A série de assassinatos (ou tentativas de) a que vimos assistindo e continuaremos a assistir, são operações da CIA, do MI6, doutros serviços da OTAN (+ Mossad de Israel + Serviços da Ucrânia), que contratam «homens de mão» para atentados terroristas. Desde 07 de Outubro de 23 assistimos a um horrível massacre contínuo de população inocente às mãos do exército IDF de Israel, cometendo crimes de guerra. Mas, também há uma multiplicação de atos de terrorismo contra alvos especiais, pelo «Grande Hegemon».
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quarta-feira, 29 de novembro de 2017

A GRANDE BANCA EUROPEIA JÁ SABE O QUE AÍ VEM

Nós  - quase todos - somos vítimas da subordinação dos Estados à grande banca. Desde a crise/quase colapso de 2008, que tenho analisado as consequências das medidas que governos, bancos centrais e entidades financeiras internacionais, têm tomado. Todas estas entidades e instituições, por mais que digam que tais medidas se destinam a «sustentar a economia», mais não fazem do que sustentar a grande banca. 
Mas o processo tem limites inultrapassáveis: a impressão monetária ao infinito, seria adotada universalmente desde há muito tempo e o Zimbabué seria a mais sólida e próspera economia do Mundo, se essa estratégia tivesse o anunciado efeito de «sustentar a economia».
Porém, do outro lado, no interior dos edifícios envidraçados das sedes dos grandes bancos europeus e mundiais, não se deixam enganar pelas propagandas destinadas às massas. 
No caso da Société Genérale, um desses mega-bancos ditos «demasiado grandes para falharem», chega a anunciar o fecho de 300 agências e despedimento de 3450 empregados.  
                          

Mas porque fariam eles uma coisa destas, agora? Não é verdade que a economia europeia tem estado a melhorar paulatinamente desde 2009? 
- Eles sabem que a política de «quantitative easing» ou seja, de impressão monetária, a compra de obrigações do tesouro de países muito endividados, como a Grécia, Itália, Portugal, pelo BCE não  pode trazer senão uma enorme distorção do mercado. Ora, no capitalismo, se o mercado não funciona, nada funciona.
Temos de compreender o que sustenta o Euro: tem havido transferências massivas de dinheiro do norte para o sul da Europa, nomeadamente Portugal, Espanha, Itália e  Grécia. 
A crise do Euro, está toda ela contida na medida de conversão das dívidas prévias desses países em Euros, seguida de uma duplicação do valor do Euro. O sul viu-se a braços com uma dívida insustentável e para cumprir os compromissos exteriores, as suas economias sofreram um golpe brutal, que teve como consequência que as jovens gerações têm 60% de desemprego, nalgumas regiões. 
Esta «geração do milénio» tem sido a geração perdida, sacrificada, para satisfazer o poder de Bruxelas, a todo o custo, assim como os seus súbditos nos respetivos países do sul, fieis cumpridores dos decretos do império bruxelense. 
 Tanto a UE como o BCE são completos fracassos. O resgate da Europa do Sul criou uma pseudo-valoração do Euro e das obrigações soberanas denominadas em Euros, que não poderá sobreviver ao sopro de uma crise anunciada, mas cujo desencadear tem sido evitado... até agora. 
Os bancos europeus de grande dimensão sabem - melhor do que ninguém - qual o estado verdadeiro da economia da Europa e do Mundo. Eles tomam medidas preventivas de contenção de gastos, porque sabem que não irá haver expansão ou normalização da economia nos próximos anos. Estão já a tomar as precauções devidas. 
Todos os economistas sabem que é impossível a Grécia jamais pagar o que deve. 
Além disso, tornou-se claro que a Itália está no limiar de uma nova crise e  que as despesas do Estado Espanhol não estão sob controlo. 
Mas nada disso é tido em conta, na media «maistream»: eles especializam-se em dar uma imagem cor-de-rosa, «positiva», do descalabro da UE, porque estão visceralmente ligados ao «establishment» político e económico, na sua grande maioria. 
Vozes como a minha e como a de alguns analistas dispersos pela Internet, não terão - pensam eles - um efeito massivo de contrariar a narrativa dominante. Os oligarcas e seus lacaios pensam que a sua teia de mentiras nunca será desmascarada perante o grande público.
É nisso que eles apostam.

terça-feira, 31 de outubro de 2017

A QUESTÃO DO NACIONALISMO E DA «UNIÃO» EUROPEIA

                        
Há algum tempo colocava a questão se existiria um nacionalismo de esquerda. Respondi que sim, que era evidente, pelos exemplos históricos diversos. 
Agora temos um caso especial com o nacionalismo catalão e o destino incerto de uma República Catalã que foi negada, anulada, mal foi proclamada. 

A questão de fundo prende-se com a direção do movimento nacionalista, seja em que região do mundo for. Vimos isso com as direções dos movimentos de libertação das ex-colónias portuguesas, por exemplo, que assim que tiveram o poder e formaram governo nos seus países recém-chegados à independência tratarem de assegurar o controlo pessoal dos diversos sectores da economia e finalmente, acabarem por distribuir benesses e postos lucrativos a familiares e amigos, assegurando também um pecúlio suficiente para um exílio dourado, algures à beira dum lago suíço.

Na Península Ibérica, desde a Idade Média, as diferenças culturais e étnicas, inegáveis, entre povos da Hispânia ou Ibéria, vão-se repercutir na divisão entre vários reinos, historicamente o terreno onde se desenvolveram as línguas e floresceram as culturas. 
Porém, o nacionalismo surgiu - de facto - como ideologia política somente no século XIX, na sequência da convulsão das guerras napoleónicas, em toda a extensão do continente europeu. Foi a partir dessa época que o nacionalismo se afirmou como uma aliança entre a burguesia e o povo (os camponeses, os artesãos e o proletariado das nascentes indústrias).

