sexta-feira, 2 de novembro de 2018

Sumi Jo interpreta «AN DIE MUSIK» de SCHUBERT



Sumi Jo possui uma voz excepcional, com uma gama extensa e uma grande riqueza de timbre. 
Aprendi a apreciá-la ouvindo um CD que me foi oferecido há muitos anos: «Journey to Baroque». 

Esta versão do lied de Schubert é muito boa, embora existam várias outras que poderia ter seleccionado. 

                                
                                     Manuscrito de «An die Musik» (*)
 
                               (*https://en.wikipedia.org/wiki/An_die_Musik)

Abaixo, a letra (*)  em alemão e tradução em inglês:

Original GermanEnglish Translation
Du holde Kunst, in wieviel grauen Stunden,
Wo mich des Lebens wilder Kreis umstrickt,

Hast du mein Herz zu warmer Lieb' entzunden,
Hast mich in eine beßre Welt entrückt,
In eine beßre Welt entrückt!
Oft hat ein Seufzer, deiner Harf' entfloßen,
Ein süßer, heiliger Akkord von dir,

Den Himmel beßrer Zeiten mir erschloßen,
Du holde Kunst, ich danke dir dafür,
Du holde Kunst, ich danke dir!
You, noble Art, in how many grey hours,
When life's mad tumult wraps around me,

Have you kindled my heart to warm love,
Have you transported me into a better world,
Transported into a better world!
Often has a sigh flowing out from your harp,
A sweet, divine harmony from you

Unlocked to me the heaven of better times,
You, noble Art, I thank you for it,
You, noble Art, I thank you!                                       

quinta-feira, 1 de novembro de 2018

DO NEOLÍTICO À IDADE DO BRONZE (PARTE IV *)

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                 Carro da idade do bronze, com c. 4000 anos

Se a sequenciação completa do genoma humano trouxe uma série de surpresas (mas isto seria tema para outro artigo) a descoberta de ADN antigo de várias proveniências e o seu relacionamento com o ADN das pessoas contemporâneas tem um papel igualmente desestabilizador relativamente às «certezas» das origens deste ou daquele povo. 
Hoje, iremos ver como é que um povo - os yamnaya - oriundo de uma zona entre as montanhas do Cáucaso e o Mar Negro, chamada o Ponto, se expandiu há cerca de 4500 anos atrás, espalhando os seus genes - como comprovado pelo ADN antigo - mas também a sua língua, o proto-indo-europeu, de onde derivaram quase todos os idiomas actuais da Europa e também do Próximo-Oriente, da Pérsia e do Norte da Índia.
Com efeito, contrariamente ao que se pensava, o modelo de transformação de uma cultura noutra por influências, «continuísta», não é o mais adequado, sendo antes a ruptura decorrente de invasão e conquista, uma modalidade de transformação que se afirma cada vez com maior nitidez, à medida que o ADN antigo vai sendo mais utilizado nos estudos.
Segundo os estudos com ADN antigo, os haplotipos autóctones (presentes no cromossoma Y) são substituídos, há cerca de 4500 anos atrás, seguidos de transformações em muitos aspectos tecnológicos, como as cerâmicas cordiformes, sepulturas de novo tipo, formando pequenas colinas artificiais e rituais diferentes de sepultamento, sepulturas individuais em vez de colectivas. Tudo o que se conhece nesta transição, indicia uma mudança de uma sociedade relativamente igualitária, para uma fortemente hierarquizada. 
Esta modificação teria mesmo sido acompanhada pelo desaparecimento completo dos autóctones do sexo masculino na Península Ibérica, como refere David Reich (1).

