocidente». 
Os impérios são mortais, como a História o tem mostrado repetidamente. 

Está-se num ponto de transição em relação a todo um conjunto de parâmetros...

- Moeda de reserva: O dólar foi - desde Bretton Woods em 1944 - erigido em moeda de reserva, tendo mantido a sua paridade ao ouro (35 dólares por uma onça de ouro) até Nixon despegar o dólar desse compromisso, em 1971. A partir deste momento, todo o sistema monetário internacional entrou numa espiral de inflação e instabilidade. A conservação artificial dos diversos países no sistema dólar foi obtida graças ao acordo com a Arábia Saudita, conseguido por Kissinger em 1973, segundo o qual os EUA iriam sempre defender o regime saudita, enquanto este exigisse que seu petróleo fosse pago em dólares. Sendo a Arábia Saudita, nessa data (1973), o mais importante país exportador de petróleo da OPEP, todos os outros fizeram o mesmo; só aceitaram dólares em pagamento do seu petróleo.
O petrodólar está a perder a proeminência, pois vários países exportadores estão explicitamente a estabelecer contratos em que o petróleo (ou o gás) já não é pago em dólares: caso da Rússia, especialmente, com seus gigantescos contratos com a China. Mas também é o caso do Irão, da Venezuela, de Angola e mesmo do Catar. 
Não tarda muito que a própria Arábia Saudita aceite os yuan em pagamento de petróleo. A China é o maior comprador do petróleo saudita e instituiu recentemente um sistema «petro-yuan», em que as notas de crédito emitidas em yuan podem ser convertidas em ouro, no mercado de Xangai. A Rússia e o Irão, utilizando o referido petro-yuan, têm aumentado suas compras de ouro ou de produtos chineses. 

- Armamento: A superioridade dos sistemas de mísseis russos é tal que, a Turquia e a Arábia Saudita, aliados tradicionais dos EUA, preferiram adquirir SS-300, aos equivalentes americanos.
 Por outro lado, a Rússia com um orçamento militar muito menor que o dos EUA, consegue modernizar e tornar operacionais todos os ramos das suas forças armadas, depois destes terem sofrido, durante a década de 90. 
A colaboração entre a China e a Rússia vai potenciar os sistemas de defesa de ambos. Por exemplo, a detecção precoce e resposta adequada a um ataque surpresa, na China, beneficia dum melhor desempenho, em relação a quaisquer outras potências,  devido à sua rede instalada de supercomputadores.
Além disso, os armamentos russos mostraram sua eficácia recentemente, na guerra na Síria. A superioridade de tais armas impressionou de tal maneira generais dos EUA e da NATO, que estes aconselharam maior prudência ao presidente.

-A perda de aliados: Em pouco tempo, vários países «emergentes» começaram a descolar da vassalagem em relação aos EUA e a fazerem acordos de cooperação militar (as Filipinas com a China, por exemplo), de investimento em infraestruturas, etc. É o caso dos mais de  60 países envolvidos na «Belt and Road Iniciative». É ainda o caso de numerosos países africanos, que têm feito acordos mutuamente  vantajosos, podendo ficar com portos, caminhos de ferro, etc. a troco de suas matérias-primas...
Mas o mais grave ainda, é a discordância que pode chegar a uma completa desautorização pelos parceiros da NATO. Nomeadamente, apesar da admoestação e ameaças de Trump, os alemães prosseguem com o projecto «Nord Stream 2», em parceria com a Rússia, negando-se a aceitar quaisquer sanções. Além deles, muitas outras vozes europeias vêm clamando pelo fim das sanções contra este país.

- Recuo da globalização: Embora explicitamente desejada pelo actual ocupante da Casa Branca, a retirada de vários acordos  em instâncias da globalização, traduz-se por perda de influência. São os casos da retirada, ou desistência, dos acordos TPP e TTIP, assim como as exigências de renegociação do NAFTA, a  possibilidade de saída da OMC ou de organismos especializados da ONU... tudo isto contraria o poderio dum Império que se vê na liderança do Mundo globalizado. 

                          Resultado de imagem para iran sanctions 2018

- A retirada dos EUA do acordo multi-partido com o Irão trouxe ao de cima uma contradição flagrante entre a vontade do poder dominante e dos seus aliados/vassalos europeus. Estes, além do aprovisionamento em petróleo e gás, estão muito empenhados em estabelecer contratos de todo o tipo, desde obras públicas à aeronáutica, com o Irão.

