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terça-feira, 5 de abril de 2022

LUTA ENTRE BLOCOS MAS UM MODELO COMUM DE TECNOCRACIA



 Veja no link abaixo a conversa entre James Corbett e Iain Davies sobre «A Nova Ordem Mundial e como a ela nos podemos opor»

https://off-guardian.org/2022/04/04/watch-iain-davis-on-the-new-world-order-and-how-to-oppose-it/


Comentário : 

Se os protagonistas desta conversa têm razão, muito pouco se poderá fazer para proteção  contra tal tecnocracia totalitária pois a sua forma de domínio vai tomar controlo  sobre nossos corpos. 

Creio que, se eles estiverem corretos, só  haverá lugar para outro modo de vida nas margens: 

- Ou dentro da sociedade tecnologizada como «cyber-punks», 

- Ou fora das zonas onde reina o novo modelo de sociedade, junto de povos que sempre viveram próximo do limiar da sobrevivência, ignorados, com seu modo de vida ancestral, relíquias antropológicas anteriores às sociedades globalizadas pela ciberbiotecnocracia.


sábado, 29 de janeiro de 2022

TRANSIÇÃO ENERGÉTICA, UM LOGRO? Conferência por Jean-Baptiste Fressoz


                                                (falado em francês. Tem legendagem em inglês)


Importante conferência, centrada sobre a evolução das fontes e consumos energéticos durante a História, em particular, a partir da revolução industrial. Deita abaixo muitos dos mitos, preconceitos e construções ideológicas do presente. A não perder! 
Veja também, neste blog, sobre o esgotamento dos recursos minerais e energias «renováveis»:  

quarta-feira, 26 de janeiro de 2022

AQUILO QUE NÃO TEM PREÇO [entrevista a Annie Le Brun]


 "Aquilo que Não Tem Preço" de Annie Le Brun, um livro de crítica da arte contemporânea e do capitalismo mundializado, que vem desfazer a ilusão gerada pela sociedade do consumo. 
A mercantilização da arte é parte integrante da mercantilização da própria sensibilidade humana.

quinta-feira, 4 de novembro de 2021

MISSIVA Nº1 À CONFEDERAÇÃO INTERGALÁCTICA



À CONFEDERAÇÃO INTERGALÁCTICA.


05 de Novembro de 2021

(no calendário deste planeta) 


Neste comunicado, irei dar-vos conta de algumas peculiaridades do planeta Terra, onde tenho estagiado, assim como sobre os seus habitantes. 

Irei começar por esclarecer sua organização social e económica, a que chamam de «capitalismo» ou «sociedade de mercado livre». 

Estou apenas nas etapas preliminares do meu estudo; noutras missivas, irei aprofundar e desenvolver melhor os pontos aqui abordados.

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1) O capitalismo e seus críticos


Há essencialmente dois tipos de críticos do capitalismo: 

A) Os que o detestam visceralmente, mas não compreendem como é que funciona: Pelo que a sua análise se fica por mostrar como o capitalismo é «horrível», «injusto», «cruel», «desumano», etc. Estes, não compreendem, que até uma criança sabe isso intuitivamente, que não são precisos calhamaços cheios de sábias elucubrações e eruditas citações.

B) O outro tipo de crítico, é formado por personagens completamente diferentes, no seu temperamento. São pessoas que examinam o capitalismo como um médico examinaria o seu paciente no hospital. Eles «tomam o pulso, medem a tensão, auscultam» e fazem todas as análises necessárias para detetar a «doença essencial» de que enferma o capitalismo. Eles consideram que o capitalismo está doente, muito doente, mas que tem de ser salvo, custe o que custar. Para estes, não existe realmente horizonte para além do capitalismoTêm, portanto, todo um arsenal de remédios. Cada um inclina-se mais para uma ou outra terapêutica.


2) Os agentes do capitalismo

Ora, os que estão numa ou noutra posição crítica (A ou B), estão muito longe da realidade. Mais próximos estão os que «têm as mãos na massa», literalmente. Estes, que eu designarei por C, são agentes diretos do capitalismo, banqueiros, especuladores, comerciantes, capitães de indústria. Todos estes não ligam demasiado a teorias. Estão muito mais interessados em «fazer dinheiro». 

Tendo eu descido de um planeta longínquo, a bordo de uma nave intergaláctica, sondei os três grupos. Mas dei preferência ao terceiro (C). Porque, para quem vem da galáxia Tau, ou Andrómeda, ou outra, estes humanos têm um sistema muito curioso, muito estranho, na verdade. Ele serve para fazerem guerras, espalhar miséria, mas também erguer obras de arquitetura notáveis, desenvolver as artes e as ciências. Até - por vezes - com ele melhoram a condição dos que estão em baixo, na escala hierárquica.

Sem dúvida, eu tenho dedicado mais tempo junto do terceiro grupo, a aprender o que é o capitalismo. Interessa-me a verdade, a realidade, a coisa em si. Não as teorias retorcidas, ou «brilhantes», mas que passam completamente ao lado dos problemas. 

Estou interessado em aprender com os capitães de indústria, os banqueiros, os especuladores. Estes, estão constantemente a navegar dentro do sistema. Aproveitam-se dos grandes ou pequenos movimentos de matéria e de energia, a que chamam «capital», para aumentar o seu património, para possuir múltiplas vezes mais que os pobres, que trabalham para eles, direta ou indiretamente.

Como visitante doutra galáxia, já percebi que o que chamam economia está sempre a alternar momentos de euforia e outros de depressão (em inglês: «boom and bust»). Estes ciclos repetem-se, arrastando todas as atividades, não apenas do domínio financeiro, também produção industrial, agrícola, comércio, etc. 

Verifiquei que usam uma espécie de objetos em papel (antigamente - há mais de 300 anos - eram objetos metálicos, sobretudo ou apenas), pelos quais têm uma veneração especial, «o dinheiro»: 

Este, em vez de ser somente um meio de troca e contabilidade, é-lhe dado um estatuto próprio de «valor». É pensamento mágico! Estão convencidos que tais pedaços de papel têm «valor intrínseco» ou, mesmo, que só eles têm valor! Pode dizer-se que se trata de «culto do dinheiro». Sim, muitos transformaram-se em adoradores desses objetos curiosos, mesmo quando passam o dia a olhar para o écran dum computador ou telemóvel, com números, signos, gráficos, tabelas, esquemas. Supostamente, é para rastrearem o  dinheiro, ou seus equivalentes digitalizados. 

