segunda-feira, 23 de dezembro de 2019

[Manlio Dinucci] Estratégias e Custos na Guerra dos Gasodutos

                 


Enquanto se atacam num confronto inflexível sobre o ‘impeachment’ do Presidente Trump, Republicanos e Democratas depõem as armas para votar no Senado, quase por unanimidade, a imposição de sanções pesadas contra as empresas que participam na construção do North Stream 2, a duplicação do gasoduto que, através do Báltico, leva o gás russo para a Alemanha. As empresas europeias a ser atingidas e que participam do projecto de 11 biliões de dólares, agora realizado em cerca de 80%, juntamente com a Gazprom russa são: a austríaca OMV, a anglo-holandesa Royal Dutch Shell, a francesa Engie, as empresas alemãs Uniper e Wintershall, a italiana Saipem e a suíça Allseas, que comparticipam na colocação das condutas.


A duplicação da North Stream aumenta a dependência da Europa do gás russo, advertem os Estados Unidos. Estão preocupados, sobretudo, pelo facto do gasoduto - atravessando o Mar Báltico em águas russas, finlandesas, suecas e alemãs - contornar os países Visegard (República Checa, Eslováquia, Polónia, Hungria), os Estados Bálticos e a Ucrânia, ou seja, os países Europeus mais ligados a Washington através da NATO (aos quis se junta a Itália).


A aposta em jogo para os Estados Unidos, mais do que económica, é estratégica. Confirma-o o facto de que as sanções sobre o North Stream 2 fazem parte da National Defense Authorization Act/Lei de Autorização da Defesa Nacional, o Decreto-Lei que, para o ano fiscal de 2020, fornece ao Pentágono, para novas guerras e novas armas (incluindo armas espaciais), o valor colossal de 738 biliões de dólares, ao qual se acrescentam outros elementos que elevam a despesa militar dos EUA a cerca de 1 trilião de dólares. As sanções económicas em relação ao North Stream 2 fazem parte da escalada político-militar contra a Rússia.


Uma confirmação adicional vem do facto de que o Congresso dos EUA estabeleceu sanções não só contra o North Stream 2, mas também contra o TurkStream que, em fase final de construção, levará o gás russo pelo Mar Negro à Trácia Oriental, a pequena parte europeia da Turquia. A partir daqui, através de outro gasoduto, o gás russo deve chegar à Bulgária, à Sérvia e a outros países europeus. É a contrapartida russa às medidas dos Estados Unidos que, em 2014, conseguiram bloquear o gasoduto South Stream. Deveria ligar a Rússia à Itália através do Mar Negro e por terra até Tarvisio (Udine). A Itália ter-se-ia tornado, assim, um centro de distribuição de gás na União Europeia, com vantagens económicas significativas. A Administração Obama conseguiu afundar o projecto, em 2014, com a colaboração da própria Comissão Europeia.


A Saipem (Grupo Eni), atingida novamente pelas sanções dos EUA relativas ao North Stream 2, já foi fortemente atingida pelo bloqueio do South Stream: perdeu contratos no valor de 2.4 biliões de euros, em 2014, aos quais outros contratos teriam sido adicionados se o projecto fosse adiante. No entanto, nem em Itália, nem na UE, ninguém protestou contra a extinção do projecto pelos Estados Unidos. Agora, que estão em jogo os interesses alemães, erguem-se na Alemanha e na UE, vozes críticas sobre as sanções dos EUA ao North Stream 2.


Calam-se, no entanto, sobre o facto de que a União Europeia se comprometeu a importar gás natural liquefeito (GNL) dos EUA, extraído de xistos betuminosos com a técnica destrutiva de esmagamento hidráulico. Washington, para atingir a Rússia, procura reduzir as exportações de gás russo para a UE, fazendo com que os consumidores europeus paguem os custos. Quando o Presidente Trump e o Presidente da Comissão Europeia, Juncker, assinaram, em Washington, a “Declaração Conjunta sobre cooperação estratégica EUA-UE, incluindo o sector da energia”, a UE duplicou a importação de GNL dos EUA, co-financiando as infraestruturas, com uma despesa inicial de 656 milhões de euros. No entanto, esse facto não livrou as empresas europeias das sanções americanas.
il manifesto, 22 de Dezembro 2019







DECLARAÇÃO DE FLORENÇA
Para uma frente internacional NATO EXIT, 
em todos os países europeus da NATO


Manlio DinucciGeógrafo e geopolitólogo. Livros mais recentes: Laboratorio di geografia, Zanichelli 2014 ; Diario di viaggio, Zanichelli 2017 ; L’arte della guerra / Annali della strategia Usa/Nato 1990-2016, Zambon 2016, Guerra Nucleare. Il Giorno Prima 2017; Diario di guerra Asterios Editores 2018; Premio internazionale per l'analisi geostrategica assegnato il 7 giugno 2019 dal Club dei giornalisti del Messico, A.C.

