segunda-feira, 12 de novembro de 2018

A PRIMEIRA GUERRA MUNDIAL: LIÇÕES A EXTRAIR


No centésimo aniversário do seu fim, a 1ª Guerra Mundial continua a ser muito polémica. Repare-se que, hoje em dia, várias teses radicalmente opostas se têm confrontado: por um lado, as da media mainstream em geral, portadoras das formas mais convencionais de interpretação a cargo de certos historiadores e, por outro, a forma tradicionalmente da esquerda e em particular da esquerda anti-autoritária, de que se tratou de uma guerra desejada pelos grandes poderes e não foi de forma nenhuma um «acidente de percurso».
A realidade documental é que o governo do Kaiser de então não desejava a guerra de forma nenhuma; mas os governos do Reino Unido e da França, por razões diversas mas convergentes, sim. 
O atentado de Sarajevo foi um evento trágico, explorado de forma a colocar a Europa NA SENDA DA GUERRA. Não seria caso de automática declaração de guerra entre grandes potências, a não ser como pretexto para uma guerra longamente planeada. 
Sarajevo é um mito, tal como a causa da guerra de Tróia, narrada na Ilíada: Realisticamente, não se acredita que a guerra de Tróia (a verdadeira, histórica) tenha sido exclusivamente «causada pelo rapto» de Helena por Pâris.

A guerra foi aceite por muitos proletários, os mais modestos membros das sociedades  nos diversos países ditos civilizados, como a França, a Grã-Bretanha, ou  a Alemanha: contam-se literalmente «pelos dedos» os dirigentes operários, de partidos ou de sindicatos desses países, que se opuseram activamente, que tiveram a coragem de ir contra a onda avassaladora de xenofobia homicida de que as massas estavam apoderadas: 
- Mas como é que se transformaram operários de vanguarda, seguidores das ideias socialistas e anarquistas e, portanto, totalmente contrários à guerra inter-imperialista, numa massa de fanáticos acríticos, desejando ir «torcer o pescoço» ao inimigo? 
Eis um fenómeno que importa aos historiadores da 1ª Guerra Mundial considerar: o enorme peso da propaganda sobre as massas, sobre a opinião pública de então. 
- Qual o papel da intelectualidade em difundir a visão específica em como esta guerra era «justa», «inevitável», para o «bem da civilização», enfim... porque seria, sem dúvida, a «última» das guerras? 

                                

Quando eu olho o panorama actual encontro alguma nostalgia  mas também uma indefinida e pouco explícita «justificação» da intervenção de Portugal na guerra, como a que defende a tese de que a República precisava (??) da guerra para ser capaz de «defender eficazmente» os seus territórios ultramarinos. 
Toda a retórica pró-guerra está envolvida, em países mais centrais ou periféricos, numa aparente mas, ilógica - se pensarmos um pouco - defesa do interessa nacional. AFINAL, O «INTERESSE NACIONAL» É UMA FORMA DE DIZER O «INTERESSE DA CLASSE DOMINANTE NACIONAL». 
A subida dos fascismos (e não somente do nazismo!), tanto na Itália como em Portugal, foram também consequência directa da enorme frustração resultante dos acordos de Versailles:  quem impôs a sua visão do mundo foram as grandes potências vitoriosas de então, França, Grã-Bretanha e os EUA, os quais chegaram tarde ao teatro da guerra, mas souberam explorar muito bem a sua primazia, como credores dos impérios francês e britânico falidos.
O desastre da república de Weimar, nascida não apenas de derrota do Reich alemão, como também da tentativa insurreccional falhada dos proletários das comunas de Berlim e Munique, não está suficientemente explicado, como a própria revolução de Fevereiro de 1917 na Rússia e todo o processo que iria culminar na revolução de «Outubro» (a 7 de Novembro, no calendário europeu ocidental, mas a 25 de Outubro no calendário ortodoxo). As revoltas e revoluções que se  sucederam caldearam, tanto na vitória como na derrota, muito das ideologias totalitárias que se vieram a desenvolver. Mas a forma como as coisas se passaram realmente, durante e no pós- primeira Guerra Mundial, é um dos assuntos da História mais mitificados, portanto mais ocultados, na realidade: assim tem sido feito por cada historiador, ou cada corrente na disciplina, no fundo relacionada com esta ou aquela ideologia: liberal, fascista, comunista, reformista, anarquista... etc.).
Podemos nos horrorizar perante o milhão (!) de mortos caídos de ambos os lados nas trincheiras de Verdun, ou outros horrores da 1ª Guerra mundial; mas não nos surge como real, agora, esse banho de sangue. É simplesmente fora da nossa experiência quotidiana e fora daquilo que comummente concebemos como sendo a guerra total: uma completa aniquilação causada por uma troca de bombas termo-nucleares, a total erradicação da vida humana e de muitas formas de vida do planeta Terra. 

