segunda-feira, 25 de outubro de 2021

O «ADN LIXO» QUE AFINAL NÃO ERA


O artigo acima, muito interessante, mostra que se pode inativar especificamente uma zona não codificante de um cromossoma de mamífero, com efeitos catastróficos na formação dos embriões e dos fetos, apesar de todos os genes terem permanecido intactos. Assim, a manipulação descrita no artigo mostra que existe um papel relevante desta região do ADN. Ainda não se sabe qual a sua função concreta e como a desempenha, neste estádio da pesquisa. 

Algumas das histórias mais fascinantes das descobertas da genética molecular relacionam-se com o mal nomeado «ADN lixo». O ADN que não codifica para nenhum gene é a imensa maioria do ADN que compõe os cromossomas, no ser humano, nos animais e, mesmo, em todos os eucariotas, constituídos por células com um núcleo isolado do citoplasma por uma membrana. 

Em geral, convenciona-se que, para haver um gene, isso implica que sua sequência seja uma ORF (= open reading frame): Isto significa que, dentro da sua sequência, não exista nenhum codão stop (daí chamar-se um «quadro de leitura aberto»). A presença de um tal codão stop iria finalizar precocemente a tradução do ARNm no ribossoma. Igualmente, uma tal sequência deveria ter um promotor funcional, ou seja, um local de ancoragem das ARN-transcriptases, as enzimas capazes de transcrever uma sequência de ADN, em sequência de ARN mensageiro. Sem isto, não poderá haver a expressão de um gene, no seu produto, a proteína respetiva. A ORF será, portanto, aceite como um «provável gene», mesmo que se ignore tudo sobre o seu produto e função. 

Mas, fora e além de todas as «ORF», existem numerosos «pseudo- genes», isto é, sequências que já não são genes, ou porque foram interrompidas por um ou vários codões STOP, inviabilizando a formação completa da cadeia de aminoácidos, ou porque foram destruídas as sequências promotor, portanto a ARN-polimerase já não pode iniciar a sua transcrição. Tais pseudo -genes estão presentes no ADN de mamíferos (incluindo o homem) mas, também, em muitas outras espécies estudadas.

Tais pseudo -genes correspondem, muitas vezes, a retrovírus que se integraram algures no genoma, durante a evolução, tendo perdido a possibilidade de se replicar e permanecendo aí como «fósseis retrovirais». Os retrovírus, quando se conseguem replicar normalmente, usam de um processo semelhante aos elementos transponíveis ou transposões. Estes elementos, presentes tanto no nosso genoma, como no de muitos outros eucariotas, foram primeiro descobertos no milho (Zea mays), por Barbara McClintock, o que lhe valeu o prémio Nobel.

                                                                               Barbara McClintock em1947.

Será relativamente fácil que certos transposões inativos se «reativem», bastando para isso reverter uma ou duas mutações, para eles voltarem ao seu estado inicial.
Embora tal mecanismo seja raro, foi observado algo semelhante em bactérias, onde genes para a produção de certos enzimas, envolvidos no processamento dum nutriente raro ou pouco frequente, estão inativados por mutação. Estes são «reativados», na presença desse nutriente.

É fascinante verificar que os elementos que estão na base da divisão celular (mitose e meiose) e da repartição equitativa dos cromossomas, como os centrómeros e os telómeros dos cromossomas eucariotas, possuem sequências muito iteradas, repetitivas. O mesmo tipo de sequências também são a «marca» deixada pelos transposões ou pelos retrovírus, quando se inserem e depois se propagam, de um ponto para outro do genoma.

Longe de ser um ADN lixo sabe-se, desde há bastante tempo, que o facto de ser abundante e não codificar aparentemente para proteínas, não retira a funcionalidade a este ADN. Sabe-se que zonas não codificantes do ADN desempenham funções muito relevantes na mitose e no processamento dos cromossomas que esta implica. Vão sendo descobertas outras funções nessas zonas do ADN, desde a regulação da expressão dos genes, a fatores de «empacotamento cromossómico» fundamentais no ciclo celular. 