- A utilização da arma das sanções é apenas eficaz se os países se vergarem, se submeterem. Pois, se não se sentirem intimidados, a ameaça surge apenas como forma brutal de pressão, como injustiça feita em primeiro lugar aos povos, não aos líderes dos países sancionados. 
Quando as sanções são unilaterais, quando são decididas ilegalmente e à revelia da ONU, apenas têm um efeito de intimidação, mas não chegam a ser eficazes, logo à partida. 
De certeza que os EUA sabem isso, visto que experimentaram esta situação com suas sanções contra Cuba, que perduraram cerca de 50 anos! No final, tiveram de as levantar; tinham-se tornado um anacronismo grotesco.

Sendo esta política internacional o equivalente do proverbial «pau», sem a «cenoura» para amenizar,  amigos e inimigos concluem que é melhor reforçar laços com outros, diversificar as parcerias: ficar exclusivamente na órbita de Washington, só traz limitações e não resulta em vantagens de qualquer espécie. 
Longe vão os dias em que os EUA eram vistos - por alguns - como sinónimo de segurança e desenvolvimento!

quinta-feira, 5 de abril de 2018

AS CONTRA-SANÇÕES CHINESAS ÀS AMERICANAS «SÃO A DOER»!

                               

Impressiona a futilidade de impor tarifas punitivas contra a China, numa escalada sem precedentes de guerra comercial dos EUA contra a economia que a fornece de muito o que eles precisam.
A retaliação da China não se fez esperar: subiram as suas taxas alfandegárias para 25%, em produtos  muito críticos para a economia dos EUA: soja, automóveis e produtos químicos. 
O impacto directo destas tarifas sobre estes sectores será grande, sem dúvida nenhuma. Mas o impacto indirecto, ou seja, sobre os mercados bolsistas dos EUA, não é de menosprezar. O efeito sobre os negócios, sobre as empresas e, em última instância, sobre os cidadãos, pela subida mais acentuada da inflação, vai fazer com que os EUA sejam os perdedores desta guerra comercial. 
Para cúmulo, o Yuan tem vindo a aumentar paulatinamente desde a desvalorização em Agosto de 2015 que, na altura, causou um mini-crash bolsista. Num contexto de agravamento de guerra aberta comercial, não se pode ter a mínima dúvida de que a China vai desvalorizar agressivamente o Yuan.

Num contexto geopolítico, não se pode esquecer que a China possui hoje vários parceiros estratégicos, como a Rússia e o Irão,  além de que países ocidentais, como a Alemanha, anseiam melhorar o seu comércio com o gigante asiático. 
Os seus vizinhos asiáticos, alinhados com os EUA no passado (incluindo o Japão e a Coreia do Sul) têm aprofundado laços de amizade e comércio com a China, fazendo ouvidos moucos aos apelos americanos para reforçar o «cerco»: por exemplo, a Coreia do Sul tem a China como primeiro parceiro comercial, 70% do comércio externo é com a China.

Face a tanto desplante e agressividade dos EUA, podemos adoptar dois pontos de vista: 
- ou se trata de uma manobra desesperada para juntar a si o «campo ocidental», mas sem a força e capacidade de pressão que tiveram no passado, 
- ou então, trata-se de conseguir uma transição para o mundo multi-polar, em que os EUA se obrigam a si próprios a viver com as suas capacidades produtivas, visto que as tarifas são uma medida proteccionista, permitindo que as indústrias se desenvolvam internamente ao abrigo dos concorrentes internacionais, permitindo que a capacidade industrial perdida seja restaurada. 

Em todo o caso, o «século americano», iniciado com Bretton Woods em 1944 nos finais da Segunda Guerra Mundial está, senão encerrado, no seu último capítulo.

sexta-feira, 5 de janeiro de 2018

CRIPTOMANIA: INSUFLADA PELOS BANCOS CENTRAIS ?

Pode parecer extravagante a hipótese colocada no título, mas ela surge, contrariando a narrativa dominante, cada vez mais plausível. 
Com efeito, as criptomoedas são diabolizadas como instrumento de lavagem de dinheiros do crime, das redes terroristas, etc. ou meio de fuga ao fisco de multimilionários discretos, etc. ... 
Porém, além dos sensacionalismos mediáticos, nas salas alcatifadas dos diversos centros de poder (bancos centrais, grande banca, governos, instâncias internacionais) desenham-se estratégias e toma-se muito a sério a questão.