Vejo como preocupante que certos meios e certos media nos queiram vender como decente uma visão de que «nós» tínhamos de fazer a guerra, que esta era «inevitável» e de que «nós» estávamos do lado certo da História, do bem, da moral, etc...

                                            

Para mim, este facto é preocupante porque é um resvalar para a propaganda de guerra: o «limpar» a memória de um acontecimento histórico, de o enaltecer, até, como se fosse um desígnio colectivo de um povo que o tivesse impulsionado contra um povo «inimigo», com toda a carga ideológica que isso supõe. Esta narrativa é a que convém àqueles que, de novo, querem demonizar uma ou outra nação (neste caso, claramente a Rússia e a China). 
Com efeito, a propaganda de guerra que antecedeu e se manteve durante esses quatro horrendos anos de 1914-1918, funcionou como apoio fundamental para o «esforço de guerra» e para a dominação, pura e simples, das massas.
A crise da democracia liberal, a ascensão do fascismo, as aventuras bélicas coloniais, as revoluções e contra-revoluções, as crises económicas e, finalmente, a 2ª Guerra Mundial, foram resultado da abertura da «Caixa de Pandora» da 1ª Guerra Mundial.

sábado, 10 de novembro de 2018

HAENDEL - ODE PARA A FESTA DE STA. CECÍLIA

A confraria de Sta. Cecília agrupava os músicos. Haendel, não apenas foi um destacado membro desta confraria, em Inglaterra, como também foi seu generoso benfeitor.  
Tive um dos maiores prazeres musicais da minha adolescência ao descobrir a riqueza sonora e grandiosidade do desenho desta obra. 

Haendel compõe uma obra verdadeiramente inspirada, sobre o texto poético de John Dryden. O tema principal do poema revolve em torno da centralidade da música na Criação, de acordo com a teoria pitagórica de «Harmonia mundi».





Letra


From Harmony (Recit)

TENOR: From harmony, from heavenly harmony
This universal frame began.
When nature, underneath a heap
Of jarring atoms lay,
And could not heave her head.
The tuneful Voice, was heard from high,
Arise! Arise!
Arise ye more than dead!
Then cold, and hot, and moist, and dry,
In order to their stations leap!
And music's power obey!
And music's power obey!

From Harmony (Chorus)

CHORUS: From harmony, from heavenly harmony,
This universal frame began.
Through all the compass of the notes it ran,
The diapason closing full in man.

What Passion Cannot Music Raise and Quell

SOPRANO: What passion cannot music raise, and quell?
When Jubal struck the chorded shell,
His listening brethren stood 'round.
And wondering on their faces fell,
To worship that celestial sound!
Less than a god they thought there could not dwell
Within the hollow of that shell
That spoke so sweetly and so well.
What passion cannot Music raise and quell?

The Trumpet's Loud Clangour

TENOR: The trumpet's loud clangour excites us to arms,
With shrill notes of anger and mortal alarms,
The double-double-double beat,
Of the thund'ring drum,
Cries hark! Hark! Cries hark the foes come!
Charge! Charge! Charge! Charge!
'Tis too late, 'tis too late to retreat!
Charge 'tis too late, too late to retreat!

The Soft Complaining Flute

SOPRANO: The soft complaining flute
In dying notes discovers
The woes of hopeless lovers,
Whose dirge is whispered by the warbling lute.

Sharp Violins Proclaim

TENOR: Sharp violins proclaim,
Their jealous pangs,
And desperation!
Fury, frantic indignation!
Depth of pains, and height of passion,
For the fair disdainful dame!

But Oh! What Art Can Teach

SOPRANO: But oh! what art can teach,
What human voice can reach
The sacred organ's praise?
Notes inspiring holy love,
Notes that wing their heavenly ways
To join the choirs above.