O facto de que os genes dos eucariotas estejam, em geral, interrompidos por sequências intrónicas («intrões»), aumentando muito a sua extensão, também não pode ser considerado como «lixo», pois existem muitos casos (de funcionamento normal) em que há formação de proteínas distintas, a partir de pedaços (exões) alternativos. Este processo (a «maturação») ocorre durante a transição do ARN pré-mensageiro em mensageiro, pelo corte e excisão dos intrões, seguido de sutura dos exões.

A visão que existe atualmente da evolução ao nível molecular, permite dar um papel de relevo a todo esse ADN não diretamente envolvido na codificação e expressão dos genes. É que existe muito mais potencial num genoma eucariota, comparativamente a bactérias, sejam elas eubactérias ou arqueobactérias. Embora se conheçam algumas (raras) sequências de intrões em arqueobactérias, os genomas bacterianos são extremamente compactos, em regra. Todas as partes do genoma bacteriano - uma molécula de ADN circular - têm uma função precisa. A evolução das bactérias está limitada pelo seu modo de vida unicelular (apesar de formarem colónias), onde a única inovação pode provir apenas de mutações, que ocorrem no seu genoma.
Aquilo que o mundo bacteriano tem a seu favor é a rapidez e os grandes números, que conseguem produzir em condições favoráveis. Pelo contrário, o eucariota possui, no seu organismo individual, um certo número de recursos que lhe permitem adaptar-se. O recurso da sexualidade vai conferir aos eucariotas uma maior variabilidade e adaptabilidade. Estas propriedades estão inegavelmente associadas ao genoma eucariota, embora seja ainda difícil de perceber profundamente os mecanismos moleculares envolvidos.

NB1: Cerca de 3 meses depois do que escrevi acima, leio um artigo que dá conta de investigações, cujos resultados vêm confirmar as minhas visões sobre os genomas eucariotas. Não será inteiramente por acaso; tenho estudado genética, biologia molecular, bacteriologia, evolução... desde 1972!

sexta-feira, 22 de outubro de 2021

O DECLÍNIO DO SISTEMA CAPITALISTA

Não deixa de ser sintomático que o país considerado como o maior defensor do capitalismo, da «economia de mercado»,  seja o que mais se afasta dos princípios tradicionais do liberalismo económico e onde se notam as disfunções mais óbvias, onde o mau funcionamento do sistema capitalista atinge extremos tais, que o próprio sistema é posto em risco

Veja e oiça o Prof. Richard Wolff apresentar uma série de exemplos sobre os EUA: 



PS: Richard Wolff diz algo muito interessante, no que respeita à decisão chinesa de fechar os seus portos, por ter verificado um aumento dos casos de COVID: 

Ele compara o número de novos casos -  111 num dia,  apenas, na China - com os casos do mesmo dia nos EUA, que foram 162 000. (Veja e ouça o que ele diz a partir do tempo seguinte de 22:11 até 25:11)

A minha conclusão é a seguinte: A China usou o aumento ínfimo das infeções como pretexto para fechar seus portos. Foi um aviso, face às campanhas raivosas no Ocidente: Se fizessem muito alarido, a China simplesmente fechava «a torneira», deixava de exportar inúmeros bens que produz e que o orgulhoso Ocidente precisa e já não produz: causaria uma enorme crise de escassez! 

Foi o que se passou, na verdade. Apenas um «tiro de aviso»: foi a resposta às agressões verbais e às novas sanções que os governos ocidentais, sob o comando dos EUA, queriam impor. 

Isto passou-se em Agosto. Logo em Setembro- Outubro começaram os problemas sérios de escassez, na Europa e nos EUA. 

Claro que a China nunca irá dizer outra coisa senão que está a tomar a sério a prevenção da pandemia de COVID!!!

 É uma civilização  com vários milénios. São mestres em lidar com assuntos de comércio, diplomacia e estratégia. Quando é que os «nossos» governos, arrogantes e estúpidos, aprenderão?

