A IIIª Guerra Mundial tem sido, desde o início, guerra híbrida e assimétrica, com componentes económicas, de subversão, desestabilização e lavagens ao cérebro, além das operações propriamente militares. Este cenário era bem visível, desde a guerra na Síria para derrubar Assad, ou mesmo, antes disso.
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sexta-feira, 8 de março de 2019

REFLEXÃO: AQUILO QUE PASSA POR POLÍTICA...


Quando os sacerdotes bufões da media falam, incitando as pessoas a pensarem isto ou aquilo, a rejeitarem A e seguirem B, ou vice-versa, desde que sejam sempre passivas… eu tenho tendência para virar a cara para o lado. É que me dá uma náusea, uma sensação de enjoo. Devo ser um caso muito especial, pois senão eles/elas – mediáticos/as – estariam órfãos/órfãs de público.

Aquilo que verifico, afinal, é que todos estes «cientistas» de pacotilha conseguem açambarcar a atenção dum número considerável de pessoas, apenas usando as técnicas de «public relations» e da psicologia mais trivial, mas sempre eficaz. Aliás, estas técnicas manipulativas são eficazes, sobretudo pela simples razão de que têm um público cativo, previamente condicionado, tornado passivo.

A principal questão política - ou sociológica, se se preferir- é que, nas sociedades desta era de consumo de massas e de democracia "representativa", tudo é feito para afastar as pessoas de uma verdadeira intervenção na vida pública.
Os «especialistas» de tudo, ou seja, os «doutores da treta», encarregam-se de «pensar por nós», de falar e escrever o que lhes apetecer, nos seus termos. 
Aquilo que fazem ou dizem é relevante apenas porque lhes foi concedido o monopólio da palavra e da presença nos écrans; os restantes membros da comunidade, os que teoricamente são também cidadãos, apenas têm que ouvir e calar. Dizem-lhes: «vão votar»! Ao mesmo tempo que reduzem ao acto de votar toda e qualquer participação da cidadania, negam-lhe o conhecimento real e verdadeiro das escolhas que lhes apresentam … 
O cidadão é tratado exactamente como sendo menor mental: tal é o desprezo pela inteligência do cidadão-eleitor, que apelam ao voto com campanhas publicitárias feitas de imagens e slogans vazios. 

O sistema mantém-se pela passividade, pela exploração da tendência para a preguiça, pela ausência de curiosidade, da grande maioria. 
Este sistema está desenhado para funcionar na perfeição, com cidadãos apenas interessados em «resolverem» seus assuntos pessoais e seguirem os seus ídolos do desporto, da canção, do cinema… 
Estas formas de alienação funcionam por personificação. O  imagina-se na pele do seu ídolo: consegue aceder a um «estado de graça», identificando-se com o jogador no relvado, ou a cantora no palco, num cenário de sons e cores, etc…  
Assim, transformou-se o povo numa enorme multidão de adolescentes eternos/as, apenas desejosos/as de dar vazão a seus desejos, às suas pulsões. Tais pulsões implicam sempre o consumir, o usufruir dum estatuto especial ou «status», exclusivo duma «elite» do dinheiro. Não é preciso que este consumo seja óptimo, mas tem que ter a chancela mediática que identifica seus consumidores como gente privilegiada e que as outras invejam – supostamente - por não terem possibilidade de tal consumo de luxo, desse tal esbanjar, afinal. 

Assim, o sistema político-mediático que nos governa está permanentemente a inverter os termos daquilo que foi sendo consignado nas constituições e nas leis, ao longo de dois séculos e meio. Os textos legais permanecem, em muitos casos, mas são letra morta, porque não tem havido correlação de forças favorável a que se imponha o seu respeito. Este esvaziamento da democracia tem sido levado a cabo nos últimos 30 anos, pelas políticas ditas neoliberais no domínio económico, acopladas ao crescente autoritarismo político e à reconstituição dos privilégios para uma pequena minoria. 
É essencialmente contra este neo-feudalismo que têm lutado os movimentos sociais nos finais do século passado e primeiros decénios do presente século. 