Orpheus Could Lead The Savage Race

SOPRANO: Orpheus could lead the savage race,
And trees uprooted left their place
Sequacious of the lyre:
But bright Cecilia raised the wonder higher:
When to her Organ vocal breath was given
An Angel heard, and straight appeared –
Mistaking Earth for Heaven.

As From The Power Of Sacred Lays

SOPRANO: As from the power of sacred lays
The spheres began to move,
And sung the great Creator's praise
To all the blest above;
So when the last and dreadful hour
This crumbling pageant shall devour,
The trumpet shall be heard on high,

CHORUS: The dead shall live, the living die,
And music shall untune the sky

sexta-feira, 9 de novembro de 2018

DESVENDADAS ORIGENS E MIGRAÇÕES NO CONTINENTE AMERICANO GRAÇAS AO ADN ANTIGO

No artigo da Science  cuja ilustração reproduzimos abaixo, dá-se conta dos resultados da análise de  64 exemplares de ADN antigo, extraído de ossadas de habitantes do continente americano, desde cerca de 14 500 anos a 500 anos atrás. 
Estes resultam de sítios arqueológicos, datados conforme se pode ver no mapa abaixo, desde o Alasca, no extremo norte, à Patagónia no sul do continente. 


                               



Uma das mais interessantes descobertas é a de múltiplas migrações cujo registo ficou inscrito no ADN dos indivíduos e outra, a existência de uma misteriosa população de origem austral-asiática:
Primeiro Reich tinha descoberto sinais dela em pessoas vivas do Brasil; agora, Willerslev, fornece mais evidências graças ao ADN de uma pessoa que viveu em Lagoa Santa (Brasil) há cerca de 10 mil e 400 anos. 
Pergunta-se como é que uma tal marca genética foi mantida isolada, durante dezenas de milhares de anos, em todo um enorme percurso de migração desde a Beríngia, até ao Brasil?  A alternativa seria uma «invasão» por mar o que - à primeira vista- parece demasiado improvável. 
Com efeito, a Beríngia, durante a última idade do gelo, era uma ponte natural entre o continente euro-asiático e o continente americano. Verificou-se que sepulturas na estepe siberiana de cerca de 15 mil anos revelaram indivíduos cujo ADN estava mais próximo de ADN nativo americano, tendo também parentesco com o ADN antigo europeu. 
Quanto à origem austral-asiática de tais marcadores, não se pode excluir que estes resultem duma distribuição muito mais larga, tendo depois ficado confinado apenas a populações austral-asiáticas, analogamente ao que se passou com o ADN de origem «denisovano», cuja maior percentagem na população actual, se encontra precisamente nessa região (aborígenes australianos e nativos da Papuásia-Nova Guiné) 

quinta-feira, 8 de novembro de 2018

FUKUSHIMA - A FLORESTA RADIOACTIVA


Um documentário de NHK World sobre a vida selvagem que se desenvolveu nas áreas desabitadas da zona de Fukushima. 


Uma situação catastrófica que dura desde Março de 2011 e vai continuar. 
As consequências no Oceano Pacífico, a riqueza e diversidade da fauna também são extremamente graves.

O que mais preocupa é a ausência de informação, a ocultação da situação real da gravidade da contaminação radioactiva, sobretudo com Césio (com tempo de semi-vida muito longo). Verifica-se desde há uns anos que os isótopos radioactivos já estão a contaminar zonas da Costa Oeste dos EUA e as ilhas do Pacífico. 
Como, na realidade, o ecossistema Oceano é apenas um, a generalidade da vida marinha pode estar já a sofrer uma redução dramática. 
A ausência de resposta dos governos, sabendo eles a gravidade do problema, é muito preocupante. 
Apenas tomam medidas em relação ao aquecimento global, mas admite-se que seja apenas possível de mitigar o aquecimento, não de o evitar completamente. No entanto, o salvamento de numerosas espécies e ecossistemas oceânicos é muito mais viável, por isso a inacção é particularmente grave. Uma espécie que desaparece é uma perda irreversível; múltiplas espécies marinhas estão em risco.  
Antes de Fukushima, já havia demasiada pressão sobre muitas espécies marinhas devido a várias agressões: sobre-pesca, poluição química, aumento da temperatura e da acidez... Agora, com um aumento acentuado da radioactividade, pode haver uma cascata de extinções, desde o plâncton até às baleias.   

quarta-feira, 7 de novembro de 2018

DO NEOLÍTICO À IDADE DO BRONZE (PARTE V)

Este episódio finaliza a série (ver outras partes: I, II, III, IV )


Para ter uma ideia do período complexo que foi o final da idade do bronze, decidi aprofundar o estudo sobre aquilo que nos diz a arqueologia sobre o assunto da guerra de Tróia.