PS2: A seguinte notícia, recolhida em Zero Hedge, é a confirmação de que eu estava certo ao escrever os parágrafos acima.

quarta-feira, 20 de outubro de 2021

A ARTE NAS ORIGENS


A mais antiga pintura rupestre conhecida

                                           Chauvet: A gruta maravilhosa

Introdução

Para nós fazermos um estudo sério sobre a origem da arte temos, primeiro, de definir o que é «arte», para que não se confunda com outras coisas que podem parecer, até parecer-se muito, com esta atividade designada por arte, mas não o são.

Primeiro que tudo, considero que a arte só se refere a atividade humana. Isto exclui os trabalhos de múltiplas outras espécies no estado natural, como as aves-tecelãs que tecem um ninho de complexidade e beleza magníficas, ou as aves-arquitetos que fazem túneis com toda a espécie de objetos vistosos, brilhantes, para atrair a fêmea, etc.  

Fig.1: Ave-tecelã e seu ninho

Fig.2:  Cápsulas e palhinhas de plástico, «recicladas» por ave-arquiteto

No domínio do comportamento animal, observam-se comportamentos complexos, tanto em mamíferos como em aves, relacionados com a corte antenupcial, a proteção das crias, a defesa do território, etc., que aparentam, aos olhos de  observadores ingénuos, estar imbuídos de sentimentos e mesmo de raciocínios humanos. Mas, na realidade, não o são: são comportamentos que se relacionam com funções vitais (nutrição, território, reprodução) do indivíduo ou do bando (nos animais sociais); são comportamentos resultantes da seleção natural. É sabido que esta opera não só sobre os aspetos anatómicos, como os comportamentais, ao longo de milhões de anos. 

O que distingue o comportamento humano, em geral, dos outros animais, é a sua natureza não inteiramente previsível. A arte - pela sua natureza, pelas formas e pelo modo como é construída -  dificilmente se poderá enquadrar dentro dos padrões de «seleção darwiniana»: Nós fazemos coisas, que não se podem explicar recorrendo aos conceitos de seleção, de vantagem seletiva para o indivíduo e/ou para o grupo. Também, especificamente humana, é a facilidade com que projetamos a nossa mente no passado ou no futuro:

                                                Fig.3: representação de uma caçada no período glaciar do paleolítico

Por exemplo - a narração duma caçada por um indivíduo, vai informar os outros, do mesmo grupo, que captam o essencial do que aquele pretende comunicar. 

                                           Fig.4: pedra talhada paleolítica e início de talhe de réplica atual

A projeção pela imaginação, permite que o talhador de instrumento de pedra visualize, numa pedra em bruto, o instrumento de pedra talhada que ele tem em mente. Ele fabrica esse instrumento dando golpes, segundo os ângulos certos, para obter a forma idealizada na sua mente.

Além disso, existe uma característica partilhada por todas as sociedades, incluindo as de caçadores-recolectores atuais ou que existiram há tempo não muito recuado; tem sido feito o seu estudo, no terreno, por antropólogos. Todas as sociedades humanas, incluindo as ditas mais «primitivas», têm algum sistema de crenças, uma espiritualidade, uma visão do mundo, um relacionamento com outros mundos. Isto exprime-se de múltiplas maneiras: Em termos de vocabulário, de costumes, de rituais, de representações com referência ao simbólico. 

                                                        Fig. 5: Totems num parque, em Vancouver (Canadá)

A humanidade «segrega» símbolos, não apenas verbais (os símbolos sonoros), como nas marcas, nos sinais, nos identificativos pessoais ou de grupo, que ficam registados no seu entorno, em objetos que utilizam, ou no seu próprio corpo. 

