Om, May we all be protected
May we all be nourished
May we work together with great energy
May our intellect be sharpened (may our study be effective)
Let there be no Animosity amongst us
Om, let there be peace (in me), let there be peace (in nature), let there be peace (in divine forces).
domingo, 1 de janeiro de 2017
sexta-feira, 30 de dezembro de 2016
PREVISÕES PARA 2017: geo-estratégia, economia, política
A Terra vai continuar a
girar em torno do Sol, mas tudo resto que se passa neste mundo é sujeito a
mudança. Não existe ciência certa, além da matemática e o critério de verdade desta
será sempre referido a um sistema axiomático.
Noutro patamar, temos
as ciências ditas «naturais» que proclamam «leis», mas que apenas estão ao nível
de hipóteses ainda não invalidadas e admitidas como boas pela comunidade
científica, porque nos confortam na nossa visão do mundo, porque não entram em
contradição com o que sabemos ou julgamos saber.
Quanto às ciências
humanas, estas têm um estatuto de cientificidade muito diferente pois - embora
possam empregar técnicas e métodos das ciências ditas «duras» - na sua
especificidade, carecem de uma metodologia inquestionável, havendo portanto lugar
para todas as apropriações e derivas. Já me referi por extenso à Economia, tida
como «ciência rigorosa», apenas para melhor vender a visão dum mundo neoliberal (Ver
artigo: «A Grande Ilusão», no meu blogue).
Sabendo quão falíveis são as previsões, não abdico porém de olhar e de ver o que teremos coletivamente de enfrentar em 2017:
Antevejo desde já um perigo notório, o de uma escalada nas relações entre grandes potências
nucleares, EUA, China e Rússia. A tensão advém principalmente do facto de que
os EUA não se resignam a abandonar o papel de potência hegemónica, sendo esta a profunda causa das guerras lançadas pelos EUA, nas primeiras décadas deste século.
Os EUA estão a perder influência a olhos vistos, do ponto de vista estritamente
militar, apesar da sua postura agressiva, sozinhos ou usando a NATO.
Mas,
sobretudo ao nível económico e geoestratégico, com a mudança dum grande eixo de desenvolvimento: deixou de ser o eixo Atlântico, para ser claramente o eixo que
vai do Pacífico, pela Ásia central, até ao oriente do Mediterrâneo.
Além dos países deste eixo, cerca de 60 países aderiram a uma organização nova, misto Banco Mundial/ novo FMI, não controlados pelos EUA, antes pela China e outros seus aliados. Trata-se de um banco destinado a financiar infra-estruturas
em todo o mundo.
Ao nível financeiro, Wall Street, a City de Londres e Frankfurt
têm os seus dias contados: o sistema do petro-dollar está a desfazer-se
diante dos nossos olhos. É significativo que a Arábia Saudita se
entenda com a Rússia, sem pedir licença a Washington, para limitar a produção e
fazer aumentar o preço do crude nos mercados internacionais.
Estou um bocado inquieto
pelo facto de o Estado profundo, tanto nos EUA como em países da NATO, estar decidido a desencadear uma confrontação armada com os seus
competidores.
Na verdade, a guerra já existe, se considerarmos a corrida aos
armamentos, iniciada e acentuada pelos EUA, que renegaram os acordos dos mísseis antibalísticos, firmados por Reagan e Gorbatchov, aumentando a despesa
com armamento, actualizando o arsenal nuclear com bombas chamadas «tácticas»,
etc.
A guerra já existe, se considerarmos o regime de sanções económicas e
diplomáticas contra da Rússia, a pretexto da «invasão» da Crimeia, episódio que, na verdade, correspondeu a um processo democrático de escolha do seu povo
(maioria de russos étnicos; cerca de 70%) para reintegrar a nação Russa, à
qual pertenceu desde o século XVIII até que nos anos 50 do século XX, Krutchev decidiu «oferecer» esta península à Ucrânia, então uma das Repúblicas Soviéticas.