Tradutora: Maria Luísa de Vasconcellos 
Webpage: NO WAR NO NATO

[INÊS PEREIRA:] AS CONSEQUÊNCIAS AMBIENTAIS DA GUERRA

(DE «AbrilAbril», 20-12-2019)
As cimeiras da NATO, em Londres, e do clima, em Madrid, que decorreram quase em paralelo, passaram pelas consequências da guerra no meio ambiente «como cão por vinha vindimada».

                           
A vietnamita Nguyen Thi Thuy, nascida em 1961, cuida do seu filho Tran Thi Hong desde que este nasceu, paralisado, em 1993. São duas das mais de três milhões de vítimas, distribuídas por quatro gerações, do agente laranja, desfolhante lançado pelas tropas norte-americanas durante a Guerra do Vietname, entre 1955 e 1975. CréditosKhairul Anwar / South China Morning Post

Se o ambiente é a vítima silenciosa da guerra, a luta pela paz e contra a guerra é o elefante silencioso nas salas onde hoje tanto se fala de defesa do ambiente ou de emergência climática.
Nos ecrãs continuam a surgir novos protagonistas pseudo-ambientalistas ou pseudo-ecologistas, como é o caso dos líderes da União Europeia (UE). Apresentam-se como grandes defensores do ambiente, ao mesmo tempo que investem milhões e milhões de euros em Defesa e Segurança, protagonizam políticas militaristas, promovem a corrida aos armamentos e deixam para as calendas gregas a proibição das armas nucleares.

São terríveis as consequências ambientais da guerra, como a história do século XX tem demonstrado, e permanecem por anos os efeitos da mesma quer nas populações, quer nos ecossistemas. O sistema capitalista, da Primeira Guerra Mundial às guerras que hoje se travam no Médio Oriente, tem sérias responsabilidades na degradação do ambiente, na contaminação da terra e dos recursos aquíferos, na extinção de espécies de animais, na destruição das florestas e na pilhagem de recursos naturais.

                               
A porta de um templo mantém-se ainda erguida, à frente do Hospital de Nagasaqui, após a 9 de Agosto de 1945 uma segunda bomba atómica lançada pelos EUA ter explodido sobre aquela cidade do Japão. A cidade contava nesse dia com 195 mil habitantes e desapareceu em segundos, sumida na explosão e na tempestade de fogo que se lhe seguiu. 39 mil pessoas morreram e outras ficaram feridas. A fotografia foi tirada pelo repórter George Weller, que chegou à cidade um mès depois e contou: «homens, mulheres e crianças sem marcas exteriores morriam diariamente nos hospitais», sem que os médicos pudessem fazer nada para evitá-lo. As fotografias e os despachos de Weller foram censurados e impedidos de chegar ao público norte-americano, para evitar que este conhecesse o crime cometido. CréditosGeorge Weller /

No final da Segunda Guerra Mundial, em Agosto de 1945, quando o Japão já estava derrotado, os EUA decidiram bombardear as cidades de Hiroxima e Nagasaki com bombas nucleares. Além de ambas as cidades terem sido arrasadas e de centenas de milhar dos seus habitantes terem morrido aquando do bombardeamento e nos meses que se seguiram, sob o efeito letal da radioactividade, ainda hoje os descendentes dos sobreviventes à tragédia – a quem o sistema de saúde japonês continua a ter de priorizar na assistência médica – carregam consigo as duras consequências da exposição à radiação nuclear.