A domesticação do cavalo (2) e a utilização da roda radiante (ao contrário da roda de madeira sólida) tornando mais leves e ágeis os carros de guerra, terão sido os meios que permitiram a rápida conquista dos Yamnaya. 
Eles invadiram em ondas sucessivas, ultrapassando as grandes estepes e planícies a leste do Danúbio e do Elba, até ao Oeste do continente europeu, até o Atlântico. A data da conquista de Península Ibérica terá sido um pouco mais tardia, mas nem por isso foi menos avassaladora, ou mesmo, brutal.  
As hostes eram compostas essencialmente por homens; as mulheres não seriam mais do que um décimo da população em migração. Sabemos isso, pelo rasto do ADN antigo de haplotipos de  mulheres yamnaya, em populações europeias ocidentais após a invasão.
Houve portanto formação de descendentes híbridos entre homens yamnaya e mulheres autóctones. 

Note-se que ocorreu outra substituição de haplotipos típicos de uma população masculina autóctone de caçadores-recolectores, com aparecimento de novos haplotipos, oriundos de populações que já praticavam agricultura, muitos milénios antes (cerca de 10 mil anos antes do presente), aquando da transição do Paleolítico tardio para o Neolítico. Na Península Ibérica, o processo terá ocorrido há cerca de 8000 anos, bastante mais tarde que em relação ao centro da Europa. 
As migrações que espalharam as culturas do Neolítico na Europa deixaram rasto nos ADN dos cromossomas Y: verifica-se uma substituição não a 100%, mas da ordem de 80%. 
Por contraste, nas invasões do fim da idade do cobre (Calcolítico), início da idade do bronze, observa-se uma substituição total dos haplotipos anteriores (masculinos). Os especialistas em dinâmica populacional (3) da antiguidade colocam portanto a hipótese de que existiu uma guerra de extermínio e escravização dos sobreviventes, com tomada das mulheres dos povos submetidos pelos guerreiros invasores.

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Não sou a pessoa indicada para escrever em detalhe sobre as mutações (4) que sofreu o continente europeu, ao longo dos milénios do que se convencionou chamar a pré-história. 
Apenas gostava de chamar a atenção para o facto de haver muitas culturas esquecidas do grande público, do imaginário colectivo, apenas estudadas pelos eruditos. Mesmo as várias narrativas da antiguidade, que referem povos como os «filisteus» (Bíblia), ou os «troianos» (Ilíada), têm contribuído para uma visão parcial dos mesmos; só agora, com a arqueologia contemporânea, podem ser plenamente reavaliados. 



(1) A genetic analysis has revealed that, about 4500 years ago, part of southern Europe was conquered from the east. In what is now Spain and Portugal, the local male line vanished almost overnight, and males from outside became the only ones to leave descendants.
David Reich of Harvard Medical School in Boston, Massachusetts presented the results on Saturday at New Scientist Live in London, UK.
https://reich.hms.harvard.edu/

terça-feira, 30 de outubro de 2018

CICLO DE CINEMA DEDICADO A CHAPLIN (CHARLOT) na fábrica de alternativas de Algés

Ciclo de Novembro 2018 - Charlie Chaplin

Ciclo de Novembro 2018 – Charlie Chaplin

A Fábrica de Alternativas exibe em Novembro um ciclo dedicado ao grande mestre do humor Charlie Chaplin. O ciclo inicia-se com “O grande ditador” no dia 1 e “Tempos modernos” no dia 8, prossegue com “Luzes da cidade” no dia 15 e “O garoto de Charlot” no dia 22 e termina com “A Condessa de Hong Kong” no dia 29.

segunda-feira, 29 de outubro de 2018

UMA «UNIÃO» EUROPEIA EM DESAGREGAÇÃO

A imagem que me ocorre quando reflicto nos processos que se verificam actualmente na União Europeia, é a de arribas ou falésias, em que as bases são escavadas pelo mar, as fissuras no calcário das arribas vão-se alargando e - de tempos a tempos - um enorme bloco deixa de ser capaz de se sustentar e cai ao mar ou na orla costeira. 