Porém, a quantidade de dinheiro não é constante. Não está correlacionada com o trabalho, contrariamente ao que defendia um senhor barbudo (que se chamava Marx). Esses papéis são postos a circular, fisicamente ou virtualmente, pelos bancos centrais dos diversos países. 

Os bancos centrais são «autónomos», ou seja não dependem - pelo menos no chamado «Ocidente» - do governo, não estão sujeitos a aceitar as diretivas dos políticos. Os que dirigem os bancos centrais podem aumentar ou reduzir a «massa monetária» (a quantidade de dinheiro existente) e até manipularem para aumentar ou diminuir a quantidade do dinheiro circulante. Eles criam dinheiro a partir de nada. 

Mas não são os únicos. Com eles, os bancos ditos «comerciais», fazem empréstimos com dinheiro que eles próprios criaram a partir de nada, a chamada prerrogativa de reserva fracionada, como eles dizem. 

As pessoas, instruídas na «religião do dinheiro» apressam-se a  pedir empréstimos para as suas necessidades vitais ou para os seus extras, tornando-se assim escravas das dívidas contraídas. «Se tudo se passar bem», estarão livres dentro de 30 ou mais anos, depois de terem contraído o empréstimo, numa altura em que já não têm vitalidade, estão demasiado esgotadas. Elas perdem boa parte da vida para «ganhar dinheiro», para pagar as dívidas! 

É assim que este estranho mundo vive. 

Mais lógica tem o mundo das formigas no formigueiro, ou das térmitas na termiteira. Ao menos, tais insetos sociais estão perfeitamente adaptados às suas condições climáticas e outras, ao seu ambiente particular. A seleção natural operou maravilhas: Estas sociedades, de milhões de indivíduos, comportam-se dum modo aparentemente «racional», ao olhar do observador atento. 

Enfim, o modelo das sociedades humanas é como se um bando de símios tentasse imitar uma espécie de insetos sociais (Hymenoptera). Tentariam construir os edifícios e adotar um modo de vida semelhante,  porém sem razoabilidade, sem o bom-senso natural - fruto de milhões e milhões de gerações - que lhes permitisse uma inserção harmoniosa no ecossistema. 

Por hoje, não poderei adiantar muito mais, neste relatório. Preciso ainda de sondar muitos dados e de fazer muitos registos.  

Venho pedir, aos meus irmãos/irmãs da confederação intergaláctica, ajuda! 

- Os humanos não param com as suas atividades frenéticas. Devido à falta de juízo de dirigentes e à indiferença espantosa dos subordinados, estão a perturbar gravemente o equilíbrio do planeta em que habitam. 

- Não digo isto em vão: Já constatei que não lhes faltam poderosos instrumentos de destruição nos seus arsenais. Por outro lado, não têm bom-senso nem amor, ao lidarem com grupos e nações rivais. 


MB


sexta-feira, 30 de julho de 2021

SOBRE A REIFICAÇÃO DA MORTE

A reificação*, que refiro no título, é a transposição da ideia abstrata - a morte - para o mundo social. É uma objetivação, ou seja, a passagem do abstrato ao concreto.

Na nossa época, a morte é personificada como o mal absoluto, como algo que se deve evitar a todo o transe. As pessoas chegam a estimar-se como muito "heroicas" por sobreviverem a uma série de doenças e conseguirem chegar a uma provecta idade. Considera-se um prodígio chegar-se a viver muito para lá dos noventa anos, como se isso fosse - em si mesmo - um bem.
Simultaneamente, a quantidade de pessoas que se suicidam vai aumentando, ano após ano. Sabe-se que, diretamente, não está correlacionado com o estado da economia pois, ao contrário do que se diz, a maior parte dos suicídios não se deve a motivos económicos, mas a fatores de natureza afetiva e psíquica, a depressões não tratadas ou mal tratadas, por exemplo, ou a casos passionais.
A existência da morte é ocultada, negada: as pessoas - cada vez mais - morrem sós, muitas vezes rodeadas de aparelhos de reanimação e outras maravilhas da medicina, mas sem o conforto de estar junto de alguém próximo, cônjuge ou filho(s).

A publicidade utiliza toda a espécie de argumentos envolvendo «saúde», para vender seus produtos ou serviços. Se tivéssemos que avaliar os sectores da economia, exclusivamente, pela publicidade produzida, então o sector da saúde e cuidados com o corpo, seria - de longe - o maior. Empresas com relação à saúde, não só à medicina, como ao «bem-estar», à «nutrição saudável», ao «corpo em forma», etc., multiplicam-se.
Porém, nota-se um aumento exponencial de doenças ditas de civilização, como o tabagismo, o alcoolismo, adição a diversas drogas. Mas não só aquelas: é assustador o aumento da obesidade, associada a outras doenças, desde a diabetes, às doenças cardiovasculares, às doenças do foro psíquico, etc.

Eu penso que esta sociedade está a viver numa espécie de «esquizofrenia civilizacional», devido a uma perda de referências. O que supostamente conta, na vida das pessoas, com a forte pressão social para «ser-se competitivo», é a imagem. É também a ideologia inculcada, do que é ser «um vencedor na vida» ou «um perdedor». Um sem fim de estereótipos, que conduzem os indivíduos a consumir produtos e serviços, que os seduzem e os empurram para ainda maiores excessos e desequilíbrios. Perversamente, inculcam-lhes uma ideia de «saúde», que envolve uma imagem ideal do corpo, da beleza, do equilíbrio, mas apenas enquanto desejo hedónico. Algo que deve ser obtido imediatamente. Vive-se na pulsão, no desejo, na satisfação imediata dos instintos.

A «ciência médica» transformou-se também. Ela está ao serviço da sociedade do consumo hedónico, não está preocupada em prevenir (por mais que o diga), mas em "tratar" ou "curar", o que pode ser fonte inesgotável de negócio.