É que os poderosos deixaram crescer este mercado, inicialmente qualquer coisa de volume insignificante, há oito anos atrás, para volumes de capitalização total que impressionam ! Que isso tenha acontecido por terem uma visão muito «curta», parece-me ser uma interpretação completamente ingénua. 
Mais provável será estes mesmos poderes estarem atentos, para - no momento oportuno - tomarem controlo e usarem os aspetos tecnológicos que favoreçam ainda mais a centralização. Um «golpe de mestre» afinal: usarem novas criptomoedas por eles criadas e monitorizadas para efetuar a transição, para manterem sob controlo o famoso «reset» que muitos analistas veem chegar, sem dizerem, ao certo, como!

Tenho vindo a chamar a atenção dos leitores, ao longo do tempo, para as criptomoedas e o seu significado. 
Se, por um lado, me tenho mantido fora das demagogias e sensacionalismos destinados a «vender» notícias, tenho estado por outro, igualmente consciente de que, justamente é agora, nesta época, que se desenvolvem tais recursos: é no final do sistema baseado exclusivamente em moedas «fiat» (ou seja, os bancos centrais emitirem moeda sem estar garantida por algo tangível),  iniciado pelo repúdio de Bretton Woods por Nixon, em 1971.

As criptomoedas, claramente, não podem dar nenhuma garantia, enquanto estiverem fora dum mercado regulado de divisas (todas elas emitidas por Estados). Alguns Estados não querem ouvir falar de cripto- «moedas», como sendo «divisas», mas sim apenas de activos financeiros, de uma nova categoria de instrumentos financeiros. Enquanto uma moeda é um meio de troca de valor, essencialmente, já um «activo financeiro» é um meio de obtenção de lucro, potencialmente pelo menos, logo susceptível de cair debaixo da alçada do fisco.
O essencial do circuito, neste mercado de cripto divisas,  é de privado para privado; eu pago a alguém um bem ou serviço, transferindo determinada quantidade em criptomoeda do meu «porta-moedas digital» para o dessa pessoa. 
As zonas de troca das criptomoedas por divisas «clássicas» (onde se podem comprar criptomoedas com dólares, ou outras moedas «oficiais», assim como trocar criptomoedas pelo seu valor em dólares) são mais ou menos públicas, embora sejam detidas por entidades privadas, mas não são - de facto - reguladas. Não sendo (por ora, pelo menos!) sujeitas a inspecção, controle, fiscalização, regulamentação, não se podem jamais assimilar a «casas de câmbio», onde se compram e vendem divisas. 
Duas falsas certezas fizeram com que o destino do «bitcoin» e doutras congéneres fosse tão brilhante, até agora:
- o mito da absoluta segurança dos «porta-moedas», dos pontos de troca e das próprias operações de  privado para privado.
- o mito de que as operações estão completamente fora do alcance, da supervisão, do controlo e do poder de taxação dos Estados. 

Têm surgido varias notícias nestes últimos anos, desfazendo o primeiro mito, de pessoas que perderam fortunas, devido a hacking das suas criptomoedas. 
O risco é tal que, apesar de milhares por cento (!) de lucro que certos investidores terão obtido, muitos outros renunciam investir em absoluto, ou apenas arriscam uma fracção diminuta, não arriscam parte significativa dos seus portefólios.
Quanto aos bancos centrais estarem totalmente fora da jogada, é uma ideia claramente falsa: por exemplo, o BIS (o «banco central dos bancos centrais») tem dedicado imensa atenção ao nascimento e crescimento deste mercado das criptomoedas. 
Quanto aos governos (veja-se o artigo exaustivo, aqui) têm atitudes muito diversas, abordam o fenómeno de forma muito diferente: desde os que tomam uma atitude claramente repressiva, até aos que aceitam que este mercado tem potencial para ser incorporado ao sistema monetário mundial e suas entidades reguladoras (os bancos centrais).

A grande banca comercial tem necessidade absoluta de se envolver na tecnologia «blockchain». 
A blockchain pode estar descentralizada, permitindo que a rede, formada pelos computadores de muitos milhares de proprietários de criptomoeda, tenha o registo automático e anónimo de todas as transações que se efectuam no ciberespaço. 
Mas, também se pode utilizar a tecnologia blockchain de modo centralizado, mantendo o controlo de operações numa entidade única, pela qual terão de passar todos os movimentos.  
O facto é que os grandes bancos estão a apostar pesadamente nisto, com grandes despesas e muitos peritos a trabalhar exclusivamente para esse fim. Veja-se o caso da cripto moeda «Riple» recém-nascida e muito cortejada pela grande banca!