Na Guerra do Vietname é bem conhecida a utilização, pelo exército norte-americano, de bombas de napalm e de herbicidas – em particular do desfolhante agente laranja. Esta actuação deliberada causou uma forte desflorestação, a extinção de espécies animais, a contaminação de habitats, e a proliferação de doenças irreversíveis como malformações congénitas, cancro e síndromes neurológicos, por milhões de vietnamitas. Cinquenta anos depois, há ainda no Vietname locais onde a pesca em rios e lagos continua proibida e o agente laranja ainda chega aos humanos a partir de sedimentos de rios e lagos, acabando este por entrar na cadeia alimentar1.

                                
Crianças vietnamitas fogem perto de Trảng Bàng, depois de um ataque com napalm executado pela força aérea do regime pró-americano de Saigão, Vietname do Sul, a 8 de Junho de 1972 CréditosNick Ut / The Associated Press
Durante a primeira Guerra do Golfo (1990-1991), os EUA bombardearam o Iraque com 340 toneladas de mísseis contendo urânio empobrecido. Investigações denunciaram, desde 19982, que a radiação dessas armas envenenou o solo e a água do Iraque, tornando o ambiente cancerígeno e contribuindo para o aumento dos casos de cancro entre os iraquianos no pós-guerra, nomeadamente entre as crianças. A destruição da infra-estrutura iraquiana pelo exército dos EUA e os seus aliados da NATO, em bombardeamentos sucessivos, teve como consequência o vazamento dos esgotos para as ruas e para os rios, bem como o despejo de óleos das refinarias e oleodutos no solo e, consequentemente, o envenenamento de terras e cidades3.

                   
Soldados executam um bombardeamento de artilharia no Norte do Iraque, a 14 de Agosto de 2016. As munições de fósforo branco estão visíveis no canto inferior direito CréditosDaniel Johnson / Exército dos EUA

E em 1999 as munições de urânio empobrecido foram pela primeira vez utilizadas na Europa, durante a guerra desencadeada pela NATO contra a Jugoslávia, na que foi a primeira agressão militar a um país soberano no continente europeu, após a Segunda Guerra Mundial. As mesmas causas comprovaram as mesmas consequências: a substância tóxica, usada para dotar os projécteis de um mais elevado poder de penetração, é vista como estando na origem do aumento de cancros entre a população civil. Têm sido detectados cancros, em crianças sérvias com menos de 15 anos de idade, com uma frequência três vezes mais elevada do que em qualquer país europeu.
Entretanto, nas cimeiras da NATO em Londres e do clima em Madrid, que decorreram quase em paralelo, responsáveis políticos e ambientalistas, nomeadamente as novas figuras mediaticamente emergentes, passaram pelas consequências da guerra no meio ambiente «como cão por vinha vindimada»!
Uns e outros parecem mais preocupados em taxar cápsulas de café e a roupa que vestimos, ou fazer-nos regressar aos tempos do transporte por barco a remos e por burro, do que em dar combate ao todo-poderoso complexo militar-industrial e denunciar as consequências ambientais da utilização, por exemplo, de porta-aviões, submarinos, tanques e outros veículos de guerra ou os efeitos de testes nucleares em diversos pontos do globo.
A defesa da paz está fora das prioridades dos dirigentes da UE, ao mesmo tempo que os media tendem a esconder e a silenciar a luta contra a guerra. O investimento na guerra terá duras consequências para o Homem e para a Natureza. Por isso, o reforço da luta anti-imperialista e pela Paz é cada vez mais uma emergência. Também climática.


1.Segundo cálculos efectuados por ambientalistas, «seis a doze gerações» de vietnamitas serão afectadas por doenças e malformações congénitas causadas pelo agente laranja. Ver «Vietnam war: 44 years on, birth defects from America’s Agent Orange are increasing», no South China Morning Post, em 8 de Junho de 2019.
2.Ver «The evidence is there - we caused cancer in the Gulf», de Robert Fisk, no The Independent, em 16 de Outubro de 1998, e «Depleted Uranium and the “Liberation” of Iraq: A Report from Hiroshima», de Christian Scherrer, investigador do Instituto da Paz de Hiroxima, na revista The Asia-Pacific Journal, volume 2, número 2, de 28 de Fevereiro de 2004. Um «estudo conclusivo» sobre o tema, segundo o Global Research Network, foi publicado em 22 de Agosto de 2017 pelo Prof. Souad N. Al-Azzawi, ver «Depleted Uranium and Radioactive Contamination in Iraq: An Overview», em 25 de Novembro de 2019.
3.Ver mais em «What's the environmental impact of modern war?», de Karl Mathiesen, no The Guardian, em 6 de Novembro de 2014.

