A IIIª Guerra Mundial tem sido, desde o início, guerra híbrida e assimétrica, com componentes económicas, de subversão, desestabilização e lavagens ao cérebro, além das operações propriamente militares. Este cenário era bem visível, desde a guerra na Síria para derrubar Assad, ou mesmo, antes disso.
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segunda-feira, 14 de outubro de 2019

A AGENDA DÚPLICE ASSUMIDA PELA ONU E PELA NATO



Para os não atentos, as Nações Unidas (ONU) e a Organização do Tratado do Atlântico Norte (NATO) desempenham papeis diferentes na arena internacional. Porém, ambas as organizações têm um objectivo comum – a promoção da intervenção estrangeira. Enquanto a ONU promove a fachada humanitária, a NATO fornece a militarização da proclamada agenda de direitos humanos da ONU.

A participação da NATO na 74ª sessão da Assembleia Geral da ONU em Setembro, proporcionou uma visão panorâmica da presente colaboração da organização com a ONU. Jens Stoltelberg, o secretário-geral da NATO, mencionou a colaboração das organizações como uma “junção de forças para apoiar o Afeganistão e o Iraque”.
Desde a década de 1990, a cooperação entre a ONU e a NATO tem sido baseada num quadro que incluía a tomada de decisões e estratégia sobre “gestão de crises e na luta contra o terrorismo.” Em 2001, o presidente dos EUA, George W. Bush, lançou a sua ‘Guerra ao Terror’ que se veio finalmente a alargar, deixando o Médio Oriente e Norte de África em estado de permanente desestabilização/agitação, tendo sido este estado designado pelo eufemismo da(s) dita(s) Primavera(s) Árabe(s).

Embora as invasões do Afeganistão em 2001 e do Iraque em 2003 tenham sido conduzidas pelos EUA, vale a pena notar que a ausência da NATO (enquanto tal) nesse momento, não é equivalente à exclusão de acções bélicas por parte de Estados-membros da NATO. Nomeadamente, a invasão do Afeganistão pelos EUA invocou o Artigo 5 do Tratado da NATO, que estipula que um ataque contra um Estado-membro da NATO constitui um ataque contra todos os restantes Estados-membros.

“Para que a cooperação e a comunicação NATO-ONU permaneçam significativas, têm de continuar a evoluir.” A declaração no site da NATO é uma abordagem burocrática que se dissocia das violações dos direitos humanos criadas e mantidas por ambas as partes, que formam as premissas dessa colaboração.

A Resolução do Conselho de Segurança da ONU, Resolução 1373 (2001), sobre a qual a NATO baseia a sua colaboração com a ONU, reafirma: “O direito inerente de autodefesa dos Estados individuais ou a autodefesa colectiva, tal como é reconhecida pela Carta das Nações Unidas.” A resolução fornece impunidade aos Estados-membros e outros colaboradores da ONU, incluindo a NATO, para definir o que constitui o terrorismo, ao passo que elimina a intervenção estrangeira como sendo um acto de terror, apesar das ramificações que duram muito tempo após a intervenção ter cessado, ou ter sido minimizada.

A duplicidade ONU-NATO é exposta no discurso de Stoltenberg quando ele afirma, “A NATO tem também contribuído para desenvolver as normas de rejeição da ONU para contra-atacar os engenhos explosivos improvisados, que permanecem uma das grandes ameaças às tropas de manutenção da paz.”

Por que motivo a ONU e NATO estão a selecionar formas rudimentares de guerra em vez de bombardeamentos de precisão, que têm matado milhares de civis em nome do combate ao terror e da democracia?

Em 2011, o embargo de armas do Conselho de Segurança da ONU era suposto prevenir a proliferação de armas na posse dos rebeldes na Líbia – uma contradição, dada a autorização dada pelo Conselho de Segurança de bombardear a Líbia. A França, no entanto, desrespeitou a resolução ao declarar publicamente a sua proliferação de armas aos rebeldes na Líbia, com o pretexto de sua necessidade para proteger os civis líbios. A NATO negou o seu envolvimento enquanto organização, em fornecer armas aos rebeldes, apesar do facto de tal acção ser levada a cabo por um membro da NATO. Com a ONU a aceitar a intervenção estrangeira e com a NATO a efectuar atrocidades, pode a ONU limitar-se às alegadas funções humanitárias e de construtor da paz, das quais nunca houve um declínio, devido ao dano irreparável que ambas as organizações causaram, destruindo países explorados, colonizados e devastados. A cooperação que a NATO elogia não reside numa divisão de funções, mas antes num confundir a diferenciação entre guerra e humanitarismo, de modo a dar origem a ambas sob uma agenda dissimulada.

A NATO mantém que o Conselho de Segurança da ONU detém “a responsabilidade primária” de manter a paz e a segurança internacionais. O que essa afirmação omite são os interesses individuais de cada membro, assim como a sua estrutura colectiva como membros da NATO. Para satisfazer o Conselho de Segurança da ONU, os interesses individuais e os membros da NATO, é necessário um denominador comum. Para os perpetuadores das intervenções estrangeiras, a guerra constitui o compromisso em que estão envolvidos.


Outubro 4, 2019

 

terça-feira, 23 de julho de 2019

OS MERCADORES DE CANHÕES E O FIM DO COMPLEXO MILITAR-INDUSTRIAL NOS EUA


            