A passivização do público, a sua transformação em seres pulsionais, em «crianças para toda a vida» é o objectivo dos defensores dos privilegiados. 
As pessoas estão condicionadas a pensarem os políticos como uma casta à parte: os que «sabem sobre todos os assuntos», que «têm ideais e que os defendem com ardor», que - por vezes - mentem, mas «que se lhes deve dar um certo desconto».
O que as pessoas não compreendem é que os políticos profissionais são pessoas comuns, com os seus defeitos e qualidades. Quando são entrevistados ou participam num evento público, têm por detrás o aconselhamento dos especialistas em imagem, têm gabinetes de apoio onde pessoas com valências técnicas, que eles/elas não possuem, lhes vão decifrar questões de economia, de saúde, de relações internacionais, etc. 
Assim, aquilo que dizem em público, será ou aparenta ser, profundo; sobretudo, será aquilo que seu auditório cativo, seu eleitorado e o público em geral, desejam ouvir.

Uma intervenção nesta política-espectáculo mais se pareceria com um jogo de espelhos. Tal intervenção seria análoga àqueles percursos labirínticos nas feiras, com espelhos que nos desorientam e nos fazem andar em círculo… 
A primeira coisa que alguém terá de fazer se deseja entrar neste jogo, é desfazer-se de qualquer prurido moral quando se trata de abocanhar um naco de poder, de influência, de visibilidade mediática… A segunda, será de escolher e seguir o líder, alguém com mais poder, em condições de favorecer o candidato, colocando-o numa lista em posição elegível.

Face a esta desoladora paisagem, face a este espectáculo de cinismo e ganância obscenas, as pessoas sensíveis...
- ou se recolhem num mundo pessoal, íntimo, cultivando seus «jardins secretos»; 
- ou se sentem desesperadas e descrentes de tudo e acabam por se auto destruir, pelas dependências a drogas e de um estilo de vida que acaba por desembocar no suicídio, muitas vezes. 
As pessoas com carácter forte, rebelde, não conformadas, por vezes adoptam uma postura quixotesca, sem qualquer esteio prático, porque não se inserem nas lutas sociais, na vida quotidiana de seus concidadãos e sonham com românticos Che, afinal um mito construído. 
Os restantes, os que escolhem o caminho estreito da resistência realista, mantendo-se próxima do sentir dos outros, sem se auto proclamarem como chefes, estes são demasiado poucos para serem capazes, por si sós, de inverter a tendência.

Embora tudo o que escrevi acima pareça de um pessimismo atroz, não o é, pois é a partir da constatação de uma dada situação, tendo identificado as nossas falhas de toda a ordem, que podemos encontrar os meios para se avançar. 
Não se trata de cruzar os braços e lamentar a nossa impotência, mas antes, de ver como ela foi construída, confeccionada pelos poderes, embora ela não seja uma fatalidade. Porém, um diagnóstico crítico e auto-crítico é necessário para desenharmos estratégias individuais e colectivas, que não terão de ser únicas, nem uniformes, mas que deverão ser confluentes. 
Esta será a metodologia capaz de contrariar e inverter, subvertendo a presente ditadura, que se reveste das aparências da liberdade e da democracia. 
Ela será realisticamente eficaz e alcançará a sua finalidade, se conduzir a que as pessoas se ergam e livremente, democraticamente, moldem o presente e o futuro de suas vidas e das sociedades.


domingo, 13 de janeiro de 2019

REFLEXÃO: «GLOBALIZAÇÃO DEMOCRÁTICA» OU VERDADEIRA DEMOCRACIA?