                                                                 Fig.6: Chefe com tatuagens, ilhas da Oceânia

Com efeito, tanto os povos de caçadores-recolectores, em várias zonas do globo onde ainda aí subsistem (na Papuásia- Nova Guiné, na Amazónia, na Austrália, em África), como os que deixaram de ser caçadores recolectores e sedentarizaram (como na Mongólia, ou na América do Norte), mas cujas sociedades foram estudadas ainda antes disso, todos apresentam ciclos de narrativas (orais), bastante complexas. Nelas, dão-se interpretações de fenómenos naturais, frequentemente relacionados com animais, ou relatos sobre as origens do Universo, dos humanos, ou da tribo. Estas histórias, que se transmitem oralmente, de geração em geração, fazem parte da sua identidade. Esta parte está perdida para sempre, no que respeita aos homens paleolíticos. Igualmente, a arte corporal nos paleolíticos, como pinturas corporais, escarificações e tatuagens, são impossíveis de detetar. Mas, nem tudo está perdido, em relação a tais vestígios de arte corporal. Foi descoberto, na África Austral um fragmento de pedra, com um desenho abstrato, feito com o pigmento ocre e com mais de 70 mil anos.  Pensa-se que esse ocre servia também para pintar o próprio corpo. 

                                                   Fig.7: Desenho abstrato, a ocre, com 73 mil anos, África do Sul

Foram achados, em abrigos neandertais, garras e restos de penas de aves, usadas como adorno, em especial, as de águias e doutras aves de grande porte. 

                                                   Fig.8: Ornamentos de garras de águias, por Neandertais

Datadas de 77 mil anos em relação ao presente, encontraram-se, na África do Sul, pequenas conchas. Noutras instâncias, encontraram-se conchas a centenas de quilómetros dos sítios na costa onde estas espécies existiam. Estas conchas possuem perfurações; seriam usadas em colares, ou noutros adornos. 

                                                    Fig.9: conchas perfuradas com 77 mil anos, África do Sul 

Assim, penso que, ao considerar-se a arte como propriedade exclusiva da espécie humana, tal não deve ser visto no sentido estrito da espécie Homo sapiens, mas deverá englobar espécies que a antecederam (3). Parece-me provável que se encontrem mais objetos, ainda mais antigos, em futuras escavações, visto que, recentemente, se fizeram muitos achados e foram reavaliados outros, nomeadamente, as datações de «objetos de arte móvel», com sinais abstratos. Alguns dos objetos estão associados a espécies anteriores ao homem moderno. 


                                    Fig.10: Sinais parietais recolhidos em todo o mundo (também em utensílios, etc.)

É uma característica notável que, desde a origem, a arte seja simbólicaMesmo quando é pictórica, não pretende retratar algo que se vê, mas entrar em comunicação com o mundo dos espíritos, ou algo deste género. O mito de uma arte paleolítica «naturalista», finalmente está a ser posto de lado. Este mito foi construído, a partir duma visão ideológica inconsciente ou não-intencional, por arqueólogos e paleoantropólogos, dos séc. XIX e XX, valorando esteticamente as obras, consoante a «parecença», ou «realismo» da representação. 

Ora, embora não possamos jamais saber com toda a certeza, muitas probabilidades existem de que as representações animais (e as poucas humanas que existem) estejam integradas nalguma forma de «religião», animista e/ou xamanista. Os que pintaram, desenharam ou gravaram, não estavam a «fazer arte», estavam a executar um ritual, a entrar em contacto com o mundo dos espíritos, algo da ordem do simbólico (5). Eram símbolos, da mesma forma que por exemplo - nós, se estamos imbuídos de cultura cristã - podemos «ler» as estátuas e as pinturas murais das igrejas e catedrais, que exibem cenas das vidas de Cristo, dos Apóstolos, dos Santos. Porém, os episódios a que se referem, são completamente incompreensíveis para alguém que ignore tudo do cristianismo e da Bíblia. 

