quarta-feira, 17 de abril de 2024

OPUS VOL.III, 13. O POETA TRANQUILO



Escrevia como se respira

Muitas vezes o vi sentado

Naquela mesa de café

Olhando o vazio

Logo de seguida

Mergulhava num caderno

Onde rabiscava 

Misteriosos signos

Depois, sorvia o café

E ia dar um passeio

Ou recolhia-se em casa

Se o tempo fosse agreste

Não sei o seu nome

Para mim, é «o poeta tranquilo»


terça-feira, 16 de abril de 2024

CRÓNICA (Nº26) DA IIIª GUERRA MUNDIAL... Desejada pelos neocons, entrou num novo patamar


Num certo sentido, a guerra mundial continua o seu curso. Ela não cessou desde que a URSS implodiu. Manifestou-se de forma ostensiva com o ataque - não motivado - das forças da OTAN, para esmagarem a ex-Jugoslávia, o país que não se conformava ao «diktat» neoliberal. A falsa bandeira - o tal 2º «Pearl Harbour», desejado pelos neocons no poder - do 11 de Setembro, foi pretexto para uma série de guerras de agressão, nas quais os EUA arrastaram os seus Estados-vassalos. Mas, apesar da força avassaladora e da (dita) «superioridade moral» ocidental («With God on our side»), foram escorraçados do Afeganistão e do Iraque; e falharam o derrube, através de proxies (Alquaida, Al Nousra e ISIS, criações do tipo «Frankenstein», do Império), do regime sírio.

Na faixa de Gaza falharam o objetivo declarado pelo estado sionista de Israel, seu governo e sua chefia militar: destruir por completo o Hamas. Não só não o conseguiram, como ficaram muito mais isolados na cena internacional, para não falar da eliminação do sonho, iniciado no consulado de Trump, dos «acordos de paz de Abraão» (com participação da Arábia Saudita e de outros atores vassalos dos EUA). Perante o falhanço, entraram em guerra direta com o Irão, com o objetivo de forçar a intervenção dos EUA, ao lado de Israel, para esmagar definitivamente o Irão. Também neste caso, falharam. O ataque criminoso ao consulado iraniano de Damasco será devidamente vingado pelo Irão, mas não o foi, por enquanto: O que o Irão fez, em vez de cair na ratoeira armada pelos sionistas, foi «mostrar os dentes»*. Fizeram a demonstração de que um futuro ataque maciço com drones e mísseis cruzeiro, não poderia ser eficazmente travado pelas defesas antiaéreas sionistas, nem mesmo com ajuda dos seus aliados.
Se a mensagem não foi claramente compreendida, se se efetivar uma «retaliação» israelita ao ataque do Irão, desta vez haverá nova onda de mísseis, mas já não previamente avisada e com alvos muito mais estratégicos incluindo, por exemplo, centrais elétricas e redes de distribuição de energia elétrica. Sem um fornecimento regular de eletricidade, a sociedade de Israel, sofisticada e demasiado segura de si própria, será confrontada com a realidade; será o desmoronamento dos mitos em que tem sido mantida pela extrema-direita no poder.

 

Creio que as grandes potências tutelando um e outro lado (China e Rússia, por um lado e EUA por outro), não deixarão que as hostilidades possam escalar até ao ponto em que o governo sionista seja tentado a pôr em prática o seu «plano Sansão»: A destruição completa de Israel, conjuntamente com seus inimigos, através da explosão de bombas nucleares (são mais de uma centena, guardadas na base de Dimona).

A atitude dos EUA tem sido muito ambígua; tem fingido que desaprova (fez isso em relação ao genocídio em Gaza, repetiu com o ataque ao consulado iraniano em Damasco), mas não faz rigorosamente nada para impedir que o governo de Israel continue na mesma senda. Porém, seria muito fácil; bastaria ameaçar com o corte do fornecimento de armas e munições ao seu aliado enlouquecido.
Mas não, a chefia dos EUA é do mesmo quilate que a de Israel. O governo dos EUA está dominado pelos neocons, ou seja, os que defendem a hegemonia («full spectrum dominance») dos EUA, a manutenção do seu poderio, das suas bases e das forças aliadas, o que inclui Israel, façam estes o que fizerem.
Espero que a realidade obrigue o bando de criminosos no poder em Washington, a manter-se sóbrio e perceber que não pode vencer esta partida pela força das armas: O melhor dos casos (para ele), seria conseguir o prolongamento do status quo mundial, utilizando diplomacia, não a força bruta.

