terça-feira, 11 de junho de 2024
DEEPFAKE? O QUE É AFINAL?
segunda-feira, 10 de junho de 2024
FERNANDO LOPES GRAÇA: A REDESCODERTA DAS RAÍZES (Segundas-f. musicais nº4)
3 esconjuros
vamos embora à alvinha do dia
a deus me encomendo e à virgem maria
e à santa bela cruz
que me guarde de cão danado
e por danar
de homem vivo, inimigo
de homem morto, mau encontro
de águas correntes, fogos ardentes
nosso senhor nos livre das bocas de má gente
contra os maridos transviados
deus te guarde sol divino
que corres o mundo inteiro
viste lá o meu marido?
se tu viste não mo negues!
não mo negues! não negues não!
que esses raios que vais deitando
ao seu nascimento
sejam dores e facadas
que atravessem o seu coração
que ele por mim endoideça
não possa comer
nem beber
nem andar
nem com outra mulher falar
nem em casa particular
que todas as mulheres
que ele veja
lhe pareçam cabras velhas
e bichas feias!
só eu lhe pareça bem no meio delas
contra as trovoadas
santa bárbara de alevantou
se vestiu e se calçou
suas santas mãos lavou
e o caminho do céu andou
lá no meio do caminho
a jesus cristo encontrou
-para onde vais? bárbara vais?
eu não vou nem quero ir,
mas ao céu quero subir
- vou arramar aquela trovoada
que lá anda, lá anda armada
arrama-a bem arramada
lá prós lados do marão
no alto cerro maninho
onde não há vinho nem pão
nem bafo de menino
nem berrar de cordeirinho
só há uma serpente
com 25 filhas
que lhes dá água de trovão
e leite de maldição
sábado, 8 de junho de 2024
PORQUE É QUE O COMPLEXO MILITAR INDUSTRIAL NOS ESTÁ MATANDO A TODOS
Quando uma bomba explode, rasga a carne, quebra os ossos, rebenta com caixas cranianas, faz mortes e pessoas estropiadas, diminuídas para toda a vida. Mas também há alguém que aproveita, que lucra com isso, que fica rico.
Mas o mal não se limita às vítimas diretas das bombas. Cada dólar* gasto com bombas (e material militar em geral) é um dólar que foi subtraído a programas com efeitos imediatos na dinamização da economia, na educação, no sistema de saúde, na investigação médica, etc. Todos ficamos mais pobres. O Estado de que somos cidadãos, em vez de arcar com despesas que - por sua vez - vão gerar mais produtividade e bem-estar social, vai «enterrar» essas somas em instrumentos de destruição.
A indústria armamentista é a mais poluidora que se possa imaginar. Além dos consumos de energia fóssil, para construção e operação das suas máquinas, é preciso termos presente que a mineração de metais raros e outros, para as ligas metálicas especiais, é muito depredadora do ambiente.
As bombas e outro armamento só podem ter dois fins, ou são utlizados, causando um tremendo custo humano e destruição ambiental (mil vezes pior na emissão de poeiras e de gases com efeito de estufa que quaisquer outras indústrias). Se não forem utilizadas estas munições e armamento, ficarão armazenados, o que tem os seus custos próprios . No final, acabarão por ser descartados, sem que os materiais sejam reciclados, as carcaças inúteis serão enterradas, causando contaminação permanente dos solos e subsolos, algo não visível pelo cidadão comum.
Nós ouvimos muitas vezes críticas dirigidas aos Estados, por irem em socorro de empresas em maus lençóis, ou em risco de falência. Pois a indústria armamentista não apenas tem um excelente cliente único (as forças armadas do Estado), como este cliente não regateia preços e costuma fazer encomendas abundantes, além de apoiar (e pagar) investigação aplicada com fins bélicos e de isentar de impostos essas indústrias benfeitoras da humanidade.
Note-se que, em termos de PIB, este pode ser inflado pelo aumento de produção de armamento. Porém, isso não significa que o país em causa esteja a nadar em prosperidade, nem que essa produção seja, de algum modo, impulsionadora de maior bem estar, de mais recursos para desenvolver outras indústrias, ou para o desenvolvimento dos países para onde os armamentos são exportados.
A utilização bárbara para fazer a guerra, não só se traduz num sofrimento humano infinito, sobretudo afetando a população civil, também causa a destruição em larga escala do equipamento, infraestrutura produtiva e vias de comunicação dos países em contenda. Isto significa incontáveis biliões de dólares investidos, que se transformam em ruínas e que - no melhor dos casos - irão ser de novo gastos, durante largos anos, para reconstruírem essas infraestruturas civis: Muitas vezes, os países ficam totalmente de rastos e não têm capitais próprios para fazer tal coisa. Caem no ciclo de dependência, de pedir empréstimos a países ricos, ou a instituições internacionais por estes controladas.