ARTIGO DE OPINIÃO POR Dmitry Orlov via Club Orlov blog,
TRADUÇÃO POR MANUEL BAPTISTA, PARA O OBSERVATÓRIO DA GUERRA E MILITARISMO
No seio da vasta teia burocrática do Pentágono existe um grupo encarregue de monitorizar o estado geral do complexo militar-industrial e a sua permanente capacidade para satisfazer as exigências da estratégia nacional de defesa. A secção para aquisição e a secção para política industrial gastam cerca de $100.000, por ano, para produzir um Relatório Anual para o Congresso. Ele está disponível para consulta pela generalidade do público. Está mesmo disponível para o público em geral na Rússia e os peritos russos têm satisfeito a sua curiosidade mergulhando nele.
De facto, ele encheu-os de optimismo. Note-se, a Rússia quer paz, mas os EUA parecem querer a guerra e continuam a fazer gestos ameaçadores contra uma longa lista de países que recusam seguir a sua escolha, ou simplesmente não partilham seus «valores universais». Mas, agora, acontece que proferir ameaças (e sanções económicas, cada vez mais ineficazes) é praticamente tudo o que os EUA consegue realizar, apesar dos níveis absolutamente astronómicos de despesa com a defesa.
Vejamos com o que se parece o complexo militar-industrial dos EUA, visto sob lentes russas.
É importante notar que os autores do referido relatório não estavam a tentar convencer os legisladores a financiar um projecto específico. Isto torna-o mais valioso do que muitas outras fontes, para as quais o objectivo dos autores é desencadear a generosidade das verbas federais e que -portanto – tendem a ser pouco rigorosos nos factos, mas abundantes na propaganda. Sem dúvida, que a política continua desempenhando um papel, na forma como vários detalhes são tratados, mas parece limitado o número de questões incómodas, que os autores descartaram para compor o quadro, na análise da situação e na formulação de recomendações.
O que mais chocou os analistas russos foi o facto destes peritos avaliarem o complexo militar-industrial dos EUA numa perspectiva de …mercado! Na realidade, o complexo militar-industrial russo é exclusiva propriedade do governo russo e trabalha somente em seu interesse: qualquer outra coisa seria considerada traição. Mas o complexo militar-industrial dos EUA é avaliado com base na sua…rentabilidade! De acordo com o referido grupo de trabalho do Pentágono, tem de – não só fornecer produtos para os militares – mas, igualmente, adquirir uma fatia de mercado no comércio global de armamento e, talvez o mais importante, maximizar o lucro dos investidores privados. Neste aspecto, tem-se saído bem: para 2017, a média da margem de lucro antes de impostos, dos fabricantes de armas dos EUA, variou entre 15 e 17%. Nalguns casos – a Transdigm, por exemplo – conseguiram obter nada menos de 42 – 45%. “Ah!” exclamaram os peritos russos, “descobrimos o problema! Os americanos legalizaram a agiotagem de guerra!” (Esta, a propósito, é apenas uma das muitas formas da chamada corrupção sistémica, que floresce nos EUA.)
Seria normal que cada empresa contratante na defesa, simplesmente tomasse o seu lucro a partir do preço final mas, em vez disso, há toda uma cadeia alimentar de contratantes, os quais – legalmente – são obrigados a maximizar os lucros dos seus accionistas. Mais de 28000 companhias estão envolvidas, mas os contratantes de defesa de primeira linha, para os quais o Pentágono dirige 2/3 das encomendas, consistem apenas em Seis Grandes: Lockheed Martin, Northrop Grumman, Raytheon, General Dynmics, BAE Systems and Boeing. Todos as outras empresas estão organizadas numa pirâmide de sub-contratantes com cinco níveis hierárquicos e cada uma delas faz por sugar, o melhor possível, os níveis acima deles.
A insistência nos métodos de mercado e a exigência de maximização da rentabilidade, é um processo incompatível com a despesa na defesa, a um nível muito elementar; a despesa com defesa é intermitente e cíclica, com longos períodos de baixos níveis de encomendas importantes. Isto obrigou os Seis Grandes a fazerem cortes nos departamentos de produção de defesa, para aumentar os dirigidos à produção civil.  Igualmente, apesar do tamanho enorme do orçamento de defesa dos EUA, este é finito (e havendo apenas um planeta para fazer ir pelos ares), tal como também o é o mercado global de armamento. Visto que, numa economia de mercado, uma empresa é colocada perante o dilema de crescer ou ser comprada, isto precipitou imensas fusões e aquisições, resultando o presente mercado concentrado em alto grau, onde existem uns poucos actores principais, em cada domínio.
Em resultado disto, na maioria dos domínios, como discutem os autores nos 17 domínios – a marinha de guerra, as forças terrestres, a força aérea, a electrónica, o armamento nuclear, a tecnologia espacial, etc -, pelo menos num terço das vezes, o Pentágono tem a escolha de exactamente um contratante, para um dado contrato, fazendo com que a qualidade e o tempo de entrega sofram por isso e resultando em subida dos preços.
Num certo número de casos, apesar do poderio industrial e financeiro, o Pentágono encontrou problemas insolúveis. Concretamente, acontece que os EUA tem apenas um estaleiro com capacidade para produzir porta-aviões nucleares (é apenas um, e o navio porta-aviões Gerald Ford não é propriamente um sucesso). O referido estaleiro é o «Northrop Grumman Newport News Shipbuilding» em Newport, Virginia. Em teoria, poderia construir três navios em paralelo, mas dois dos lugares estão sempre ocupados pelos porta-aviões existentes, que precisam de manutenção. Isto não é caso único: o número dos estaleiros com capacidade de construção de submarinos nucleares, de contratorpedeiros e de outros tipos de navios, é também exactamente um. Portanto, em caso de conflito prolongado com um adversário a sério, em que uma proporção importante da armada dos EUA tenha sido afundada, há impossibilidade de substituir os navios afundados, num espaço de tempo razoável.
A situação é – de algum modo – melhor quanto às fábricas de aviões. As fábricas existentes podem produzir 40 aviões por mês e, se necessário, conseguiriam produzir 130. Por outro lado, a situação com tanques e artilharia é absolutamente deplorável. De acordo com o referido relatório, os EUA perderam completamente a capacidade de construir a nova geração de tanques. Já nem é uma questão de faltarem fábricas e equipamentos; os EUA vai na segunda geração de engenheiros que nunca efectuou o design de tanques e a que o fez, está prestes a reformar-se. Os da nova geração, que os substituem, não têm ninguém de quem aprender e só sabem de tanques pelos filmes e jogos vídeo. Quanto à artilharia, resta apenas uma linha de produção nos EUA que pode produzir canhões com diâmetro maior que 40 mm e esta seria incapaz de activar a produção em caso de guerra. A empresa contratante recusa-se a expandir a produção, a não ser que o Pentágono garanta – pelo menos – 45 % de escoamento, visto que senão, será não rentável.
A situação é semelhante para uma longa lista de áreas; é melhor para tecnologias com uso duplo, que podem ser obtidas a partir de companhias de produtos civis e significativamente pior para as altamente especializadas. O custo unitário para cada tipo de equipamento militar tem subido ano após ano, enquanto os volumes adquiridos são cada vez mais baixos – por vezes atingem zero. Nos últimos 15 anos, os EUA não adquiriu um único novo tanque. Continuam a modernizar os modelos antigos, mas a um ritmo de não mais de 100 unidades, por ano.