A globalização foi sempre - e continuará a ser - um processo desejado, posto em marcha e sustentado pelos grandes capitalistas mundiais. Os Rothschilds, os Rockfellers, os Gates, os Soros etc, etc, são os impulsionadores do globalismo. Não existe verdadeira «globalização alternativa»... Porquê? 
Porque a democracia, com todos os seus defeitos, só pode existir ao nível local ou, no máximo, ao nível nacional. Não existem  mecanismos de debate e TOMADA DE DECISÃO democráticos, ao nível internacional. 
Podem existir na cabeça de sonhadores, mas não vi nunca tal acontecer, verdadeiramente, no passado ou presente...As assembleias como a da ONU, ou no Parlamento Europeu, etc. não são verdadeiros locais de democracia, mas arenas onde se jogam as alianças entre potências (ONU), ou forças políticas europeias (Parlamento europeu), umas contra as outras. 
O povo está ausente dessa «democracia». Apenas irrompe na cena política dos países, quando se instala uma ruptura entre governo e governados, quando há algo como a actual insurreição dos «coletes amarelos» em França, ou noutras situações em que o poder é deslegitimado e onde existe uma construção de reivindicações, de propostas, que entram em colisão com a classe política instalada. 

As propostas de uma «outra» globalização são confusionistas no melhor dos casos ou, muito possível também, que façam parte das manobras de ONGs subsidiadas por George Soros* e outras, para desviar o potencial de subversão das pessoas descontentes: assim, canalizam energias para manifestações simbólicas, o folclore de «alter-mundialismo». 
Em Portugal essas manifestações têm servido apenas para auto-promoção dos que, depois, aparecem com roupagens partidárias, noutras ocasiões. 
Outras pessoas, ecologistas de coração, mas com pouca visão global, contentam-se com «projectos» de troca directa («barter», em inglês) ou de «comércio justo» (mas que mantêm a exploração, pois - senão - não seriam sustentáveis...), etc, etc. 
Enfim, o que caracteriza muito dessa «movida» é uma visão ultra-reformista, que se quer fazer passar por «revolucionária». Conseguem enganar (auto-enganar?) com isso um certo número de pessoas, desesperadas por «sentir que estão a fazer algo». 
No fundo, muitos projectos são desencadeados numa perspectiva de subida ao poder dum novo conjunto de pessoas. O objectivo, confesso ou não, é sempre o mesmo: o de tornar certas pessoas mais conhecidas, mais apreciadas e seguidas, por forma a alcançar lugares, ou como membros dum governo, ou do parlamento, ou da direcção dum partido, ou duma ONG. 
No fundo, são plataformas de poder, as que se instalam nessas ocasiões. Para mim, isso seria legítimo se as pessoas que aí participam dissessem - a quem os quer ouvir - que o que desejam é isso mesmo: obter um naco do poder, no pressuposto de que elas serão as defensoras dos oprimidos... Eu bem sei que, se tivessem coragem de dizer isto, seriam honestas, mas não teriam uma grande adesão das «massas». 
Como estas coisas fazem parte do «não dito», são necessariamente parte do equívoco frequente nas dinâmicas do tipo «ONG». 