O medo da morte atinge o paroxismo: O desencadear da paranoia do Covid, instaurou um clima social doentio, uma psicose coletiva.
A ideia de morrer, qualquer que fosse a causa, era assaz banal no tempo dos nossos avós. Morrer aos 50 ou 60 anos, não tinha nada de especial. Morriam muitos recém-nascidos e crianças de tenra idade. O número médio de filhos por mulher era maior, porque a mortalidade infantil era elevada. O número de nascimentos necessários à manutenção do equilíbrio populacional (em torno de 2,1 filhos por mulher fértil, em média), já não existe hoje, na maioria de países ditos «desenvolvidos».
Estes factos acima significam que há meio século ou mais, a família europeia era normalmente maior do que o núcleo «mãe-pai-filhos»; e que ela sofria frequentemente a morte de alguém.
As estruturas hospitalares e os meios tecnológicos eram escassos. O saber médico também era menor, em absoluto, embora os médicos tivessem maior capacidade de atender às mais diversas situações: Tinham, quase todos, de atender a situações de urgência, por vezes em condições sem grandes meios ao seu dispor, e tinham de decidir por si próprios o que fazer, nas situações de risco de vida para o paciente.
As pessoas morriam maioritariamente em casa, tanto nas classes abastadas, como nas mais pobres. Morrer em família, foi experiência humana comum (recorde-se Charles Aznavour, «La Mamma»). 


Haveria, com certeza, para os familiares uma grande dor associada. Mas, morrer só, no hospital hipertecnológico, mesmo que o pessoal médico e de enfermagem seja muito atencioso e humano, será isso um «progresso» da medicina, da civilização, do respeito pelo ser humano?

As pessoas são (ou tornaram-se) de uma cobardia incrível, muitas vezes escondida com argumentos especiosos. Isto indica-nos que elas não foram adequadamente formadas. As pessoas deviam estar moralmente preparadas para as dificuldades da vida, para enfrentar situações penosas. Estão simultaneamente fechadas aos outros, dentro dum casulo egoístico, porém não se coíbem de pedir (ou mesmo exigir) toda a atenção e ajuda, em caso de sofrimento de algum tipo.

A passagem do estado vivo ao estado morto, é a coisa mais banal e natural deste mundo.
É de todo estranho que os humanos de hoje evitem o contacto com pessoas moribundas e isso, mesmo quando se trata dos seus entes queridos.
Verdadeiramente civilizado e humano, seria proporcionar as melhores condições possíveis, incluindo nos ambientes hospitalares, aos familiares mais chegados para estes poderem assistir e consolar, nos derradeiros momentos, um ente querido.

                 

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quinta-feira, 22 de julho de 2021

OCIDENTE EM DESAGREGAÇÃO SOCIAL, POLÍTICA, CULTURAL

    

                                                Gravura representando a execução de Luís XVI

É compreensível alguém pensar que a estrutura (a produção, a economia, etc.) não é o que determina a História. Exatamente o contrário do que Marx e os marxistas defendiam. O que nos aparece hoje, diante dos olhos, é que os aspetos sociais e culturais têm uma grande relevância, são mesmo decisivos nas batalhas políticas do presente.
Da conjunção de imagens, sentimentos e emoções, se têm feito as campanhas eleitorais e os movimentos reivindicativos. A política é (sempre foi) uma guerra civil sublimada - no melhor dos casos - ou mesmo uma guerra civil, «tout court».

Porém, nós estamos em pleno numa transição, que eu não saberei caracterizar rigorosamente e que, penso, não será teorizável senão daqui a muitos anos, pois é preciso ter havido um pleno desenvolvimento das tendências que despontam, para se compreender o sentido das transformações em curso.

De facto, a «estrutura» relevante são as relações de poder, seja em termos de propriedade, ou de se possuir armas e as rédeas do aparelho de Estado, ou os meios de comunicação social, que conferem o poder de influenciar milhões de pessoas.

As pessoas estão habituadas a pensar a evolução social, política, como um «progresso». Mas, de facto, não existe um progresso linear, contínuo. Nada será mais enganador, pois as civilizações são como organismos vivos: Nascem, crescem e morrem.

Vários pensam que a civilização do Ocidente, que durou muitos séculos, está realmente nos últimos estertores, antes de sair de cena. Mas, se ela começou em torno dos polos organizadores da cristandade e das monarquias, teve o seu apogeu no capitalismo, que arrastou consigo a violenta e durável modificação das condições materiais e portanto, também sociais.

Este apogeu já passou, as possibilidades de expansão do capitalismo esgotaram-se há décadas. As novas zonas de florescimento do capitalismo (China, Sudeste asiático, e outras) não têm muito para onde se expandir. Ora, o capitalismo é um sistema que precisa de crescer sempre: um PIB que não cresce, é equivalente ao definhamento da economia, em termos capitalistas.

A alternativa do socialismo real não existe, no presente, pois os sistemas que se declaram como tal, na realidade, são sistemas de capitalismo de Estado, ou de economia mista Estado/empresariado.

Porém, a possibilidade dum verdadeiro socialismo está aberta. Seria - a meu ver - baseada, não apenas na socialização dos meios de produção, como também no seu controlo, na possibilidade de autonomia verdadeira das unidades de produção; um sistema de autogestão, ou cooperativismo generalizado.

 Pode-se dizer que houve algumas tentativas históricas e que existem alguns focos localizados, no presente. Em ambos os casos, correspondem a formas imperfeitas do paradigma de socialismo, autogestionário e cooperativo. Mas, ao nível de um continente, ou dum conjunto grande de países, tal sistema está por concretizar.

Creio que o mais esperançoso, para alguém que deseje ver o despontar de maior justiça distributiva e de igualdade de oportunidades, é o facto das condições tecnocientíficas existirem. O desenvolvimento atual da técnica e da ciência, permite ir ao encontro de quase todos os problemas práticos, de forma satisfatória. Não seria o paraíso, mas haveria o suficiente, ou mesmo um pouco mais, para todos viverem decentemente, nesta Terra. Não haveria dificuldade intransponível em manter um tal sistema, ecologicamente sustentável e socialmente justo. A única questão decisiva é a do poder, da assimetria na distribuição do poder.

Na realidade, estamos a caminhar para um «neo-feudalismo» à escala global, o que nunca se verificou no passado. Mesmo os monarcas e nobres mais poderosos no passado, tinham um território limitado, onde exerciam o poder. Tinham rivais às fronteiras dos seus reinos, ou condados, etc.

Hoje em dia, os empórios mundializados têm, nominalmente, um país-sede, mas estão presentes em quase todas as nações. As principais empresas tecnológicas e as maiores empresas industriais repartem entre si o espaço planetário, influem sobre os Estados, mesmo sobre os maiores e mais poderosos. Têm uma abrangência tal, que é praticamente impossível que alguma média empresa do respetivo sector, cresça e ponha em causa os monopólios, ou oligopólios entronizados.