A República Espanhola era federal e as diversas regiões, incluindo o País Basco, a Catalunha e a Galiza, tiveram órgãos próprios de governo. 
No franquismo, as reivindicações de autonomia política foram ferozmente reprimidas, enquanto se permitia a afirmação dos particularismos regionais, como expressões da «diversidade» dentro da mãe Espanha. 
O modelo republicano era federalista: tinha na sua génese as reivindicações de poderosas burguesias regionais, que desenvolveram indústrias e comércio, na Catalunha e no País Basco, sem precisar de Madrid, a sede do império. 
Está patente, sob forma de testemunhos de pedra, a ascensão da burguesia industrial em San Sebastián ou em Barcelona. No período que vai da segunda metade do século XIX, ao primeiro quartel do século XX, foram construídos muitos monumentos e prédios burgueses nas artérias mais prestigiosas destas cidades. 
A região Galega também teve o seu impulso, liderado por uma burguesia nacional, mas sob o franquismo e o imediato pós-franquismo, constituindo fortunas colossais, como a dos patrões da «Zara» ou da «Pesca Nova». O nacionalismo galego sonha com um Estado único englobando a Galiza e Portugal. 

O nacionalismo «revolucionário» está em crise, assim como as correntes de extrema esquerda autoritária, principalmente de influência maoista, que as protagonizaram. Embora só possam oferecer um pouco de ópio de ilusões emancipadoras, conservam ainda uma certa áurea nalgumas regiões, em sectores das classes trabalhadoras.

A crise catalã vem confirmar isto, pois o processo é liderado - de facto - por sectores da burguesia, que têm como objetivo a integração da Catalunha no desconcerto das nações da desUnião Europeia. 
A aposta da independência ser apoiada pelos poderes eurocráticos de Bruxelas ainda não foi considerada perdida por vários sectores pró-independência da Catalunha. 
Mas pessoalmente, eu acho que está mais que provado que os poderes de Bruxelas e da grande maioria dos Estados e Governos que compõem a manta de retalhos chamada Europa «unida», nada temem mais do que um simultâneo rebentar de crises nacionalistas nos seus respetivos Estados. Note-se que estes são quase todos multi-étnicos, como é lógico que o sejam, numa História de tantos séculos, com guerras, invasões e tratados de paz que redesenharam fronteiras nacionais, etc. 
O enfraquecimento do poderio da UE, pode ser interessante no curto prazo para os EUA, pois estes estão interessados em que seus aliados e parceiros sejam fracos, que precisem da ajuda e proteção do Império. É melhor - para o dólar - que sejam o euro e a zona euro a sofrer o maior impacto, na vindoura crise económica e financeira . No entanto, o imperialismo dos EUA precisa do imperialismo subordinado da UE; não quererá que esta UE rebente. 
Por outras palavras, sem dúvida que uma crise generalizada de nacionalismos seria o epitáfio do Euro e mesmo da UE. 
O declínio é inevitável, com ou sem crises nacionalistas. Veria afinal, estas crises, mais como consequências, do que como causas. Num contexto de abundância, de enriquecimento, os movimentos independentistas dificilmente terão adesão maioritária. Mas, agora na UE, existem zonas (regiões dentro de Estados) profundamente sinistradas, enquanto outras, não só não sofrem com isso, como estão a beneficiar. Tal é o panorama do após crise de 2008, no espaço da UE.

O apogeu da UE já ocorreu (pouco tempo após o tratado de Maastricht de 1992, na minha opinião). De então para cá, tem havido sucessivas crises e redefinições, que apenas têm acentuado a vertente centralista, deitando pela borda fora quaisquer aspetos federalistas sinceros que pudessem estar presentes nas visões de alguns «europeístas». A UE, na sua configuração geográfica, política e institucional, encarna um centralismo extremo: a concentração do poder em pouquíssimas mãos, à custa da liberdade e da democracia, como nos sonhos imperiais de Carlos Magno, Napoleão e mesmo de Hitler.  

O paradoxo é que, tanto os independentistas da Escócia, como os da Catalunha tenham como objetivo acolherem-se debaixo da «azinha» do Império com sede em Bruxelas. Esta UE sempre foi do agrado das grandes corporações  e da casta militar de alta patente, eles próprios vassalos do Império dos EUA. 

Aliás, hoje em dia está mais que provado, com inúmeros documentos, que a UE foi uma construção querida, acarinhada e desenvolvida pelos americanos e que as fantasias de que a UE pudesse, um dia, ser uma potência rival dos EUA, não passaram de um estratagema para embarcar nacionalistas e anti-imperialistas ingénuos. 
A crise dos nacionalismos situa-se, oxalá, no capítulo final da desagregação deste projeto megalómano e autoritário da UE. 
Que esta arquitetura de super-Estado, supra-nacional e dominador dos povos seja desmontado... e quanto mais depressa, melhor. Os povos não têm nada a ganhar com a sua perpetuação. 
A democracia só pode beneficiar com o desmantelamento desta capa de burocracia e de leis feitas à revelia dos povos e em contradição com as legislações nacionais. 
A UE, desde o princípio, foi a união dos cartéis das grandes indústrias. Tinha de se revestir da «etiqueta» da democracia e da fraternidade entre os povos, para fazer passar seu projecto, como sendo desígnio de todos, de todas as classes, em que todos seriam beneficiários. 

A crise económica, política e institucional na Europa, tem mostrado os aspectos menos reluzentes da ditadura da burguesia. 
Nada, na crise catalã, deveria surpreender as pessoas que compreendem a verdadeira natureza da UE e dos seus Estados membros.   

quinta-feira, 15 de junho de 2017

NÃO SOU «UMA CASSANDRA»

Imagem:  Fresco de Pompeia representando Cassandra, ao centro, profetiza a destruição de Troia. 
Á esquerda, Priam com Pâris criança. À direita, o guerreiro é Heitor.

 
Cassandra, filha do Rei de Troia, segundo a lenda, tinha o dom divinatório; mas o deus Apolo amaldiçoou-a com a incredulidade dos seus contemporâneos, para se vingar de ela se ter furtado aos seus avanços.  

Não serei eu a posar como Cassandra, com certeza. Limito-me a ouvir diversas vozes que se erguem, nos vários sectores de analistas de política, geoestratégia, de economia e outras disciplinas, tentando fazer uma ideia própria do que se está  passando, nestes  últimos decénios e na atualidade. 