Por exemplo, o mito de que as gravuras de animais se destinavam a propiciar uma boa caçada, já não é sustentável. Com efeito, raras são as representações de animais que eles efetivamente caçavam. Um caso extremo (1), é o seguinte: em gravuras parietais duma gruta do final da era glaciar, na Europa Central, existem exemplares da fauna de então, os rinocerontes, os mamutes, os leões das cavernas, os cavalos, os auroques e outros. Primeiro, alguns nunca eram caçados (como os leões); segundo, outros, eram-no raramente. No entanto, no chão da mesma caverna, 95% dos ossos fossilizados pertenciam a uma espécie de alce, a qual nem sequer está representada em desenhos nas paredes. Não lhes interessava a representação da espécie mais frequentemente caçada. É prova de que as pinturas e gravuras parietais são simbólicas, ou seja, de que possuem significados associados a forças e energias. As representações revestiam formas animais, através das quais os xamãs entravam em contacto com as tais forças e energias dos universos paralelos.

A Europa, no período que vai de 150 mil a 50 mil anos, anterior à vinda do Homo sapiens, era uma vasta extensão muito escassamente povoada por neandertais, uma subespécie diferente da nossa. Aliás, Homo neanderthalensis tem sido descrito como Homo sapiens, sub-espécie neanderthalensis, por alguns paleoantropólogos. Em todo o vasto território da Europa, desde a Rússia até à Ibéria, encontraram-se vestígios de neandertais

Note-se que as condições em que evolui a ciência paleoantropológica não são independentes das condições sociais, culturais e ideológicas em que as descobertas foram feitas e interpretadas. Temos uma ilustração disso, na visão do século XIX, do homem de Neandertal (11) próximo dos símios, bruto e estúpido. Esta visão, totalmente fantasista, tem persistido no imaginário popular, por mais obras de divulgação científica que sejam publicadas, negando a «bestialidade» dos neandertais. Pelo menos, o mundo científico vê esta espécie como muito semelhante à nossa, capaz de produção simbólica, abstrata: Uma espécie humana, no sentido lato. Com efeito, reconheceu-se, nos últimos decénios, a existência de arte parietal, de esculturas e de adornos (arte corporal) atribuídos aos neandertais, em sítios cuja datação é anterior à chegada dos sapiens a essas partes da Europa.

Compreender a arte paleolítica sem as nossas projeções

Uma compreensão sofisticada e uma leitura inequívoca das obras deixadas pelos sapiens e pelos neandertais, será impossível. Penso que tal nunca poderá acontecer, pelo menos de uma forma cabal, pois implicaria um grau de conhecimento aprofundado, impossível de se alcançar, das sociedades do paleolítico. Estamos a falar, na Europa, de um período desde há 60 mil anos, ou mais atrás, até cerca de 12 mil anos, em relação ao presente. Compreender as formas de expressão artística desse longo período, equivaleria a compreender o essencial sobre a organização social e religião ou cosmovisão, do homem paleolítico. Porque a arte, ou aquilo que nós designamos como tal, é uma forma de expressão, de linguagem, que - como todas as linguagens - tem as suas regras: Existem uma gramática e uma semântica, nas gravuras rupestres, associadas à cosmovisão do homem paleolítico (2). Para os que faziam parte dessa cultura, as gravuras eram inteligíveis, tal como para nós o são, os monumentos e a arte da nossa cultura.

Se me parece impossível fazer uma reconstituição, em pormenor, dessas sociedades do paleolítico, já não me parece tão inapropriado tentar compreender, em traços muito gerais, as condições de produção destas obras. Nós, hoje, ficamos espantados com a mestria, o olhar certeiro, a elegância das curvas de contorno, nos desenhos, gravuras, pinturas, baixos-relevos e esculturas. Porém, passada a fase de maravilhamento, devemos nos perguntar: Porque fizeram eles essas obras? Que papel desempenhavam tais obras? Como se inseriam nos dispositivos simbólicos desses grupos? Que tipo de religião ou de espiritualidade seria a sua? 

O que impulsionou o homem do paleolítico a produzir «arte»?

Daqui por diante, irei fazer uma reflexão mais filosófica, o que não implica renunciar ao rigor científico, mas antes situar-me num plano diferente de discussão. 

Esta segunda parte tem como eixo as interrogações seguintes:  Afinal o que ensina a arte paleolítica sobre nós, homens contemporâneos? Será que aprendemos algo sobre nós próprios? Como podemos ter um olhar não eivado preconceitos, sobre essa época "primordial"? O que é ser humano? O que é a criação artística?