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Aqui, na minha analogia, os blocos representam nações: no estádio mais avançado da desagregação está a Grã Bretanha e seu doloroso e incerto «brexit». 
Mas o processo de fragmentação existe também a Leste, com o grupo de países (Polónia, Hungria, República Checa, Eslováquia) que recusa a política de migração imposta pelos poderes dominantes da UE. 
Outro grupo problemático é o dos países com défices e dívidas públicas excessivos. Estes incluem vários países do Sul: Grécia, Itália, Espanha e Portugal. 
Nestes países, a crise do tecido económico com desemprego de massa, resultante da austeridade imposta desde Bruxelas, engendrou uma profunda crise social. 
A Itália tem um governo, resultante de uma coligação heterogénea, mas que está decidido a fazer frente às exigências de um «Euro-grupo», dos comissários e doutros burocratas que, afinal, não representam senão a vontade da oligarquia instalada na mecânica eurocrática.  
Tudo se conjuga, neste dia 29 de Outubro, para que a Itália veja rejeitado o seu orçamento pelos todo-poderosos comissários da UE. 
Porém, ao contrário do que certa imprensa propala, papagueando o discurso dos eurocratas em Bruxelas ou de quem os apoia ao nível local, a Itália tem boas razões para manter tal orçamento, moderadamente expansionista, num contexto em que a crise social, iniciada com a grande recessão de 2008, permanece - 10% de desemprego - gerando ou aprofundando fenómenos inquietantes como racismo, xenofobia, etc. 
O rigor contra Itália explica-se como uma espécie de retaliação pelo facto do seu governo não aceitar as políticas migratórias instituídas pelos poderes centrais. 
Com efeito, o seu orçamento com um défice de 2,4% apresenta uns 0,4% acima do que os comissários de Bruxelas achavam sustentável, porque a dívida pública italiana excede 132 % do PIB. Mas, por outro lado, um orçamento moderadamente expansionista é necessário para desencadear um maior consumo nas camadas que foram mais afectadas pelos dez anos de depressão que atravessamos. 
Se houvesse um mínimo de boa vontade, não iriam ser colocados demasiados obstáculos à Itália, até porque o seu governo tem uma legitimidade muito maior do que os senhores de Bruxelas. 
Mas, aqui joga-se um jogo que visa intimidar, dar o exemplo: «se te portas mal, olha o que te acontece». O comportamento da UE em relação à Grécia, em 2010-2014, seguiu este padrão. 
O que se está a passar com o «brexit» igualmente, embora as responsabilidades do péssimo governo de Theresa May também sejam enormes. 
A média económica põe em realce a subida dos juros das obrigações soberanas italianas: porém, deveria também realçar o facto de que as obrigações soberanas (a dívida emitida pelos estados) de todos os países do sul foram compradas sistematicamente pelo BCE, durante mais de 6 anos (2012 -2018) e distorceram o mercado da dívida destes países, até valores de juros irrisórios, totalmente artificiais. 

Creio que a miopia da eurocracia no poder vai arrastar a Itália para a ruptura. Mas a Itália tem muitos trunfos; tem potencial na indústria, no comércio, no turismo. Terá, com certeza, muitos parceiros económicos (dentro e fora da Europa) com os quais poderá estabelecer acordos mutuamente vantajosos.   

sábado, 27 de outubro de 2018

DO NEOLÍTICO À IDADE DO BRONZE (parte III)

[Ver parte I - aqui;  parte II - aqui]

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Aves estilizadas, baixo relevo num pilar em Gobekli Tepe

Neste episódio, damos um grande passo atrás, para examinar as origens do período neolítico. Muitos milénios nos separam dos primórdios da história, da existência da escrita.

Se há um achado arqueológico que tenha influência decisiva no modo como vemos este longo período, que corresponde à maior revolução de todos os tempos, esse é Goblekli Tepe. 
                 
Este local era conhecido desde os anos 1960, mas erradamente foi datado como cemitério bizantino, do século XIV da nossa era. Uma vez correctamente avaliado, as datações do mesmo ficaram claras e inequívocas. Com efeito, os monumentos tinham sido cuidadosamente soterrados debaixo de espessas camadas de terra, o que proporcionou a sua datação rigorosa com carbono 14. De outro modo, isto seria impossível, pois a pedra - em si mesma - não fornece uma datação com este isótopo. 
Estima-se que o complexo de Gobleki Tepe tenha mais de 12 mil anos. Ele foi - portanto - erguido na transição do Mesolítico para o Neolítico. 