Nada disto ajuda a causa dos oprimidos. 
Os que realmente precisam de tomar as coisas em suas próprias mãos, só o poderão fazer construindo novas vivências e novos instrumentos de democracia directa no calor da batalha de classe (afinal, o que é a revolta dos «coletes amarelos»,  que não se limita à França, mas tem inspirado outros europeus... belgas, britânicos e italianos e outros?).
O primeiro dever dos intelectuais (sem aspas) é o de saber bem de que estão a falar e explicarem com clareza e simplicidade o que sabem, sem demagogia, sem querer, com isso, arrastar outros para as suas posições. 
Ora, por muito que isso desagrade a certa gente, o que tenho visto em grande parte deste tipo de reuniões é estas serem meras tribunas para certas pessoas fazerem valer seus pontos de vista. A abertura ao debate é nula, ou é apenas uma cosmética... A cultura do diálogo é muito difícil de vingar neste país, mesmo por aqueles/as que têm genuíno desejo de a promover.
Então o que tem de mudar?
As pessoas que queiram realmente «comandar obedecendo» como dizem os zapatistas, têm de perder essa vinculação a um formato escolástico de debate, de discurso, que elas próprias receberam no ensino e depois na vida activa. Elas não têm consciência disso, porém não são más, nem idiotas, mas auto-derrotadas.
Um diálogo é sempre entre iguais, não há professor e aluno, mestre e discípulo, numa situação de diálogo verdadeira. A igualdade de acesso à palavra é preocupação real de todos os intervenientes, a atenção ao que cada pessoa tem para dizer deve ser uma constante, não ser apenas um pro-forma. 
Verifiquei que - em certas ocasiões - numa assembleia, alguém começa a falar (mesmo que seja cochichando) com o vizinho do lado; noutras ocasiões, a pessoa que recebe as inscrições na mesa, ignora (não vê?) certos braços levantados, pedindo a palavra. Ainda noutros casos, certas pessoas estão constantemente a intervir, não permitindo que as outras pessoas falem. 
É conhecido que as formas de democracia - sejam elas quais forem - passam sempre por os membros de uma mesma assembleia se respeitarem, darem atenção ao que dizem uns e outros, procurarem consensos, mas não os forçarem, aceitando que mais vale uma divergência saudavelmente afirmada do que um falso consenso, que afinal mais se parece com uma coação.
A democracia é - como sempre foi - algo que deve partir das pessoas, da base: elas próprias devem construir as suas assembleias, com poder para deliberar sobre questões que estejam ao seu alcance. 
Por exemplo: a retirada  coordenada do dinheiro das contas pelos seus titulares, numa campanha de boicote contra a banca terá um efeito muito grande se for efectuada ao nível nacional. Seria como uma «greve geral» de aviso à banca e ao «mundo financeiro». 
Sobretudo, importa que sejam coisas que as pessoas comuns, «com criancinhas pequeninas nos braços», possam fazer tranquilamente, sem correr riscos físicos, elas próprias, ou o seu agregado familiar. 
Existem gestos muito mais significativos do que votar em partidos «alternativos», ou mesmo votar em branco. 
Existe a possibilidade de desmascarar a pseudo-informação como propaganda do poder, de demonstrar as falsidades, de expor as campanhas de intoxicação, de «fake news» ou «falsas notícias», produzidas pelos media corporativos todos os dias, enquanto tentam desacreditar todo e qualquer sítio de informação da Internet ou de redes sociais, feito por cidadãos, sobretudo se estes têm uma postura contra os poderes.
Existe a possibilidade de divulgar os direitos das pessoas, dando-lhes a capacidade - se e quando ocorrerem situações em que estes direitos são espezinhados - de saberem defender-se de forma eficaz.
Enumerar todas as acções que as pessoas podem levar a cabo no sentido de se apoderarem e deslegitimarem os poderes, seria fastidioso e sem sentido. Isto, porque são as circunstâncias concretas que podem mostrar se tal ou tal acção é praticável, se é oportuna, etc.
O ACTIVISMO COSTUMA ESTAR ERRADO, NÃO NOS FINS OU OBJECTIVOS FINAIS QUE DEFENDE (AS CAUSAS), MAS SIM NOS MÉTODOS, NAS ESTRATÉGIAS, NAS TÁCTICAS, NOS MEIOS CONCRETOS DE AGIR. É a esse nível que as pessoas envolvidas no activismo se auto-derrotam. 
É nisso justamente - estratégias de comunicação, autonomia, sustentabilidade de campanhas, capacidade de suscitar simpatia na população em geral, espírito de unidade sem sectarismo, etc - que as pessoas envolvidas devem pensar, pois são questões difíceis e muitas falhas só transparecem demasiado tarde, quando a campanha ou acção já está lançada.
  
(* George Soros tem uma fundação, cujos tentáculos são muito longos, com uma série de ONGs que lhe estão subordinadas. Muitas pessoas, na sua melhor boa fé, podem estar envolvidas em tais ONGs sem saberem que estas recebem financiamento e trabalham para Soros!!!)

  

quinta-feira, 4 de outubro de 2018

RELAÇÃO AMBÍGUA DE PORTUGAL COM O SEU PRÓPRIO PASSADO

                          Portugal


A proclamação da república em 5 de Outubro de 1910 foi resultante de um golpe civil-militar que conseguiu derrotar militarmente as últimas forças fiéis ao monarca. D. Manuel II subiu ao trono em 1908, depois do regicídio que vitimou D. Carlos e seu irmão, o príncipe herdeiro, D. Luís Filipe.