Podeis perguntar: «Mas se afinal é um mau negócio para o Estado, os cidadãos e todas as atividades que não sejam as próprias fábricas de armamento, como é possível que esta indústria floresça e tenha sempre investimentos abundantes sob forma de capitais públicos ou privados?» A resposta é simples e complexa, ao mesmo tempo:
- os industriais têm os políticos no bolso, através de doações milionárias que fazem para as campanhas eleitorais dos políticos, sem as quais estes não têm qualquer hipótese de serem eleitos, nem mesmo de ficar entre os mais votados.
- A máquina de suborno é apenas um pormenor (importante), mas é o sistema inteiro do capitalismo decadente que está afinal em causa. O capitalismo passou há muito a era construtiva. Precisa de capital e de mais capital, para alimentar a especulação financeira. O grande e o pequeno especulador sabem perfeitamente que um investimento nas indústrias de armamento tem um retorno assegurado: é uma garantia que não é dada por nenhum outro investimento no setor industrial; por exemplo, vemos grandes construtores automóveis ficar em maus lençóis e mesmo irem à falência, o mesmo se passa com grandes empreendimentos imobiliários, ou turísticos, ou cadeias de restaurantes ou qualquer outro setor civil. Tal não acontece na indústria militar; note-se que empresas de aeronáutica civil estão associadas com empresas de aviação militar. De facto, são os mesmos grandes acionistas que controlam os dois ramos industriais, embora nominalmente apareçam como distintos (exemplo: a Boeing).
Conclusão: A própria sociedade civil está refém dos grandes construtores de material bélico; eles conseguem fazer inflectir as elites políticas com muita facilidade, para que estas adotem as políticas que mais os favoreçam. Os políticos sabem isso, mas não vão revelar a «galinha dos ovos de ouro» ao público, era o equivalente a matar a dita galinha. A media, o jornalismo de massas, também não revela, apenas sublinha o «avanço tecnológico», a «eficácia» de novos sistemas de armamentos, faz publicidade grátis ou mediante subornos, criando no público a ideia (falsa) de que forças armadas assim equipadas poderão vencer quaisquer inimigos em combate. Neste contexto, não nos deve admirar que surjam constantes focos bélicos, em várias partes do Mundo. Só ainda não começaram com guerras diretas entre grandes potências, ainda que as guerras por interpostos («proxi wars») não tenham cessado, desde o fim da II. Guerra Mundial, até hoje!
O mercado da morte, da morte industrial, é o produto desta sociedade: Todas as pessoas que ingenuamente se preocupam com a habitabilidade do planeta, daqui a 20 , 30, 40 ou 50 anos, deviam refletir, sem dúvida. O efeito das indústrias de armamento traduz-se por:
- Causar enorme mortandade e destruição nas sociedades (sendo civis as principais vítimas, em geral)
- Causar destruição de capital produtivo, fábricas e instituições diversas (hospitais, escolas, centros de investigação, etc.).
- Distorção do próprio funcionamento das instituições dos países, através da corrupção dos que exercem cargos políticos
- Desvio de enormes somas, que poderiam ser investidas de forma produtiva. Cada dólar investido em armamento, é um dólar perdido para o investimento produtivo em indústrias civis, etc.
- Aumento dos riscos de guerra generalizada e portanto, da destruição da vida no planeta, pois o fomentar de guerras parciais ou locais, é o método eficaz para se gerar uma situação internacional de grandes tensões, desembocando numa guerra nuclear entre as grandes potências.
- A destruição dos ecossistemas, dos habitats naturais, extinção de espécies, poluição marítima, aérea e dos solos, não esquecendo a sempre possível poluição de longo termo, gravíssima, causada pela explosão de engenhos nucleares.
Eu renunciei a encadear estas consequências acima em ordem crescente de gravidade, pois há uma relação intrincada de causas e consequências. Isto só reforça a ideia de extrema perigosidade e parasitagem sobre a sociedade do complexo militar-industrial.
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* O orçamento de «defesa» dos países da OTAN perfaz, anualmente, dezenas de milhares de milhões de dólares (mais de 10 000 000 000 $). Os EUA são, de longe, o país que mais gasta em armamento.
sexta-feira, 7 de junho de 2024
O MISTÉRIO PORTUGUÊS
Dizia algum literato, que a cultura é aquilo que resta, depois de se ter esquecido todas as outras coisas.
Eu sou daqui, desta praia ocidental. Porém, tive ocasião de frequentar universos culturais variados desde a minha infância. Considero que as minhas referências culturais são tanto de Portugal, como de diversas outras nações (principalmente europeias).
