A sessão, organizada pelos
activistas do Movimento «Soluções para a Paz» nas instalações da «Fábrica de
Alternativas» de Algés, no Sábado 11 de Março, contou com a presença de um
público pouco numeroso, mas interessado.
Os dados coligidos pelo
nosso companheiro João Pestana, que apresentou os temas para discussão, mostram
como as guerras têm sido uma constante, em vários pontos do globo, desde o fim
da II Guerra Mundial, até hoje. O número de mortes, feridos e deslocados é
difícil de avaliar, pois as estatísticas oficiais ou não existem ou ocultam
essa realidade. Depois, passou em revista alguns dados sobre o comércio de
armamento, ao nível mundial, utilizando dados do SPIRI, que indicam os maiores
vendedores e compradores.
Abordou-se em seguida o
papel da NATO e a carga que representa no orçamento de cada país, mesmo em
tempo de «paz». Referiu-se a exigência de aumentar as despesas militares em
todos os países desta aliança militar, para que cada um tenha nível de despesa igual
ou superior a 2% do seu PIB.
Um documento do Estado-Maior
das Forças Armadas portuguesas, mostra as missões que estas cumpriram no ano
passado. Além de missões de utilidade pública, como seja transporte de feridos
e vigilância das praias, o grosso das missões foi em diversos teatros de
guerra, sob bandeira da NATO, na maioria dos casos, desempenhando um papel
subordinado, pois os contingentes portugueses são em geral da ordem das dezenas
ou menos, portanto subordinados a comandos de outras nacionalidades, dentro da
estrutura dessas missões.
Comparando os dados
relativos a 2015 e 2016 para o orçamento da Defesa em Portugal, chegou-se à
conclusão que ele se manteve aproximadamente constante (1,2 – 1,3 % do PIB),
embora haja discrepâncias de cerca de 300 milhões de euros entre o que foi
gasto e o orçamentado, não se sabendo como foi preenchido o «buraco».
Parecendo pouco, menos
dos 2% reclamados pelo secretário-geral da NATO, no entanto, é 5 vezes o
montante para a cultura. Também é superior ao atribuído à investigação, ao ensino
superior, etc.
Falou-se do «Dia de
Defesa Nacional» e das penas extraordinariamente duras para quem falte sem
justificação a essas encenações de propaganda das FAs, da guerra e de lavagem
da imagem da NATO junto da juventude. Foi ainda referido que não existe nenhuma
informação realmente acessível aos
jovens sobre a existência do estatuto de «objector de consciência».
Relativamente ainda à
objeção de consciência, reconheceu-se uma generalizada confusão entre a
prestação de serviço militar obrigatório e não obrigatório, mas havendo sempre
a possibilidade do governo decidir reinstalar o serviço militar obrigatório.
Outra ambiguidade é a de prestação «com armas», «sem tocar em armas» e «civil». Hoje em dia, muitos servem
na estrutura militar, sem armamento pessoal, mas contribuem com sua prestação
para a máquina de guerra.
Durante a discussão,
falou-se muito do papel da NATO em manter certos regimes, falsamente instalada
nesses países a pretexto de «terrorismo».
Falou-se do caso do Afeganistão,
entre outros, onde tem estado presente um pequeno contingente das forças
portuguesas.
No Afeganistão, a
cultura de papoila para ópio, principal negócio dos senhores da guerra, tinha
sido quase extinta no regime dos Taliban. Quando a «coligação internacional»
invadiu o Afeganistão no Outono de 2011, trouxe os senhores da guerra, que
reinstauraram o cultivo da papoila. Hoje, 80% da heroína vendida nas ruas do
mundo inteiro é proveniente do Afeganistão; era rara a heroína dessa
proveniência, nos anos imediatamente anteriores à invasão do Afeganistão pela
NATO e associados.
Segundo vários autores,
o negócio de tráfico de ópio é controlado pela CIA, que pode livremente
distribuir grandes quantidades a partir de bases militares da NATO, na Turquia,
na Alemanha e no Kosovo. O dinheiro que obtém vai servir para operações «negras»
ou ocultas, aquelas que oficialmente «não existem» e portanto não suscetíveis
de inquirição ou controlo pelo Congresso dos EUA.
Pediu-se uma maior
participação no nosso Movimento, sabendo que o grau de ausência de informação - sobretudo
da juventude - torna a tarefa dos militaristas mais fácil, conjugada com muita
desinformação por parte da media corporativa.
O discurso do poder é
invariavelmente de que a presença de tropas portuguesas tem uma
justificação «humanitária», ou de que os nossos soldados estão em tal ou tal
país a «combater o terrorismo» (Afeganistão, Mali, República Centro Africana, etc…).
Estas afirmações - repetidas vezes sem conta e nunca contestadas ou sequer
problematizadas - criam um falso consenso (falso, porque baseado na ignorância)
na cidadania.
Consideramos necessário
e possível criar-se um observatório sobre o papel das forças armadas
portuguesas em Portugal e no mundo, como forma de documentar, de debater e
estudar as questões de estratégia, não de um ponto de vista meramente militar,
mas também de cidadania.