O planalto da Anatólia, onde se situa este monumento megalítico, pertence ao chamado «Crescente Fértil». 
Na altura em que Gobekli Tepe foi erigido, a natureza era generosa: havia abundância e diversidade de espécies, em resultado da temperatura mais amena e de maior quantidade de água disponível, após a última glaciação. 
A densidade de caça, de cereais e de frutos selvagens, tornavam a vida particularmente fácil para os humanos que ocupavam a região. Corriam cervos e gazelas pelos campos onde gramíneas selvagens, com sementes nutritivas, eram fáceis de colher. A selecção das gramíneas autóctones selvagens nesta região e a sua transformação em cereais cultivados, foram o feito decisivo destes povos, o que corresponde à adopção de um modo de vida baseado na agricultura. Enquanto estivessem na planície com esta fonte de alimento quotidiano, fácil de colher, não haveria escassez. Mas, se tivessem que se deslocar para outras paragens, menos propícias, uma porção de cereal podia ser alimento ou semente de cultivo. 





                         Seems To Have Been Backfilled ... is listed (or ranked) 2 on the list This Archaeological Site Is Rewriting Our Entire Understanding of Human History
                         Círculos de pedras erguidas em Gobekli Tepe


As ossadas descobertas em Gobleki Tepe são de animais selvagens, como cervos e javalis; mas não se encontraram ossadas humanas. Não foi portanto necrópole, nem aldeia. 
Gobleki Tepe teria sido um complexo litúrgico, um templo a céu aberto, construído respeitando alinhamentos com determinadas constelações. 
Mesmo não sendo local de habitação permanente, foi - sem dúvida- da maior importância para seus construtores. O tempo e o esforço dedicados à sua edificação foram, com certeza, enormes. Foram precisas centenas de pessoas para escavar, transportar e esculpir as enormes pedras, com dezenas de toneladas. Umas poucas centenas de indivíduos, nessa época, corresponderiam a toda a população adulta duma tribo, ou a uma confederação de clãs.  
Os pilares com animais extraordinariamente bem esculpidos (seriam as suas ferramentas de pedra?) poderiam representar os animais-totem de tribos ou clãs confederados. 
Quanto à religião que unia estes povos... nada sabemos, na verdade: porém, deve ter sido um elo muito forte para conseguir manter a coesão dos grupos, trabalhando durante períodos longos, em tarefas penosas e especializadas, tais como o transporte e a talha de pedras com várias toneladas.  
O mistério adensa-se pelo facto de que a extensa área sagrada [50 vezes maior e 6 mil anos mais antiga que Stonehenge] foi cuidadosamente enterrada no 8º milénio depois de ter servido em contínuo durante 3 milénios, como centro de culto. 
De facto, o sítio de Gobleki Tepe não está numa região onde se tenham encontrado abundantes vestígios de culturas anteriores, que pudessem indiciar uma transição paulatina do paleolítico recente para o neolítico. 
O grau de perfeição arquitectural e técnico do conjunto é muito surpreendente, tal como a escala grandiosa do monumento. 
A hipótese de Graham Hancock é de que terá havido uma transferência de tecnologia dos sobreviventes dum povo «ante-diluviano», para os habitantes da Anatólia e do Crescente Fértil. 
Assim, Hancock considera que o aparecimento deste grande monumento de pedra, no local e na altura precisa em que principia a agricultura, ficaria explicado. A transferência dos saberes terá ocorrido após uma grande catástrofe, ocorrida há cerca de 12 500 anos atrás, que dados geológicos recentes indicam ter sido à escala global, um embate dum asteróide que afectou gravemente o planeta, com grandes subidas dos níveis dos oceanos, alterações climáticas brutais e o desaparecimento de avançadas civilizações.