Muitos ataques de falsa bandeira foram realizados em solo europeu, no ano
que passou, claramente servindo-se de elementos djihadistas que, consciente ou
inconscientemente, se deixam instrumentalizar pelos serviços secretos para cometer os seus atentados terroristas.
Uma indicação segura de que assim é: os serviços especiais de polícia, com atiradores de elite, matam sempre os terroristas, seja qual for a circunstância em que se dá a perseguição
e cerco.
Não querem que eles se tornem incómodos num processo, dando indicações precisas sobre quem encomendou os actos terroristas. Pois
bem, se as polícias tivessem como objectivo neutralizar mas capturar com vida
os terroristas, isto seria indicação de que os poderes políticos - que
controlam as polícias- desejam obter informações sobre as tais redes terroristas. Mas não querem, pois sabem muito bem que são meros instrumentos ao serviço dos globalistas.
Quantas mortes mais por
actos terroristas ou por crimes de guerra e quantos mais países arruinados
veremos no futuro próximo?
- Não se pode saber. Mas é bem possível que
a situação mude um bocado, caso a liderança colectiva que no fundo dirige o governo Trump
adopte uma visão estratégica global multipolar, com uns EUA deixando de tentar
fazer de «polícia mundial».
Apenas observando os actos da nova administração nós poderemos saber. A retórica não nos diz nada pois, como sabemos, é destinada a enfeitar discursos e
convencer os ingénuos das boas intenções de quem governa.
Na Europa a descida do Euro aos infernos vai continuar, vai haver uma rotura em várias dimensões, como
já se verificou neste ano que acaba, mas agora no interior de cada país, também; a
instabilidade política e institucional vai crescer, à medida que a crise
económica se agrava.
Em termos gerais, não
haverá crescimento da economia mundial; haverá uma retracção, com vários países
periféricos a sofrerem severamente, principalmente os exportadores de
matérias-primas.
Os países do extremo-oriente, China, Japão e Coreia irão experimentar dificuldades muito grandes, devido ao aprofundamento da crise das zonas para onde tradicionalmente exportam.
Os países do extremo-oriente, China, Japão e Coreia irão experimentar dificuldades muito grandes, devido ao aprofundamento da crise das zonas para onde tradicionalmente exportam.
No plano financeiro global, a subida dos juros dos bonds do tesouro americano pode atingir ou ultrapassar os 3%: isso vai trazer
consigo inúmeras falências e o esvaziamento das bolhas especulativas nas bolsas de acções e no
imobiliário; pelo contrário, haverá uma subida dos metais preciosos e uma descida dos metais e
matérias-primas industriais.
A mudança na Europa
será - em geral - no sentido do extremo conservadorismo, nacionalismo e xenofobia, a
par duma total dissociação da maioria das pessoas em relação aos que - supostamente - os «representam».
A chamada democracia representativa continuará em crise e
isso é desejado pelos oligarcas, pois assim podem fabricar um «consenso» manipulando os média, controlados pelos grandes grupos. Haverá um
acentuar da tendência de criminalizar a dissidência sob todas as formas.
Se o quadro é sombrio, não é porém sem esperanças, pois existe consciência cada vez maior - em
particular na juventude - de que o sistema instaurado não se destina a servir
os cidadãos e que terá de ser a própria população a tomar nas mãos o seu
destino.
quinta-feira, 29 de dezembro de 2016
NÃO ESCOLHO EFEMÉRIDES POR FASTIO...
Pessoa vive, na singela representação e dicção do saudoso Mário Viegas.
Pessoa vive, passado um século, com todo o seu cortejo de heterónimos, semi-heterónimos e até os vários Pessoa ortónimos, o nosso poeta mais cosmopolita e mais português, mais espontâneo e mais reflectido, a contradição encarnando a não-materialidade da poesia, a espiritualidade da Natureza, a Divindade do Verbo.