Mas, o meu espanto - que não é de agora - perdura, quando sou confrontado com produções artísticas de portugueses. Dentro de um espaço geográfico modesto, numa economia subordinada, desde há centenas de anos, às potências maiores, e com uma massa de gente muito sincera e boa, mas com fraca instrução (não são as pessoas que têm a culpa, mas os governantes, os poderosos)...
O mistério é que, dentro desse espaço chamado Portugal, surgem em séculos passados e neste, autores literários, poetas, músicos, artistas plásticos, cientistas, que se colocam ao mesmo nível do melhor que existe no estrangeiro, nas capitais europeias mais prestigiosas... Ainda por cima, com uma forte originalidade.
Não sou nacionalista [ talvez só um pouquinho em relação à língua, a bela língua de Camões e de Fernando Pessoa], pelo que meu cosmopolitismo permite-me rejeitar algo, seja qual for a sua proveniência, se não for esteticamente ou cientificamente significativo. Algo que não tenha qualidade, para mim, não presta; seja de Portugal ou de qualquer outra proveniência. Inversamente tenho de me render à evidência de que uma produção intelectual de primeira qualidade pode ser obra de pessoas dum país atrasado, até mesmo atávico, por vezes, um país subdesenvolvido. Onde uma classe política abjeta se pavoneia, esbanjando os recursos (financeiros e outros) deste magnífico país. Um país destes, parece-me uma aberração lógica, que seja o solo onde floresceram tantos homens e mulheres de talento.
Será devido à necessidade dos intelectuais se expatriarem, para usufruírem de novas oportunidades, trazendo a sua bagagem própria, mas que misturam com o que encontraram nos países de acolhimento?
Sem dúvida que o número de grandes vultos portugueses nas artes e nas letras não é assim tão impressionante, se confrontado com países como a França, a Itália, o Reino Unido, a Alemanha e a Espanha. Mas, estes países têm e tiveram uma população muito maior que a população portuguesa. O fenómeno da criatividade não pode ser visto como «linear», como uma função direta do número de indivíduos que compõe uma nação.
Podemos dar as voltas que quisermos, mas temos de assentar em dois pontos:
A produção artística e literária portuguesa tem sido de grande qualidade, ao longo dos séculos (por vezes menosprezada).
Não se consegue isolar um fator (ou uns poucos fatores), que explique(m) a continuidade de produção ímpar. Pelo contrário; Pode-se invocar fatores diversos, geográficos, históricos, étnicos ou psicológicos, mas nenhum deles é convincente, tanto mais que fatores semelhantes estão presentes noutras nações europeias.
Acredito que aquilo que empurrou os portugueses para o mar, para a exploração do além, desencadeou neles um complexo cultural único. E não vejo outro povo que tenha sido tão moldado pela aventura marítima. Pesem embora as potências marítimas, como o Reino Unido, a Holanda e outras.
A existência duma tendência nostálgica, misteriosa, insatisfeita, produziu letras e músicas como o fado, mas outras produções também espelham esta característica em muitos poetas e escritores.
Mais tarde, depois da decadência económica e política de Portugal, muitos dos melhores sonharam com um renovo, com um "novo renascimento", com a passagem dum império físico, para um império do espírito (ideação do Quinto Império).
No século presente, estamos -nós, humanos - coletivamente e sem consciência clara disso, a construir a «Nooesfera» (o domínio universal das trocas sem hierarquias, da comunicação instantânea, da multiplicação do saber em todos os domínios, etc.), sonhada ou profetizada por Teilhard de Chardin.
Se este planeta Terra não for definitivamente destruído pela brutalidade criminosa dos dirigentes, os que detêm as rédeas do poder, seja económico, financeiro, político, militar ou tecnológico, talvez exista oportunidade para um florescimento, das ciências às artes, neste cantinho europeu ocidental.
Portugal sempre acolheu bem os estrangeiros. No passado, houve a grande mancha da expulsão dos judeus (reinado de D. Manuel I) e a violenta repressão das «heresias» pela Inquisição (que durou até meados do século XVIII). Mas, o povo, em geral, não aplaudiu. Em qualquer dos casos, não foi ouvido nem chamado, como em relação a muitos outros assuntos.
Como hipótese, posso estimar que essa vitalidade das coisas do espírito dos portugueses, reside na dupla característica seguinte:
- facilidade em se expatriarem e absorverem as culturas dos países para onde emigraram,
- abertura em relação aos estrangeiros que vêm para aqui, de tal maneira que eles possam viver e produzir, influenciando o povo-hóspede.