Um dos fenómenos que tenho observado, é que o público em geral e, sobretudo, aqueles que teriam mais a ganhar em ouvir atentamente previsões e análises de indivíduos esclarecidos, negam peremptoriamente ou diminuem o valor de quaisquer análises, quando estas contrariam os seus preconceitos. 
Estão muito mais atentos à identidade do mensageiro do que à natureza intrínseca da mensagem que ele (ou ela) transporta.

 Um indivíduo aderente a uma dada escola da economia, a uma dada corrente da política, etc. tem o ouvido atento às vozes, exclusivamente das suas fileiras, que vêm reforçar os seus preconceitos (mas que considera verdades insofismáveis). 
 Porém, repudia ou menospreza de forma altaneira, quaisquer análises, reflexões, mesmo se baseadas em informações factuais, caso estas tenham proveniência de sector que não seja o seu, ou venham de quem ele considera contrário.

Uma situação assim ocorreu comigo, para minha perplexidade, ao me debater com a não-inscrição de um professor universitário de economia. Ele tem  protagonizado uma campanha pela saída de Portugal do Euro. Porém, contrariamente a outros críticos do euro, não põe em causa o papel dos bancos centrais na crise financeira que ocorreu em 2007/2008 e cujos efeitos desastrosos se têm prolongado até hoje. A sua reação de denegação da realidade que lhe apresentei não é racional, mas emotiva. 
Tem uma ideia apriorística, preconiza um determinado caminho para a saída de Portugal da Eurolândia, juntamente com outras pessoas. Curiosamente, deste grupo de pessoas, muitas são marxistas, possuem portanto outra ideologia, travestida de ciência. 

Longe de mim pretender ser Cassandra. Nem aconselho ninguém a sê-lo, num país de vistas tão curtas, tão mesquinhas e em que as pessoas não são capazes de reconhecer que se enganaram, não são capazes de se auto-criticar. 

Compreendo que muita gente queira ignorar os perigos para os quais tento dar o alerta, tal como acontecia com os que ouviam e não acreditavam em Cassandra. 
Pois eu digo verdades que não são ao seu gosto, digo coisas que não possuem os acordes e melodias usuais nas suas capelinhas ideológicas, sobretudo mostro coisas que eles/elas preferem ignorar, porque, se as encarassem de frente, teriam de rever a sua falsa noção de normalidade: teriam de descolar do preconceito da normalidade, ou seja, do futuro como mera projeção do presente, com algumas modificações de pormenor, mas essencialmente na mesma... 

Eu não pretendo ser Cassandra... porém vou buscar os dados aonde eles estão; vou buscar a verdade esteja ela onde estiver, não vou fechar-me a uma informação só porque essa informação é veiculada por alguém que não partilha as minhas convicções. 
No fundo, apenas pretendo exercer o espírito crítico na análise política, geopolítica, económica, sociológica. 
As metodologias e formas de tratar o real, corriqueiras nas ciências «duras» (a biologia, a química, etc.) são adaptáveis às ciências humanas. Em biologia, por exemplo, é claro que se deve evitar a subjetividade, que se devem examinar todas as hipóteses, sem descartar a priori as que são emitidas por alguém que não seja do nosso agrado, etc. 
Nas ciências humanas (das quais a Economia faz parte) este tipo de comportamento sofre muitas vezes desvios significativos. Nada é «desapaixonado» nas ciências humanas, pois tudo é esgrimido, de uma ou doutra forma, para fazer avançar determinada corrente teórica, que se traduz in fine num determinado ponto de vista político.

As pessoas deviam estar conscientes da voluntária cegueira de muitos intelectuais. 
Deveriam aperceber-se que existe um enviesamento, retirando às suas análises a fria lucidez, fruto de um espírito racional, que eles pretendem ser. 
   

domingo, 30 de abril de 2017

MOVIMENTO DEMOCRACIA SOLIDÁRIA E A SAÍDA DO EURO

Participei ontém num debate organizado pela Associação Democracia Solidária sobre o nosso futuro na Europa, onde se falou sobretudo de aspectos relacionados com a política económica que nos é imposta, a troco de sermos membros da «eurolândia»: 

- Continuidade das políticas austeritárias, 
- Relegar para um plano de subordinação económica e política
- Desindustrialização
- Tutela do Orçamento
- Impossibilidade de autonomia 
- Imposição de regras arbitrárias e punitivas

Depois de reflectir sobre a sessão de ontém, 29 de Abril, na Associação 25 de Abril, chego a uma convicção mais profunda e clara: a democracia verdadeira neste país tem-nos sido sonegada em nome da «pertença à Europa». 

Não se pode fazer uma luta profundamente democrática e enraízada no povo sem abordar frontalmente a questão da soberania... ela foi-nos sonegada a partir de Maastricht (1992) e sobretudo do Tratado de Lisboa (2007). 
O povo foi tornado um escravo da oligarquia, a partir desse momento. 
A soberania do povo, em termos políticos, tornou-se um conceito somente decorativo, visto que tem sido negada sistematicamente pela legislação eurocrática.

Para realizar uma verdadeira libertação nacional, o povo português terá de se libertar, não apenas do euro, mas também da eurocracia... 
Terá de entrar em conflito internamente com os que nos venderam... tal responsabilidade «não pode morrer solteira».

As pessoas têm agora que escolher o seu campo: não podem ser pela democracia e serem europeístas... não podem ser pela independência do nosso país e aceitarem que as próprias instituições máximas do mesmo sejam comandadas a partir de Bruxelas...
Se este movimento crescer e se ramificar, se conseguir diálogos fecundos entre várias correntes, sem anátemas, nem dogmas, talvez tenha possibilidade de exercer uma certa pedagogia no seio da base dos partidos, sobretudo em muitos que não são filiados nem simpatizantes de nenhum partido, mas nem por isso desinteressados da vida política. Acho que, neste momento, não são assim tão poucos nem tão irrelevantes como isso.
Parece-me que a condição para que tal desenvolvimento desejável ocorra não é a procura desenfreada de um lugarzinho na media corporativa, através de um qualquer jogo de alianças partidárias eleitorais. Penso que esta associação pode desempenhar um papel muito pouco comum (infelizmente) no nosso país, a saber: ser realmente um fórum (não um clube fechado, não uma seita, não uma capelinha) onde as pessoas desejosas de debaterem civicamente os seus pontos de vista com outros, em respeito mútuo, possam fazê-lo sem receio.