sábado, 21 de dezembro de 2019

FRANÇA: O PIOR GOLPE NAS PENSÕES DE REFORMA - VEJA PORQUÊ

- A isenção de cotização dos quadros superiores, vai custar 72 mil milhões, sendo o sistema geral (ou seja, nós) a pagar o diferencial
- Um meio perverso de «garantir» a insolvência do sistema!
- Uma «prenda de Natal» generosa, para as grandes empresas!
- Se  a «reforma Macron» for avante, é muito provável que seja copiada em Portugal e noutros países.

Não deixem de ver, analisar e passar o video junto!

Apesar de tudo, boas Festas, para vós e vossas famílias!
Manuel Baptista




quinta-feira, 19 de dezembro de 2019

«CANÇÃO FRIA» (COLD SONG) DE PURCELL

                              Aksel Rykkvin | The Trondheim Soloists


What power art thou Who from below Hast made me rise Unwillingly and slow From beds of everlasting snow See'st thou not how stiff And wondrous old Far unfit to bear the bitter cold I can scarcely move Or draw my breath I can scarcely move Or draw my breath Let me, let me, Let me freeze again Let me, let me Freeze again to death Let me, let me, let me Freeze again to death...

quarta-feira, 18 de dezembro de 2019

GOMA DE BÉTULA COM 5700 ANOS E O QUE REVELA

                                         The entire genome of a female human who lived in Denmark 5,700 years ago was mapped from a piece of birch pitch that she chewed.

Num sítio arqueológico da Dinamarca com 5700 anos, uma «pastilha elástica» descartada encerrava muita informação sobre quem a mascou: 
Foi sequenciado o genoma completo da mastigadora de goma de bétula. Esse ADN corresponde a uma mulher ou uma criança do sexo feminino, com traços fisionómicos mais próximos dos caçadores-recoletores da Europa do Oeste, do que dos agricultores que se tinham instalado recentemente (nessa época) na região. 

                 


Além do ADN da menina, a goma de bétula também revelou a composição de micro-organismos presentes na cavidade oral: tinha o vírus de Epstein-Barr e deve ter sofrido de mononucleose. 
Outra equipa de cientistas tinha descoberto, no ano anterior, também na Escandinávia, goma de bétula mascada, ainda mais antiga. 
É muito raro obterem-se em escavações, ossos fossilizados do Mesolítico e do início do Neolítico na Escandinávia. Por isso, a técnica genómica aplicada a goma de bétula permite identificar muitos traços das populações desse período que - de outro modo - seriam difíceis de obter.
É fantástica a quantidade de dados que a genómica aplicada à arqueologia tem revelado, sem dúvida, incluindo novos e surpreendentes aspectos da vida humana.

terça-feira, 17 de dezembro de 2019

[Manlio Dinucci] 3 triliões de dólares no poço sem fundo afegão

                             
A Arte da guerra: 
Três Triliões de Dólares no Poço Sem Fundo Afegão
Manlio Dinucci


Na Declaração de Londres (3 de Dezembro de 2019), os 29 países da NATO reafirmaram “o empenho na segurança e na estabilidade, a longo prazo, do Afeganistão”. Uma semana depois, de acordo com a “Lei da Liberdade de Informação” (usada para esvaziar, depois de vários anos, alguns esqueletos dos armários, de acordo com a conveniência política), o Washington Post tornou públicas 2.000 páginas de documentos que “revelam que as autoridades americanas enganaram o público sobre a guerra do Afeganistão”. Essencialmente, ocultaram os efeitos desastrosos e também as implicações económicas, de uma guerra em curso há 18 anos.

Os dados mais interessantes que surgem são os dos custos económicos:

Ø Para as operações militares, foram desembolsados 1.5 triliões de dólares, cifra que “permanece opaca” - por outras palavras, subestimada - ninguém sabe quanto despenderam na guerra os serviços secretos ou quanto custaram, realmente, as empresas militares privadas, os mercenários recrutados para a guerra (actualmente, cerca de 6 mil).

Ø Visto que “a guerra foi financiada com dinheiro tomado de empréstimo”, os juros atingiram 500 biliões, o que eleva a despesa para 2 triliões de dólares.

