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sábado, 15 de fevereiro de 2025

FIM DA GUERRA da OTAN em SOLO UCRANIANO? E O RESTO? (Crónica da IIIª Guerra Mundial - Nº 39)

 Uma guerra que nunca foi declarada formalmente, mas entusiasmou os militaristas de aquém e além Atlântico...
 Porém, a presente guerra mundial continuará - mesmo que sejam assinados acordos de cessar-fogo e de paz com a Rússia -  enquanto indivíduos como van der Leyen, Stoltenberg, Rutte e similares* continuarem na chefia de instituições e governos dos países da OTAN. São co-responsáveis pela carnificina. 

A Ucrânia  está de rastos: esperemos que o povo russo, como povo-irmão do ucraniano, estenda a mão fraterna e ajude na reconstrução. Só assim poderá a Ucrânia escapar às garras dos predadores capitalistas nacionais e internacionais. Os cidadãos ucranianos foram ingénuos. Deixaram-se iludir pelas promessas de paz de Zelensky, na campanha eleitoral de 2019 e pela ilusão  de "solidariedade" dos países da OTAN. Os governos ocidentais usaram,  contra os seus próprios povos,  as campanhas de mentiras, de propaganda e de ocultação da realidade, com a conivência da media corporativa do Ocidente e cumplicidade ativa ou passiva de muitos políticos, incluindo uma parte da esquerda.
 O saldo humano é de mais de um milhão de mortos, incontáveis feridos e inválidos de guerra.  Houve perdas maiores do lado ucraniano, embora houvesse substanciais danos, também,  do lado russo. 

A tragédia deveria servir para que os povos da Europa e os seus respectivos dirigentes políticos tomassem juízo e tentassem minorar o profundo mal que fizeram. A minha esperança  é  ténue,  no que toca  à cidadania e classes políticas dos países ocidentais. Mas, creio que a lição está a ser aprendida depressa pelos povos do Sul. Realisticamente, quanto mais rápida for a perda da dominância do Ocidente colectivo nos assuntos mundiais, melhor. Muitos, no Ocidente, estão ainda iludidos pela propaganda de décadas, um veneno constante e incapacitante das funções  cerebrais. 
Os que, por algum motivo,  conseguiram escapar da acima citada agressão cerebral,  não se devem orgulhar. Mesmo estes não souberam unir-se numa frente política e social anti-guerra. Eles não conseguiram mobilizar-se o suficente para o combate pela paz. 
Também eles/elas têm de pensar seriamente e rever conceitos, ao nivel da estratégia e das táticas, em face  das guerras de hoje: estas são globais, combatidas a vários níveis, totalizantes e assimétricas. Não apenas envolvem armas e exércitos convencionais, mas também contam com a mobilização dos media de massas, reforçando o engano de grande parte dos trabalhadores e da classe média, dispositivos de vigilância generalizada, políticas económicas de austeridade para os trabalhadores, a imposição de leis sabotando as liberdades fundamentais, violação das constituições e dos edifícios jurídicos desses países.  
Devia ser claro, agora: Se deixamos que sejam os políticos, os militares, os bilionários... a ditar o rumo nas nossas nações, eles vão  recorrer a meios ilegítimos e criminosos. Não  podemos deixar que eles se mantenham no poder se não  quisermos ser envolvidos em novos conflitos e guerras fabricadas. Guerras essas, pelas quais ricos e poderosos aumentam sua riqueza e poder e os oprimidos ainda são mais espezinhados, massacrados no campo de batalha e brutalizados em todas as ocasiões. 
A Ucrânia é apenas um dos cenários da IIIª Guerra Mundial que se vem desenrolando há décadas: A guerra continua, agora mesmo, no Médio Oriente, apesar de negociados cessar-fogos de Israel com a Palestina e o vizinho Líbano. Porque os EUA, com o seu presidente e sua nova política, continuam a fornecer armas ao governo genocida de Israel.  O conluio entre Israel-EUA tem igualmente a conivência/ cumplicidade da maioria dos governos da OTAN .

Aprendamos que não  podemos permitir que os governos nos manipulem e que sejam vassalos das grandes empresas transnacionais.
Temos de mudar profundamente; o que só é possível, com auto- crítica rigorosa dos nossos erros e fraquezas.  Ao menos isso...

