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segunda-feira, 17 de janeiro de 2022

Documento ao Congresso dos EUA SOBRE GUERRA DE INFORMAÇÃO/PERCEÇÃO

Deparei-me com um documento interessante, um estudo destinado ao Congresso dos EUA, datado de 2018. A autora, Catherine A. Theohary, é especialista em políticas de segurança nacional, operações no ciberespaço e informação:

 https://sgp.fas.org/crs/natsec/R45142.pdf

Este documento é interessante porque caracteriza em pormenor toda a panóplia que os governos, ou forças não-governamentais, dispõem para levar a cabo a guerra informativa. Se lerem em pormenor o documento, verão que ele ajuda a clarificar muito do que se fala sobre ciberataques, sobre ataques de falsa bandeira, sobre a propaganda e sua utilização quer pelos Estados, quer por forças rebeldes. 

O que sobressai deste estudo sistemático é que estamos em pleno numa era, em que a guerra informativa toma a dianteira. 

Nesta guerra de perceção, os cidadãos - quer cidadãos do país-alvo, quer cidadãos do próprio país que leva a cabo as operações - é sobre eles que se exercem as ditas técnicas. 

O objetivo central  é - de uma ou outra forma - a construção duma imagem*. As pessoas, uma vez construída uma determinada imagem do mundo e adotada determinada visão de como as coisas funcionam, aderem a ela, sem terem consciência do processo que as levou a adotar precisamente essa visão das coisas e do mundo e não outra. Se essa visão do mundo for constantemente reforçada pelos media, pelo discurso do governo, dos políticos, incluindo políticos ditos de «oposição», então, essa tal visão do mundo e da  perceção da realidade que implica, ficam completamente «congeladas», «cristalizadas» na mente dos indivíduos. 

Em qualquer caso, as pessoas assim «capturadas», podem ser de convicções de esquerda ou direita, de cultura elevada ou baixa, de inteligência elevada ou medíocre: como eu já tinha apontado noutro ensaio publicado neste blog, a capacidade de criar ilusão através desta influência abrangente, exerce-se sobre os mais diversos tipos de pessoas, vai influenciar todos.  Uma das razões disto, tem a ver com o mecanismo de interiorização: A pessoa assimila a propaganda como se fosse a verdade, como se tivesse testemunhado pessoalmente determinados factos (quando isso não aconteceu, é apenas ilusão). A vítima torna-se defensora de seu molestador (síndroma de Estocolmo). A pessoa fica convicta de que os pensamentos são seus, foram o resultado dos seus processos de raciocínio, quando - na verdade - foram plantados no seu subconsciente, através de processos de condicionamento.

Estas táticas tornam-se muito mais eficazes na era da massificação da Internet, das redes sociais, da universalidade dos telemóveis de tipo «smartphone». A diferença em relação à era anterior, é a seguinte: As pessoas podiam ficar temporariamente hipnotizadas pela a TV mas, em confronto com a realidade, a ilusão plantada nas suas mentes acabava por se dissipar, em muitos casos. Mas, atualmente, as pessoas têm - ao contrário da era anterior - a ilusão de «procurar por elas próprias», de aceder às fontes, mesmo àquelas que estão de facto (ou aparentemente), em contradição com o discurso dominante. Isso dá-lhes uma convicção profunda de que aquilo em que creem seja verdadeiro, que seja o real. Porque elas, aparentemente, não foram guiadas, induzidas, ou canalizadas na sua pesquisa. É evidente que tal não é assim. Os algoritmos dos motores de pesquisa são manipulados de modo a dificultar o acesso a certas páginas Internet. Quando observamos a censura digital, sob pretexto de «COVID», de «segurança», ou outro, sabemos que já não existe  liberdade de expressão e informação na Internet, em especial, nos canais de vídeos, ou em redes sociais.  

Edward Snowden tem avisado e explicado em vídeos, ou entrevistas o funcionamento de todo o aparato que se destina a influenciar a perceção das pessoas. Ele, assim como Julian Assange e Wikileaks, são diabolizados e considerados «espiões», devido ao facto de terem desmascarado militares e «contratantes» (mercenários) dos EUA e seus crimes de guerra, a total ausência de respeito pela lei dos EUA, até com a utilização de táticas de guerra psicológica (guerra de informação) dirigidas ao público dos próprios EUA. O que está em causa é a exposição da técnica da ciberguerra, a técnica psicológica, a qual se aplica (com instrumentos e usos diferentes, claro) às próprias populações e às populações de potências inimigas.

O documento que Catherine A. Theohary escreveu é apenas um documento, entre muitos. Ele está redigido de modo a não ofender deputados e senadores, está feito com a hipocrisia necessária para não colocar em causa as estruturas dos EUA, que levam a cabo esta guerra psicológica, esta guerra de informação. Estou a falar da CIA, a NSA, etc. mas também de fundações como a NED e ONGs, em estruturas governamentais desde os ministérios, até às embaixadas. 