Ela foi celebrizada por Homero, mas existiu ou não ? E se existiu, foi realmente como ele a descreveu, ou a realidade afasta-se muito da epopeia? ...Existiram realmente as personagens da Ilíada?

De muito se frequentar a antiguidade e os seus escritos, acabamos por fazer uma ideia completamente idealizada do passado. Tanto mais que poetas, escritores, dramaturgos da Antiguidade, passaram a escrito estes episódios centenas de anos depois da sua ocorrência: não apenas é o caso da Ilíada, como doutras gestas dos seus povos.  Eles não se preocupavam com a objectividade histórica; tinham apenas em mente a glória do seu povo e dos seus heróis.

O que sabemos hoje da história real da guerra que se concluiu com a tomada e destruição de Tróia, o tema da obra de Homero designada por «Ilíada» ?

Felizmente, temos uma excelente série de vídeos para nos guiar em tão complexa e fascinante busca da verdade, debaixo do mito.

Lição nº1: (introdução)

                    


Lição nº2: os micénios

                    


Lição nº3:  os hititas


                   

              

Lição nº4: os povos do mar

                  


Lição nº5: a literatura grega, o ciclo épico

                  

A continuação da série de vídeos pode ser seguida clicando nos números seguintes: nº6, nº7, nº8, nº9, nº10, nº11, nº12, nº13, nº14 
É muito interessante e instrutivo seguir, nos vários episódios, as múltiplas evidências da arqueologia, confrontando-as com as versões literárias dos eventos. 

Pessoalmente, verifico que não sabia quase nada sobre a realidade do império Hitita, sobre a transição tumultuosa entre a idade do bronze tardia e o início da idade do ferro. 
Depois de ver/ouvir esta série, parece-me que, embora tenham identificado e escavado o local de Tróia no noroeste da Anatólia, demasiado pouco sabemos sobre o reino que foi derrotado. 
Seria Tróia um reino vassalo dos hititas? Seria a guerra de Tróia, não entre troianos e gregos mas com terceiros, sendo os gregos aliados e não inimigos?  
Homero descreveu uma guerra que realmente existiu, estou convencido. Mas pode ter fantasiado um certo número de eventos, mesmo que alguns factos tenham sido confirmados pelas escavações. 
É possível que a guerra de Tróia tenha consistido numa série de campanhas. O que Homero descreveu, seria então a campanha final, que resultou na destruição da cidade-estado de Tróia. 


Lição nº14: lição conclusiva sobre a guerra de Tróia

                                       
               

terça-feira, 6 de novembro de 2018

PIANGERÒ LA SORTE MIA... da ÓPERA GIULIO CESARE, DE HAENDEL

"Piangerò la sorte mia" - Giulio Cesare - Haendel

https://www.youtube.com/watch?v=X3uYxKlJDC4


Roberta Mameli, soprano Ensemble Fratres

Na ópera de Haendel «Giulio Cesare in Egito» (estreia em 1724) Cleópatra lamenta, nesta ária, a perda simultânea do seu reino, em resultado da batalha e do seu amante, Júlio César (no entanto, este não está morto).
A intensidade dramática e expressiva está presente na partitura, mas a enorme qualidade vocal de Roberta Mameli também contribui para nos convencer, por alguns instantes, de que estamos perante uma tragédia. Oiça-se como a sua voz se reveste de ternura e depois de fúria, por aquilo que lhe está a acontecer.
Na minha opinião, o facto de ser uma gravação ao vivo, não diminui a qualidade da mesma; as imperfeições eventuais que se poderá notar na qualidade sonora, podem ser colocadas entre parêntesis, devido à emoção que transparece.

segunda-feira, 5 de novembro de 2018

A INSANIDADE DO PENSAMENTO ECONÓMICO QUE NOS REGE


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Por vezes, somos tentados a embarcar dentro da lógica, da casuística, dos escribas que passam por «economistas» na media mainstream, apenas para verificar que a sua narrativa é uma utopia, no verdadeiro sentido de um sistema que nunca poderá existir: é por demais insensata, ultrapassa todos os níveis de imbecilidade, para apenas se qualificar como instrumentos de lavagem dos nossos cérebros.