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*O Irão agiu com medida e prudência para não desencadear o alastramento da guerra no Médio-Oriente, na sua retaliação, face ao crime de guerra israelita de bombardear instalações consulares iranianas em Damasco. Mas, ao mesmo tempo, deixou uma mensagem muito clara aos sionistas e a todos os inimigos que se atrevam a agredi-lo: - O Irão tem meios para causar muito mais danos do que causou agora. Somente danificou pistas de duas bases militares aéreas israelitas, mas tem capacidade técnica para atingir outros alvos, muito mais importantes, em Israel. Não foi uma vingança, efetuarem este ataque de aviso; os iranianos colocam-se num plano de superioridade militar e moral, face aos israelitas. https://www.moonofalabama.org/2024/04/iranian-missiles-hit-israel.html#more

segunda-feira, 15 de abril de 2024

CAUSA PRINCIPAL DO ATRASO ESTRUTURAL DE PORTUGAL

Quais as consequências do alheamento do público em relação ao setor da investigação pública e privada nacionais?

É difícil destrinçar as causas e consequências do atraso secular de Portugal no campo dos saberes e da infraestrutura industrial.

Mas, há interesse dalguns em manter o público arredado. Na base, trata-se por parte dessa «elite», de criar um sentimento de perplexidade no auditor/leitor: «Se isto é tão complicado, com certeza é muito profundo. De tal maneira que eu não consigo penetrar...» A pessoa ingénua é colocada na postura da criança que perante um discurso dos adultos, está desprovida de instrumentos conceptuais, para avaliar o seu conteúdo concreto. Porém, o conteúdo concreto, para quem se dê ao trabalho de esmiuçá-lo, pode ser de uma completa banalidade, quando não de imbecilidade, que apenas as catadupas de termos rebuscados, ocultam. 

Quando estes discursos rebuscados são produzidos, normalmente em congressos, ou outras reuniões entre pares, as pessoas estão numa de duas posturas: ou estão coniventes, porque fazem exatamente o mesmo e - portanto - não vão levantar problemas. Vão coibir-se de fazer críticas demasiado acerbas, pois elas também têm «telhados de vidro». Ou, não percebem realmente que se trata de «pechisbeque», em vez de algo com valor, estão neste caso pessoas que se deixam enganar, entontecidas pelas «luzes da ribalta» e não se atrevem a questionar o «discurso de poder», para não fazer «má figura». É literalmente aquilo a que se resume a maior parte das comunicações de filósofos, economistas, cientistas sociais, etc. que enxameiam a academia.

 Mas, as coisas não se ficam por aqui: O grande - exponencial - crescimento de publicações nas ciências ditas «duras» (física, química, biologia), também é um caso de fancaria, em numerosos casos. Não se trata de publicação de novos avanços, nem enquanto descobertas, nem de algo original, muitas vezes são reproduções de resultados já existentes, ou resultados de duvidosa legitimidade. O prestígio de um cientista individual mede-se pelo número de publicações que este pode apensar ao seu currículo, não à relevância das mesmas para o seu ramo de ciência. 

Como as atividades dos laboratórios de investigação - sejam de instituições públicas ou privadas - estão na dependência de grandes empórios,  como a poderosa indústria farmacêutica em relação às ciências da vida e da saúde, o que sai deles é apenas o que esteja dentro dos parâmetros, dos interesses e das conveniências desses mesmos grandes grupos. O fenómeno é transversal. O resultado, é que se instalou uma relação inversa entre o número de pessoal altamente qualificado na atividade de investigação, e a qualidade intrínseca da investigação realizada, já para não falar da sua relevância social.

Todos, seja a nível de pessoas individuais, seja a nível de instituições, têm de justificar avultados investimentos, com as tais publicações, com os relatórios, com as comunicações a congressos, etc. Que tal seja o produto natural da investigação científica, não nos surpreende: Desde há muitos decénios que é assim. Mas, o que choca é  ausência de mecanismos de controlo, de real avaliação da qualidade da investigação. Chegou-se a um ponto em que a fraude é coletivamente encoberta, para conseguir-se uma aparência de respeitabilidade, na dita investigação. 

O resultado concreto, é que o discurso vai sendo cada vez mais esotérico, mas não traz nada de novo, em conteúdo. A ciência que se faz, seja em termos de ciências humanas ou de ciências físicas e naturais, é de qualidade intrínseca cada vez mais fraca. Sobretudo, confrontando a qualidade média de publicações académicas de há 30, 40 ou 50 anos atrás, com a qualidade média dos artigos produzidos hoje. Esta degradação da qualidade intrínseca é também notória noutros países, que eram considerados «locomotivas» da investigação científica, como o Reino Unido e a França, por exemplo.