 Alguém que se debruce sobre os vestígios dos muitos milhares de anos (milhões, até) anteriores aos períodos do que consideramos arte paleolítica (cerca de 60 000 a 12 000 anos, antes do presente), encontra indícios de que os humanos dessas épocas, adornavam o corpo. Temos como evidências, o ocre e outros pigmentos, as conchas perfuradas, as marcas intencionais em pedras ou ossos. Quanto maior distância no tempo, menores evidências haverá de tais vestígios, pela sua raridade e pelos efeitos do tempo nos mesmos.  

Mas, pode-se colocar a hipótese de que as formas arcaicas da humanidade já tinham expressões de significado simbólico (4),  que traduziam em forma pictórica ou «ideogramática», pois toda a evolução se faz em sociedade, em grupo e as formas de comunicação, de intercâmbio, entre elementos do grupo são fundamentais para sua subsistência. A coesão dentro do grupo é fortalecida por tradições comuns, narrativas míticas, cosmovisão (para não usar a palavra religião, cujo significado é demasiado estreito para este contexto). A linguagem era, certamente, capaz de exprimir um projeto, uma intenção, ou de descrever algo, presenciado apenas pelo locutor, mas não pelos ouvintes. 

O simbólico, a representação, traduzem-se naquilo que reconhecemos, hoje, como «arte». 

Creio na possibilidade de existência de pensamento simbólico, a partir do Homo habilis ou do Homo erectus. Não consigo imaginar que tenha existido (como existiu!) uma perpetuação de técnicas de fabrico dos instrumentos de pedra, das indústrias líticas, que implicam uma transmissão precisa de saber técnico, sem que houvesse também uma transmissão simbólica. 

A perpetuação oral da cultura, do saber técnico e dos mitos, tem de ter existido no Paleolítico, embora seja impossível reconstituir a sua estrutura e conteúdo concretos. Esta transmissão - material e imaterial - é observada e estudada por antropólogos, nas sociedades de caçadores-recolectores contemporâneas. Embora seja arriscado fazer paralelos, qualquer sociedade onde sejam perpetuadas tradições técnicas, de geração em geração, também deverá ter mecanismos de perpetuação, pelo menos tão eficazes, para sua cultura imaterial, que são a língua, os ciclos de lendas, as crenças e arte. Note-se que a expressão artística dessas culturas se encontra, muitas vezes, em suportes perecíveis. Por exemplo, se os antropólogos não tivessem estudado as culturas da Amazônia, bem pouco subsistiria da sua cultura artística material, pois ela compõe-se de artefactos, quase todos confecionados com materiais frágeis e rapidamente perecíveis  (cordas de fibras, madeiras, penas de aves, etc.).  

Há cerca de 3 anos (em Dez. de 2018) foi divulgada a descoberta de um painel de pinturas rupestres, datadas com segurança do paleolítico, numa ilha que é hoje da Indonésia, em Sulawesi: esta arte é muito estilizada e contém a representação de uma fauna muito diversificada. No mesmo grupo de grutas, foi descoberta a mais antiga representação humana  (6) até hoje conhecida (isto pode mudar com novas descobertas, claro).

                         Figura 11: cabra selvagem e figuras humanoídes (Sulawesi, mais de 40 mil anos)

O papel das representações humanas e animais

As representações humanas são raras na arte parietal paleolítica. No período neolítico, pelo contrário, existem numerosos exemplos de figuras humanas.

Talvez tenha existido um tabu nos tempos mais recuados, em relação à representação humana. O certo, é que as poucas representações que se conhecem, com mais de 25 mil anos, frequentemente apresentam a figura humana fundida com a de certos animais


                                                    Fig. 12: Homem-leão, estatueta da idade do gelo

Como o homem-leão, estatueta encontrada na Alemanha, dum homem com corpo humano e cabeça de leão; ou de homem com cabeça de ave e sexo em ereção, numa gravura rupestre em Lascaux; ou, doutras figuras paleolíticas mais recentemente descobertas, como as de Sulawesi, que também apresentam um caráter de homem-animal. 