Devido a todas estas tendências, a indústria de defesa continua a perder, não só engenheiros especializados, como o pessoal qualificado para executar o trabalho. Os peritos do estudo citado estimam que o défice em máquinas-ferramentas atingiu os 27%. No passado quarto de século, os EUA deixaram de fabricar uma vasta variedade de equipamento para manufactura. Somente metade desses instrumentos podem ser importados de nações aliadas ou amigas; para o restante, há apenas uma fonte, a China. Analisaram as cadeias de abastecimento de 600 dos mais importantes tipos de armas e encontraram que um terço destas têm falhas, enquanto outro terço está completamente inviável. Na pirâmide de cinco patamares dos sub-contratantes do Pentágono, as manufacturas de componentes estão quase sempre relegadas para o terço inferior e as notícias de que terminaram com certa produção ou mesmo que encerraram totalmente, tendem a ficar submersas no pântano burocrático do Pentágono.
O resultado final de tudo isto, é que o Pentágono continua a ser, em teoria, capaz de efectuar pequenos incrementos na produção de armas para compensar as perdas correntes em conflitos localizados, de baixa intensidade, num contexto geral de paz, mas mesmo agora, isto está no extremo limite das suas capacidades. No caso de um conflito a sério, com uma nação bem armada, aquilo em que será capaz de dispor será apenas e somente o material e partes sobresselentes dos stocks, que ficarão rapidamente esgotados.
Uma situação análoga prevalece na área dos elementos de terras raras e de outras matérias-primas para produzir componentes electrónicas. De momento, as reservas acumuladas destas matérias, necessárias para produzir mísseis e tecnologia espacial – nomeadamente satélites – é suficiente para os próximos cinco anos, à taxa de uso corrente.
O relatório enfatiza especialmente a situação trágica na área de armas nucleares. Quase toda a tecnologia para comunicações, escolha de alvos, cálculo de trajectórias e armamento das cabeças dos mísseis intercontinentais (ICBM) foi desenvolvida nos anos 1960 e 70. Até hoje, os dados são carregados a partir de disquetes de 5 polegadas, que pararam de ser produzidas em massa há 15 anos. Não há substituição para elas e as pessoas que fizeram o seu design estão já «a fazer tijolo». A opção escolhida tem sido comprar pequenas quantidades produzidas, de todos os consumíveis, a preços extravagantes, e desenvolver a partir do zero a completa tríade de componentes estratégicos baseados em terra, a um custo de 3 orçamentos anuais do Pentágono.
Existe um grande número de problemas específicos em cada área, descrita no relatório, mas a mais importante é a perda de competência entre o pessoal técnico de engenharia devido ao baixo nível de encomendas para peças suplentes ou para o desenvolvimento de novos produtos. A situação é tal que novos e promissores desenvolvimentos saídos de centros de investigação como o DARPA não podem ser realizados face ao presente conjunto de competências técnicas. Para um certo número de especializações-chave, existem menos de três dúzias de especialistas treinados, com experiência.
Esta situação deverá continuar a deteriorar-se, com uma diminuição de 11-16%, na próxima década, do pessoal empregado no sector da defesa, principalmente pela ausência de jovens candidatos qualificados, para substituir os que estão a reformar-se. Um exemplo concreto: o trabalho de desenvolvimento do F-35 está próximo do fim e não será necessário desenvolver um avião de combate até 2035-2040; no intervalo, o pessoal envolvido no seu desenvolvimento estará sub-ocupado e o seu nível de competência irá deteriorar-se.
Embora, de momento, os EUA continuem à cabeça das despesas mundiais com defesa ($610 milhares de milhões de um total de $1.7 biliões em 2017, o que perfaz cerca de 36% de todas as despesas militares no planeta) a economia dos EUA já não tem capacidade para suportar a pirâmide tecnológica completa, mesmo num momento de relativa paz e prosperidade. No papel, os EUA continuam a aparentar ser os líderes da tecnologia militar, mas as fundações da sua supremacia militar foram erodidas. Os resultados disto são plenamente visíveis:
  • Os EUA ameaçaram a Coreia do Norte com acção militar mas, depois, foram forçados a recuar, porque não tinham capacidade de combater numa guerra contra ela.
  • Os EUA ameaçaram o Irão com acção militar, mas foram forçados a recuar, porque não tinham capacidade de combater numa guerra contra ele.
  • OS EUA perderam a guerra do Afeganistão contra os Talibãs e quando o conflito mais longo da história dos EUA estiver finalmente terminado, a situação política reverterá ao «status quo ante», com os Talibãs no governo e os campos de treino de terroristas islamitas de novo operacionais.
  • Os agentes dos EUA (sobretudo Arábia Saudita), combatendo no Iémene causaram um desastre humanitário, mas foram incapazes de vencer militarmente.
  • As acções dos EUA na Síria levaram a uma consolidação do poder e do território do governo sírio e a uma nova posição de domínio regional por parte da Rússia, do Irão e da Turquia.
  • A segunda maior potência militar da NATO, a Turquia, comprou o sistema de defesa S-400, russo. A alternativa dos EUA é o sistema Patriot, que custa o dobro do preço e não funciona realmente.
Isto tudo aponta para o facto de que os EUA já não possuem um poderio militar propriamente dito. Isto é uma boa notícia pelas, pelo menos, quatro razões seguintes.
Primeiro, os EUA são de longe a mais belicosa nação sobre a Terra, tendo invadido uma data de nações e continuando a ocupar muitas destas. O facto de que já não possa lutar, significa que as oportunidades para a paz estão destinadas a aumentar.
Segundo, assim que entrar na consciência geral que o Pentágono é, nada mais que uma sanita gigante, por onde se escoam os fundos públicos, estes fundos serão cortados e a população dos EUA poderá ver as somas que correntemente engordam os agiotas da guerra serem gastas em algumas estradas e pontes, embora seja mais provável que vá para pagar os juros da dívida federal (enquanto houver liquidez).
Terceiro, os políticos dos EUA vão perder a capacidade de manter a cidadania num estado permanente de ansiedade sobre a «segurança nacional». De facto, os EUA possuem uma «segurança natural» – dois oceanos – e não precisam muito de qualquer defesa nacional (desde que se mantenham dentro das suas fronteiras próprias e não tentem causar distúrbios nos outros). Os canadianos não irão invadir e embora a fronteira do sul precise de alguma vigilância, esta pode ser assegurada a nível dos Estados e condados, por alguns tipos que usam armas e munições, que já estão de ambas equipados. Logo que o logro da «defesa nacional» a 1,7 biliões de dólares deixar de pesar nos seus ombros, os cidadãos comuns poderão trabalhar menos horas, ter maiores lazeres e sentirem-se menos agressivos, ansiosos, deprimidos e paranóicos.
Finalmente, mas não menos importante, será maravilhoso ver os agiotas da guerra reduzidos a esgravatar no ferro-velho para obterem uns trocos. Tudo o que os militares têm sido capazes de produzir desde há longo tempo é miséria, aquilo que se designa tecnicamente por «desastre humanitário». Olhem para o rescaldo da intervenção na Sérvia/Kosovo ou no Iémene, e o que verão? Quer para os seus habitantes, quer para cidadãos dos EUA que perderam parentes seus na guerra, que tiveram de ser amputados, ou que sofrem de PSTD (Síndroma de Stress Pós-Traumático), ou de traumatismos cerebrais.
Seria apenas justiça que a miséria provocada fosse bater à porta daqueles que a causaram e se aproveitaram dela.