Apoio todas as abordagens fecundas, que estejam claramente apontadas para um futuro para Portugal como país soberano, sem tutelas, sem estar sujeito à dominação de tipo neocolonial.



quarta-feira, 19 de abril de 2017

WILLIAM ENGDAHL - «OS DEUSES DO DINHEIRO»

Estou impressionado com a concisão, clareza e verdade deste autor. Tinha lido vários artigos dele, na imprensa alternativa. Porém, nunca tinha tido acesso a este vídeo.



Embora a conferência aqui reproduzida seja de 2013, não deixa de ser muito actual, pois as forças em jogo são essencialmente as mesmas. Além disso, o que ele explica é fundamental para compreendermos o presente, os jogos dos poderosos. 

Engdahl termina com uma nota pessoal, demonstrando que a força do amor  ultrapassa todos os esquemas dos poderosos; ele é bem a prova disso. 

[Vejam esta actualização a conferência a 11 Setembro de 2016 e sobre o seu livro THE LOST HEGEMON

sexta-feira, 31 de março de 2017

O OCASO DO EURO

É atribuída a Hemingway a frase seguinte: perguntaram-lhe como se entrava em bancarrota, ao que ele respondeu... «Primeiro suavemente, depois bruscamente».
É, de facto, num momento destes que se encontra a totalidade da «União» Europeia e o Euro. 
A possibilidade de - nas próximas eleições em França e Itália - triunfarem partidos defensores da saída do Euro é muito mais elevada do que se possa julgar. A média, ao serviço dos poderes, tende a minimizar os sinais por demais visíveis de que a maioria de eleitores rejeita a continuação de seus respectivos países na zona Euro. Porém, em todos os países do Sul e na França, já existe uma maioria que tem uma visão negativa do Euro nas suas economias. 
Resultados eleitorais conferindo um mandato de saída do Euro, como será o caso na eventualidade de triunfar Marine Le Pen, ou o Movimento Cinco Estrelas em Itália, serão o equivalente de uma condenação à morte do Euro, na sua totalidade. 
A implosão do sistema da moeda única será inevitável e pode mesmo contribuir para graves conflitos entre países europeus. Com efeito, no sistema do Euro, têm-se acumulado desequilíbrios de pagamentos entre os bancos centrais dos países do Sul e o banco central alemão. 
Quando um português compra um Mercedes, por exemplo, esse valor vai ser creditado como activo, no banco central da Alemanha e como dívida pendente no banco central português. Se houver um regresso às moedas nacionais, o que acontece de imediato é que as dívidas comerciais são convertidas nas novas moedas. 
As dívidas que permanecem em Euros, que não são convertíveis, serão apenas as que resultam dos empréstimos feitos ao abrigo de legislação exterior e em contratos estabelecendo que a dívida terá de ser paga em Euros. Tal será o caso de obrigações soberanas emitidas pelos vários países, que são muitas vezes colocadas no mercado ao abrigo de legislação exterior à zona Euro, por exemplo, na praça de Londres.  
Se um país importante economicamente, como a França ou a Itália, com dívidas acumuladas em Euros, sair da zona Euro, o resultado será a crise imediata nos restantes países e, mesmo, ao nível mundial. O Euro é, ao nível global, a segunda moeda de reserva, a seguir ao dólar. Além disso, uma parte importante de comércio internacional é efectuada em Euros. 
Face a esta situação, Portugal, como pequeno país, não poderá fazer uma grande diferença, quer os seus dirigentes decidam - ou não - abandonar o Euro. Porém,  ao nível interno, seria muito mais inteligente terem as pessoas, as organizações, as empresas e o próprio governo, planos de contingência realistas para uma tal eventualidade. 
Estou convencido de que - independentemente do resultado das eleições francesas e italianas - a «União» Europeia se encaminha para um aprofundar das contradições e um afundamento.
 Durante quinze anos, aproximadamente, a Alemanha tem acumulado excedentes, graças a um Euro demasiado fraco, por comparação ao Marco Alemão, o que veio fazer com que, no Sul, as economias absorvessem uma enorme quantidade de produtos alemães. Por outras palavras, o valor do Euro tornou competitiva a economia alemã, face aos seus parceiros comerciais do Sul.
Por outro lado, devido a uma política de contenção salarial, acordada por governo, patronato e sindicatos alemães, em troca de um quase pleno emprego, os produtos do Sul - essencialmente alimentares e outros, de consumo individual - não conseguiram ser absorvidos pelo mercado alemão num volume que compensasse a importação, pelo Sul, de máquinas-ferramentas, automóveis e outros produtos da indústria alemã. 
O desequilíbrio das balanças de pagamentos, que se foi aprofundando com o tempo, gerou enormes tensões e levou ao sobre-endividamento dos países menos industrializados. 
Não é por «preguiça» ou «consumo sumptuário» que os povos grego, italiano, espanhol ou português foram ficando cada vez mais pobres. Foi em resultado duma política económica em que, por um lado as trocas eram em circuito fechado, cerca de 80% das trocas comerciais eram internas à zona Euro, por outro era impossível competir com os países do Terceiro Mundo, usando o instrumento tradicional da desvalorização da moeda, restando uma desvalorização severa - em todos estes países - do valor-trabalho. 
Obviamente, o mercado interno destes países ressentiu-se cada vez mais com as políticas austeritárias impostas, havendo um efeito de círculo vicioso: menos capacidade de compra da população ---> menos escoamento de produtos destinados ao mercado interno ----> falências e despedimentos nas indústrias ---> empobrecimento da população.
Por isso, Portugal não teve, não tem e não terá, qualquer vantagem em permanecer dentro do Euro. Porém, pior seria estarmos «distraídos», não percebendo que as circunstâncias mudaram. Deverá fazer-se um debate ,abrangendo todos os sectores nacionais, sobre o que se deve fazer. 
É evidente que a zona Euro já está em crise, pelo menos, desde o rebentar da crise da dívida da Grécia em 2010. 
Não saberei vaticinar durante quanto tempo, nem como, esta construção artificial irá perdurar. O fim do Euro, porém, poderá estar muito mais próximo do que se imagina. 

quinta-feira, 23 de março de 2017

RUPTURA E QUEDA DA UNIÃO EUROPEIA

Foi há cerca de nove anos atrás que as pessoas começaram a acordar para a realidade da EU pós tratado de Lisboa e pós moeda única. 