Finalmente, alguns pensam que o futuro estará numa criptomoeda associada a uma garantia ouro, ou ouro/prata,  o que permitiria que o risco de desvalorização ou sobrevalorização bruscas ficasse muito diminuído. O ideal seria uma transação segura e sem as oscilações especulativas acentuadas que se observam atualmente nas quotações das criptomoedas. 
Este nexo entre criptomoedas e valores tangíveis daria mais estabilidade e mais segurança, aparentemente, mas creio que o problema seria transferido então para outro nível: o da necessidade de uma absoluta seriedade da entidade - por hipótese, uma entidade depositária de ouro em cofres privados - encarregue de disponibilizar esse mesmo colateral-garantia, credibilizando as  operações do ciberespaço. Afinal de contas, isto seria como a função dos bancos centrais (antes da ruptura com o padrão-ouro em 1971), detendo determinadas quantidades de ouro como «moeda de último recurso» e garantindo, pela convertibilidade em ouro, o valor da divisa emitida, tal como tenho explicado em vários artigos (ver aqui e aqui, por exemplo).

Nada está definitivamente fechado, neste domínio, quer num sentido, quer noutro. 

Penso que, por enquanto, as criptomoedas apenas acrescentaram mais uma camada de especulação num mundo financeiro já largamente parasitado pelas actividades especulativas (vejam-se os grandes bancos a jogarem dinheiros dos clientes em operações com derivados, totalmente desreguladas).

Mas tenho a certeza que 2018 vai trazer aqui uma clarificação, em paralelo com uma alteração global tectónica do poder
Neste contexto, as criptomoedas são vistas por muitos como uma revolução irreversível. Muitas pessoas comparam a sua importância com outra revolução tecnológica dos anos 90 do século passado, o surgimento e a expansão da Internet.

                            


NOTAS:




1- Max Keiser:


https://www.rt.com/shows/keiser-report/414964-episode-max-keiser-1171/



2- O BIS e as criptomoedas:


https://www.bis.org/publ/qtrpdf/r_qt1709f.htm



3- Como encaram as criptomoedas:


http://www.independent.co.uk/news/business/news/bitcoin-latest-updates-central-banks-say-regulation-cryptocurrency-digital-ecb-us-federal-reserve-a8106961.html



4- Caso Riple:


https://www.forbes.com/sites/cbovaird/2018/01/03/ripple-climbs-past-3-hits-all-new-high/#28bc73067c0b



sábado, 21 de outubro de 2017

HUBRIS E ARROGÂNCIA, É O QUE RESTA AO IMPÉRIO

               

No seguimento das questões levantadas pela iniciativa da China de estabelecer contratos futuros de compra de petróleo em Yuan, o qual é convertível em ouro no Shangai Gold Exchange, há muitos analistas que descrevem isso como um ataque direto ao dólar. O dólar seria destronado do seu papel como moeda de reserva, visto que os países produtores de petróleo (principalmente, os pertencentes à OPEP) deixam de aceitar em exclusivo esta divisa. Antes, qualquer país comprador tinha de possuir dólares para adquirir esta estratégica matéria-prima. É assim que funciona há 43 anos o sistema do petrodólar, resultante das negociações entre Kissinger e a monarquia saudita. 

Porém, tal visão é muito estreita, visto que os chineses detêm um excesso de dólares (acima de um trilião) como resultado do seu comércio, altamente deficitário para os EUA. 
Provocar  a descida acentuada do dólar, sendo esta a mais importante divisa de reserva no banco central e nos bancos comerciais chineses, parece uma forma de auto-sabotagem, mais do que medida estratégica, no contexto do sistema monetário e financeiro mundial.

Além disso, o facto do dólar continuar a ser a moeda de reserva mundial, deve-se a seus detentores, estatais ou privados, assim o quererem. Enquanto assim quiserem, não importa em que divisas seja transaccionado o petróleo (ou outra matéria-prima), o dólar continuará a estar na posição de moeda de reserva mundial. 