sexta-feira, 28 de junho de 2019

GEOPOLÍTICA DA TERCEIRA GUERRA MUNDIAL

                                            «THE GEOPOLITICS OF WORLD WAR III»


Este excelente documentário explica como se realiza o domínio do dólar US e como o império dos EUA está indissoluvelmente relacionado com o petrodólar. 
Na minha opinião, tudo o que este documentário mostra, ajuda a compreender melhor por que razão estamos num momento tão perigoso para a própria sobrevivência da espécie humana. 

segunda-feira, 4 de março de 2019

BASES POR TODO O LADO, EXCEPTO NO RELATÓRIO DO PENTÁGONO


                     

 Tradução por Manuel Banet Baptista, inicialmente publicado em:

https://ogmfp.wordpress.com/2019/03/03/bases-por-todo-o-lado-excepto-no-relatorio-do-pentagono/



Por Nick Turse  TomDispatch


Num espaço de horas, depois do Presidente Trump ter anunciado a retirada das forças do EUA da Síria, o equipamento da base de al-Tanf já estava a ser inventariado para ser removido.  A mais importante base americana na Síria estaria (talvez) sendo riscada dos livros do Pentágono – só que, al-Tanf nunca esteve efectivamente nos livros do Pentágono. Inaugurada em 2015 e, até recentemente, albergando centenas de soldados dos EUA, é uma das muitas bases militares que existem algures entre a luz e a sombra, um reconhecido posto avançado que nunca fez parte do inventário oficial de bases do Pentágono.

Oficialmente, o Departamento da Defesa mantém 4.775 «locais», espalhados por todos os 50 Estados, por oito territórios dos EUA e por 45 países estrangeiros. Um total de 514 destes postos avançados estão localizados no estrangeiro, de acordo com o Catálogo mundial do Pentágono. Apenas para mencionar alguns da longa lista, estão nela incluídas as bases no Oceano Índico de Diego Garcia, de Djibouti, no Corno de África, tal como no Perú e em Portugal, nos Emiratos Árabes Unidos e no Reino Unido. Mas a versão mais actualizada do catálogo, emitida em 2018 e designada como «Relatório das Estruturas de Bases»  (BSR), não inclui a base de al-Tanf. Ou qualquer outra das bases na Síria ou no Iraque, ou outros locais onde se saiba que tais acampamentos militares existem e, ao contrário da Síria, estejam em expansão.

De acordo com David Vine, autor de “Uma Nação de Bases: Como é que as Bases Militares dos EUA no Estrangeiro Afectam a América e o Mundo,” pode haver centenas de bases semelhantes, fora dos registos oficiais, em todo o mundo. «Os locais ausentes são um reflexo da falta de transparência do sistema do que considero serem as 800 bases dos EUA fora dos 50 Estados e de Washington, D.C., que têm pontilhado o globo desde a IIª Guerra Mundial» afirma Vine, que é também membro fundador da recém criada Coalição Pelo Rearranjo e Fechamento das Bases no Estrangeiro, um grupo de analistas em assuntos militares, que atravessa o espectro ideológico e advoga a redução da «pegada global» dos militares dos EUA.

Tais bases, ausentes dos registos, estão fora deles por um motivo. O Pentágono não quer falar delas.  “Falei com o oficial de contacto com a imprensa, responsável pelo «Relatório da Estrutura das Bases» e não tem nada a acrescentar, nem ninguém com quem se possa falar mais sobre isto, neste momento” Foi o que a porta-voz do Pentágono, tenente-coronel Michelle Baldanza afirmou ao TomDispatch, quando interrogada sobre as muitas bases misteriosas do Departamento da Defesa.
“As bases não recenseadas estão imunes de escrutínio pelo público e mesmo pelo Congresso,” explicou Vine. “As bases são uma manifestação física da política estrangeira e militar dos EUA; portanto, bases fora-do-registo significa que os militares e o executivo estão a tomar decisões políticas sem debate público, frequentemente gastando milhões ou biliões de dólares e que, potencialmente, podem envolver-se em guerras e conflitos sobre os quais o nosso país não sabe nada.”


Quais São Elas?