Quando se começou a perceber a enorme dívida acumulada pelo Estado grego, tendo nenhum mecanismo seguro de reembolso, começou-se a perceber que o sobre endividamento dos Estados tinha sido o resultado negativo da introdução do euro, em países que tinham aderido à União Europeia, mas que careciam de uma estrutura financeira e fiscal sólida, permitindo garantir os empréstimos dos respectivos Estados. 
Foi então que surgiu o acrónimo não muito simpático de PIGS (Portugal, Ireland, Greece, Spain) para designar estes mesmos países, que tinham uma estrutura deficitária crónica da sua balança de pagamentos precisando de recorrer a crédito sob forma de obrigações soberanas, para colmatar o défice. 

Ora, os governos destes países tinham, desde o euro, uma maior facilidade de obterem crédito e a juro mais baixo, permitindo assim fazerem obras faraónicas (exemplo, os estádios do Euro 2004 em Portugal), desbaratar o dinheiro em submarinos e outros «brinquedos» de guerra (Portugal e Grécia), criar e manter enormes bolhas do imobiliário (Espanha, sobretudo, embora também os restantes PIGS), etc.

Na realidade, o povo desses países pensava ingenuamente que os dirigentes eram geniais pois faziam «prosperar» as respectivas economias, as pessoas já se viam aproximarem-se dos níveis de vida da Europa do Norte. Só que a Europa do Norte tinha os cordões da bolsa, emprestava com juros e queria que este dinheiro investido fosse rentabilizado. 

Portanto, nada de perdoar ou reestruturar os empréstimos. Somente, em economia, não existe défice crónico que não resulte de um superavit, crónico também, algures. Neste caso, a Alemanha e outros países do Norte da EU tinham um mercado cativo no Sul, um poço sem fundo para exportarem os seus produtos e faziam tudo para que os respectivos governos, «adictos» na compra desses bens de equipamento e consumo, continuassem a obter crédito. 

Numa economia ao nível das empresas, uma empresa que «ofereça» crédito aos seus clientes para estes comprarem os seus produtos, fá-lo com a convicção desses clientes terem capacidade de pagar; caso  saibam que efectivamente estão sobre-endividados e continuem a «dar» créditos a esses clientes, simplesmente estão a assumir, eles próprios, o risco de não pagamento por parte desses clientes. 
Se – efectivamente - alguns clientes não puderem pagar, os que lhes impingiram esses créditos são igualmente responsáveis por esse crédito malparado,  pois aplicaram de forma demasiado arriscada o capital. 

Claro que no caso de contas entre Estados a coisa é mais complexa, porém nada será fundamentalmente diferente, a não ser num ponto crucial. 
O cliente sobreendividado do exemplo anterior não tem meio de ir buscar o dinheiro em dívida a nenhum lado. Ele está condenado à bancarrota pessoal; mas o Estado sobreendividado está «protegido», porque tem o poder de pressionar os seus cidadãos a fornecerem mais dinheiro em impostos, tem o poder de efectuar «cortes», ou seja, de renegar parte das somas devidas nas pensões de reforma e salários dos seus funcionários públicos.

Assim, o Estado português tem feito «default» ou falta de pagamento,  não em relação aos detentores de dívida pública, detida por grandes empórios financeiros, grandes bancos internacionais, hedge funds (fundos especulativos), mas à sua própria população, não apenas desviando capitais de investimentos em infra-estruturas indispensáveis, como falhando nas suas obrigações estritas de pagar os salários contratualmente acordados e as pensões nas condições estabelecidas. 

Com efeito,  as pensões de reforma não são uma benesse, mas antes um salário diferido, um salário que o trabalhador foi acumulando à medida que passavam os anos e, embora retido pelo Estado, este já não tem legitimidade de o considerar seu e de dispor dele como se o fosse. A partir do momento em que o Estado ou a empresa pagou uma determinada quantia, mensalmente, ao trabalhador como contribuição para a segurança social, esse dinheiro reverte para um fundo, que não é nominalmente do Estado. 

A chamada recuperação das finanças portuguesas não foi nenhum milagre, nem um feito heróico do governo (deste ou dos outros) mas apenas resultou do «bail in» (resgate interno) continuado, feito sobre a imensa maioria, sobre assalariados (por roubo), pensionistas (por roubo),  cidadãos em geral (por não realização do investimento prometido e necessário).

Qualquer observador, daqui a um século, verá – estou certo - como incrível aquilo que se tem vindo a passar na EU, pois os países do Sul não têm, objectivamente, qualquer interesse em continuarem cativos, numa espécie de servidão neocolonial, dos países do Norte. 
Apenas uma classe política corrupta mantém este estado de coisas, porque ela tem pessoalmente a ganhar com os lugares muito bem pagos de que pode gozar nas diversas instâncias: parlamento europeu, comissão europeia, tribunal de Estrasburgo,  BCE de Frankfurt…  Deve estar muito segura da ignorância dos seus cidadãos para continuar a vender a ideia de que é «indispensável» continuarmos a pertencer à U.E.!

O facto da cidadania ignorar ou recusar prestar atenção a estes factos, afinal muito simples na essência, tem a ver com a permanente lavagem ao cérebro dos cidadãos/eleitores. A média corporativa faz bem o seu trabalho de intoxicação quotidiana ao serviço dos poderosos. 
Poucas pessoas equacionam que parte substancial do rendimento é desviado para pagar uma dívida, em grande parte, ilegítima.
O que se passa agora com os países do Sul passou-se na África, nos anos 70 e 80 do século passado, com os empréstimos do FMI (na realidade, um conglomerado de grandes bancos é que emprestava, o FMI só «garantia» que os empréstimos fossem cobrados). Os países africanos governados, na sua maioria, por ditadores foram sendo endividados pelos respectivos governos e os capitais e juros foram arrancados às populações nas condições mais brutais, para enriquecer consórcios bancários e grandes empresas fornecedoras de bens e serviços (em grande parte da EU e dos EUA).