Gostava que Pessoa descesse em 2017, numa manhã brumosa, à Baixa que ele conhecia como a palma da sua mão, e nos viesse fazer afinal o retrato deste povo sonhado antes que vivido, sempre pronto para partir, e sempre saudoso de ter partido...
Escrevi esta homenagem em 1985, ano em que houve um congresso internacional pessoano, que significou a consagração na Europa e no Mundo de um poeta português e universal. A minha homenagem, nesse tempo ou hoje, é a de um menino que deposita um ramo de flores campestres (açucenas?) aos pés da estátua de bronze.
SINAIS*
HOMENAGEM A FERNANDO PESSOA
(* texto inédito, in ESTÓRIAS DE ESTAR E DE
SER- 1985)
Os
sinos da tua aldeia do Largo de S. Carlos ouviam-se e não te restava outro
remédio senão o de escrever.
- O corpo complexo esvai-se de raiva quando o fogo retira o canto
- O segredo não se resolve na poça em torno do menino deitado... Sabe-se lá se dormindo ou sonhando, pois seus olhos vazios azuis fitam o azul.
- Não
queria tornar a descer o rio do silêncio e, por isso, todas as portas
cercadas de palmas eram refúgio ou ancoradoiro do vapor da Real Companhia
Britânica.
- E...
porém há sempre uma esperança feita de estrelas, coroando a fronte de Ti em
odes mordidas e rasgadas no ventre
- Não
guardei rancor às ovelhas que desciam o monte em manhãs de neblina ...
... Os cais
socorriam o meu andar funâmbulo como se fossem ignorantes do morticínio das
baleias
- Há
sempre um além .. o que não fica inscrito no momento ... o que sonhamos para
nunca atingir ... o que pesa, soturno, os contornos de Aurora.
- “Bum!
Truz! Catrapuz!”
“Sou eu, o
Gigante Adamastor! Sou eu, o Novo redentor da Pátria!
Hei de varrer as
cobardias que enlutam as Quinas da Bandeira, ó única mortalha virginal!
Fujam aves de
bico longo! Fujam!
Deixem-me mover
a rápida locomotiva em perseguição do Século!
- “Deixei
o tabaco sobre a mesa, repare, não tanto por esquecimento, mas antes
como marca ou sinal do fumo que me contém!”
....
E, todavia …
“I know not what tomorrow will bring” (**)
-------------------------------
(**últimas
palavras de Fernando Pessoa, no leito de morte...)
segunda-feira, 26 de dezembro de 2016
domingo, 25 de dezembro de 2016
TESTEMUNHOS DE UM PASSADO LONGÍNQUO
Sonhei, há alguns anos, que visitava povos da civilização megalítica. Este sonho fez-me pensar intensamente.
Cheguei à conclusão de que a civilização mundial de hoje, que se constroí pacientemente, apesar dos brutais recuos episódicos ... resulta afinal da gesta dos nossos antepassados, da distante civilização megalítica, que ergueram os dolmens, menhirs e outros monumentos, que cobrem uma vasta extensão de território, desde os brumosos recantos da Irlanda e da Escócia até aos territórios do Extremo-oriente.
Tive consciência clara desta realidade ao deparar-me, alguns anos depois, com os monumentos da civilização megalítica na Coreia.
Esta península mágica preserva ciosamente os vestígios dum tesouro de sabedoria.
A ciência megalítica dos povos euroasiáticos é igualmente a ciência dos astros, da verdadeira comunhão universal.
Sabiam alinhar as pedras pelos solstícios, conheciam técnicas para transportar imensos blocos a grandes distâncias.
Tinham uma devoção profunda, como se pode inferir pelo trabalho árduo, oferecido à Divindade, para erguer seus templos e outros locais de culto...