A Coalição pelo Realinhamento e Encerramento das Bases notou que os EUA possuem cerca de 95 por cento das bases militares no estrangeiro, enquanto países como a França, a Rússia e o Reino Unido, têm cerca de 10-20 bases no estrangeiro, cada. A China possui apenas uma.
O Departamento de Defesa até se gaba de que as suas localizações incluem 164 países. Dito de outro modo, tem uma presença militar em 84 por cento das nações deste  planetaou, pelo menos, assim reivindica o Departamento de Defesa. Após TomDispatch ter pesquisado sobre tal número numa página Internet, destinada a contar a «história» do Pentágono ao público em geral, esta foi mudada rapidamente. “Apreciamos a sua diligência em ir ao fundo deste assunto,” disse a tenente-coronel Baldanza. “Graças às suas observações, actualizámos o sítio defense.gov para  ‘mais de 160.’”




O que o Pentágono ainda não definiu é o termo «local». O número 164 está mais ou menos a par com a avaliação do Departamento da Defesa das estatísticas de efectivos, que mostra pessoal colocado em 166 locais no estrangeiro, incluindo algumas nações com um número escasso de militares dos EUA e outras, como o Iraque e a Síria, em que a dimensão dos efectivos das tropas é obviamente muito maior, mesmo se não incluídas na lista ao tempo do recenseamento. (O Pentágono afirmou, recentemente, que existem cerca de 5.200 militares no Iraque e, pelo menos, 2.000 na Síria, embora este número deva agora reduzir-se significativamente.) O inventário de tropas no estrangeiro também contabiliza tropas em territórios americanos como Samoa, Puerto Rico, Ilhas Virgens, e Ilha Wake. Dúzias de soldados, segundo o Pentágono, também estão estacionados em “Akrotiri” (que, de facto, é uma aldeia na ilha grega de Santorini !) e milhares de outros estão aquartelados em locais «desconhecidos».
No seu último relatório, o número total das tropas com «localização desconhecida»,  excede 44.000.

                 Official Defense Department manpower statistics show U.S. forces deployed to the nation of "Akrotiri."

Os custos anuais com o pessoal militar dos EUA no estrangeiro, tal como manter e gerir tais bases, atinge uma estimativa de 150 biliões de dólares anuais. O custo dos postos avançados apenas, soma, aproximadamente, dois terços do total. “As bases dos EUA no estrangeiro custam cerca de 50 biliões de dólares por ano, só para as edificar e manter, o que poderia ser usado em necessidades prementes nos EUA, na educação, saúde, habitação e infraestruturas” faz notar Vine. 
Talvez o leitor não fique surpreendido por as declarações do Pentágono serem um bocado vagas, sobre onde as tropas estariam estacionadas. O novo sítio Internet do Departamento da Defesa contabiliza “4.800+ sítios de defesa” à volta do mundo. Depois de TomDispatch ter pesquisado sobre esse total e como se relaciona com a contagem oficial de 4.775 locais mencionados na listagem oficial do BSR, o sítio Internet foi mudado para “aproximadamente 4.800 sítios de defesa.”
“Obrigado por apontar a discrepância. Estamos a mudar para um novo sítio Internet, estamos a actualizar informação,” escreveu a tenente-coronel Baldanza. “Por favor refira-se ao «Base Structure Report» (BSR) que tem os últimos números.”
Num sentido literal, o «Base Structure Report» tem realmente os números mais recentes — mas a sua precisão é outro assunto. “O número de bases contabilizadas no BSR tem pouco a ver com o número efectivo de bases dos EUA fora dos Estados Unidos, diz Vine. “Muitas bases, muitas delas bem conhecidas e outras secretas, têm sido deixadas de fora da lista.”
Um exemplo notório é o da constelação de postos avançados que os EUA construíram em África. O inventário oficial da BSR apenas menciona um punhado de locais aí – na Ilha de Ascencion, tal como em Djibuti, no Egipto e no Quénia. Na realidade, no entanto, existem muitos mais locais em muitos outros países africanos.

                            East Africa Response Force soldiers during emergency response exercise, Camp Lemmonier, Djibouti. (U.S. Air Force photo by Senior Airman Peter Thompson)

Uma recente investigação pelo Intercept, baseada em documentos obtidos do «U.S. Africa Command» através da Lei de Liberdade de Informação, revelava a existência de uma rede de 34 bases, sobretudo agrupadas no Norte e Oeste deste continente, assim como no Corno de África. A «postura estratégica» da AFRICOM consiste em ter maiores postos avançados, «duradoiros», incluindo dois «locais de operações avançadas» (FOSes), 12 «locais de segurança em cooperação» (CSLs) e 20 mais austeros, conhecidos como «localizações contingentes» (CLs).
O inventário do Pentágono incluí dois locais: Ilha de Ascension e a jóia da coroa de bases de  Washington em África, o Camp Lemonnier em Djibouti, que se expandiu de 88 acres, no início dos anos 2000, até cerca de 600 acres, actualmente. O referido relatório «Base Structure Report», no entanto, omite um «local de segurança em cooperação» (CSL) no mesmo país, o Chabelley Airfield, um posto-avançado menos vistoso, a cerca de 10 Km do primeiro, que tem servido como base de drones em África e no Médio Oriente.
A listagem oficial do Pentágono também menciona uma base pela designação obscura de “NSA Bahrain-Kenya.” A AFRICOM tinha começado por descrevê-la como um grupo de armazéns construídos na década de 1980, no porto e aeroporto de Mombaça, no Quénia, mas agora aparece como «CSL» na listagem de 2018. No entanto, há uma outra base no Quénia, o Campo Simba, mencionada em 2013, num estudo interno do Pentágono sobre operações secretas com drones na Somália e no Iémen. Pelo menos duas aeronaves pilotadas de vigilância estiveram baseadas aí, na altura. Simba foi, há algum tempo, uma  instalação operada pela Marinha; agora é mantida pela Força Aérea, concretamente pelo Esquadrão Expedicionário Nº475 de Base Aérea, parte da Esquadra Aérea Expedicionária Nº435.