Mas, isto tudo são conjeturas e não há nenhuma afirmação, que não possa ser contrariada com certos factos, invalidando as referidas conjeturas. Pelo que, no essencial, considero que o «mistério de Portugal» permanece por explicar.
quinta-feira, 6 de junho de 2024
NÃO ESPEREM INDICAÇÕES DE VOTO DA MINHA PARTE
Mas... Gostaria de vos apresentar algumas realidades:
- Quando alguém vos quer arrastar pela ilusão, nunca vai dizer quais os verdadeiros poderes e atributos da assembleia parlamentar para a qual precisam do vosso voto.
- A fraude começa por não discutirem propostas de lei, "diretivas" da U.E., pois teriam de confessar que a entidade que realmente faz as propostas e quem tem capacidade para as implementar, é a Comissão Europeia, um órgão não -eleito.
- Para atrair o voto, vão portanto apelar a sentimentos, nomeadamente o medo, o ódio, a cobiça, pouco importa que as "medidas" preconizadas tenham alguma exequibilidade, o apelo é 100% dirigido às emoções dos eleitores. Não têm a honestidade de dizer que não têm soluções exequíveis e que a assembleia carece de qualquer poder de as implementar.
- Na verdade, surge como óbvio, para qualquer observador sereno, que todos os discursos são vazios, tendo como ponto de partida e de chegada a desresponsabilização do eleitor. Dizer isto, equivale a dizer que apelar ao voto neste ou naquele candidato, é infantilizar o eleitor. O eleitor, em geral, não se apercebe disso. A maioria nunca terá participado alguma vez na sua vida, em assembleias realmente democráticas, onde suas opiniões e vontade contam, de facto.
- A corrupção institucional tudo domina; não estou a falar de atos imorais ou ilícitos do deputado X ou da deputada Y, ou Z ! Mas, da própria arquitetura do poder, destinada a retirar qualquer capacidade efetiva aos eleitores em fazerem valer sua vontade. Entrar em conluio com isto, é diferente de pragmatismo. É participar, diga-se o que se disser, na monstruosa encenação, destinada a obter submissão (o falso consentimento) e legitimar a ditadura "deslizante", que vai - aos poucos - anular as réstias de democracia nas nações.
- Com efeito, a legislação, automaticamente aprovada pelos parlamentos nacionais e vertida para as leis internas de cada nação europeia provém da Comissão Europeia, a 70% em média, quer diretamente, quer tenha antes passado pelo "parlamento" europeu.
- Passadas duas décadas sobre a rejeição da "constituição" (pelos eleitores holandeses e franceses) e imposição do Tratado de Lisboa a todas as cidadanias do espaço UE, sem que elas pudessem sequer referendar esse tratado, a coesão europeia não existe: Não há sentimento de "comunidade europeia", as pessoas continuam a sentir-se nacionais dos seus países de origem. Não se apresentam forças políticas, de um extremo ao outro do espectro político, com candidaturas ao nível europeu, embora isso fosse possível: Podem formar-se listas abrangendo vários países. Mas isso não ocorre ou, se ocorreu, teve uma expressão quase nula.
- A democracia pode ser vista de modos muito diversos. Mas tem de se basear na existência dum sentimento de pertença a uma comunidade nacional, mesmo que exista diversidade étnica, maior ou menor, na sua cidadania. Só a partir da aceitação comum e recíproca destes factos, é possível desenvolver um diálogo político com consequências, ou seja, que se traduza em leis e medidas, consensuais ou maioritariamente aceites.
- Não pretendo influir na vossa posição, no sentido de votarem ou de se absterem, em relação às próximas eleições europeias. Espero apenas que os pontos acima estimulem a curiosidade e a vossa reflexão.
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PS1: Consultar, a propósito da UE e do parlamento europeu o meu artigo de Maio de 2019
quarta-feira, 5 de junho de 2024
OPUS VOL. III, 17: AQUELE PUNHO FECHADO
Aquele punho fechado inspira coragem
E vem com o braço e o pulso
Finos, delicados e fortes da mulher
Dela erguem-se palavras
Soam e ressoam no meu espírito
Sem falsa retórica e sem ódio
Sabe falar da guerra e da paz
Não precisa de falsos argumentos
Só de três coisas precisa: Amor,
Coragem e Verdade.
Mais força tem que um exército
Mais pontaria que atirador de elite
Sua palavra abrasa corações
Invencível: Sendo impossível
De suprimir, brota da terra
Recobre o horizonte
É brisa ou vendaval
Sai do peito daquela mulher
Mas palavras assim poderosas
Outras vozes as pronunciam
Quem recebeu tais palavras
Pode fazê-las suas
E disseminar como semeador
Que lança na terra nova vida