Penso que o mundo, saído do período glaciar, estava modificado o suficiente e os humanos dessa época (mesmo sem tal migração dos «sobreviventes de Atlândida») podiam ser sido forçados a desenvolver aceleradamente novos meios técnicos à medida dos desafios, tanto do ambiente natural, como social. 
Com efeito, as condições extraordinariamente favoráveis para o homem (e para muitas outras espécies) na zona, terão provocado um crescimento acentuado das populações de caçadores-recolectores. Estes, até então, devido à fraca densidade e à necessidade de acompanhar as migrações da caça, teriam muito poucas ocasiões de se cruzarem com outros grupos, pacifica ou menos pacificamente. 
Mas quando a densidade populacional aumentou de modo significativo, a estrutura social dos clãs poderia ter ficado em risco, caso estes caçadores-recolectores não tivessem elaborado um sistema de símbolos e de cultos, com um potente efeito unificador e pacificador: a realização de um grande trabalho colectivo para edificação de um local de culto, a manutenção do mesmo, a realização periódica de festivais associando os vários clãs, reforçavam a coesão social destes grupos. 
Este local seria o ponto de troca de informações dos vários grupos semi-nómadas: neste santuário, em determinadas épocas do ano, teriam oportunidade de trocar presentes, de efectuar alianças e noivados, de contar histórias e perpetuar a memória colectiva...
Não me custa acreditar na sofisticação das culturas dos caçadores-recolectores, pois o homem paleolítico deixou, em grutas e noutros locais, numerosos exemplos do seu extraordinário vigor criativo e indícios claros duma religião animista. 

              
          Gravura rupestre no Vale do Côa, Portugal datada de 15-12 mil anos (1)

As culturas materiais podem até ser relativamente pobres e não reflectirem o grau de sofisticação da psique, em povos ditos «primitivos». Hoje, graças a estudos de antropólogos, sabemos que os índios da Amazónia ou os aborígenes australianos, por exemplo, possuem complexos e elaborados ciclos de  narrativas mitológicas!
Seja como for,  existe este desafio  de reavaliar toda a informação, os sítios arqueológicos desta época (do fim do paleolítico, do mesolítico, do início do neolítico), em várias regiões do mundo. 

sexta-feira, 26 de outubro de 2018

J.P. RAMEAU: obras para cravo

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Jean-Philippe Rameau (1683 - 1764)

Um jovem provincial desembarca em Paris no início do século XVIII, com um rolo de partituras debaixo do braço, uma ambição de fama e glória, mas também uma forte formação de organista pela sua tradição familiar. 


O prelúdio da primeira série de peças para cravo tem o mérito de mostrar um exemplo de peça típica da escola francesa para cravo: 


Trata-se de uma peça com latitude para o intérprete, num estilo improvisado, razão pela qual não existem barras de compasso, «prélude non-mesuré». Logo nesta peça de juventude, Jean-Philippe Rameau anuncia quem é e ao que vem. Mais tarde, ficará conhecido como teórico polémico e popular autor de óperas. Irá polemizar com celebridades da Enciclopédia, nomeadamente, J.-J. Rousseau e D'Alembert.  
A força da sua personalidade e a sua subtileza transparecem nas peças seleccionadas por Scott Ross, no vídeo abaixo...

                

 Estas permitem-nos «sentir» o século XVIII francês: um discurso aparentando frivolidade, às vezes... mas capaz de se mostrar subtil, irónico, terno, ou enfático, em resumo: um teatro de sentimentos. 
É que este discurso musical banha na mesma atmosfera que os debates dos filósofos nos «salons», ou que os diálogos das comédias de Marivaux.  
A linguagem da escola francesa construiu-se numa sucessão ininterrupta de grandes cravistas do século XVII, uma grande tradição de que Rameau é ponto cimeiro. 
Depois dele, houve grandes músicos de talento ímpar; mas Rameau continua sendo o mais célebre músico francês do século XVIII, nos dias de hoje.