O perigo maior para o sistema do petrodólar, vem apenas e somente da enorme arrogância e hubris do império americano. Este tem usado e abusado da situação de privilégio de ser detentor da moeda reserva mundial para impor sanções, para dificultar o comércio e sabotar países. 
O sistema de Bretton Woods só poderia ser aceitável por todos os actores ao nível mundial, se os EUA fossem capazes de refrear a tentação de usarem a sua posição especialíssima, como arma contra todos os que se rebelam e contestam a sua hegemonia.

Com efeito, nenhum país está a salvo destas medidas de guerra económica, que são o decretar unilateral de sanções, como veio recentemente provar a imposição de sanções contra a Rússia e forçando os seus aliados (vassalos) da NATO a seguirem o mesmo caminho, mesmo com enorme prejuízo para eles próprios. 

Mas a Rússia e a China são potências demasiado grandes para ficarem «debaixo da pata» de Washington. Naturalmente, têm encetado o caminho de se autonomizarem do sistema dólar, assim como do controlo do sistema «Swift», das transferências de divisas e de transações internacionais. Já criaram e funcionam com o seu sistema próprio, equivalente ao sistema Swift.

Paralelamente, a China e a Rússia vão comprando tanto ouro quanto podem, pois sabem que este sistema monetário está no fim do seu «prazo de validade». No sistema actual, as divisas são meramente símbolos, manipulados pelos bancos centrais e comerciais, sem nenhuma ligação sólida à economia real, são divisas «fiat». 
Assim, os EUA têm tido o exorbitante privilégio de obter, a troco de «pedaços de papel» ou de dígitos eletrónicos, importações de bens e serviços, sem os quais a economia dos EUA iria certamente para o colapso, visto que já deixou há muito de ter base industrial suficiente para se auto-sustentar e exportar. 
Por outras palavras, mais nenhum país no mundo tem a capacidade de se manter sucessivas décadas (!) em défice comercial. Os EUA conseguem este prodígio, porque «exportam» a sua divisa e o mundo inteiro, por enquanto, aceita  o dólar como pagamento.

O facto do Yuan estar a dar passos para seu reconhecimento, enquanto moeda de reserva não é de agora, basta pensar-se na longa batalha para que o FMI incluísse a divisa chinesa no cabaz de divisas, o SDR (cabaz composto por determinadas percentagens de dólares, libras, yens, euros e - agora - de yuans).
Os países ou agentes privados ficarão contentes em serem detentores de yuan, pois agora têm a possibilidade concreta de trocar estes yuan por ouro. 

O ouro, vale a pena recordá-lo, embora tenha sido «desmonetizado», continua a ser um metal monetário e um símbolo de riqueza e de poder, como foi durante milénios. 
De outro modo, seria absurdo e incompreensível que todos os bancos centrais possuam importantes quantidades deste metal; se fosse apenas uma matéria-prima entre outras, não haveria razão objetiva para tais instituições - exclusivamente financeiras -continuarem a deter e adquirir mais ouro. 
Nos finais da IIª Guerra Mundial, o regime de Hitler estava já claramente derrotado: ainda assim, conseguia fazer importações a troco de ouro, pois já não conseguia que os parceiros comerciais aceitassem o marco alemão.

Quando houver bastante comércio internacional em várias outras divisas, diminuindo bastante a fatia de cerca de 60% actual em dólares, as nações e as empresas já não verão como essencial possuírem esta moeda em reserva. 
É nessa altura que o dólar será abandonado como reserva «oficiosa», pois toda a gente sabe que o dólar - desde 1971 - já não está garantido por nada de sólido. Antes, mantinha a sua convertibilidade em ouro, o que resultava do acordo de Bretton Woods
O desaparecimento do estatuto do dólar, enquanto divisa de reserva, não será súbito, nem total: basta ver o exemplo histórico da libra.

Vários analistas de mercados financeiros vêem sinais claros de que o ouro voltará a desempenhar um papel de relevo no sistema monetário internacional. Com efeito, este tem uma vantagem inegável sobre qualquer divisa emitida por um banco central: é que não pode ser fabricado a preceito ou conforme as conveniências de uma super-potência, além de seu valor ser o mesmo em todo o mundo e aceite, independente do local onde foi minerado ou refinado. 

segunda-feira, 3 de julho de 2017

O QATAR E O FIM DO PETRO-DÓLAR

                      

Esqueçam tudo o que sabem sobre o Médio-Oriente, ou melhor, tudo o que julgam saber, visto que temos estado literalmente a sofrer sucessivas lavagens ao cérebro, acerca das guerras na bacia do Mediterrâneo e no Oriente-médio.