Mas tudo tem um fim e o da União Europeia está próximo: as forças centrífugas são demasiado fortes, devido aos egoísmos do Norte conjugados com a exaustão, o empobrecimento artificial e forçado do Sul. 
Toda a dívida que não pode ser paga, não será paga. Esta dívida pública dos países do Sul não tem qualquer tendência a diminuir mas a acumular-se, pois os Estados têm de emitir constantemente mais dívida (com juros relativamente altos) para pagar dívidas que vão vencendo.
O ponto de ruptura varia de país para país e também de acordo com as circunstâncias globais da economia da zona Euro e mundial. É, porém, inevitável. 

Entretanto, as populações do Norte estão em pânico com a vaga migratória, vinda de países que seus dirigentes contribuíram para mergulhar no caos (Líbia, Síria, Iémen…). As pessoas têm mais reflexos identitários agora e não aceitarão fazer sacrifícios pelos cidadãos dos Estados Europeus do Sul. 

Os governos da Alemanha e de outros países credores do Norte europeu, para se manterem no poder, têm de mostrar que seguem uma «linha dura», em relação ao pagamento de uma dívida impagável nas condições objectivas que vivem os países do Sul.  Eles sabem – melhor que ninguém- que assim é. 

Visto que não existe qualquer solidariedade dos países do Norte, não é apenas o destino dos países do Sul que está em causa, é a própria arquitectura da EU que está a ruir pela base.


sexta-feira, 3 de fevereiro de 2017

ALGUMAS MEDIDAS PRÁTICAS PARA TEMPOS DIFÍCEIS

- O que é que dirão de uma pessoa que quer fazer um seguro da casa, quando esta já começou a arder?
- Ou de uma pessoa que, com doença potencialmente letal, mesmo assim não toma remédio nenhum, não aplica a si própria qualquer terapêutica, porque acha que «nada» pode curá-la?

Devíamos todos estar atentos ao que se passa FORA dos écrans da televisão, computadores, tablets ou smartphones!

Há um risco real de implosão da Eurolândia. Haja ou não tal implosão, em qualquer caso, o mais provável é que o presente ano e os anos mais próximos sejam de aprofundamento da crise económica, financeira e social, com reflexos garantidos para a nossa capacidade de manutenção do nosso bem-estar! 
Prevenir é sempre melhor do que remediar. 
Abaixo, deixo uma série de receitas a começar desde já!

A situação na Eurolândia é muito séria. Existem muitos indícios que nos levam a pensar que está iminente a sua desagregação. Para maior esclarecimento, remeto para o artigo aqui: Trata-se apenas de um, entre vários que tenho lido, com dados fundamentados e que desencadearam em mim uma «sineta de alarme» de perigo. 
Mas, na economia pessoal e familiar, as medidas de precaução devem tomar-se com a antecedência possível. No meu caso, já comecei a aplicar algumas das receitas que aqui apresento há anos atrás, noutros casos, há meses e vou começar - o mais cedo possível - a cumprir as restantes. 
Tomemos o nosso destino nas nossas mãos! Se não podemos mudar de forma segura o curso das coisas ao nível macro, certamente podemos fazê-lo ao nível micro. Com uma condição, porém; tem de ser agora, não podemos esperar até ao último minuto, pois então será tarde demais. 
Abaixo, listei uma série de receitas para enfrentarmos os tempos difíceis; pensem como assegurar a vossa autonomia e acesso a bens essenciais.


- Retirar dos bancos as poupanças. As contas poupança que tenham, perderão um juro insignificante, enquanto que se forem apanhadas por um «bail in», perderão muito mais! 
- Liquidar dívidas ao máximo, incluindo as dívidas de empréstimos à habitação. Haverá muito rapidamente uma subida de juros e as pessoas não irão ter um aumento paralelo dos seus rendimentos (estagnação de salários e pensões) e portanto vai-lhes custar muito caro, esse dinheiro que pediram emprestado!
- Comprar bens não perecíveis de valor seguro, úteis. Incluo nesta categoria: geradores de energia elétrica; bombas e filtros de água; melhorar o isolamento térmico de portas e janelas; etc.
- Comprar moedas de prata e de ouro, mas não as moedas com interesse numismático (a não ser que sejam já numismatas) apenas moedas que são fáceis de vender em qualquer loja ou feira (uma libra em ouro vale hoje cerca 265 €)
- Ter em casa um montante em dinheiro físico correspondente a um mês de despesas correntes, pelo menos (despesas de supermercado, transportes, àgua, electricidade, gás, telefone ...). 
- Ter em casa uma dispensa com alimentos que possam ser estocados por longos períodos, sem se estragarem (e fazer rotação, ou seja consumi-los antes que cheguem ao fim dos prazos de validade); ter um stock de medicamentos usuais (alguém com doença crónica deve contar com possibilidade de ruptura de abastecimento).

Isto são algumas medidas práticas.



quarta-feira, 14 de dezembro de 2016

NÃO É SÓ A ECONOMIA, ESTÚPIDO!