O pessoal dessa mesma esquadra aérea pode ser encontrado noutro posto avançado, que não está mencionado no «Base Structure Report»,  situado no lado oposto do continente. O BSR declara que não regista informação sobre locais «não EUA» e que menciona somente os que tenham pelo menos 10 acres  de tamanho e que valham pelo menos 10 milhões de dólares. Porém, a base em questão — A Base Aérea 201  em Agadez,  no Níger — tem já um custo em construções de 100 milhões de dólares, quantia que será em breve eclipsada pelo custo de funcionamento da base, de 30 milhões de dólares anuais. Quando, em 2024, o presente acordo de dez anos cessar, seus custos de construção e de funcionamento atingirão cerca de 280 milhões de dólares.

Outras bases que faltam no relatório BSR são as do vizinho Camarões, incluindo uma base de longa duração em Douala, um campo aéreo de drones na longínqua Garoua e uma instalação conhecida como Salak. Este local, segundo uma investigação de 2017 pelo Intercept, pela Forensic Architecture, e por Amnesty International, tem sido usado por pessoal dos EUA e por contratantes, para vigilância com drones e missões de treino, e pelas forças camaronesas, aliadas dos EUA, para prisões ilegais e torturas.

Segundo Vine, o facto de manterem secretas as bases africanas dos EUA tem vantagens para Washington: Protege os aliados neste continente da possível oposição pela presença de tropas dos EUA, enquanto garante que não haverá um debate a nível doméstico sobre despesas e compromissos dos militares envolvidos. “É importante para os cidadãos dos EUA saberem onde estão baseadas as suas tropas em África e em todo o mundo” disse ao TomDispatch, “porque a presença de tropas dos EUA custa biliões de dólares todos os anos e porque os EUA estão envolvidos ou potencialmente envolvidos em guerras e conflitos que poderiam ter uma escalada e ficarem fora de controlo.”


As tais Bases Ausentes

África está longe de ser a única zona em que a lista oficial do Pentágono não se coaduna com a realidade. Durante mais de duas décadas, o «Base Structure Report» ignorou as bases em toda a espécie de zonas de guerra, com intervenção de americanos.  No culminar da ocupação do Iraque, por exemplo, os EUA tinham 505 bases aí, desde postos avançados, até bases com instalações gigantescas. Nenhuma delas aparecia nas listagens oficiais do Pentágono.
No Afeganistão, os números ainda são mais elevados. Tal como foi noticiado por TomDispatch em 2012, a Força Internacional liderada pelos EUA tinha cerca de 550 bases naquele país. Se forem adicionados os postos de controlo da ISAF – pequenas bases para garantir a segurança de estradas e aldeias – à contagem das mega-bases, o número atinge o valor de 750. E se tivermos em conta as instalações estrangeiras  – incluindo as logísticas, as administrativas e as instalações de apoio – o comando conjunto da ISAF contabilizou 1.500 locais. A quantidade das que estavam ao cuidado dos americanos ficou porém misteriosamente ausente da contagem oficial do Departamento de Defesa.

                         

Existem agora muito menos instalações assim no Afeganistão – os números podem descer ainda mais nos próximos meses, na proporção da redução das tropas. Mas a existência do Campo Morehead, da Base Fenty de operações avançadas, do Aeródromo de Tarin Kowt, do campo Dahlke ocidental, do Aeródromo de Bost, tal como do Campo Shorab,  uma pequena instalação no que foi antes o local das bases gémeas conhecidas como Campo Leatherneck e Campo Bastion, são incontestáveis. No entanto, nenhuma destas jamais apareceu no «Base Structure Report».

Analogamente, embora já não existam mais de 500 bases dos EUA no Iraque, nos anos mais recentes, visto que regressaram tropas americanas a este país, alguns quartéis foram restaurados ou construídos de raiz. Estes incluem o Complexo Besmaya Range, a base de Sakheem, a  base de Um Jorais, e a base aérea Al Asad, assim como o  aeródromo de Qayyarah Ocidentaluma base situada a 40 milhas a sul de Mosul, mais conhecida por “Q-West.” De novo, não encontrareis quaisquer delas na lista oficial do Pentágono.

Nestes dias, é difícil obter informação rigorosa sobre efectivos militares nas zonas de guerra, onde estejam envolvidos americanos, assim como sobre o número de bases em cada uma delas. Como explica Vine, “Os militares dizem que mantêm os números secretos, em parte, para esconder as bases dos seus adversários. Mas, como não será difícil localizar as bases em locais como a Síria ou o Iraque, tal secretismo é destinado antes a prevenir o debate ao nível doméstico, sobre o dinheiro, o perigo e mesmo para evitar tensões diplomáticas e inquéritos internacionais.

Se o objectivo do Pentágono tem sido o de evitar o debate doméstico, tem sido alcançado ao longo dos anos, escapando às questões sobre a sua postura global ou sobre o que um colaborador regular de TomDispatch, Chalmers Johnson designava como o “Império de bases americano.”
Em meados de Outubro, TomDispatch  perguntou a Heather Babb, uma outra porta-voz do Pentagon, sobre os postos avançados no Afeganistão, no Iraque e na Síria, que estavam ausentes do relatório «Base Structure Report», assim como os que faltavam em relação às bases africanas. Entre outras questões colocadas a Babb: O Pentágono poderia dar uma simples contagem – ou uma listagem – de todos os postos avançados? Possui uma verdadeira contagem das instalações no estrangeiro, mesmo que esta não tenha sido revelada ao público – uma lista que afinal fizesse o que a «Base Structure Report» apenas alega fazer? Outubro e Novembro passaram sem resposta.
Em Dezembro, em resposta aos pedidos de informação, Babb respondeu – em linha com a política usual de manter os cidadãos americanos no escuro acerca das bases que estes pagam e sem ter em conta a dificuldade de negar a existência de postos que se estendem de Agadez no Níger a Mosul no Iraque – «Não tenho nada a acrescentar», declarou ela, «à informação e aos critérios que estão incluídos no relatório».

A decisão do Presidente Trump em retirar tropas americanas da Síria, significa que o relatório de 2019 «Base Structure Report» será provavelmente o mais preciso desde há alguns anos. Pela primeira vez, desde 2015, a contabilidade dos postos avançados do Pentágono já não omitirá a guarnição de al-Tanf (ou, de novo então, talvez o faça). Mas isso ainda deixa de fora centenas de bases, ausentes da listagem oficial. Um posto avançado terá saído, mas quem sabe quantos ainda faltam?