Ø Acrescentam-se a esta verba, outros custos: 87 biliões para treinar as Forças afegãs e 54 biliões para a “reconstrução”, grande parte dos quais “foram perdidos devido à corrupção e aos projectos fracassados”.

Ø Pelo menos, outros 10 biliões foram gastos na “luta contra o tráfico de drogas”, com o bom resultado de que a produção de ópio aumentou fortemente: hoje o Afeganistão fornece 80% da heroína aos traficantes de drogas do mundo.

Ø Com os juros que continuam a acumular-se (em 2023, chegarão a 600 biliões) e o custo das operações em curso, a despesa supera, amplamente, os 2 triliões.

Ø Também é preciso considerar o custo da assistência médica aos veteranos, saídos da guerra com ferimentos graves ou inválidos. Até agora, para os que combateram no Afeganistão e no Iraque, foram despendidos 350 biliões que, nos próximos 40 anos, subirão para 1.4 triliões de dólares.

Visto que mais da metade dessa verba, é gasta com os veteranos do Afeganistão, o custo da guerra, para os EUA, sobe para cerca de 3 triliões de dólares.

Após 18 anos de guerra e um número não quantificável de vítimas entre os civis, ao nível militar, o resultado é que “os Taliban controlam grande parte do país e o Afeganistão permanece uma das principais áreas de proveniência de refugiados e migrantes”.

Portanto, o Washington Post conclui que, dos documentos vindos a público, surge “a dura realidade dos passos falsos e dos fracassos do esforço americano em pacificar e reconstruir o Afeganistão”. Desta maneira, o prestigioso jornal, que demonstra como as autoridades americanas “enganaram o público”, por sua vez engana o público, ao apresentar a guerra como “um esforço americano para pacificar e reconstruir o Afeganistão”.

O verdadeiro objectivo da guerra conduzida pelos EUA no Afeganistão, na qual a NATO participa, desde 2003, é o controlo dessa área de importância estratégica fundamental na encruzilhada entre o Médio Oriente, a Ásia Central, Meridional e Oriental, sobretudo, na periferia da Rússia e da China.

Nesta guerra participa a Itália, sob o comando USA, desde que o Parlamento autorizou, em Outubro de 2002, o envio do primeiro contingente militar, a partir de Março de 2003. A despesa italiana, subtraída ao erário público, tal como a dos EUA, é estimada em cerca de 8 biliões de euros, à qual se junta vários custos indirectos.

Para convencer os cidadãos, atingidos pelos cortes nas despesas sociais, de que são necessários outros fundos para o Afeganistão, diz-se que eles servem para trazer melhores condições de vida ao povo afegão. E os Frades do Sagrado Convento de Assis deram ao Presidente Mattarella, a “Lâmpada da Paz, de São Francisco”, reconhecendo assim, que “a Itália, com as missões dos seus militares, colabora activamente para promover a paz em todas as partes do mundo.”

il manifesto, 17 de Dezembro de 2019

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DECLARAÇÃO DE FLORENÇA
Para uma frente internacional NATO EXIT, 
em todos os países europeus da NATO


Manlio DinucciGeógrafo e geopolitólogo. Livros mais recentes: Laboratorio di geografia, Zanichelli 2014 ; Diario di viaggio, Zanichelli 2017 ; L’arte della guerra / Annali della strategia Usa/Nato 1990-2016, Zambon 2016, Guerra Nucleare. Il Giorno Prima 2017; Diario di guerra Asterios Editores 2018; Premio internazionale per l'analisi geostrategica assegnato il 7 giugno 2019 dal Club dei giornalisti del Messico, A.C.

Tradutora: Maria Luísa de Vasconcellos 
Email: luisavasconcellos2012@gmail.com
Webpage: NO WAR NO NATO

segunda-feira, 16 de dezembro de 2019

OLHANDO O MUNDO DA MINHA JANELA (PARTE V)

Olhando o mundo da minha janela:   partes IIIIIIIV                                     
                  

As «eternas» previsões para o próximo ano, são quase sempre um exercício de futilidade, que apenas pretende reforçar preconceitos, isto é, a «visão» daquele que as emite. 
Vou fugir ao ritual associado à proximidade da passagem do ano, tanto quanto possível. A minha preocupação essencial é de manter a lucidez e o espírito positivo.