                    Imagem relacionada

A história dos tempos conturbados da 1ª República e os que precederam a revolução republicana de 1910, está ainda largamente ignorada pelo grande público. 
Os republicanos dos finais do século XIX eram um grupo heterogéneo, tanto nas classes sociais, como nas ideologias. Havia alguns com uma concepção «social» da república, nomeadamente os que tinham militância ou afinidades com os movimentos operários, muito influenciados pelos ideais socialistas e anarquistas. 

               

Mas outros, eram membros da grande burguesia, industrial ou latifundiária, cujo fim era a implantação de um regime que favorecesse o desenvolvimento industrial do país. 
A grande massa porém, era constituída por funcionários públicos, por empregados do comércio e serviços, sobretudo na capital e nas grandes cidades, imbuídos de um republicanismo com colorações nacionalistas. 
Não esqueçamos que o Partido Republicano explorou a veia nacionalista aquando do episódio do «ultimato», da humilhação sofrida por Portugal face à aliada Grã-Bretanha («a pérfida Albion»). 
Muitos republicanos da viragem do século XIX para o século XX eram firmes defensores do colonialismo português. Muitos tinham uma visão paternalista da relação do povo colonizador com os povos colonizados. Um destacado exemplo disso foi Norton de Matos, escolhido pela oposição republicana como candidato presidencial em 1948, o qual tinha tido uma larga carreira como administrador colonial em Angola

É um erro projectar os valores dos finais do século XX na mentalidades do início deste mesmo século. A chamada «república democrática», foi tudo menos democrática, pelos padrões comuns hoje em dia. 
- A eleição parlamentar era censitária: Só quem fosse instruído e tivesse um mínimo de rendimento podia votar. Os deputados eram eleitos por círculos desenhados de acordo com as conveniências do poder. As mulheres, em geral, estavam arredadas dos cargos públicos. Muitas eleições tinham uma taxa de participação muito fraca. Eram frequentes as «chapeladas» (fraudes eleitorais).  
- Os operários eram reprimidos violentamente, durante as greves. Afonso Costa era admirado e louvado, em certos meios, por ter «quebrado a espinha» aos movimentos grevistas. As prisões enchiam-se de sindicalistas e outros militantes operários. 
- Havia uma polícia política em embrião, ligada ao aparelho do Partido Republicano. 
- A corrupção era potenciada pela instabilidade política e pela desorganização da economia. 
- O anti-clericalismo radical de certos políticos favoreceu a aliança entre os conservadores republicanos, os monárquicos e o clero. Esta aliança esteve na origem do peculiar fascismo clerical português. 

No golpe de 28 de Maio de 1926, que veio proporcionar a posterior ascensão de Salazar, participou uma facção republicana do exército. Talvez por isso Salazar nunca se tenha atrevido a restaurar o regime monárquico, como o fizera Franco, o outro ditador ibérico. 

Uma obra da república com verdadeiro mérito foi o esforço enorme, apesar das condições económicas, para alargar a alfabetização do povo, para propagar um ensino laico e de acordo com os métodos pedagógicos mais avançados para a época. 
Foi esta obra, a da educação pública, que Salazar se esmerou em anular, fechando as Escolas do Magistério Primário, centros de formação de professores primários, instaurados pelo regime republicano desde muito cedo, e entregando a instrução primária ao clero e «regentes escolares» com formação rudimentar, para educação das classes pobres.

Hoje em dia há uma larga ignorância das pessoas em relação ao seu passado, não tão longínquo. 
Tal como em relação à história do colonialismo, em relação à da Iª República, há imenso a fazer: sobre os antecedentes, o conturbado período de sua vigência, ou o seu derrube. 

O povo português ignora importantes períodos da sua história, particularmente os finais do século XIX e a primeira metade do século XX. Na forma como é ensinada no ensino básico e secundário, é reduzida a uma série de chavões e lugares-comuns, que mais ocultam a verdade do que realmente esclarecem sobre os factos. 

