Potemkin era primeiro-ministro
da Tsarina Catarina da Rússia, que reinou na segunda metade do século XVIII.
As aldeias Potemkin eram estruturas de
madeira, pintadas com cores vistosas, reproduzindo as fachadas de casas, ao
longo das estradas que atravessavam aldeias, pelas quais a Tsarina e sua
comitiva passavam, de coche ou de trenó. Eram apenas cenários postiços, não
deixando ver a miséria das choupanas por detrás, escondendo a realidade da vida
nos campos.
A partir desse momento,
começou a utilizar-se a expressão «aldeia Potemkin» para designar, num sentido
mais ou menos metafórico, quaisquer esquemas mediáticos que pintem de cores risonhas
as realidades da sociedade e sobretudo da economia, num determinado país.
Isto vem a propósito da
constante degradação em termos económicos reais da situação de vários países ditos
do «Ocidente» (nos quais se inclui também o Japão) acompanhada de uma barragem
de propaganda pelos diversos media convencionais, a propalar o mito de que
existe um «crescimento» económico, de que há significativa diminuição do
desemprego, tanto nos EUA como na Europa, que os problemas com a dívida, não
são inultrapassáveis, etc. etc.
A realidade, porém, é outra:
- O «Quantitive Easing»(QE), ou seja, a impressão monetária, que os diversos bancos centrais do «campo
ocidental» têm realizado, tem estado a distorcer toda a estrutura do crédito: os
países mais endividados e com problemas económicos estruturais, graças à compra
sistemática da sua dívida pelos bancos centrais (nomeadamente, os países do sul
da Europa, cujas emissões de dívida são compradas em larga escala pelo ECB) beneficiam de um juro baixo, irrealmente baixo.
- Os países mais fortes
emitem obrigações com taxa de juro NEGATIVAS (cerca de 30% DO MERCADO EUROPEU),
coisa nunca vista: emprestar dinheiro e pagar à entidade devedora…e não ao
contrário!
- A compra discreta de acções, é efectuada pelos bancos centrais (os maiores compradores são o Japão e a Suíça). Esta importante e constante compra pelos bancos centrais de acções, que antes apenas eram transaccionadas entre privados, mantém e aumenta a enorme bolha especulativa nas principais bolsas mundiais.
O maior accionista da «Facebook» … é o Banco Nacional
Suíço!
- As companhias de
seguros, os fundos de pensões, os bancos, são - muito justamente -obrigados
pelas legislações e por regras internas a possuírem uma dada percentagem dos seus activos em produtos financeiros com baixo risco. Sendo assim e dada a supressão quase total
de rendimento nestes activos, têm de arriscar mais e mais nas bolsas e nos
mercados de derivados, para manterem a sua rentabilidade global, o que aumenta exponencialmente o seu risco de falência. Ela já se perfila em vários fundos de pensões, do outro lado do Atlântico.
- Os países ocidentais
acordaram em 2014, em Brisbane (Austrália), numa série de procedimentos prevendo a «resolução» de bancos endividados, em que as entidades públicas apenas em
última instância têm de entrar com o dinheiro dos contribuintes, sendo estabelecido
uma hierarquia de credores. Nesta, os depositantes ficam nos últimos lugares, pois
são considerados «credores não garantidos». A existir uma crise, ela será mundial e sistémica, vários
bancos entrarão em falência, em simultâneo. Os ditos fundos de «garantia» do Estado para nada servirão: não chegam a cobrir 5% do montante total de contas
bancárias.
- As estatísticas estão falseadas, como se pode ver muito claramente no caso dos números do desemprego:
se subtrair a população com emprego à população total em idade de trabalhar,
dos respectivos países, verá que cerca de metade dessa população (50%!) não trabalha. Isto não se deve a uma opção deliberada destas pessoas, na sua imensa
maioria: muitas são pessoas que foram despedidas do seu trabalho, não
conseguem novo emprego e acabam por desistir de o procurar. O desemprego
jovem atinge níveis de rotura social, pondo mesmo em causa a continuidade das
gerações (os casais jovens, não tendo estabilidade financeira mínima, não
querem ter filhos, o que é lógico).
- Vários índices que
poderiam ser úteis para os atores económicos (caso do VIX) não dão o alerta
como deveriam, pois há um excesso de confiança nos mercados, nas bolsas. Pelo contrário, as cotações do
ouro e da prata, que são valores-refúgio tradicionais e cuja cotação aumenta quando
a situação financeira é menos boa, são suprimidos por agentes dos bancos
centrais através da venda em vazio (naked-short-selling) de contratos futuros
(biliões de dólares de contratos vertidos instantaneamente, nas horas mortas
dos mercados), anulando assim a sua potencialidade de «canário na mina» destes
metais.
- O nível de
endividamento dos Estados (ver quadro acima), das corporações e das famílias é absolutamente ingerível.
A única maneira que banqueiros e governos têm de «resolver» esta situação – além de declarar falência, claro! – é atirar os problemas, que se vão avolumando,
para as futuras gerações, ao mesmo tempo que vão desvalorizando a sua própria
divisa, emitindo tanta quanto for necessário para fazer «rolar» a dívida, para
pagar os juros, etc. Julgam que, com o tempo, a desvaloziração da moeda reduz a quase nada o valor do capital em dívida… Têm conseguido manter a ilusão de normalidade, mas é impossível fazê-lo sempre pois os juros e o próprio capital em dívida se têm vindo a acumular; basta um «cisne negro» para deitar tudo a perder.
- Entretanto, os que vivem dum salário ou pensão de reforma (a
imensa maioria) serão castigados pela inflação: salários e pensões têm (nominalmente) ficado constantes nas últimas duas décadas, no melhor dos casos; porém, a inflação verdadeira, não os valores fictícios dos governos, ronda os 10% nos EUA e na Europa.
- Os contrastes entre
ricos e pobres não param de crescer, em especial nos países mais afluentes, o
que prova a total falência do modelo económico e social do liberalismo, para o
qual não haveria nenhuma alternativa (dizem) dum qualquer tipo de socialismo ou social-democracia.
- Mesmo as propostas
menos arrojadas são imediatamente sabotadas, difamadas, o que torna ainda mais prováveis
as insurrecções: os governos sabem-no bem, pois têm equipado as polícias de choque, como se se tratasse de verdadeiros exércitos e paulatinamente decretam legislação liberticida, eliminando todas as garantias de defesa dos cidadãos
contra o arbítrio do poder.
- Tudo o que a casta
política - ajudada pela media prostituta - tem feito perante o agravar da crise terminal do capitalismo é erguer novas «aldeias Potemkin» ou, nas já
existentes, reforçar os cenários de tela e repintá-los com cores mais
vistosas, para que a plebe não-consciente, alienada e conformada… permaneça na escravidão.
O problema com as «aldeias Potemkin» é que, ao menor choque, se abrem
buracos nas telas de cartão prensado, deixando ver a paisagem verdadeira.
Aliás, de pouco serve remendar tais buracos: uma rabanada de vento mais forte acaba sempre por derrubar o cenário todo!