Vejamos alguns exemplos:

- Inflação / deflação: a inflação vai buscar ao bolso do trabalhador, vai retirar-lhe poder de compra. O facto de ser desejada por governos e bancos centrais é apenas devido ao super-endividamento a que estes submeteram os seus respectivos Estados. Como é bastante mais difícil e  perigoso continuar a subir os impostos (pelo menos de maneira aberta e franca), a inflação acaba por efectuar o mesmo, sem que as pessoas se apercebam do estratagema. As dívidas denominadas na divisa inflacionada continuarão a ser pagas pelo respectivo Estado, mas os credores receberão um corte no valor real das mesmas; isto ocorre, quer sejam eles grandes ou pequenos, grandes detentores de obrigações do tesouro desse Estado, ou pensionistas no limiar de sobrevivência. 
O facto é que a inflação nunca pode ser um objectivo económico positivo, para a generalidade da economia, muito em especial, para a capacidade aquisitiva dos pobres. 

Quanto à deflação, ela é pintada com as cores de uma terrível doença da economia, que é preciso evitar a todo o transe, pois significaria marasmo, ausência de investimento, espiral descendente da produção... 
Não é verdade! É um facto que as pessoas vão comprar mais se os preços baixarem, pois a imensa maioria não tem capacidade de satisfazer inteiramente as suas necessidades, muito menos as suas fantasias. Logo, a descida dos preços, não só não previne que as pessoas vão comprar mais desta mercadoria que desceu, como  funciona como estímulo à sua compra, pois alarga o universo de potenciais compradores aos clientes que antes não tinham capacidade económica para tal. 
Pensem num modelo de automóvel que custava X, havendo deflação, passa a custar menos 10%, muito mais pessoas poderão comprá-lo, visto que seus ordenados continuarão a valer Y, ou seja, aquilo que cada um recebe ao fim do mês é nominalmente o mesmo, mas cada unidade de dinheiro tem um maior poder de compra. 
Aliás, as sociedades têm vivido melhor e beneficiado da deflação em muitos produtos, desde a era industrial: com efeito, pensemos em qualquer bem industrial, vejamos qual o seu preço real (ou seja, descontando as oscilações do valor do dinheiro ao longo do tempo): 
- Um gira-discos para CDs no início dos anos 80 do século passado, era um produto muito caro, que só algumas famílias podiam comprar, mesmo no afluente Ocidente: Hoje em dia, é a um preço irrisório, comparativamente. O mesmo se pode dizer com a telefonia móvel, com todo o tipo de computadores... etc. 
Porquê? Porque razão existe uma baixa espectacular do preço  destes produtos industriais (em termos de valor real)?
- Sem dúvida, que uma produção em grande escala vai fazer baixar os custos unitários e, portanto, o produtor pode vender cada unidade a um preço menor, arrecadando o mesmo ou maior lucro. Mas igualmente, porque as inovações no processo produtivo (o trabalho de engenheiros) vão tornando a produção mais eficaz, mais barata, menos consumidora de matéria-primas caras, etc. 
O resultado,  é que todos beneficiam com esta deflação tão difamada!

Criptomoedas: Os bancos centrais querem-nos convencer de que as moedas têm necessariamente de ser emitidas por uma entidade estatal ou com o aval do Estado (eles, claro está!) e fazem uma campanha ardilosa e destruidora da reputação das cripto-moedas. Mas, ao mesmo tempo e paulatinamente, vão adquirindo cripto-moedas, vão ensaiando soluções «blockchain» que eles próprios controlam, etc. 
Afinal, para os bancos centrais o que conta é o controlo sobre as divisas. O fundador da dinastia Rothchild, dizia mais ou menos isto: «Não me importa quem governa o país, desde que seja eu a controlar a emissão de moeda». Ou seja, quem tem o controlo da produção de moeda, é um banco central, formalmente independente do governo, não tendo que responder senão perante o conglomerado de bancos que o formam. 
É assim com a Federal Reserve Bank, constituída por bancos privados dos EUA, mas que usa o termo «federal» de forma mais que ambígua para dar a entender ser do (Estado) federal... 
É assim com o BCE, o banco central europeu, constituído com participação de capitais de uma série de grandes bancos privados europeus, os quais exercem discretamente a sua influência. 
O FMI, com sede em Washington, funciona como uma enorme concentração de capitais privados, pois são de grandes entidades financeiras privadas os capitais que são emprestados para «ajudar» as nações em apuros, às quais «oferecem» planos de resgate e reestruturação da economia. 
Era bom que as pessoas todas soubessem que os biliões que Portugal ou a Grécia têm estado a pagar, à custa da miséria dos seus respectivos povos, vão parar às carteiras de negócios dos grandes bancos e cartéis financeiros, na origem dos empréstimos negociados com essa instituição. 
O próprio banco central dos bancos centrais, o BIS com sede em Basileia (Suiça), tem uma política virada para a estabilidade da grande banca, não para a resolução dos problemas dos povos. 