Pensei que, estudando e divulgando esta civilização megalítica, verdadeiramente transcontinental, iria abrir a compreensão de que, sem anular as variadas culturas, existe uma grande unidade na imensidão do espaço continental Euro-Ásia. A tomada de consciência destes factos poderia facilitar um horizonte de paz, de abundância e de trocas frutíferas entre povos. Se isso ocorreu há 3000 ou mais anos atrás, por que não agora?
A civilização megalítica partilhava as mesmas tecnologias da pedra e do metal em toda a extensão do Continente Euro-Asiático. Os mesmos processos técnicos resultaram em formas notavelmente semelhantes.
Existem diferenças culturais nas decorações, mas são pouco relevantes para o nosso olhar de hoje. Não existem diferenças notáveis entre muitos artefactos da mesma época, recolhidos nas margens do Atlântico ou do Pacífico.
Trata-se de um contínuo étnico, cultural: tal é o sentido da existência de obvias semelhanças nos monumentos ou utensílios produzidos na mesma época e separados por dezenas de milhares de quilómetros!
Trata-se de um contínuo étnico, cultural: tal é o sentido da existência de obvias semelhanças nos monumentos ou utensílios produzidos na mesma época e separados por dezenas de milhares de quilómetros!
- Então, como foi possível, na ausência de meios seguros e rápidos de comunicação, estabelecer-se tal unidade?
A transmissão cultural é muito rápida e vários fatores podem ter sido propícios: Houve grandes migrações dentro do continente Euroasiático. Nota-se a existência de um corpo de mitologias comuns, ou interconectadas. Verifica-se uma transmissão célere tanto dos saberes técnicos, como de crenças religiosas.
Os mitos e as narrativas heroicas, as tradições orais, as línguas, os Deuses e seus atributos, são muito semelhantes e não podem ser fruto do acaso. Têm de resultar de tradições comuns ou afins, que se foram cristalizando em cultos, ciclos épicos, lendas, em práticas e ritos... Estas diversas manifestações de cultura dos povos têm tal ar de parentesco que não podem ser devidas a uma «convergência evolutiva».
É muito mais sensato postular uma origem comum, pois não se trata de escassas coincidências pontuais; as culturas que brotaram nos espaços euro-asiáticos foram realmente todas descendentes do mesmo substrato, da civilização megalítica.
Os mitos e as narrativas heroicas, as tradições orais, as línguas, os Deuses e seus atributos, são muito semelhantes e não podem ser fruto do acaso. Têm de resultar de tradições comuns ou afins, que se foram cristalizando em cultos, ciclos épicos, lendas, em práticas e ritos... Estas diversas manifestações de cultura dos povos têm tal ar de parentesco que não podem ser devidas a uma «convergência evolutiva».
É muito mais sensato postular uma origem comum, pois não se trata de escassas coincidências pontuais; as culturas que brotaram nos espaços euro-asiáticos foram realmente todas descendentes do mesmo substrato, da civilização megalítica.
As sociedades desse tempo tinham uma densidade populacional fraca; quaisquer humanos que surgissem no seu território, se tivessem intenções pacíficas, como o comércio, eram bem-vindos.
Penso que o Continente Euroasiático é uno, não apenas em termos físicos, mas também de geografia humana. As montanhas dos Urais não constituem um verdadeiro obstáculo às migrações. Na Eurásia existem povos muito diversos, mas um elo ténue une os seus povos, de um extremo ao outro; ele existiu no passado e continua no presente, nunca se quebrou.
A emergência de Estados e de impérios, impostos pela violência, veio ofuscar - transitoriamente- esta profunda unidade cultural.
Porém, agora podemos viajar pelo vasto mundo, podemos nos maravilhar e nos reencontrar, numa escala nunca antes sonhada.
Devemos celebrar este feito, mas não atribuí-lo ao «globalismo», que é uma ideologia. O respeito pela diversidade cultural é o contrário dele. O globalismo é destruidor da diversidade dos povos e das culturas, é a imposição dum modelo cultural único.