Já não estamos num universo de capitalismo clássico, de concorrência, de mercados. Nem estamos numa configuração política onde as leis seriam realmente feitas por entidades políticas, emanadas dos respetivos povos. Já não o são! São os lobbis - que exprimem diversos interesses industriais- que têm o papel decisivo.

Os novos «barões, marqueses, condes e duques» dominam os diversos sectores: a finança, as empresas tecnológicas, as empresas de armamento, as farmacêuticas, as do agro-negócio, etc. Mas, esta nova oligarquia tem muito mais poder que os senhores feudais do passado. Com efeito, no feudalismo antigo, o rei podia destituir, ou mesmo destruir, um nobre que tivesse demasiadas ambições. Hoje, é o contrário: Os governos estão à mercê dos consórcios de banqueiros e industriais, que podem decidir se tal ou tal governante, se tal ou tal partido, devem manter-se no governo, ou não. Vassalos são, afinal, aqueles que, nominalmente, estão nos cargos cimeiros dos Estados.

A cidadania desiludida já não vota; não se trata dum desinteresse pela coisa pública, mas antes desespero, por ver o efeito nulo da expressão da sua vontade, em termos práticos.

A espiral descendente civilizacional já não é novidade, já mostra os seus efeitos desde há decénios, nos países convencionalmente designados por «democracias liberais». Nestas, a participação na vida pública reduz-se cada vez mais, quer em quantidade, quer em qualidade.

Na verdade, tudo tem sido feito para arredar a discussão dos problemas e das propostas de sua resolução, no espaço público. Nem sequer no período eleitoral as questões verdadeiramente importantes são debatidas. São agitadas ideias e reivindicações demagógicas: Estas são esquecidas, assim que a eleição passou e se forma novo governo.

Para nós, os períodos eleitorais são um mero teatro, em que temos um papel passivo de espectadores. O voto não é ativo, é apenas uma forma simbólica e ambígua de se afirmar algo mas, muitas vezes, com plena consciência da futilidade do gesto. Não é por acaso que, além da abstenção, têm crescido os votos brancos e nulos, ou os votos em partidos e candidatos fora do «establishment», ou percebidos como tais.

No plano cultural, as pessoas estão cada vez mais dissociadas da cultura verdadeira. A chamada cultura de massas é uma espécie de comércio do entretenimento: não traz nenhum talento, nenhuma originalidade, nenhuma inovação estética, em 90% dos casos.

A escola não transmite saberes, mas sim aprendizagem da submissão, do controlo social, da interiorização da hierarquia. A meritocracia, antes, era considerada decisiva por muitos, para subida na escala social. Mas, agora está posta em causa. É desprezada, enquanto é promovida a «identidade» (movimento «woke»), que se torna o fator determinante da carreira, a começar pelo acesso à universidade e a terminar pelos postos de gestão das empresas. Várias empresas reservam quotas dos quadros dirigentes para pessoas «de cor», para mulheres, para LGBT... Isto significa que, até mesmo o mérito visto sob o prisma estreito da capacidade para gerar lucro, se tornou secundário.

Multiplicam-se os sinais de decadência, tanto nos costumes da população em geral, como nos detentores de cargos políticos. O público, anestesiado, apenas encolhe os ombros, perante a revelação do último escândalo, por maior e mais nefasto que seja.

Os efeitos no tecido social das ideologias hedonistas, consumistas e materialistas mesquinhas, são dissolventes e também desencadeiam a fragmentação no mesmo tecido. Observa-se - cada vez mais - o isolamento das pessoas, o seu fechamento em círculos pequenos.

Estes são sinais de decadência, semelhantes aos que se verificaram em certas ocasiões da História, como antes do colapso do império romano, ou nas vésperas da revolução francesa.

Não me parece que estejamos na transição para um futuro com liberdade, com boas oportunidades de realização pessoal, com espaço para o espírito e para os valores culturais genuínos de cada povo.

Temo que seja mais provável a transição para um regime ditatorial mundializado, onde se misturem os traços autoritários, típicos de países ditos «comunistas», com a imagem duma «democracia liberal» totalmente esvaziada, isto é, sem liberdade e sem democracia.

Chame-se a isto neo-feudalismo ou tecno-fascismo, será um sistema onde a assimetria de poder - económico, político e social - estará extremada.

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terça-feira, 16 de março de 2021

PARADIGMA TECNOCRÁTICO VERSUS PARADIGMA BIOLÓGICO*

 Estamos a viver uma transformação -real e profunda- em todos os domínios. A começar pela nossa própria capacidade de subsistência. E, indo ao ponto de subverter as nossas imagens/representações do mundo, os nossos valores, a nossa maneira de nos relacionarmos com os outros e com a Natureza. 

Esta mudança tectónica, que eu venho observando, tem como característica a deslocação de muito do que nos era dado como adquirido: a convicção do poder da ciência para resolver nossos problemas, por exemplo... 
Mas, a um nível mais fundamental, modifica-se a nossa relação íntima com o mundo das coisas, dos objectos. Estou falando de objectos tecnológicos, como o telemóvel, por exemplo. De simples coisas úteis, de «escravos mecânico-electrónicos», ao serviço dos homens, tornaram-se objectos sem os quais «não podemos viver». 

Somos dependentes destes objectos tecnológicos, propriamente como um adito de drogas duras em relação à sua dose quotidiana de heroína, cocaína, ou outra substância. 
Não é necessário haver ingestão ou incorporação física no organismo, não é necessário haver uma substância que transita no nosso corpo e vai modificar os sinais ao nível das sinapses neuronais. O adito pode ser caracterizado como alguém que está necessitado de reforço constante de um estímulo, e este pode não ser químico: pense-se nos viciados do jogo; a sua «injecção» é de dopamina, que é gerada no próprio cérebro, estimulado pela excitação do jogo. Do mesmo modo, a dependência que se instalou, sorrateiramente, para a maior parte das pessoas, com a «necessidade» de estar permanentemente «conectado», vai induzir uma transformação social. Mas, note-se, que ela não é programada, nem planeada, pelos que dominam as redes de poder com perversa  inteligência: não, estes mecanismos são antes aproveitados a vários níveis, sobretudo para consolidar o poder. 
Para mim, não há dúvida que continuamos a viver numa sociedade sujeita a divisão em classes, em que uma classe, ou uma fracção ínfima da população, detém o comando e pode «viciar o jogo». Mas, também sei que os que estão por baixo, os desapossados, tendem a exagerar o poder dos que os governam; tendem a considerar que os poderosos são omnipotentes, quando estes mascaram sua ignorância através do teatro do poder, da representação, da narrativa ininterrupta, que inunda o espaço público... é isso que os torna poderosos, ao fim e ao cabo. 
- De que serviriam as armas dos seus exércitos, de suas polícias ... se os indivíduos que as accionam não se sentissem convencidos e obrigados a cumprir as ordens que vêm de cima? 
- De nada lhes serviria um aparato tecnológico de vigilância, se nós decidíssemos colectivamente, retomar os nossos relacionamentos a um nível pessoal, apenas utilizando a Internet como uma espécie de aperfeiçoamento das comunicações epistolares e para mais nada... nem «chat», nem vídeos, nem música...