Nick Turse é editor da redacção de TomDispatch e colaborador de Intercept
O seu livro mais recente intitula-se “Next Time They’ll Come to Count the Dead: War and Survival in South Sudan.”(«Na próxima, vez virão para contar os mortos: guerra e sobrevivência no Sudão do Sul»).
O seu sítio Internet é NickTurse.com.

quarta-feira, 5 de dezembro de 2018

UMA REDOMA DE «VERDADES»... QUE SÃO MENTIRAS

Esta é a media que nós temos no «livre» Ocidente. Os órgãos considerados de «esquerda» como o The Guardian (1) a perseguirem com mentiras Julian Assange, as incessantes campanhas governamentais anti-russas (2), apoiadas numa media mais que complacente, um silêncio total na media corporativa sobre os crimes (3) do falecido ex-presidente dos EUA e criminoso de guerra George H W Bush... A lista seria demasiado extensa e tornaria enfadonho este artigo. Mas os leitores podem sempre ver, por eles próprios, e pesquisar. 

Agora, queria colocar uma reflexão pessoal sobre esta situação. Eu sei que uma parte da cidadania está completamente abúlica, indiferente às consequências das políticas internacionais do seu país, principalmente se este for poderoso como os EUA, a Alemanha, o Reino Unido, a França... Outra parte, toma como suas as «verdades» fabricadas pela propaganda de Estado, que são constantemente propaladas, vilificando o «inimigo».  
O que eu queria colocar como questão é a da responsabilidade factual, não apenas moral, de uns e outros. 
Se alguém no vosso entorno se prepara para cometer um crime, se o chega a concretizar, se até o repete e perpetua, o vosso dever é claro: denunciar o crime e o criminoso e de forma a fazer tudo para que não possa continuar esse crime. 
Por que motivo se considera tolerável que em «nosso» nome (não dizem que o povo é «soberano» nas chamadas democracias?) se faça isso mesmo, crimes dos mais horrendos, crimes de guerra, constantemente? 

Penso que as pessoas que se acobardam e ficam muito caladinhas para não serem inquietadas, são desprezíveis. Mas, que dizer da postura de pessoas que têm voz activa, nomeadamente, os escribas da media que incitam ao ódio contra outras nações ou contra os seus governantes, os quais foram eleitos livremente e são apoiados pelos seus povos respectivos, conforme tem sido revelado em sondagens não suspeitas de conivência com os ditos governos? 
Note-se que no caso desses «fazedores de opinião», há uma deliberada vontade de manipulação da opinião pública. É um crime «perfeito» na medida em que eles/elas estão exercendo um «direito de opinião» e não serão inquietados pelas consequências -muitas vezes trágicas - das políticas que preconizaram.

Considero que muito do inferno em que se transformou o mundo contemporâneo se baseia da incapacidade das pessoas tomarem responsabilidade pelos seus actos. 
As pessoas, ao delegarem noutras as responsabilidades políticas máximas como, obviamente, a possibilidade de uma nação entrar numa guerra, não estão a aligeirar as suas responsabilidades, mas sim a tornarem-se coniventes com tudo o que seus líderes políticos decidiram em seu nome. 
Antigamente, a decisão de fazer a guerra era acompanhada por uma declaração de guerra, dirigida à potência inimiga. Quando os regimes se tornaram mais «democráticos», foi norma apenas haver declaração de guerra se esta fosse autorizada pelos respectivos parlamentos. 
Porém, a partir de certa altura, as guerras têm sido combatidas por «proxi», ou seja, por outros países ou forças que são treinadas, armadas, equipadas, financiadas por Estados poderosos como acontece, por exemplo, no caso dos grupos jihadistas no Médio Oriente ou em África. Igualmente, têm sido incentivadas guerras civis, como o conflito entre as repúblicas separatistas e o governo de Kiev, na Ucrânia, ou querelas de fronteiras, em inúmeros casos. 
Isto torna essas guerras muito piores e mais difíceis de serem terminadas, pois os que as promovem não estão directamente envolvidos e, portanto, não sofrem em pleno as consequências das mesmas. 
Quando directamente envolvidos, como os EUA e NATO na guerra sem fim do Afeganistão, trata-se de uma obsessão de grande potência e uma forma de manter um grande contingente nesta zona estratégica do mundo, sem a qual guerra, não haveria razões plausíveis para aí manter grandes bases e contingentes militares. 

As guerras são realmente a negação mais completa de todos os direitos humanos; a guerra em si mesma é considerada ilegítima pela ONU, considera-se que iniciar a guerra é - por si só - um crime contra a humanidade. 
Infelizmente, o direito internacional é feito em pedaços justamente pelas potências que teriam os meios e dever de o defenderem. A sua criminalidade é absolutamente evidente, à luz dos próprios tratados e princípios básicos que as mesmas potências instauraram e dizem defender. 
Se a nossa época se caracteriza por uma total dissociação entre princípios proclamados e a prática dos dirigentes, então isso deve-se a uma cidadania abúlica, ou conivente, com os responsáveis políticos. Quanto a estes, são tanto mais responsáveis, quanto mais poder tenham: um dirigente de partido político, um deputado, um membro de governo, têm maior responsabilidade que um simples cidadão. 
Mas os que apoiam activamente esses personagens, como jornalistas e «fazedores de opinião», constantemente presentes nos media, têm também uma larga responsabilidade. 
Os que se deixam embalar pelas suas mentiras e pela sua propaganda, ou que sejam completamente indiferentes, não acreditando, mas também não as denunciando, são coniventes com todos esses crimes.

terça-feira, 28 de agosto de 2018

«FOOD NOT BOMBS» E A GUERRA SEM FIM NO AFEGANISTÃO

                   
 

Nathan Pim, membro do colectivo «Food Not Bombs» e outros, foram inocentados num processo movido contra eles pelas autoridades camarárias, por estarem a alimentar gratuitamente os sem-abrigo em Fort Lauderdale.