Um povo que ignora o seu passado não pode compreender o presente, pelo que está mais susceptível de ser enganado e arrastado para falsas soluções.   


terça-feira, 31 de julho de 2018

RICARDO ROBLES: AO QUE TU CHEGASTE!

 A ganância é uma paixão humana, mas as pessoas com a postura pública de Ricardo Robles, não podem desculpar-se nisso, pois têm responsabilidade perante os seus eleitores e perante as muitas centenas de milhares de pessoas que têm sido desalojadas ou obrigadas a migrar para a periferia porque o negócio da locação turística e a especulação imobiliária tomaram conta da capital.
Robles não tinha o direito de fazer o que fez, não por ser ilegal, mas sim porque está em contradição flagrante com o programa e ideias defendidas pelo seu partido, o BE, para a Câmara de Lisboa. 
A direita pode usar o pretexto para atirar farpas e enlamear não apenas o  ex-vereador bloquista, não apenas o BE na sua direcção, como até fazer processos de intenção ao PCP que, neste caso, não tem absolutamente nada que ser envolvido. 
Mas com raiva e mesquinhez, certos plumitivos atiram-se, como «gato a bofe», maneira de dizer... a tudo o que «cheire a comunismo» e a «esquerda».

A tragédia do regime em deliquescência transcende em muito a figura deste vereador, lutando enquanto vereador por algo que ele próprio sabotava nos seus negócios privados. 
Poderia parecer o guião duma novela política, se não fosse a exacta realidade. Mas as figuras que circulam nos corredores alcatifados do poder, independentemente da sua ideologia, acabam por perder o senso comum, acabam por pensar que tudo lhes é permitido. Infelizmente, Robles não é o primeiro nem será -provavelmente - o último apanhado a fazer o contrário do que defende.

A democracia não pode ser um jogo verbal, em que as pessoas envolvidas não têm que dar «o corpo ao manifesto». Não podem fazer como cidadãos privados, o que condenam em termos públicos. 
Mas como isto está constantemente a acontecer, em maior ou menor escala, o sistema político acaba por ficar podre até à medula, corrompido de forma irreversível. 
A democracia não pode ser este regime partidocrático, em que uma «classe» se considera acima da lei, acima da própria moral. Lamento, mas não encontro, nem na esquerda, nem na direita, nem no centro... diferenças substanciais. 

O desafio para a cidadania é fazer uma democracia de participação, em que as pessoas eleitas o são, não porque foram escolhidas no interior de um colégio eleitoral interno aos partidos (no melhor dos casos), mas como MANDATÁRIOS, cujo desempenho do mandato é periodicamente posto à avaliação dos eleitores, não de  quatro em quatro anos, mas sim em reuniões presenciais e/ ou virtuais no mínimo, uma vez por trimestre. 
Este modelo de democracia funciona em pequena escala, há muito tempo, mas também foi ensaiado em escala muito maior, na grande cidade ou em províncias inteiras, envolvendo dezenas ou centenas de milhares de pessoas.
Mas o povo está apático, está descrente da democracia, sob qualquer forma. 
Irá, com certeza, acolher, mais dia menos dia, o próximo ditador... como sendo um salvador da pátria! 

- Os Ricardos Robles e companhia, que enxameiam a democracia pós 25 de Abril, podem-se orgulhar de terem participado na «inevitável ascensão» do novo Salazar!!!