Claro que isto não vai acontecer: é aí, precisamente, que reside o poder as «elites», elas sabem que estamos dependentes dessas «máquinas maravilhosas» e que o nosso universo de relações, o nosso ambiente, tanto humano, como material (mercadorias...), não se pode sustentar sem elas. 

Mas, este tipo de sociedade dominada pelo tecnológico, num grau até aí desconhecido, vai de par com a perda das liberdades tradicionais, tornou-se uma sociedade de vigilância permanente, de intrusão permanente, sem haver verdadeiro consentimento das pessoas, uma sociedade onde reina o medo, a suspeição do outro. 

Isto não teria de ser assim, obrigatoriamente; é-o, porque estamos numa sociedade hierarquizada, onde a «ordem» é tida como sinónimo de poder hierárquico. 
Porém, podia-se objectar que os ditadores dos séculos anteriores não tinham sequer estes instrumentos de controlo e vigilância: faziam - no entanto - reinar o terror entre os seus súbditos. Isto é verdade, mas temos de reconhecer que eles usavam os meios adequados, no seu tempo histórico, para impor a sua lei. 
A questão essencial era (e é) a da eficácia dos meios coercivos. Numa sociedade que vive no limiar da fome, por exemplo, a retirada dos meios alimentares equivale realmente a uma condenação à morte. 

A questão da cedência das nossas liberdades a troco da nossa «segurança» é dupla: 
- Primeiro, não é nada difícil ceder as liberdades, mas é extremamente difícil recuperá-las. Algo que significa uma luta de gerações: quem viveu ou vive sob ditadura, sabe que é assim.  
- Segundo, basta ver que a nossa «segurança» é sempre muito relativa; sobretudo, que a desestabilização do nosso pequeno mundo é - com grande frequência, senão sempre - originada pelas decisões das «altas esferas» do poder. 
Os poderosos não se importam - até lhes convém - que as pessoas comuns, «os súbditos», estejam num estado de constante insegurança e incerteza, pois sabem que o reflexo da imensa maioria é ir a correr procurar «salvação» junto dos governantes. 
Estes, muitas vezes, não têm senão um poder ilusório, «mágico», que se limita ao fabricar dum discurso, duma narrativa destinada a reforçá-los no poder.

Como esta sociedade de tecnologia totalitária é destrutiva do próprio tecido da sociedade, o paradigma natural/biológico terá de se afirmar. Irá notar-se primeiro nas margens e depois em sociedades inteiras, que escaparam ao pesadelo tecnológico. 
O paradigma biológico não deverá ser entendido como forma redutora, mas como inspiração para uma economia realmente baseada na optimização energética, na reciclagem, na gestão apropriada e prudente dos recursos... 
... E na transformação das relações estúpidas, de competição destrutiva, depredadora, em algo mais inteligente, como a cooperação e também a competição, mas esta entendida como emuladora.
Não é possível, nem razoável, propor algo detalhado, um plano, um programa, para tal sociedade. Podemos imaginar que esta se irá reger por regras, ou «leis», que se inspiram directamente na biologia.
Mas, estou convencido que os agrupamentos humanos, pequenos ou grandes, sejam pequenas comunidades ou nações inteiras, cedo verão a vantagem em adoptar tal paradigma novo, abandonando a presente adição a uma tecnologia destruidora e avassaladora dos humanos. 
Não existe tecnologia neutra, porque os modos de pensar as coisas, a sociedade, as relações entre seres humanos, etc. estão permanentemente condicionados por essa mesma tecnologia: A ideologia, que uma dada tecnologia necessariamente segrega, vai condicionar, de forma decisiva, o tecido social. 

É o que temos diante dos olhos, neste momento. Acredito que o espectáculo não seja agradável para muitos, como não o é para mim!

(*) É importante distinguir entre Biologia e Biotecnologia. O paradigma que eu chamo biológico, é a antítese da grande indústria farmacêutica, do agro-negócio, da modificação genética designada por «vacinas anti-COVID», etc. 
Estas utilizações da biotecnologia, nas mãos dos globalistas, correspondem exactamente ao paradigma tecnocrático. 

sábado, 13 de março de 2021

MINHA FILOSOFIA


Ao escrever este blogue, não estava na minha intenção inicial fazer dele um blogue de actualidade política ou económica. Estava antes com determinação em procurar afinar os meus próprios instrumentos conceptuais, para melhor estar comigo próprio, com o mundo e capaz de tomar os desafios da melhor maneira.

Sim, temos todos desafios a tomar, qualquer que seja a fase da nossa vida, pois é a realidade social e global que nos questiona. É ela que nos obriga a sair do conforto do «em si mesmo». 

Não se trata, para mim, de escrever sob o impulso do momento, nem de tentar fazer adeptos dos meus modos de pensar e de ser. Apenas creio ser minha prerrogativa dizer o que penso, o que acho realmente importante, fazendo valer argumentos, não indo buscar ao lado emocional, ao slogan, à frase feita, à adesão a este ou aquele credo. 

As pessoas são tesouros de sabedoria, de inteligência e de bondade, mas estão sob a permanente falsa narrativa, que mantém o seu cérebro fora da realidade. É como se estivessem sempre sob hipnose. Claro que há coisas com efeito hipnótico, algumas delas activamente procuradas pelos indivíduos, pois encontram algum alívio nisso. 

Mas, eu refiro-me a coisas de ordem bastante mais obscura. O jogar com forças/energias que se encontram no âmago dos seres: falo de manipulações dos sentimentos mais profundos, como sejam o medo da morte, do desconhecido, o desejo sexual e de poder, a necessidade de amor e de se sentir apreciado, acarinhado, a pertença ao grupo como forma de escape à angústia da solidão... etc...etc.