PS1 (15/02/2025): Siga a discussão sobre o fim da guerra, o papel de Trump e a posição dos aliados europeus na OTAN: Quais os próximos movimentos diplomáticos? Com John Mersheimer, Alexander Mercouris e Gleen Diesen

PS2 (19/02/2025): Registo a resposta histérica e louca de K. Starmer, em relação às conversações de paz sobre a Ucrânia: https://www.armstrongeconomics.com/world-news/war/starmer-wants-to-send-british-troops-to-ukraine/

segunda-feira, 23 de dezembro de 2019

[INÊS PEREIRA:] AS CONSEQUÊNCIAS AMBIENTAIS DA GUERRA

(DE «AbrilAbril», 20-12-2019)
As cimeiras da NATO, em Londres, e do clima, em Madrid, que decorreram quase em paralelo, passaram pelas consequências da guerra no meio ambiente «como cão por vinha vindimada».

                           
A vietnamita Nguyen Thi Thuy, nascida em 1961, cuida do seu filho Tran Thi Hong desde que este nasceu, paralisado, em 1993. São duas das mais de três milhões de vítimas, distribuídas por quatro gerações, do agente laranja, desfolhante lançado pelas tropas norte-americanas durante a Guerra do Vietname, entre 1955 e 1975. CréditosKhairul Anwar / South China Morning Post

Se o ambiente é a vítima silenciosa da guerra, a luta pela paz e contra a guerra é o elefante silencioso nas salas onde hoje tanto se fala de defesa do ambiente ou de emergência climática.
Nos ecrãs continuam a surgir novos protagonistas pseudo-ambientalistas ou pseudo-ecologistas, como é o caso dos líderes da União Europeia (UE). Apresentam-se como grandes defensores do ambiente, ao mesmo tempo que investem milhões e milhões de euros em Defesa e Segurança, protagonizam políticas militaristas, promovem a corrida aos armamentos e deixam para as calendas gregas a proibição das armas nucleares.

São terríveis as consequências ambientais da guerra, como a história do século XX tem demonstrado, e permanecem por anos os efeitos da mesma quer nas populações, quer nos ecossistemas. O sistema capitalista, da Primeira Guerra Mundial às guerras que hoje se travam no Médio Oriente, tem sérias responsabilidades na degradação do ambiente, na contaminação da terra e dos recursos aquíferos, na extinção de espécies de animais, na destruição das florestas e na pilhagem de recursos naturais.

                               
A porta de um templo mantém-se ainda erguida, à frente do Hospital de Nagasaqui, após a 9 de Agosto de 1945 uma segunda bomba atómica lançada pelos EUA ter explodido sobre aquela cidade do Japão. A cidade contava nesse dia com 195 mil habitantes e desapareceu em segundos, sumida na explosão e na tempestade de fogo que se lhe seguiu. 39 mil pessoas morreram e outras ficaram feridas. A fotografia foi tirada pelo repórter George Weller, que chegou à cidade um mès depois e contou: «homens, mulheres e crianças sem marcas exteriores morriam diariamente nos hospitais», sem que os médicos pudessem fazer nada para evitá-lo. As fotografias e os despachos de Weller foram censurados e impedidos de chegar ao público norte-americano, para evitar que este conhecesse o crime cometido. CréditosGeorge Weller /

No final da Segunda Guerra Mundial, em Agosto de 1945, quando o Japão já estava derrotado, os EUA decidiram bombardear as cidades de Hiroxima e Nagasaki com bombas nucleares. Além de ambas as cidades terem sido arrasadas e de centenas de milhar dos seus habitantes terem morrido aquando do bombardeamento e nos meses que se seguiram, sob o efeito letal da radioactividade, ainda hoje os descendentes dos sobreviventes à tragédia – a quem o sistema de saúde japonês continua a ter de priorizar na assistência médica – carregam consigo as duras consequências da exposição à radiação nuclear.

Na Guerra do Vietname é bem conhecida a utilização, pelo exército norte-americano, de bombas de napalm e de herbicidas – em particular do desfolhante agente laranja. Esta actuação deliberada causou uma forte desflorestação, a extinção de espécies animais, a contaminação de habitats, e a proliferação de doenças irreversíveis como malformações congénitas, cancro e síndromes neurológicos, por milhões de vietnamitas. Cinquenta anos depois, há ainda no Vietname locais onde a pesca em rios e lagos continua proibida e o agente laranja ainda chega aos humanos a partir de sedimentos de rios e lagos, acabando este por entrar na cadeia alimentar1.