Veja a notícia completa em:


                         


Entretanto, o negócio do ópio para financiar as operações secretas da CIA e a venda de triliões de dólares em armamento têm sido as razões pelas quais os EUA continuam a mais longa intervenção militar em toda a sua História. 
O governo dos EUA revelou-se no seu cinismo, ao rejeitar uma proposta de participação na conferência de paz, que irá ter lugar em Moscovo no próximo mês, com participação do governo afegão e dos taliban. 
A lógica das guerras imperiais é que elas se destinam a servir um punhado de grandes corporações, à custa dos interesses dos americanos comuns, para não falar das 30 milhões de vítimas das guerras imperialistas, desencadeadas após a IIª Guerra Mundial, que se podem atribuir às intervenções dos EUA. 

Veja:

Podia fazer uma lista infindável de contrastes chocantes que ocorrem no país onde 40% da população está no limiar ou abaixo do limiar de pobreza, que - no entanto - tem a veleidade de ditar a sua lei e moral ao resto do Mundo. 
As contradições entre os discursos, a imagem que pretendem vender internacionalmente e a realidade, explicam porque os EUA se tornou a potência mais odiada no mundo. 
Os que fazem a apologia deste império não têm desculpa. Nenhum império pode ser uma coisa positiva à priori para os povos, em geral; mas isto não pode ser invocado como pretexto para relativizar e aceitar passivamente os crimes da classe dirigente dos EUA.


sexta-feira, 18 de maio de 2018

HÁ QUALQUER COISA DE IRREAL NA ATMOSFERA...


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Os que cresceram à sombra da «Guerra Fria» têm ainda na memória - com certeza - os momentos de grande aflição em toda a Europa (tanto do Leste, como do Ocidente), no início dos anos 80, quando soviéticos e americanos, num braço de ferro, ameaçavam-se reciprocamente de instalar misseis com ogivas nucleares, de um lado e do outro da «cortina de ferro», essa estreita e artificial divisória do Continente Europeu. Nessa altura, um grande movimento com epicentro na Alemanha Ocidental, desenvolveu-se. 

Os grandes contestatários da época, no início dos anos oitenta, eram os Verdes alemães, muitos dos quais tinham participado nas jornadas da «revolução» (abortada) de 1968... Hoje, estão mais que instalados, fazem parte da elite que nos desgoverna! Infelizmente, pode-se dizer o mesmo, com quase nenhuma variação, relativamente aos movimentos pacifistas e anti-militaristas de quaisquer outras «democracias» ocidentais. 
Nessa ocasião (no início dos anos 80), os movimentos de massas, obrigaram os poderes imperialistas a terem cuidado com o que faziam, pois o grande medo da revolução - por parte das elites de um lado e do outro - era real. 

Além disso, os americanos ainda estavam a lamber as feridas do Vietname e da «perda» das Colónias Portuguesas. 
Do outro lado, os Soviéticos davam os primeiros passos da guerra no Afeganistão, seu «Vietname». Diga-se, causado - em larga medida - pela criação pela CIA, daquilo que viria a ser designado, mais tarde, por Al Quaeda, destinada a desferir um golpe no centro do império soviético.
Em resumo, nem um nem outro super-poder achou conveniente - nessa ocasião - colocar mísseis nucleares em território europeu. 

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Agora não existe essa hesitação: os americanos e os restantes países da NATO colocam divisões de elite e armamento estratégico, incluindo mísseis com possibilidade de transportar cargas nucleares,  às portas da Rússia bem dentro de áreas que antes pertenciam ao Pacto de Varsóvia (países bálticos, Polónia, Roménia). 
Cozinharam um golpe de Estado na Ucrânia, durante o mandato do «pacífico» Prémio Nobel, Obama... usando esse golpe como pretexto para acusar a Rússia, supostamente culpada de «anexação», porque a população da península da Crimeia tinha referendado a sua saída da Ucrânia e a sua adesão à Federação Russa. Os golpistas de Kiev queriam exterminar a população russófona, não esqueçamos; e eles disseram-no publicamente!
As sanções  impostas à Rússia viraram-se contra a economia europeia, embora não tivessem um efeito económico acentuado nos EUA. As elites alemãs não se mostraram entusiastas destas sanções, preferindo fazer ouvidos moucos e continuar o projecto russo-alemão «Nord Stream», vital para o abastecimento de gás natural russo à Alemanha, por via do Báltico.
O imperialismo anglo-americano tentou contrariar este projecto, lançando mão de uma montagem de espionagem, completamente débil mental, mas que serviu para obrigar os governos «livres» da NATO a reforçarem as suas medidas anti-russas.

As pessoas parecem estar anestesiadas, como na véspera da II Guerra Mundial, embora esta não tenha que ver com a situação presente. Parece-me - porém - legítimo encontrar semelhanças, não apenas pela atmosfera irreal da política internacional, como pelas catadupas de mentiras que inundam o espaço público e se tornam como «verdades»...(lembremos a célebre frase de Goebbels*...

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        [*Mais a mentira é descarada, mais credível se torna. Quanto mais é repetida, mais o povo nela acredita]

De nada serve pessoas respeitáveis de vários quadrantes políticos, ideológicos e religiosos alertarem para a extrema perigosidade do momento, sobretudo agora, com a denúncia unilateral, por parte dos EUA, do acordo multi-partido com o Irão (rubricado também pela Rússia, China, Grã-Bretanha e França). 
- Alguém duvida que os EUA vão prosseguir sua política imperialista de «torcer o braço» aos adversários e mesmo aos «aliados» (vassalos), para obterem o que querem? 
- O que vai acontecer aos actores que são os governos dos países da NATO
- Vão eles continuar a calar e a fingir que acreditam na retórica bélica de pessoas como Nikki Haley, a histérica representante dos EUA na ONU?

Se os políticos corruptos e cobardes soubessem alguma coisa de História, lembrar-se-iam do modo como os imperadores romanos tratavam os traidores que tinham vendido suas respectivas pátrias ou tribos, a Roma: a «recompensa» era lançá-los às feras no Coliseu, ou algo deste estilo! 
Outra lição que poderiam aprender da História, é que, não apenas os impérios são de facto mortais, como também que um império moribundo é o mais perigoso.