Impostos e equidade: Num sistema completamente sob controlo de grandes instituições financeiras centralizadas, quer sejam públicas ou privadas, o trabalhador está sujeito a pagar, de uma forma ou de outra, uma fatia proporcionalmente maior de imposto, para sustentar o Estado, do que o rico. 
A falácia consiste em dizer que o imposto está sujeito a escalões, cuja percentagem será tanto maior, quanto o rendimento anual do contribuinte. 
Mesmo neste sistema, existem múltiplos esquemas contabilísticos, inclusive legais, que permitem fazer baixar os impostos dos muito ricos. 
Mas esta fuga ao fisco não se compara com a fuga organizada e à vista dos poderes reguladores, para os paraísos fiscais. Em Portugal, todos os bancos (incluindo a CGD estatal, mas que funciona como qualquer banco comercial) oferecem aos seus clientes mais afortunados a possibilidade de terem contas off-shore, ou seja, contas em sucursais dos mesmos bancos em paraísos fiscais, não sujeitas às regras e leis do país. 
Por outras palavras, não haverá autêntica «luta contra paraísos fiscais» em parte nenhuma, enquanto os bancos comerciais mantiverem sucursais off-shore, que são um elo crítico para alimentar essa imensa bolha de capitais que se encontra fora do controlo de qualquer entidade pública ou governo. 
Sendo isto assim, como todas as pessoas bem informadas o sabem, o resultado é claro: os que trabalham ou trabalharam como assalariados é que têm de providenciar o grosso do dinheiro para sustentar as despesas dos Estados! 

economia «de mercado» é ficção pura: um «mercado» que opera magicamente, distribuindo as perdas e ganhos, consoante os seus intervenientes saibam, ou não, dobrar-se à regras do mercado e tirar vantagem do que ele oferece. Quem detém os capitais e controlo do mercado de acções são os grandes capitalistas, os grandes bancos, as grandes empresas, que conseguiram uma fatia monopolista do mercado de um produto ou serviço...
Não existe mercado livre na bolsa desde que as grandes entidades privadas decidiram investir nas suas próprias acções, comprando as suas próprias acções para manter as mesmas a subir ou a flutuar, mantendo em estado semelhante os restantes títulos, por efeito de arrastamento.
Não existe mercado livre nas praças financeiras quando as grandes firmas, desde os «hedge funds» (fundos de capitais), até aos grandes bancos mundiais, usam algorítmos que fazem milhares de compras e vendas, apenas num segundo, de uma mesma acção (ou outro produto financeiro), arrastando as cotações de determinadas acções para cima ou para baixo. 
Não existe mercado quando as poupanças de milhões de pessoas são devoradas para colmatar os enormes buracos criados pela grande banca («Too big to fail»), à qual governos e bancos centrais vão entregar - incondicionalmente - fabulosas somas de dinheiro público. Estas entidades aproveitaram para concentrar e consolidar os seus impérios, para extraírem maior lucro para si próprias, nunca para favorecer uma retoma industrial. 

Podemos compreender com os exemplos acima que, na base dos raciocínios dos «economistas de serviço» no universo mediático usual, estão uma série de falácias, de «parti pris» e que eles não são neutrais. 
A sua linguagem é, ela própria, uma construção em que são dados como demonstrados toda uma série de  conceitos falsos ou de conceitos que são aplicados de forma completamente inadequada à realidade.
Mas eles não estão nesses lugares para ajudar as pessoas a aperceberem-se da realidade. Estes são os «spin-doctors» («doutores da treta»), pagos para convencer as pessoas de que os seus governantes e os grandes capitalistas fazem sempre o seu melhor para servir a população....