A divulgação científica atingiu um nível tal que é impossível descer mais baixo: Vimos isso, a propósito do episódio da «pandemia do COVID», com o nível deplorável das intervenções mediáticas, completamente falseadas e a reboque da propaganda governamental. Mas, para haver tal monstruosa operação de propaganda, que atingiu o grau de terrorismo psicológico de massas em muitos casos, foi importante a colaboração ativa de alguns, que se apresentaram como especialistas disto ou daquilo, enquanto difamavam e silenciavam os poucos especialistas que tentavam colocar a discussão em termos honestos, no debate científico. Este episódio, cuja importância não pode ser menosprezada, teve - pelo menos - a vantagem de abrir os olhos a muitos, que tinham uma visão ingénua da ciência e da integridade dos cientistas, principalmente dos que desempenhavam funções de poder e de prestígio.  

O dispositivo académico está totalmente dependente dos poderes: Seja da indústria, seja dos políticos com importantes cargos no Estado, eleitos ou não. Este dispositivo académico tem cada vez maior necessidade do financiamento destas entidades, visto que as somas atribuídas para investigação, projetos específicos, bolsas, etc., são cada vez mais de exclusiva decisão dos poderes políticos e/ou industriais. Ora, como é bem conhecido, «quem paga é quem manda». O resultado disso, não é apenas uma diminuição da qualidade intrínseca dos resultados da investigação. É também o desperdício de verbas cada vez maiores e de recursos técnicos e humanos, para ir ao encontro de agendas nada transparentes, no mínimo. Não haveria problema que uma parte da investigação fosse financiada pela indústria, se resultante de contratos estabelecidos, de forma transparente, entre instituições. Mas, o problema surge com as inúmeras influências exercidas desde os planos pessoais de certos investigadores, até às influências exercidas através dos ministros e outros em cargos de poder.

Nos países dependentes, como Portugal, é frequente pessoas serem doutoradas no estrangeiro e virem exercer cargos de responsabilidade no país, onde tentam continuar projetos em que estavam envolvidas, nos países onde fizeram o doutoramento: Neste país (Portugal) não existe verdadeiro programa conferindo prioridades e canais de financiamento privilegiados, para certas áreas científicas. Assim, o  trabalho destes investigadores, por muito meritório que seja, acaba por ter como principais beneficiários outros países, outros projetos científicos, aqueles onde foram originados. 

No conjunto, a classe política tem estado «à vontade» em relação à ciência, seja ela feita em laboratórios do Estado, ou em departamentos de Universidades: É um domínio em que tem podido exercer a sua influência, para comprar e deixar-se comprar, pelos grandes interesses. Que estes dominem o país, do ponto de vista económico e financeiro, não nos pode surpreender. Daí decorre a ausência de controlo e fiscalização dos recursos que estão destinados pelo Orçamento de Estado às entidades universitárias e de investigação: É impossível que sejam encaminhados para áreas realmente prioritárias, se os critérios não são os do interesse nacional, numa perspetiva ampla, diferenciada dos interesses particulares, sejam de grandes empórios, ou até pessoais, de «bonzos» instalados nas instituições em causa.

As pessoas, em geral, não fazem ideia de quanto dinheiro é mal aplicado na investigação, mas ainda menos têm noção da riqueza que deixa de ser produzida, em virtude da forma peculiar, irracional e por vezes criminosa, como este setor é gerido. Só um país do terceiro mundo (ou do quarto?) esbanja desta maneira seus recursos financeiros destinados á investigação, os seus recursos de «massa cinzenta» também. Embora isto seja somente um aspeto da dependência face aos países  mais poderosos, é sintomático. A possibilidade de arranque para o desenvolvimento autónomo fica posto em cheque pela política corrompida, neste setor tão crítico.


domingo, 14 de abril de 2024

OPUS. VOL. III 12. ANTEVISÃO

 

Um tiro no escuro...

E o que restou desse tiro?

Estalido, ruído, tremor, temor?

Quando se alumiou a cena, o que ficou?


- Pois uma estranha peça de caça

Carcaça que estava congelada  

E logo se desembaraçou do gelo

Mas sem miolos, feitos em papa


Ergueu-se à custa dos músculos

E quis esmagar tudo e todos

Mas, acabará em desaire 

Inconsciente do que faz!


Deixá-lo! Já basta de bestas

Esta vai dar muitos socos

No vazio, coices nas paredes

Urrando ferozes ameaças


Mas, nós ficamos a olhar

Sem intervir, certos que ela

Desmiolada vai esgotar

As forças sem proveito


E que assim seja:

Que esmurre o vazio

Pois acabará por soçobrar 

Ante seu próprio peso!