                                
Crianças vietnamitas fogem perto de Trảng Bàng, depois de um ataque com napalm executado pela força aérea do regime pró-americano de Saigão, Vietname do Sul, a 8 de Junho de 1972 CréditosNick Ut / The Associated Press
Durante a primeira Guerra do Golfo (1990-1991), os EUA bombardearam o Iraque com 340 toneladas de mísseis contendo urânio empobrecido. Investigações denunciaram, desde 19982, que a radiação dessas armas envenenou o solo e a água do Iraque, tornando o ambiente cancerígeno e contribuindo para o aumento dos casos de cancro entre os iraquianos no pós-guerra, nomeadamente entre as crianças. A destruição da infra-estrutura iraquiana pelo exército dos EUA e os seus aliados da NATO, em bombardeamentos sucessivos, teve como consequência o vazamento dos esgotos para as ruas e para os rios, bem como o despejo de óleos das refinarias e oleodutos no solo e, consequentemente, o envenenamento de terras e cidades3.

                   
Soldados executam um bombardeamento de artilharia no Norte do Iraque, a 14 de Agosto de 2016. As munições de fósforo branco estão visíveis no canto inferior direito CréditosDaniel Johnson / Exército dos EUA

E em 1999 as munições de urânio empobrecido foram pela primeira vez utilizadas na Europa, durante a guerra desencadeada pela NATO contra a Jugoslávia, na que foi a primeira agressão militar a um país soberano no continente europeu, após a Segunda Guerra Mundial. As mesmas causas comprovaram as mesmas consequências: a substância tóxica, usada para dotar os projécteis de um mais elevado poder de penetração, é vista como estando na origem do aumento de cancros entre a população civil. Têm sido detectados cancros, em crianças sérvias com menos de 15 anos de idade, com uma frequência três vezes mais elevada do que em qualquer país europeu.
Entretanto, nas cimeiras da NATO em Londres e do clima em Madrid, que decorreram quase em paralelo, responsáveis políticos e ambientalistas, nomeadamente as novas figuras mediaticamente emergentes, passaram pelas consequências da guerra no meio ambiente «como cão por vinha vindimada»!
Uns e outros parecem mais preocupados em taxar cápsulas de café e a roupa que vestimos, ou fazer-nos regressar aos tempos do transporte por barco a remos e por burro, do que em dar combate ao todo-poderoso complexo militar-industrial e denunciar as consequências ambientais da utilização, por exemplo, de porta-aviões, submarinos, tanques e outros veículos de guerra ou os efeitos de testes nucleares em diversos pontos do globo.
A defesa da paz está fora das prioridades dos dirigentes da UE, ao mesmo tempo que os media tendem a esconder e a silenciar a luta contra a guerra. O investimento na guerra terá duras consequências para o Homem e para a Natureza. Por isso, o reforço da luta anti-imperialista e pela Paz é cada vez mais uma emergência. Também climática.


1.Segundo cálculos efectuados por ambientalistas, «seis a doze gerações» de vietnamitas serão afectadas por doenças e malformações congénitas causadas pelo agente laranja. Ver «Vietnam war: 44 years on, birth defects from America’s Agent Orange are increasing», no South China Morning Post, em 8 de Junho de 2019.
2.Ver «The evidence is there - we caused cancer in the Gulf», de Robert Fisk, no The Independent, em 16 de Outubro de 1998, e «Depleted Uranium and the “Liberation” of Iraq: A Report from Hiroshima», de Christian Scherrer, investigador do Instituto da Paz de Hiroxima, na revista The Asia-Pacific Journal, volume 2, número 2, de 28 de Fevereiro de 2004. Um «estudo conclusivo» sobre o tema, segundo o Global Research Network, foi publicado em 22 de Agosto de 2017 pelo Prof. Souad N. Al-Azzawi, ver «Depleted Uranium and Radioactive Contamination in Iraq: An Overview», em 25 de Novembro de 2019.
3.Ver mais em «What's the environmental impact of modern war?», de Karl Mathiesen, no The Guardian, em 6 de Novembro de 2014.