O que está a levar as sociedades - especialmente no Ocidente - a um grau de autodestruição, não é meramente a política ou a economia. Por muito profundas que sejam as feridas sociais resultantes destas décadas de destruição do tecido social, do chamado «pacto social», ou ainda «wellfare state», estas são as consequências de um fenómeno de outra ordem. 

Estamos perante uma regressão, uma forma de denegação de responsabilidade, um estado de infância prolongada, indefinida, acometendo adultos de todas as idades, dos 18 aos 88 anos. Esta crise está a socavar lentamente o fundamento da sociedade em que todos nós vivemos, mas não nos damos conta disso. De facto, estamos inconscientemente a nutrir esse monstro, que eu chamaria de «irresponsabilidade social» e que se correlaciona com a entrega da capacidade em nos auto-determinarmos, a entrega da responsabilidade por nós próprios e pelos outros. Tivemos esse sentido durante milénios, durante toda a evolução conduzindo à forma humana «moderna», o Homo sapiens, que temos sido durante trezentos mil anos. 

Face a este estado de coisas convém, antes de mais, especificar as consequências práticas que ele traz, antes de pensar fazer qualquer coisa de concreto, ou delinear uma estratégia.

A primeira consequência, é o controlo das sociedades por um punhado de indivíduos: Muito poucos, na verdade, embora assistidos, ajudados, por um grande número de peritos, não somente nas áreas tradicionais da repressão, como a polícia, as agências de espionagem, o aparato militar, etc., mas por técnicos e especialistas nos campos mais variados, incluindo as «ciências humanas», psicologia, sociologia, ciências da comunicação... com o objectivo de manter as pessoas sob controlo.

Assim, estamos sujeitos a um condicionamento, dito «soft», mas que na verdade é muito forte, porque envolve todo o campo da realidade social, com que a maior parte de nós se confronta dia-a-dia. Há uma parte de consentimento, uma parte apenas, porque nós não somos informados verdadeiramente, não conhecemos o que está do outro lado do ecrã. Não existe consentimento informado num processo de manipulação porque, para que tal processo tenha possibilidade de se exercer sobre nós, é indispensável que não tenhamos consciência dele. Assim que a tivermos, haverá repúdio, revolta e tomada das coisas em mãos. Ninguém gosta de ser manipulado; é uma violação da nossa mente, do nosso íntimo. 

Mas, o campo da «fábrica do consentimento» não se fica por aqui, pois intervém o medo: ele impede que as pessoas raciocinem, que façam um exame crítico das situações. Ele vai buscar os traumas da nossa mais tenra infância, que se encontram profundamente ancorados no nosso cérebro. Tal como uma criança pequena, a pessoa adulta com medo, com uma angústia vaga, mas permanente, vai procurar mecanismos ilusórios, para não sofrer a sensação. A fuga não é opção, nestas situações. Restam-nos as opções de encarar o mal de frente, ou a passividade. O que a maior parte de nós escolhe é a passividade, com uma data de «boas razões», que -afinal- se resumem a não querer correr um risco, seja ele verdadeiro ou não, seja ele avaliado no seu justo valor, ou hipertrofiado. 

Digo que a maior parte das pessoas estão em psicose de medo, porque vejo à minha volta tantas pessoas em estado de denegação. A denegação é o auto-ocultar das evidências que contradigam a narrativa oficial, ou universalmente difundida. Aqui joga uma percepção distorcida - mas muito comum - dos mecanismos sociais, que faz com que aquilo que é dito constantemente, em todos os tons, por todos os órgãos da comunicação social, «deve ser» verdadeiro (a célebre frase, atribuída a Goebbels: «uma mentira mil vezes repetida, torna-se verdade»). Mas, também joga o medo de estar «fora do rebanho», de ser ostracizado, de perder amigos, de ser acusado disto e daquilo... 

Atingiu-se o estádio de negação do Estado de Direito, que Hanna Arendt tão bem caracterizou, no seu famoso ensaio «Origens do Totalitarismo», quando as constituições não são abolidas, porém os direitos humanos individuais e colectivos (políticos, sindicais, associativos...) nelas consagrados, assim como os limites e a separação dos poderes, desaparecem. Isto acontece dum momento para o outro, sem que a cidadania se aperceba realmente o que estão a fazer com ela: Estão a espoliá-la dos seus direitos mais significativos, apenas bastando o poder acenar-lhes com o medo do invisível (do «terrorismo islâmico», do vírus «mortífero»...), para «justificar» estado de excepção, arbítrio e impunidade para os poderosos...

As condicionantes desta situação são muitas. Apenas posso apontar algumas evidências (como tenho feito abundantemente neste blog), em como o discurso do poder é falso, é uma falsa narrativa destinada a obter a nossa submissão. Não se trata já do consentimento, mais ou menos esclarecido e informado, como terá existido nas chamadas «democracias liberais». Mas, isto é o passado, ele não voltará a existir, pois as forças que conseguem moldar a visão das pessoas, não o querem. Elas são donas dos média, até mesmo dos órgãos ditos estatais. A média, ao contrário de um «quarto poder», tem sido antes um instrumento da ditadura dos muito poderosos, um auxiliar para fabricar o medo.Tem sido a câmara de eco da qual emana a falsa sensação de «consenso», sem qualquer preocupação em falar verdade, em dar a conhecer os pontos de vista contraditórios sobre a realidade. Hoje, trata-se da «ortodoxia» sobre o SARS-Cov-2 e o modo de combatê-lo, amanhã, será outra coisa qualquer. Eu não faço ideia o que seja, mas terá - aposto - assim como os prévios «espantalhos», a característica de infundir a ameaça de um terror difuso, incompreensível, indescritível, a que apenas especialistas e autoridades governamentais estariam em condições de fazer frente, devendo nós dar toda a confiança aos dirigentes, para eles nos «salvarem» desse perigo. 

Neste contexto, devemos dizer não! Não vamos contemporizar, não vamos acreditar na possibilidade de uma discussão pausada, racional. Pois, do outro lado, não existe desejo de uma discussão leal, mas de anátema da dissidência, de domínio absoluto, totalitário. Vamos dar a conhecer o que estas fórmulas de manipulação da opinião pública e das mentes têm de primitivo, de ensaiado repetidas vezes, por déspotas, por criminosos que querem levar-nos à guerra. Se eles o fizeram tantas vezes no passado, nós podemos aprender com a História, como enfrentar este estado de coisas, como contrariá-lo, como não cair nos erros do passado. 