domingo, 3 de junho de 2018

PORQUE É QUE A UNIÃO EUROPEIA NÃO TEM FUTURO

                           Resultado de imagem para european union cartoon

Num contexto de crescimento vigoroso, como foi o caso da década de 90 e até à década seguinte, interrompido pela crise mundial de 2007-2008, era fácil à oligarquia eurocrática impor o seu modelo de «governança» ao povo europeu, mesmo à custa de uma série de entorses à democracia, da qual ela se diz a maior defensora. Lembremos os casos dos referendos irlandeses, dinamarquês e, sobretudo, os dois sucessivos «não» à Constituição europeia, em França e na Holanda. 
As oligarquias não descansaram enquanto não encontraram um meio para subverter o sentido do voto destes eleitorados, cujos países foram membros fundadores do Mercado Comum. No Tratado de Lisboa, impuseram uma «Constituição bis», apenas com alterações cosméticas, para formalmente não ser considerado como desrespeitando o veredicto das urnas em França e Holanda. 
Com o colapso da economia especulativa nos EUA, em 2007-2008, mas logo propagando-se ao continente europeu, a única preocupação de governos e bancos centrais, de um lado e do outro do Atlântico, foi a de evitar que os bancos, chamados «too big to fail»,  não sofressem e  continuassem a ter os seus lucros. 
- Inventaram as políticas monetárias mais  absurdas, como «Quantative Easing», ou seja, aumentar indefinidamente a dívida, como «meio» para resolver um problema  ... de dívida! 
- Impuseram a austeridade para o povo, mas reforçando os privilégios de casta dos líderes políticos. 

A pseudo «elite» - na realidade, uma oligarquia - conseguiu «dominar». Mas submeteu-se caninamente a tudo o que lhe impunham, a partir da sede do império: 
- Desde o reforço da NATO, sob pretexto de renovada guerra fria (iniciada e alimentada por eles), até à destruição do Estado de Direito, com pretexto numa série de atentados terroristas tipicamente «falsas bandeiras». 
- Como resultado da sua participação desastrosa na guerra civil na Síria, causou a revolta popular contra uma aceitação forçada e indiscriminada de refugiados desta e doutras guerras, insufladas pelo «Ocidente».
A total desconfiança relativamente às cúpulas políticas, atingiu um ponto alto com a eleição em Itália de duas forças euro cépticas, que se coligaram para governar. 
Por agora, a contestação dos povos tem sido civilizada, ordeira. Mas, o destino desta construção falhada da «União» Europeia não se anuncia nada tranquilo e democrático. Com efeito, quando houver uma nova grande crise, que irá fazer parecer uma «brincadeira» a crise de 2008 que abalou o sistema de capitalismo financeiro, o desespero das gentes será tal, que a casta dirigente irá ser posta na rua. 

Resta a incógnita sobre o que virá depois. Não creio que a chamada «democracia representativa» tenha condições para se reformar. Mais provável será o advento dalgum tipo de cesarismo ou populismo... na ausência de genuína alternativa para outro sistema totalmente diferente do actual, nos seus pressupostos. 
O monstro chamado UE, a ditadura da Comissão de Bruxelas sobre todos os governos, parlamentos nacionais e povos, não pode continuar no contexto desta crise que se avizinha. 
Esta crise não é evitável, não é adiável por muito tempo, não existe remédio eficaz para os males que assolam o mundo financeiro e económico, dentro do sistema em vigor. 
Haverá uma transição, seguramente, mas não será pacífica: não existe maneira de a fazer, sem colocar em causa o âmago do sistema. 

segunda-feira, 16 de outubro de 2017

A SOLUÇÃO REALISTA PARA FOGOS EM PORTUGAL E MUITO MAIS

                     

Continuamos a atirar para «os políticos», para «os partidos» e para as forças económicas, como sendo os responsáveis pelo estado de enorme falta, que origina as tragédias dos incêndios e a quotidiana má gestão, que não causa mortes ou danos visivelmente, que não tem direito às primeiras páginas de jornal, mas que tem efeitos tão ou mais devastadores, que os referidos incêndios.
Mas, se calhar, não são eles, os únicos responsáveis de todas as calamidades que se abatem sobre este país.

A cidadania em Portugal tem sido adormecida ao som de canções de embalar ou cantos sereia, emitidos pelos figurões dos partidos, os quais sabem fazer o discurso que o povo quer ouvir.



Trata-se de uma espécie de engano muito peculiar, pois os que são enganados, sabem - afinal - que o estão a ser. Mas, ainda assim, querem ouvir promessas,  querem «acreditar», querem ter «esperança» e votam  - em geral - segundo a etiqueta ideológica, mas não fazem mais do que isso. O seu papel, na democracia, limita-se a colocar um voto na urna, de tempos em tempos. E isso não é participação nenhuma!