Estas raras representações, poderiam representar a transformação experimentada pelo xamã, que entra no corpo e no espírito dum animal, que pode ser o animal totémico do clã, ou outro, e que faz a viagem assim transformado, ao universo dos espíritos. Esta descrição de viagem, baseia-se em relatos de xamãs contemporâneos, de locais do planeta onde ainda é praticado o xamanismo. O que, muitas vezes, nos é descrito como sendo «cenas de caça» poderiam, mais provavelmente, ser cenas do encontro do xamã com os espíritos animais, nesse universo paralelo. Lembremo-nos de que as representações animais são símbolos de forças universais, tais como os princípios masculino e feminino (André Leroy-Gourhan). 

Note-se que o xamanismo implica que o xamã ou mediador entre mundos (6), fique num estado de transe. Os resultados tangíveis desses transes podem estar gravados na rocha. 

                                               

                                             Fig. 13: Impressões de mãos desenhando figura animal (grota Chauvet)

Uma das figuras mais intrigantes da célebre gruta Chauvet é aqui acima reproduzida. Na foto (fig.13), vemos pontuações, feitas por impressão de mãos, desenhando uma figura animal. Esta figura zoomorfa, crê-se seja de um rinoceronte: os rinocerontes lanígeros, tal como os mamutes, faziam parte da fauna da Europa, nessa época. O que tem de particular esta representação, é ser feita por calques de mãos. Talvez tenha sido delineado, previamente, o contorno do animal e depois tenha desaparecido, ou talvez não. Note-se que - na mesma gruta, noutros locais - rinocerontes e outros animais, são desenhados, com grande requinte e pormenor, portanto, com domínio das técnicas. Provavelmente, o que vemos não é uma maneira fruste de representar um animal, mas o resultado duma cerimónia encantatória. 

Muitos especialistas têm notado que os animais estão, muitas vezes, como que a sair das fendas nas rochas. Segundo Jean Clottes, eles representam as aparições, como mensageiros do(s) outro(s) mundo(s), invocados pelo xamã. Eles estão no mundo indistinto, no mundo das trevas, no mundo obscuro e denso da matéria bruta. Segundo Clottes, estas figuras significariam que os espíritos animais se esgueiram para fora desse(s) outro(s) mundo, para o nosso, através das fendas. 
As visões e alucinações são frequentes, em grutas, quando o teor de oxigénio no ar se reduz*, pelo que o cérebro recebe menos oxigénio. A diminuição temporária de oxigénio induz o estado de transe ou de hipnose, que experimentariam as pessoas nesses rituais iniciáticos, sempre efetuados à luz de tochas e lamparinas (que consomem oxigénio e libertam CO2), nas zonas mais recônditas das cavernas.
A sensação de embriaguez decorrente, podia ser interpretada como «viagem» até esses outros mundos. Claro que isto é muito especulativo, mas nós temos conhecimento detalhado do uso frequente de alucinogénios -com efeito análogo -  nos rituais xamânicos, no presente.
Em todo o caso, tais imagens não se destinavam a ser vistas em pleno dia, eram acessíveis apenas com grande esforço. Aliás, as imagens mais interessantes das grutas, em todo o mundo, geralmente não se situam próximo da entrada. Não eram imagens «banais», as representações feitas em zonas recônditas (**). As grutas eram sítios misteriosos, onde se entrava para praticar rituais. Com efeito, não existem vestígios de fogueiras, com restos de alimentos (apenas fogueiras para iluminar as paredes das grutas), nas câmaras mais recônditas, onde se situam as mais impressionantes representações parietais.
 Os ursos das cavernas eram um perigo real: Encontrar um deles, acabado de acordar da hibernação, podia significar a morte. Obviamente, as cavernas eram locais de culto e de atividades iniciáticas, não de vivência quotidiana. O mito de que o homem primitivo «viveu nas cavernas» tem persistido no imaginário do público («o homem das cavernas»), mas não tem base científica, ou mesmo, razoabilidade. 