A leitura (crítica, como sempre) de autores como Hannah Arendt, George Orwell, Aldous Huxley e mais recentemente Noam Chomsky, Naomi Klein e sem pretender citar todos os nomes importantes, pode ajudar-nos a adquirir os instrumentos conceptuais que permitam ver a manipulação, ocorrendo no presente. O interesse disto não é académico, pois o indivíduo que vê a manipulação, está - em simultâneo - a subtrair-se à mesma e mais capaz de fazer-lhe frente ou de salvaguardar-se, se comparado com alguém que seja o objecto passivo da mesma.

O re-conectar será uma resposta concreta perante o estado presente. É um processo de reestabelecer laços de troca social e afectiva, antes de mais, com todos os que se encontram no campo da nossa vivência. Talvez a Internet não seja apropriada para isso; as pessoas são inundadas por tanto lixo informativo, que podem simplesmente ignorar, ou fingir que ignoram, algo que queiramos dizer-lhes. 

Talvez seja mais eficaz uma troca pessoal /presencial, o dar um texto impresso, seja de nossa autoria, seja de outrem. Quer seja um livro ou um folheto, o conteúdo deve ter significado, não apenas para quem o dá, mas para quem o recebe. Isso tem de ser feito de modo a afastar qualquer equívoco; não se trata nem de proselitismo, nem de publicidade, de qualquer tipo. 

Importa exercitar a meditação, mas não a meditação que certos auto-proclamados «gurus» nos querem impingir, não a meditação de «fazer o vazio» na nossa mente! A meditação filosófica é um exercício de nós connosco próprios, em que uma parte da nossa mente questiona, interroga, e a outra parte tenta compreender, interpretar, não só em termos teóricos, mas em termos de realidade interior e social. 

A realidade é determinante, como critério de verdade. Mesmo quando temos poucas certezas, pois a vida parece-se muito mais aos raciocínios dos detectives, nos romances policiais, do que às equações descritivas dum fenómeno, nas ciências físicas. 

O meu princípio realista impõe-me que só posso saber algo da realidade, se estiver em contacto com esta; a realidade é o conhecimento que emana da experiência. A Teoria é algo respeitável, na medida em que foi a conclusão a que se chegou na busca da verdade, a partir de fenómenos e experiências. Em ciência, uma teoria é uma hipótese que resistiu a uma série de objecções, mantém-se «não-invalidada», mas esse estatuto é provisório. Não existem verdades definitivas em ciência. Aquilo que é somente vaga hipótese, sem base nos dados da experiência, pode ser considerado um devaneio, uma fantasia, uma adivinha, mas não é uma hipótese científica. Uma hipótese científica tem a preocupação de estar em consonância com os dados conhecidos, respeitantes ao fenómeno em causa. Não é qualquer um que formula uma hipótese científica sobre um dado assunto. Tem de conhecer muito bem o campo em causa, tem de mostrar aos outros, seus pares, que esta hipótese é digna de ser considerada. Estes, por seu turno, irão inspeccionar e criticar tal hipótese, pois é essa (também) a sua função. É importante pois, se a tal hipótese tiver potencial, vale a pena investir nela tempo, energia, dinheiro, para desenhar e realizar um dispositivo experimental que a ponha à prova. 

Vemos agora meros propagandistas do poder, quer tenham ou não diplomas ou títulos, que estão sempre a colocar-se numa postura de autoridade «científica». Mas, eles querem fazer passar como «verdade» aquilo que é apenas seu íntimo convencimento e isto, no melhor dos casos. O discurso do poder reveste-se da aparência da ciência: para dar credibilidade, alguns cientistas de formação não têm pudor e fazem o frete ao poder. Há múltiplas maneiras de se ser comprado, com honrarias, prestígio, posições académicas, etc. As pessoas que o são, podem nem ter clara consciência de se terem vendido. Note-se que não é o facto de aconselhar o poder que eu critico; mas antes, a lealdade (ou a falta  dela) para com os outros colegas, os que têm opiniões sensivelmente diferentes: quantos casos de perseguição, difamação, de exclusão, etc. temos presenciado, agora, nas chamadas «democracias liberais»? E muitas das pessoas sujeitas a esses tratamentos infames, nem eram marginais, mas cientistas respeitados e com carreira nas mais diversas instituições. Em resumo, eram pessoas do meio académico-científico. Agora, pensem na perseguição, discriminação, etc. dirigida a pessoas que não estejam escudadas por uma carreira prestigiosa: Não estaremos já nos primeiros passos duma viragem para uma forma de fascismo-totalitarismo tecnocrático, científico?

A verdade, ninguém a conhece, a priori. Por isso, deveria ser lícito defender qualquer ponto de vista. Em democracia, o emissor duma opinião tem a responsabilidade pelo que diz. Se houver, não apenas falsidade, como desejo de enganar o próximo, tal pessoa é susceptível de ser sujeita a um processo. Era assim, antes, nas democracias liberais genuínas: não existia nada que impedisse o dislate, ou até a mentira mal intencionada, a priori: Apenas o receio de processo judicial, ou a desaprovação pela sociedade. A existência dos «fact-checkers», censores anónimos, faz-nos recuar várias centenas de anos. Quando havia censura, estatal e eclesiástica, com livros proibidos e pessoas presas e torturadas, por escreverem certas coisas. 

Os ditos «liberais», os ditos «de esquerda», são quem mais se conformam com tal estado de coisas. Pior, são os que montam este aparato de censura e o defendem, com o pretexto de que o público está a ser «enganado» (segundo o critério DELES). Mas, os verdadeiros defensores da liberdade não têm medo das mentiras; combatem-nas, argumentando com os mentirosos. É uma atitude totalmente diferente de se colocar uma mordaça nos seus opositores e bani-los das plataformas sociais: Estes são métodos típicos dos tiranos e dos seus homens-de-mão.

Perante tudo isto, estou confiante, não de que detenha a razão, mas de que guardo o espírito lúcido, crítico e autocrítico. Tento aperceber-me da realidade real, não da «realidade» balizada por etiquetas ideológicas, sejam elas quais forem. Este é o meu ideal. 