Os portugueses e os europeus em geral estão sendo propositadamente mantidos no escuro no que toca à gravidade da crise do Euro e da economia. 
Com o provável rebentamento de uma crise muito pior que a de 2008, já no horizonte próximo de 2017, a maior parte das pessoas vão ficar completamente arrasadas, com uma parte muito substancial das suas poupanças destruídas, ou o poder de compra de seus salários ou pensões grandemente reduzido.
Um fator que torna a situação mais confusa é a total rendição de uma parte da esquerda, incluindo a que se gosta de afirmar como «anticapitalista» a teses neokeynesianas, as quais decretam que, em situações de recessão, a produção de grandes quantidades de dinheiro (QE = «quantative easing») vai estimular a economia e criar o efeito de inflação benéfico para os mercados. 
Estas afirmações são absurdas em si mesmas: a verdadeira estimulação da economia tem de ser feita propiciando a construção de infraestruturas e de estímulos ao consumo, como defendeu Keynes aliás, não com a deliberada destruição do valor do dinheiro como pretendem os neokeynesianos. 
A diluição do valor do dinheiro e a tentativa de fazer disparar a inflação não apenas são ineficazes enquanto «estímulo» da economia, têm exatamente o efeito oposto. Isto é simples de ver, pois a diluição do valor do dinheiro, conjugada com a impossibilidade de manter rendimento significativo com as formas tradicionais de aforro, inevitavelmente vai trazer um aumento do capital mal aplicado, seja em ações ou obrigações, ativos financeiros muito hipervalorizados: quando ocorre uma correção (o que acaba sempre por acontecer) há uma perda brutal de capital para os investidores individuais, mas também para os investidores institucionais, tais como fundos de pensões. 
Isto significa que a insistência no «QE» por parte do banco central europeu (BCE) faz exatamente o contrário do que pretende remediar. Agrava a carência de capital, desvia somas colossais para a especulação e acaba por estimular - não a economia - mas a destruição de capital, subsequente de decisões de investimento equivocadas ou aventureiras.
O conjunto das pessoas parece ignorar que estão a segurar na sua mão algo que - de dia para dia - perde valor. Quando o valor de uma moeda é diluído, por aumento constante das unidades dessa moeda em circulação sem uma destruição equivalente como contrapartida, isso vai inevitavelmente diminuir o poder de compra da mesma, chama-se inflação monetária. 
Esta inflação monetária vai transformar-se em qualquer momento em inflação nos preços, pois não existe nenhum mecanismo que possa prevenir que – num momento ou noutro – os detentores de grandes quantidades dessa moeda decidam coloca-la na economia «real», adquirindo bens, etc. A quantidade de capital mantido em espera de investimento pelos grandes bancos, não trouxe ainda um efeito na economia real, pois eles não arriscam empresta-lo para atividades económicas, preferem guardá-lo nas suas próprias contas do BCE, auferindo um juro muito baixo, mas sem risco e assim também retendo a sua solvabilidade e compensando para eventuais perdas nos setores mais especulativos, como seja o mercado de derivados onde estão todos mergulhados até ao pescoço. 
Como as operações com derivativos não estão sujeitas às regras de contabilidade bancárias das outras operações, não se pode – de facto – saber ao certo quantas «apostas» nos mercados de derivados tal ou tal banco ou outra entidade fez. Pode-se apenas fazer uma estimativa. 
Todo este processo parece um enorme ciclo de Ponzi, onde as «garantias» de solvabilidade dos bancos são «garantidas» por papel-moeda que está cada vez mais diluído. 
Os detentores de poupanças e os detentores de dívida (pública ou privada) são os grandes castigados, pois detêm algo que se vai desvalorizando mais e mais. 
Os sistemas públicos de pensões são largamente utilizadores de veículos financeiros que estão constantemente a perder rendibilidade; não há dúvida que isso corresponde a parte do problema da «sustentabilidade» do sistema de pensões, parte esta que poucas vezes se vê descrita; é um agravamento substancial ao problema demográfico, mas que é passado sob silêncio.
A crise do euro mantém-se desde há mais de seis anos, pelo menos (apareceu em toda a sua extensão com a crise grega), e não vai ser «curada» por nenhuma medida das que o BCE ou os governos têm estado a seguir. 
Infelizmente, serão os pobres a sofrer as consequências de uma aceleração da inflação. Desejar um aumento da inflação para 2% e pensar que se pode manter esse número «mágico» é como desejar que as pessoas percam «só um pouco» confiança na moeda, mas sabemos que uma perda parcial de confiança pode ampliar-se até uma rejeição total da moeda ou uma destruição total da confiança, como na hiperinflação em curso na Venezuela ou nos exemplos históricos. 
Não existe nenhum caso de inflação deliberada e controlada a contrapor aos múltiplos exemplos de inflação fora de controlo, quando as autoridades monetárias e governamentais se põem a «brincar» com a moeda! É uma história que - desde os romanos do final do império, até à Alemanha de 1923, ao Zimbabué, etc. - acaba sempre mal!
Os banqueiros centrais estão a brincar com o fogo, sabem-no, mas não se importam, porque assim mantêm a falsa coesão de um sistema, o sistema da moeda única, que foi mal concebido e pior implementado. 
A análise da crise do Euro e da eurolândia por «opinadores» que escrevem nos jornais e em blogues, incorre muitas vezes no erro de tomar por válidos os mitos das teorias económicas em voga, neokeynesianas e outras, o que mostra até que ponto estão – de facto – dentro do paradigma neoliberal. 
A consequência, é que o público, em vez de alertado para os problemas reais, está na ilusão de falsas panaceias, caminhando de olhos fechados para o colapso.
Chego à conclusão de que, aquando da avalanche e colapso do sistema financeiro, praticamente ninguém estará preparado. A opinião pública foi intencionalmente distraída das questões e dos factos.
A quem aproveita o crime?


sábado, 10 de dezembro de 2016

O EURO E A VIABILIDADE DUM PEQUENO PAÍS

O problema português não é a dívida. É a maneira como a dívida foi gerada.

Portugal nunca devia ter aderido ao Euro, pelo menos nos termos em que foi negociada a sua transição. O poder político de então negociou o nível de conversão da moeda nacional, o escudo, demasiado alto. Pelo contrário, o valor do DM (marco alemão) foi considerado relativamente baixo.

Uma moeda é um pouco um repositório do valor de uma economia. Tem um valor de troca, mas também de acumulação de riqueza. Todas as moedas, hoje em dia, estão relacionadas com o mercado da dívida soberana. A avaliação da segurança com que dado país consegue pagar a sua dívida é que determina os juros da mesma no mercado obrigacionista. Quando se diz que um país tem uma certa quantidade de dívida, está a referir-se o conjunto de títulos da dívida soberana (bilhetes, certificados, obrigações, etc. títulos emitidos por entidades estatais ou soberanas) na moeda de um dado país.