Deixá-lo! Já basta de bestas

Que nos atormentam

É tempo de regressar

À paz, à vida, sem mais dor



 

sábado, 13 de abril de 2024

EMBAIXADOR CRAIG MURRAY: O OCIDENTE ESTÁ A DESTRUIR A LEI INTERNACIONAL


A cumplicidade do «Ocidente» com crimes de guerra e crimes contra a humanidade, perpetrados pelo exército de Israel, não apenas agrava a situação humanitária no terreno, como confere um sentimento de «impunidade» ao governo de Netanyahu. Mas também mostra que o Direito Humanitário é apenas usado como argumento, quando isso convém ao Ocidente. Ou seja, não têm - os governos - qualquer intenção de cumprir e fazer cumprir leis, que eles próprios dizem defender. São dias muito sombrios, os presentes. 

PS1: a retaliação iraniana ao ataque de Israel, assassinando funcionários  militares de alta patente que estavam no interior do edifício consular do Irão em Damasco, foi sóbria e manteve -se dentro dos limites das leis da guerra. Com efeito, atacaram alvos militares. O ataque de Israel destinava -se causar um reação impulsiva do governo iraniano, além de desrespeitar a Convenção de Viena e as leis da guerra. O objetivo, da parte do governo de Netanyahu, era também o de arrastar os EUA e OTAN, para a armadilha de uma guerra alargada na região. Netanyahu sabe que só se mantém fora da prisão, porque preside a um gabinete de guerra. Logo que deixar de o ser, nada evitará a sua prisão por corrupção.

 

Trio para Violino, Violoncelo e Piano de Schubert

 Uma peça que eu me habituei a relacionar com o destino e ... com a força de enfrentá-lo, também! 


(gravação ao vivo, obra integral)

Sabemos que Kubrick aproveitou o tema do Andante con moto, em sequência inesquecível do filme «Barry Lyndon», mas a obra merece ser apreciada na íntegra.

sexta-feira, 12 de abril de 2024

O CANÁRIO NA MINA DE CARVÃO*

                                                 O CANÁRIO NA MINA DE CARVÃO*



               Gráfico retirado do site https://www.goldmoney.com/research

Nas últimas semanas, tanto o ouro como a prata, têm subido de forma parabólica, sem cessar. Esta subida é correlacionável com uma situação muito anómala do mercado. Em particular, os acontecimentos geopolíticos indicam aos investidores (apenas 0.5% dos investidores têm ouro nos seus portefólios!) que estamos a passar pelo período mais conturbado, não só do século XXI, como das nossas vidas.

A instabilidade geopolítica foi potenciada por dois acontecimentos:

- O ataque terrorista contra um concerto na periferia de Moscovo, que fez 144 mortos e grande número de feridos, cuja responsabilidade o governo russo atribui aos serviços ucranianos, inspirados por Washington e Londres. Em consequência deste ataque, houve um potenciar e alargar de ações ofensivas russas em toda a Ucrânia.

O segundo evento é o ataque às instalações consulares iranianas, pelos israelitas. Este ataque causou sete mortos diretos, dos quais um general iraniano. 

Ao atacar representações diplomáticas, que são salvaguardadas pela convenção de Viena, estejam onde estiverem e sejam de que país for, o governo de Israel indicou que não hesitaria em transgredir todas as regras e convenções internacionais, como aliás o tem feito abundantemente no genocídio que leva a cabo em Gaza, desde o 7 de Outubro passado. 

Todo o mundo está a aguardar quando e como será a resposta iraniana a este crime. As representações diplomáticas são consideradas território do país; portanto, o ataque de Damasco pelos israelitas é uma agressão ao território do Irão. É uma agressão brutal, sem dúvida, motivada pelo desespero de terem de retirar de Gaza onde -apesar da chacina causada na população civil - não conseguiram erradicar o Hamas (o seu objetivo declarado).  

As pessoas mais bem informadas, assim como grandes empórios financeiros e os bancos centrais, já há muito tempo que começaram a acumular ouro (e prata) para enfrentar a enorme crise económico-financeira-monetária que está agora a começar a desenrolar-se, mas que desde 2008 era visível, aquando do quase-colapso do sistema global do capitalismo e das catadupas de dinheiro oferecido aos grandes bancos sistémicos e aos grandes fundos de investimento. 

Como de costume, os últimos a despertar são os pequenos, convencidos de que estão a  fazer fortuna na bolsa quando, na verdade, o valor nominal das ações deixou de ter significado, face à perda acelerada de valor (em termos reais de poder aquisitivo) das principais divisas nas quais essas ações estão cotadas. 

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* No passado, os mineiros costumavam levar, para dentro das minas, canários engaiolados; se estes morressem, então isso devia-se a concentração elevada de metano, pois os canários eram mais sensíveis.  Então, havia que evacuar a mina, antes que ocorresse uma explosão. Ficou a expressão para designar o sinal que antecede a catástrofe em termos financeiros.