Segui-lo, tem tido repercussões práticas importantes na minha vida. Tem minorado a hipótese de me autoiludir, ou de ser iludido por outros; e tem-me permitido, nestes tempos conturbados, conservar o equilíbrio e o bom-senso.

quinta-feira, 14 de fevereiro de 2019

AS OVELHAS E O LOBO

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Evidentemente, a foto acima é uma montagem. Pela simples razão de que nenhum lobo conseguiria passar despercebido no meio das ovelhas ou ser confundido com o cão-pastor do rebanho.
Mas, se isto é assim no mundo animal, por que razão os humanos - tão mais inteligentes que ovelhas e carneiros -  deixam que «lobos» (alcateias inteiras deles!) se infiltrem no meio de pessoas inocentes, trabalhadoras, ordeiras e pacíficas? 
- Esses «lobos», conseguem facilmente semear a discórdia entre irmãos e irmãs, 
- apropriam-se do fruto do trabalho, a tão preciosa lã, a troco de um pouco de palha, ou mesmo de nada! 
-Não contentes em tosquiá-los, acabam por enviá-los ao matadouro!
Vem esta introdução em jeito de fábula ou de parábola, para comentar a enorme estranheza que causa verificar que um número considerável de cidadãos se deixam iludir (comprar?) pelas sereias do poder fascista totalitário globalista que domina as instituições internacionais (ONU, OMC, FMI, etc.) e cujo o verdadeiro esteio do poder está nas corporações capitalistas multinacionais: 
- os bancos ditos «sistémicos» (uns cinco dos EUA, um pequeno número no espaço europeu...), 
- as grandes firmas de tecnologia (Apple, Facebook, Google, Amazon...), 
- os produtores de hardware e software
- os construtores de máquinas de guerra, os Raytheon, Lockhead Martin, Bombardier, etc. 
Existem outras empresas, com um valor de negócio comparativamente mais baixo que as acima, que desempenham porém um papel crítico no empurrar dos governos para a guerra ou para subversão do poder de governos estrangeiros. Estou a pensar nas empresas de mercenários, por exemplo, a «Academi» que antes se chamava «Blackwater» e muitas outras, que conseguem obter contratos para fazer aquilo que politicamente é inconveniente fazer por exércitos de Estados, sujeitos estes a códigos de conduta e sob observação da cidadania e da media.

Assim, para mim, é perfeitamente claro que existem «lobos» no meio dos cordeiros, existem pessoas e organizações que têm vantagens materiais e de carreira em desencadear e alimentar conflitos armados, guerras entre Estados, ou guerras civis, alimentadas por guerrilhas, que se vão abastecer de armas nos mesmos fornecedores...


O meu espanto não reside na constatação acima, porém: fico espantado pela mistura de ignorância e de auto-sugestão, de uma boa parte dos meus concidadãos, irmãos e irmãs, que têm tudo a ganhar em abrir os olhos, quanto mais não seja para não caírem no logro em que estes lobbies militares e afins costumam  encerrar a população. 

Muitos são aqueles que se consideram «sábios» por ignorar as grandes questões do nosso tempo, a ameaça que pesa sobre todos e cada um. Deixámos , durante demasiado tempo, que os instrumentos de poder ficassem nas mãos de criminosos, de sociopatas e de psicopatas.
Face a isto, há pessoas que, conscientemente, se coloquem numa postura de boicote de toda a «civilização» destrutiva, que está a levar o Planeta e o Homem ao nível de extinção. 
Mas, esses são muito raros e não podemos dá-los como exemplo a seguir: nem toda a gente tem estrutura para isso ou considera aceitável, em nome da sua «pureza», abandonar outros (familiares idosos, ou crianças) à sua sorte. 

O que preconizo como atitude geral, tenho eu próprio que o assumir, sob pena de estar a ser hipócrita. Desde que me conheço tenho adoptado uma atitude crítica em relação aos poderes, que se exercem sobre as pessoas e os povos. 

Tenho observado que os que são escolhidos (por meios ditos democráticos, ou por outros) para chefiar os outros são - muitas vezes - pessoas muito pouco apropriadas, pelo perfil psicológico: pessoas que têm ânsia do poder, que se consideram uns iluminados, personalidades narcisistas... 
Assim, não admira que o seu modo de «resolver» os problemas não seja do meu agrado. 
Não digo que umas escolhas, feitas com base em deliberações horizontais, estejam automaticamente isentas de erro. Mas, as que efectivamente são erros, são susceptíveis de ser corrigidas mais depressa e melhor, do que as que foram tomadas por algum «chefe». O próprio princípio do poder hierárquico implica que um indivíduo possa tomar decisões de modo discricionário, sem dar contas a ninguém: assim, apenas e tão somente, o apontar dum erro já será considerado «crime de lesa majestade». 

Algumas pessoas, assumem que a organização hierárquica é inevitável. Dizem que a  sociedade contemporânea é de uma imensa complexidade. Porém, a sociedade de há um século atrás, não era «muito mais simples». A minha resposta, é que o ser humano tem uma capacidade de se organizar de modo maleável, tendo em conta as circunstâncias em que está vivendo.

Iludidos pelas tecnologias de comunicação, fazemos «de conta» sobre as coisas que realmente contam. Estas, são coisas demasiado profundas, não podem ser descartadas como se fossem «velharias». 
Nem têm que ver com o suporte informacional onde assenta a mensagem: a mentira é uma mentira, quer seja propalada oralmente, por um texto manuscrito num papiro,  por telemóvel, ou ...etc.

A atitude inteligente e adulta tem de ser crítica, prudente, racional, pedagógica em relação aos nossos semelhantes, ou seja, a grande maioria das pessoas. 

Não é difícil os «lobos» meterem «a cunha» entre pessoas, até mesmo amigas, até mesmo com grande afinidade de ideais: o facto é que a nossa civilização decadente tem hipertrofiado o indivíduo, endeusado o ego, o que tem sido muito eficaz para controlar as «massas», reduzidas a entidades nucleares, isoladas, totalmente alienadas e ignorantes de que o são... 
Trabalhar no sentido oposto é privilegiar a troca directa, a entre-ajuda, a não competição, a audição permanente do outro, a construção de algo em comum, a vários níveis.
Ao fim e ao cabo, necessitamos de estar conscientes da «regra de ouro» veiculada, desde tempos imemoriais pelas religiões e pela sabedoria dos povos:  «Trata os outros como gostarias de ser tratado/a» ou, na sua formulação negativa: «Não faças aos outros aquilo que não gostarias que te fizessem a ti».
Porque, se formos até ao fim da nossa reflexão e quisermos mesmo cumprir a regra, teremos de ser conscientes, amáveis, abertos, solidários, responsáveis, confiáveis... 
Todas as pessoas no nosso entorno acabarão por sentir a transformação. Podemos ter a certeza que - a partir desse momento - haverá correspondência, não em todas as pessoas, mas nalgumas, com certeza.