Os Estados mais fracos, como Portugal, na arquitetura da União Europeia, eram países cronicamente deficitários. As suas produções internas não eram suficientes para cobrir os défices decorrentes da importação de bens. 
O caminho saudável e difícil seria de aumentar a produção nacional, diminuir as importações sumptuárias ou dispensáveis, promover o autoabastecimento de produtos de primeira necessidade. 
O caminho fácil e causador de dependências, em Portugal, foi o de manter o fluxo excessivo de importações, cobrindo o défice com as remessas dos emigrantes, caminho esse já trilhado por Portugal antes do 25 de Abril de 1974 e que continuou e se agravou depois, além de que se vendeu uma grande parte do ouro dos cofres do Banco de Portugal. Mas, mesmo assim, apesar destes influxos de dinheiro vindo dos emigrantes e da alienação de parte do ouro, as contas nacionais em geral e, nomeadamente, as do Estado, continuavam em défice.
A entrada na CEE e na EU foi proporcionar que Portugal tivesse mais fácil acesso aos mercados internacionais da dívida, ou seja, que pudesse colocar, em melhores condições, subscrições de dívida, sob forma de obrigações do tesouro, no mercado internacional. Assim, o Estado português podia continuar a financiar o seu défice. Ao se acumular dívida, acumulam-se também os juros a pagar, o serviço da dívida, os quais têm de ser incluídos no orçamento de Estado. O país com um serviço pesado da dívida não poderá dedicar parte substancial das suas receitas para outros fins: nomeadamente, para o investimento em infraestruturas, em serviços básicos e de bem-estar para as populações, etc.
A continuação e acentuar do défice crónico foi sendo perpetuada pela constante falsificação das contas do Estado, através da chamada «desorçamentação». A pretexto de flexibilidade, muitos setores públicos, desde universidades, a institutos públicos e organismos estatais diversos foram colocados em «regime de autonomia», obviamente falsa, mas que permitia encobrir os défices, com uma pirueta contabilística, pois estes organismos públicos podiam contrair empréstimos sem estarem sujeitos às regras de transparência e de responsabilidade do Orçamento do Estado.
As autarquias, como pequenos reinos ou domínios feudais, têm também estado fora de controlo, no que toca a contenção de despesas. Os autarcas gastam a torto e a direito, excedendo sistematicamente as receitas próprias das respetivas autarquias, recorrem ao crédito bancário. Eles endividam as autarquias e asseguram assim a sua reeleição, iludindo as populações ingénuas, que pensam que «o Sr. Presidente da Câmara tem feito muitas melhorias» …    
Vê-se, portanto, que a dívida acumulada foi devida a um excesso de despesismo, sobretudo durante a 1ª década do presente século, por muitos, não apenas ministérios, como institutos públicos e também autarquias.  
A banca foi parte interessada, obviamente, pois tinha uma fonte segura de lucro, com risco muito baixo. O Estado é a entidade que consegue obter sempre dinheiro, pela coação dos seus contribuintes a pagar os impostos.
O resultante sobre-endividamento, quer no Estado central, quer das autarquias, institutos e empresas públicas, o chamado setor empresarial do Estado, foi um crime económico planeado e executado pela oligarquia que reina neste país, a partir dos gabinetes de direção dos grandes bancos, sendo as sedes governamentais meras sucursais dos primeiros. Este excessivo endividamento foi possível graças a juros artificialmente baixos, que Portugal obteve nos empréstimos, decorrentes da nossa pertença ao Euro.
Estes juros estão agora ainda mais baixos, num grau completamente irracional, pois o BCE (Banco Central Europeu) se tem comprometido a comprar grande parte da dívida emitida pelos Estados. A dívida portuguesa não é avaliada nos mercados em função da sua capacidade intrínseca em honrar essa dívida, pagando os juros e o capital devido, mas pelo facto de que - por detrás- está o BCE, que «tudo fará» para que o Euro se mantenha e por isso mesmo, tem adquirido muitos biliões de dívida aos diversos países da Eurolândia.
A situação de capitalismo débil, de dependência em relação às forças do «centro nevrálgico» do capitalismo europeu, não irá ser invertida de um momento para o outro. Porém, a possibilidade de atrair mais e melhor investimento estrangeiro poderia minorar bastante duas grandes dificuldades presentes: Por um lado, reabsorvendo boa parte do desemprego e arrancando o país do marasmo, em termos produtivos, por outro lado, dando confiança aos mercados financeiros na sua capacidade de pagar a dívida.
Não seria uma coisa maravilhosa, mas tornaria possível a saída de um ciclo vicioso de sobre-endividamento. 

Eu sei que há razões para Portugal ser considerado como bom destino de investimento.
Portugal, apesar de reconhecidamente possuir ótimas condições nalguns planos, assim como apoios generosos do Estado e condições políticas bastante estáveis, não consegue - apesar disso - atrair investimento estrangeiro na proporção desse potencial.
É fácil compreender o que afasta os investidores estrangeiros: tem a ver com incertezas no que toca aos regulamentos, taxas, impostos, etc. tudo fatores cuja previsibilidade é fundamental para tomada de decisão. Por exemplo, se houver muita incerteza em relação ao nível dos impostos, que geralmente afetam a rendibilidade de um investimento, isso pode tornar arriscado investir-se num dado país. 
É o caso, se - a cada ano - o orçamento muda substancialmente as regras relativas a taxas e a impostos, assim como os regulamentos. Que interesse, em geral, terá um investidor estrangeiro num país incapaz de planear a médio e longo prazo, de garantir que não serão mudadas as regras a meio do jogo?
Se este problema for corrigido, haverá real possibilidade de Portugal atrair maior investimento e evitar as saídas de capitais – sem necessidade de imposição de controlos ou restrições. Inversamente, se este problema subsistir, não será uma saída do Euro que irá melhorar a situação, pelo contrário. Se tudo ficar como agora, não!

A saída do Euro será apenas interessante, se concomitante duma viragem estratégica.
Este país só tem viabilidade como país exportador - não como cliente, súbdito, vassalo, ou pedinte de países mais ricos - o que implicaria uma planificação real da economia, definindo prioridades em todos os setores, orientando o investimento público e privado, estabelecendo regras consensuais, por forma a dar mais estabilidade.

Seria bom, mas as pessoas não foram (ainda) educadas para exigir isso dos dirigentes, dos governantes, da «classe política».