Mas, essencialmente, é um documento utilizável como «manual», ou um «guia» para se perceber o que são as jogadas de uns e de outros. Não apenas EUA, e NATO, como igualmente Rússia, China, etc...

O «Information Warfare», que eu traduzo por Guerra de Informação, é um instrumento e técnica da guerra híbrida. É uma parte importante nesta IIIª Guerra mundial, que não se afirma enquanto tal, mas que se vai desenrolando diante dos nossos olhos, com início na queda do Império Soviético e aceleração com o 11 de Setembro de 2001. Desde esta segunda data, os processos utilizados da Guerra-Fria Nº1 têm sido aplicados de forma massificada, multiplicados pela potência da Internet, tanto na população doméstica**, como nos aliados e inimigos. 

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(*) O termo «imagem» é tomado aqui no sentido mais lato possível, pois também pode ler-se como sinónimo de: «narrativa», «ideia», «conceito».

(**) Joe Rogan entrevista o autor e investigador: The secret history of MK ULTRA

Alguns artigos deste blog, relacionados com o tema:

https://manuelbaneteleproprio.blogspot.com/2021/12/prof-mattias-mesmet-entrevistado-sobre.html

https://manuelbaneteleproprio.blogspot.com/2021/11/mattias-desmet-condicionamento-de.html

https://manuelbaneteleproprio.blogspot.com/2021/09/olhando-o-mundo-da-minha-janela-n10.html

https://manuelbaneteleproprio.blogspot.com/2021/08/aldous-huxley-1962-derradeira-revolucao.html

https://manuelbaneteleproprio.blogspot.com/2021/08/propaganda-21-n-7-psicose-de-massas.html

https://manuelbaneteleproprio.blogspot.com/2021/06/servidao-voluntaria-e-great-reset.html

https://manuelbaneteleproprio.blogspot.com/2019/11/obras-de-manuel-banet-roteiro-para.html


sexta-feira, 5 de janeiro de 2018

CRIPTOMANIA: INSUFLADA PELOS BANCOS CENTRAIS ?

Pode parecer extravagante a hipótese colocada no título, mas ela surge, contrariando a narrativa dominante, cada vez mais plausível. 
Com efeito, as criptomoedas são diabolizadas como instrumento de lavagem de dinheiros do crime, das redes terroristas, etc. ou meio de fuga ao fisco de multimilionários discretos, etc. ... 
Porém, além dos sensacionalismos mediáticos, nas salas alcatifadas dos diversos centros de poder (bancos centrais, grande banca, governos, instâncias internacionais) desenham-se estratégias e toma-se muito a sério a questão.

É que os poderosos deixaram crescer este mercado, inicialmente qualquer coisa de volume insignificante, há oito anos atrás, para volumes de capitalização total que impressionam ! Que isso tenha acontecido por terem uma visão muito «curta», parece-me ser uma interpretação completamente ingénua. 
Mais provável será estes mesmos poderes estarem atentos, para - no momento oportuno - tomarem controlo e usarem os aspetos tecnológicos que favoreçam ainda mais a centralização. Um «golpe de mestre» afinal: usarem novas criptomoedas por eles criadas e monitorizadas para efetuar a transição, para manterem sob controlo o famoso «reset» que muitos analistas veem chegar, sem dizerem, ao certo, como!

Tenho vindo a chamar a atenção dos leitores, ao longo do tempo, para as criptomoedas e o seu significado. 
Se, por um lado, me tenho mantido fora das demagogias e sensacionalismos destinados a «vender» notícias, tenho estado por outro, igualmente consciente de que, justamente é agora, nesta época, que se desenvolvem tais recursos: é no final do sistema baseado exclusivamente em moedas «fiat» (ou seja, os bancos centrais emitirem moeda sem estar garantida por algo tangível),  iniciado pelo repúdio de Bretton Woods por Nixon, em 1971.

As criptomoedas, claramente, não podem dar nenhuma garantia, enquanto estiverem fora dum mercado regulado de divisas (todas elas emitidas por Estados). Alguns Estados não querem ouvir falar de cripto- «moedas», como sendo «divisas», mas sim apenas de activos financeiros, de uma nova categoria de instrumentos financeiros. Enquanto uma moeda é um meio de troca de valor, essencialmente, já um «activo financeiro» é um meio de obtenção de lucro, potencialmente pelo menos, logo susceptível de cair debaixo da alçada do fisco.
O essencial do circuito, neste mercado de cripto divisas,  é de privado para privado; eu pago a alguém um bem ou serviço, transferindo determinada quantidade em criptomoeda do meu «porta-moedas digital» para o dessa pessoa. 
As zonas de troca das criptomoedas por divisas «clássicas» (onde se podem comprar criptomoedas com dólares, ou outras moedas «oficiais», assim como trocar criptomoedas pelo seu valor em dólares) são mais ou menos públicas, embora sejam detidas por entidades privadas, mas não são - de facto - reguladas. Não sendo (por ora, pelo menos!) sujeitas a inspecção, controle, fiscalização, regulamentação, não se podem jamais assimilar a «casas de câmbio», onde se compram e vendem divisas. 
Duas falsas certezas fizeram com que o destino do «bitcoin» e doutras congéneres fosse tão brilhante, até agora:
- o mito da absoluta segurança dos «porta-moedas», dos pontos de troca e das próprias operações de  privado para privado.
- o mito de que as operações estão completamente fora do alcance, da supervisão, do controlo e do poder de taxação dos Estados. 