O meu voto para 2017 é que a luz do espírito e da fraternidade dos povos seja capaz de superar as forças da destruição e obscurantismo.
sexta-feira, 23 de dezembro de 2016
ANTÍDOTO PARA A CONSPIRAÇÃO GLOBALISTA
Os políticos e os banqueiros não gostam de pessoas que realmente expõem à luz do dia e denunciam as CONSPIRAÇÕES que os mantêm no poder...
quinta-feira, 22 de dezembro de 2016
NATAL… NÃO É AQUILO QUE PENSAS
O Natal é celebrado nos diversos recantos do mundo, não apenas nos sítios em que
existe devoção cristã e prática assídua dos ritos, como em muitos outros
sítios, por muitas pessoas que não estão a pensar no nascimento do Menino
Jesus, ao comemorarem o Natal.
O
Natal paganizou-se ao longo do século XX, perdendo o cariz estrito de festa
religiosa, nos nossos países ditos cristãos, na exata medida em que eles mesmos
se paganizavam.
A
nova «religião» do consumismo ia progredindo, à medida que eles se tornavam
países mais ou menos afluentes ou onde os elementos mais afluentes da sociedade
exibiam o seu poder de compra, a sua alegria de consumir, comprando prendas,
fazendo festas e cometendo excessos de comida e bebida. Não creio que
estivessem conscientes de que reproduziam, embora com adaptações, a
festa pagã do «Sol Invictus», que era celebrada na Roma antiga e no Império
Romano: Este culto solar era universal, de uma forma ou outra era celebrado em todas as grandes religiões pagãs da
antiguidade... Esta festa, em Roma, estava associada às Saturnalia, em honra do
patrono da Cidade e era pretexto para excessos de toda a ordem.
O
Deus Sol, segundo os primeiros cristãos seria uma antevisão confusa do Messias. O símbolo do solstício de Inverno, propiciador de ritos em adoração ao
Deus, foi assim subvertido completamente pelos teólogos para que o povo recém-cristianizado
deixasse de celebrar as Saturnalia e adorasse o nascimento da Luz do Mundo, de
Cristo Redentor.
Nestas épocas, em que as pessoas comuns tinham uma vida curta
e bastante dura, em que a tradição oral era poderosa, tal
conversão de símbolos foi eficaz. Também o foram a cristianização de símbolos
de fertilidade pagãos (os ovos, os coelhos de Páscoa), por ocasião da Páscoa. Embora, neste caso, a tradição da
Páscoa judaica impôs-se naturalmente na religião recém-constituída, tendo sido
associada à Paixão e Ressurreição de Cristo.
O
que os poderes civis e religiosos sempre fizeram e continuam fazendo é
estabelecer e perpetuar uma série de comemorações, de feriados e de rituais,
que têm como efeito imediato marcar o tempo vivido, o tempo subjetivo das sociedades
em geral, mas também de todos os indivíduos, seja qual for o seu credo
religioso. Também num país muçulmano os feriados marcarão o calendário e os não
seguidores desta religião terão de se conformar com tais ocasiões, mesmo que
não partilhem esses significados simbólicos.
Nos
países de capitalismo de Estado, quer na defunta URSS e satélites do Leste,
quer na China e outros, houve campanhas oficiais para abolir a religião,
sobretudo no período do estalinismo, mas essas campanhas não tiveram o resultado esperado: o povo permaneceu, em segredo, profundamente religioso.
Podemos
ver que, em geral, a repressão da religião traz sempre um reforço da mesma, fanatismo gera
fanatismo, intolerância gera intolerância, é assim que se originam as divisões
no seio dos povos, que se originam conflitos com base religiosa.
No
Islão, conflito entre sunitas e xiitas - sempre latente desde o grande cisma –
estava adormecido e foi reavivado na sequência das invasões ocidentais do Iraque e dos
outros países do Médio Oriente. Aí, os EUA e vassalos
da NATO (países ditos «cristãos», com excepção da Turquia) têm tentado impor a sua «democracia» a ferro e fogo.