Com efeito, os media apresentam sempre a grelha de leitura do conflito religioso, na sua vertente sectária, entre muçulmanos xiitas e sunitas. Nada é mais falso do que esta leitura «confessional» para explicar o fundamento profundo destas guerras. 

É preciso realmente recuar a 1971 e ao repúdio de Bretton Woods pelos EUA, a superpotência sob cuja égide foram firmados estes acordos. Do repúdio unilateral de Bretton Woods nasceu o petrodólar, resultante do acordo da monarquia saudita com Kissinger em só aceitar dólares em pagamento do petróleo contra uma proteção total pelo exército dos EUA. 

Só assim se compreenderá que a batalha que se trava é económica e financeira antes de mais; que envolve parcerias estratégicas para controlar os mercados estratégicos de «ouro negro» (petróleo e gás natural) e do ouro, propriamente dito. 

Finalmente, para se possuir uma perspetiva realista sobre a reorganização do mundo ao nível do padrão monetário, o chamado «reset», teremos que compreender o seguinte: quem controlar os fluxos de capitais, controlará o futuro, ora o capital real não é o dólar, ou petrodólar ou euro dólar, mas antes as matérias primas estratégicas, nomeadamente e em primeiro lugar os combustíveis fósseis, assim como o ouro, o valor de reserva em última instância.

Quem quiser perceber algo das lutas, das guerras, dos terrorismos, terá de se distanciar das narrativas dos media de «referência». Só fazendo uma pesquisa individual poderá adquirir algum saber, para além do ecrã de propaganda. Só quem puder ou souber manter-se ao corrente da situação, diversificando as suas fontes, poderá construir sua visão geral de geoestratégia e de política.

Os artigos de Shaun Bradley («O fim do petro-dólar, o que a FED não quer que você saiba») e de Ahmed Charai («A única saída para a crise do Qatar) têm aspetos criticáveis, enunciam as opiniões dos respetivos autores, mas eu aconselho a sua leitura integral e atenta, pois estão recheados de informações preciosas, as quais são sonegadas ou cujo significado é sistematicamente obscurecido pela comunicação social de massa. 

A crise entre o Qatar e os outros países do Conselho do Golfo (formada pela Arábia Saudita e os Emirados) é reveladora da transição para fora do petrodólar e da perda de hegemonia dos EUA. 

Neste gigantesco jogo de tronos ... as populações, principalmente os civis inocentes, são as grandes vítimas.

Mas também estamos a assistir a isto tudo, porque a «nação excepcional» e seus aliados europeus, decidiu - há muito tempo - que as políticas focalizadas nos «direitos humanos» só se aplicavam a países de Leste e à Rússia (ou à União Soviética). Apenas usadas como arma de contra-propaganda ao «comunismo e socialismo» (ou, mais precisamente a quaisquer alternativas populares, mesmo as mais reformistas...). 

Quanto às monarquias do Golfo, cada qual mais reacionária que a outra, completamente corrompidas, tinham de ser acarinhadas por «realismo político». Aqui, pouco importava elas não serem propriamente modelos de virtudes humanitárias (veja-se a guerra contra os civis no Iemen, largamente ignorada, veja-se a guerra por procuração, contra um dos poucos regimes laicos, o sírio...). 

Mas, como mostra a crise dos países do Golfo com o Qatar, chegou o momento de certos aliados mudarem de campo, o que acontece também com a Turquia. Por outras palavras, a grande mudança, o «reset», está a desenrolar-se diante dos nossos olhos. 

Quem não observar as coisas tal como elas são, irá fatalmente tomar decisões erróneas, a todos os níveis, porque irá considerar como sólido aquilo que se está a desmoronar, irá investir em miragens, para ficar com uma «mão cheia de nada». 

Tanto no plano financeiro, como no sentido de «investimento emocional», as pessoas deveriam questionar - antes que seja tarde demais - as suas certezas. Aquilo que tomam como «dado adquirido» resulta - muitas vezes - da perpétua propaganda que se abate sobre todos nós. 

Quem ler os dois artigos supra-citados e os comparar com a narrativa que nos é constantemente vendida nos media, terá um elemento comparativo e de avaliação. Não me parece exagero dizer que temos estado sujeitos a endoutrinamento, neste assunto, como em muitos outros. 
Infelizmente, isso acontece um pouco por todo o mundo, talvez mais maciçamente nos países onde o nível cultural geral é baixo. Mas, onde o público é mais sofisticado, a mentira também o é!