Deveria ser o papel das pessoas mais conscientes o de perceberem e explicarem porque motivo esta «democracia» não funciona, nem mesmo ao nível mais elementar. 
A razão é simples: não existe, de facto, qualquer representação que não se degrade - com o tempo - em compadrio, em troca de favores, em esteio para a corrupção. O único antídoto para isto, é a democracia directa, ou democracia assembleária. 
Ou seja, as pessoas «comuns» têm de mudar completamente de atitude; têm de colocar a resolução dos problemas nas suas próprias mãos. 
Teoricamente, os níveis da freguesia e do município deveriam ser apropriados para se ensaiar desde já uma política verdadeira, ou seja, em Assembleias Cidadãs, com poder para controlar e, eventualmente, revogar os eleitos dos cargos. 

Deveria ser este o objectivo de quaisquer pessoas sinceras, sem outra vinculação, a não ser o compromisso que assumiram com o povo.


quarta-feira, 15 de março de 2017

ELEIÇÕES FRANCESAS: FICARÃO OS MUROS?

Depois das peripécias mais ou menos grotescas da candidatura de Fillon, acossado por uma parte da elite, que queria que ele cedesse o lugar ao candidato mais bem posicionado para perpetuar o sistema (Macron), criaram-se as condições para uma «tempestade perfeita», que irá colocar no poder Marine Le Pen. 

Digo isto, sem qualquer dúvida, pois, mesmo que ela não consiga derrotar o seu opositor na segunda volta das presidenciais, terá o regime completamente debaixo do seu polegar.
Com efeito, depois das presidenciais há as legislativas e as municipais. 
Não é normal que uma força política - neste caso, o FN - tenha um quarto ou um terço do eleitorado e depois, ao nível dos órgãos de representação, não se observem quaisquer representantes ou tenham assento numa proporção muito menor. 
Assim, o regime fica refém desta força política, pois Marine e o FN estarão sempre em condições de posar como excluídos, como vítimas, como discriminados. 
Podem portanto (continuar a) chantagear as restantes forças políticas, as quais se apressam a ceder às sucessivas chantagens, aplicando o programa do FN, mas em nome do «espírito da República».
É nesta fantochada que anda o regime francês, há pelo menos dez anos. Qualquer pessoa com bom senso hesitaria a designar isso como regime democrático. 
Com efeito, tem sido o hábil manobrismo de pessoas que partilham o poder há décadas e o seu absoluto desprezo pelos humildes que tem empurrado os destituídos, os «sem-voz», para os braços da extrema-direita. 
Os operários, os trabalhadores modestos, deixaram de se reconhecer nos tradicionais partidos operários, socialista e comunista. 
O mesmo fenómeno - com as necessárias adaptações - se verificou na eleição de Donald Trump. 
Uma fatia importante do eleitorado escolhe o candidato percebido como vindo de fora do sistema (que, de facto, não será), mais por raiva contra os senhores no poder, do que por adesão real ao programa e ideário desse candidato(a). 

A democracia em França foi sendo socavada em sucessivos momentos, após a vaga de fundo imediatamente a seguir à libertação, após a II Guerra Mundial. 
Nessa altura, tratava-se de a burguesia ceder, em quase tudo, a uma classe operária aguerrida e triunfante, para conservar o essencial. 
Agora, trata-se de salvaguardar os privilégios de uma nova feudalidade que se instalou no poder durante os longos anos da Vª República, através de um «delfim do regime» (Macron).


A alternativa, para a grande burguesia, será de recompor as alianças num quadro de retração nacionalista, xenófobo e intolerante, no caso de um triunfo imediato de Marine Le Pen obrigar a isso. 

Penso que a salvaguarda do status quo é o «plano A» da oligarquia e que a opção Le Pen será o «plano B». 
Mas, em qualquer dos casos, serão eles a gerir o resultado, será sempre a oligarquia a triunfar, não tenhamos dúvidas. 

Está quase completo o trabalho de esvaziar de conteúdo democrático a República, no «país dos direitos humanos»... ficarão os muros?
- Os muros ficarão, obviamente, para dar a ilusão de que a democracia continua...