Embora
as circunstâncias sejam diferentes, vemos que existem analogias mais do que
superficiais com as guerras de religião que assolaram a Europa dos séculos XVI
e XVII.
Tanto
os países de religião oficial católica como protestante, tinham uma política de
total intolerância e discriminação dos cidadãos do próprio país que tivessem o credo minoritário. Perseguiam e suprimiam com enorme
crueldade toda a dissidência religiosa. Iniciavam guerras religiosas que
devastavam grande parte dos países, comparáveis às guerras contemporâneas. As alianças entre chefes de Estado
seguiam, no geral, a linha divisória Católicos/Protestantes.
Muito do
comportamento político-religioso dessa época reproduz-se agora, no mundo de hoje.
O
conceito de laicidade, que o filósofo Espinoza defendeu no seu «Tratado
Teológico Político», foi uma resposta inteligente da elite intelectual da época, retomada
pelas sociedades e por fim pelos próprios Estados a esta vaga de intolerância destruidora
do tecido social, económico e das relações internacionais.
A
laicidade não significa que as diversas religiões estejam «em pé de igualdade». No
sentido inicial que lhe deram Espinoza e outros filósofos políticos era antes
a neutralidade estatal perante a religião: O Estado não se imiscuía nos assuntos
religiosos, as leis não refletiam as escolhas pessoais dos monarcas por esta ou
aquela religião.
Em
caso algum, se tinha o objetivo de colocar no mesmo pé, dar igual oportunidade nos
media do Estado, às diversas confissões religiosas, ou ter aulas de religião
nos estabelecimentos de ensino do Estado, ministradas pelas diversas religiões.
Essa
interpretação da laicidade é realmente muito falsa, pois significa realmente a
perpetuação da «mão do poder estatal» nos assuntos religiosos.
Penso
que é muito importante, compreender que a paz civil, a concórdia entre pessoas
com credo religioso diverso ou sem religião, é um valor positivo muito
importante agora, não apenas no século XVII e aqui também, na Europa, não
apenas no Médio Oriente.
Especialmente,
quando as fanatizações político-religiosas de diversos elementos conduzem a
intensificar os ataques terroristas, dirigidos indiscriminadamente a pacíficos
cidadãos.
A
ideia de que se deve dar uma tribuna às diversas religiões, nos meios de
comunicação públicos estatais é mortífera. Bem entendido, considero essencial
para o exercício da liberdade de imprensa e de opinião, que toda e qualquer corrente
religiosa tenha o direito de produzir e difundir sua propaganda, como entender. Mas que o faça com seus meios próprios, não com os meios do Estado. Não considero lícito que o Estado censure e persiga judicialmente alguém ou uma
entidade, apenas por fazer ataques contra a religião A ou B.
Defendo que é ao nível da
sociedade civil, na opinião pública, que tais comportamentos devam ser
energicamente combatidos pelas pessoas esclarecidas da sociedade, cientes do
risco dos elementos fanáticos tomarem a dianteira da cena e desencadearem vagas de intolerância.
A
não-ingerência do Estado nos assuntos religiosos tem um efeito benéfico na
liberdade religiosa, em geral. Esta noção deveria ser compreendida pelos
hierarcas das diversas religiões, minoritárias ou maioritárias.
Nos países de tradição cristã, países que hoje se declaram «laicos», as hierarquias
católica, ortodoxa, anglicana ou luterana estão muito imiscuídas em assuntos de Estado, embora em graus
diversos, quando são maioritárias.
Argumenta-se
em defesa deste estado de coisas com a tradição. Mas a tradição não pode ter
maior importância do que a paz civil.
- Haverá
algo pior do que uma guerra civil?
- Resposta:
Não, nada pior ...a não ser uma guerra civil de religião.
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