Têm surgido varias notícias nestes últimos anos, desfazendo o primeiro mito, de pessoas que perderam fortunas, devido a hacking das suas criptomoedas. 
O risco é tal que, apesar de milhares por cento (!) de lucro que certos investidores terão obtido, muitos outros renunciam investir em absoluto, ou apenas arriscam uma fracção diminuta, não arriscam parte significativa dos seus portefólios.
Quanto aos bancos centrais estarem totalmente fora da jogada, é uma ideia claramente falsa: por exemplo, o BIS (o «banco central dos bancos centrais») tem dedicado imensa atenção ao nascimento e crescimento deste mercado das criptomoedas. 
Quanto aos governos (veja-se o artigo exaustivo, aqui) têm atitudes muito diversas, abordam o fenómeno de forma muito diferente: desde os que tomam uma atitude claramente repressiva, até aos que aceitam que este mercado tem potencial para ser incorporado ao sistema monetário mundial e suas entidades reguladoras (os bancos centrais).

A grande banca comercial tem necessidade absoluta de se envolver na tecnologia «blockchain». 
A blockchain pode estar descentralizada, permitindo que a rede, formada pelos computadores de muitos milhares de proprietários de criptomoeda, tenha o registo automático e anónimo de todas as transações que se efectuam no ciberespaço. 
Mas, também se pode utilizar a tecnologia blockchain de modo centralizado, mantendo o controlo de operações numa entidade única, pela qual terão de passar todos os movimentos.  
O facto é que os grandes bancos estão a apostar pesadamente nisto, com grandes despesas e muitos peritos a trabalhar exclusivamente para esse fim. Veja-se o caso da cripto moeda «Riple» recém-nascida e muito cortejada pela grande banca!

Finalmente, alguns pensam que o futuro estará numa criptomoeda associada a uma garantia ouro, ou ouro/prata,  o que permitiria que o risco de desvalorização ou sobrevalorização bruscas ficasse muito diminuído. O ideal seria uma transação segura e sem as oscilações especulativas acentuadas que se observam atualmente nas quotações das criptomoedas. 
Este nexo entre criptomoedas e valores tangíveis daria mais estabilidade e mais segurança, aparentemente, mas creio que o problema seria transferido então para outro nível: o da necessidade de uma absoluta seriedade da entidade - por hipótese, uma entidade depositária de ouro em cofres privados - encarregue de disponibilizar esse mesmo colateral-garantia, credibilizando as  operações do ciberespaço. Afinal de contas, isto seria como a função dos bancos centrais (antes da ruptura com o padrão-ouro em 1971), detendo determinadas quantidades de ouro como «moeda de último recurso» e garantindo, pela convertibilidade em ouro, o valor da divisa emitida, tal como tenho explicado em vários artigos (ver aqui e aqui, por exemplo).

Nada está definitivamente fechado, neste domínio, quer num sentido, quer noutro. 

Penso que, por enquanto, as criptomoedas apenas acrescentaram mais uma camada de especulação num mundo financeiro já largamente parasitado pelas actividades especulativas (vejam-se os grandes bancos a jogarem dinheiros dos clientes em operações com derivados, totalmente desreguladas).

Mas tenho a certeza que 2018 vai trazer aqui uma clarificação, em paralelo com uma alteração global tectónica do poder
Neste contexto, as criptomoedas são vistas por muitos como uma revolução irreversível. Muitas pessoas comparam a sua importância com outra revolução tecnológica dos anos 90 do século passado, o surgimento e a expansão da Internet.

                            


NOTAS:




1- Max Keiser:


https://www.rt.com/shows/keiser-report/414964-episode-max-keiser-1171/



2- O BIS e as criptomoedas:


https://www.bis.org/publ/qtrpdf/r_qt1709f.htm



3- Como encaram as criptomoedas:


http://www.independent.co.uk/news/business/news/bitcoin-latest-updates-central-banks-say-regulation-cryptocurrency-digital-ecb-us-federal-reserve-a8106961.html



4- Caso Riple:


https://www.forbes.com/sites/cbovaird/2018/01/03/ripple-climbs-past-3-hits-all-new-high/#28bc73067c0b