Oiço, vejo e leio imensos avisos sobre a crise vindoura, monstruosa, capaz de arrasar a economia mundial, portanto também as sociedades e a civilização. 
Estamos a presenciar uma moda de cataclismos, depois de mergulhados numa moda de contentamento seráfico, beatífico, perante o crescimento «imparável» das cotações bolsistas, em todo o mundo. 
O mundo, pelo menos o dos negócios e da finança, é constantemente agitado por notícias, falsas ou exageradas, e pseudo-análises devidas a pseudo-peritos. 
A repetição constante destas previsões e alertas evocam-me, irresistivelmente, a história do menino da aldeia que, de vez em quando, se punha a gritar: vêm aí os lobos!

Neste site, ao longo do corrente ano de 2019, temos tentado fazer uma selecção criteriosa, ponderando as notícias, não tanto pela sua origem, mas sobretudo, pela sua credibilidade. 
É muito importante, neste aspecto, o critério da coerência. 
Consideremos um quadro duma paisagem: Se essa tela pretende representar a realidade de uma paisagem natural, obviamente não será coerente a presença dum animal tropical - um macaco, um tucano, ou um crocodilo - numa paisagem boreal (próxima do Ártico), nem de um abeto ou dum urso polar, por exemplo, numa paisagem tropical. Analogamente, a descrição dos factos económicos e das relações de poder internacionais, deve possuir coerência  com os factos históricos e outros, para ter alguma verosimilhança.

Assim, quando se nos depara um fim de era, tem ele de possuir alguns traços que também se observaram no passado, noutros períodos históricos  equivalentes. 
Sem dúvida, existem alguns sinais alarmantes:

- As guerras incessantes, a impossibilidade da super-potência dominante as ganhar (sacrificando dinheiro, material bélico e, sobretudo, pessoas), para manter sua presença em locais remotos, cuja relevância para a «segurança nacional» dessa superpotência, é tudo menos inquestionável.

- Um fluxo ininterrupto de dinheiro sem contrapartida («fiat»), derramado nos grandes bancos sistémicos, pelos bancos centrais ocidentais, supostamente para «estimular» a economia, mas que apenas estimulam a especulação e as bolhas, em todas as categorias de activos (acções, obrigações, imobiliário, derivados...). 
Por outro lado, os bancos sistémicos apresentam-se insolventes, na prática. A FED e outros bancos centrais ocidentais, estão desesperadamente a tentar conter a derrocada.  

- A crescente perseguição do que não é «politicamente correcto», dos «dadores de alerta»; a marginalização - por uma media ao serviço de grandes grupos financeiros - de todas as correntes de opinião, sejam quais forem os seus posicionamentos, que estejam fora do que eles, jornalistas do «mainstream» e seus patrões, consideram aceitável. 

- Ainda por cima, a agudização da campanha histérica sobre as alterações climáticas, com os interesses corporativos mais notórios a lançarem-se na «nova economia», «sustentável» (que afinal não o é), dos «amigos do ambiente» (à custa da desgraça dos povos do Sul, dos pobres); a aliança entre os principais bancos mundiais, os governos, a ONU e as organizações do mundialismo (OMC; FMI; etc...), para impor uma taxa carbono global. 

- Por fim, a perda da privacidade: Uma realidade - não já uma mera possibilidade - as pessoas serem escrutinadas, durante 24 horas todos os dias do ano sem sequer suspeitarem, ao ponto de se tornarem ultrapassadas as distopias imaginadas por Aldous Huxley, George Orwell, e outros.    

Desenha-se assim um quadro geral, que pode significar, a termo, uma involução, ou seja, uma ruptura com regressão nos padrões de vida e de civilização. Tem uma probabilidade não tão baixa como isso, pois existem elementos para se considerar que essa involução já está em curso
Todos estes problemas e disfunções existem; vê-los como sinais de fim de uma época, talvez seja - ao fim e ao cabo - bastante acertado.

Pois mais vale prevenir com um ano de antecedência, um colapso anunciado, do que o tentarmos remediar, um segundo depois dele ter acontecido. Tomo a sério, embora não com alarmismo, os sinais de tempestade. Para aumentar a nossa resiliência, para estarmos aptos a enfrentar os tempos difíceis que se anunciam, temos de saber como escapar da Matrix.