                                       
  Fig.14: Foz Côa, gravura de cavalo selvagem e outros animais sobrepostos

As figuras ao ar livre de Foz Côa (vale do Côa) incluem animais que então povoavam a região, como cavalos selvagens,  cabras selvagens, veados,  auroques. Também se nota aqui a sobre representação de determinados animais, enquanto outros são raros, ou estão ausentes, apesar de presentes na fauna da época, e de serem frequentemente caçados, como os javalis. Podemos estar perante animais totémicos, simbólicos do clã. Nota-se também aqui a escassez da representação humana. Infelizmente, uma representação humana, o chamado «homem de Piscos», gravura com cerca de 10 mil anos, foi vandalizada há alguns anos!

Fig.15: Homem dos Piscos (c.10 mil anos, com diagrama sobreposto)


Abundância de signos na arte parietal paleolítica

                                                               Fig.16: Signos parietais presentes em vários sítios

Os signos abstratos estão presentes em abundância, quer nas paredes de grutas, quer em locais ao ar livre e - sobretudo - em muitas peças de arte móvel. Porém, tem havido insuficiente estudo e teorização sobre eles. Talvez por estarem  dispersos e por ser muito difícil - senão impossível - saber o que representam.
 A exceção, são traçados muito esquemáticos, quase abstratos, de sexos femininos (vulvas) ou masculinos (pénis, estes muito mais raros, em relação às vulvas). Estas imagens de órgãos genitais estão isoladas, não estão inseridas numa figura. Penso que podem fornecer uma pista, embora não constituam, por si sós, uma «chave» para a simbologia paleolítica. Mas, nós compreendemos o que representam, em primeiro grau. Podemos inferir que estejam associadas a simbologias de fecundidade e/ou de forças naturais. O contexto em que se encontram, mostra claramente não serem representações de ato sexual. 

A abundância dos signos (abstratos, ou quase) é estimada em cerca de 50% das imagens, nas cerca de 400 grutas e locais paleolíticos euroasiáticos, contendo arte parietal. No entanto, as 50% de figuras reconhecíveis (em geral, animais) mobilizam muito mais as atenções. 
Este interesse porém, não deve fazer-nos esquecer que as próprias figuras animais (e humanas) são a parte mais vistosa de todo um conjunto. As marcas de mãos, em negativo ou em positivo, presentes frequentemente onde exista arte parietal, terão estado associadas a determinados rituais, afim de estabelecer contacto com o mundo dos espíritos.
É notável que as mesmas ou semelhantes imagens «hieroglíficas» ou «abstratas» sejam frequentes e apareçam nos sítios mais diversos, o que denotaria uma certa universalidade destas formas. São em número bastante limitado, essas formas. Elas podem encontrar-se à distância de milhares de quilómetros e persistirem durante dezenas de milhares de anos. 
Embora não sejam uma escrita, certas características destas formas abstratas inclinam-me a raciocinar em termos de arquétipos. Penso que estejam ligadas a um fundo comum, com a sua semiótica e com seus códigos próprios. Poderiam ser indícios da espiritualidade, da cosmovisão do homem caçador-recolector. Poderiam ter uma função de apoio visual para narrativas, ou de sinais iniciáticos ou ainda, votivos para conciliar os espíritos dos outros mundos. Com efeito, estes sinais estão muito presentes nos locais de culto que são as grutas.

Anterioridade da arte e da espiritualidade do homem paleolítico

O que carateriza a humanidade é sua relação a um mundo imaginário, ou a procura da sua relação com o cosmos. Os processos de evolução da espécie humana e de espiritualização, ou de criação artística, vão de par. É improvável (e seria bem mais difícil de imaginar!) que espécies do género  Homo, anteriores à nossa, fossem capazes de comunicação, de usar uma linguagem, de fabricar objetos em pedra (e muitos outros, mas que não subsistiram), de perpetuar uma cultura material, mas sem que existisse, em simultâneo, uma cultura imaterial, composta por ciclos de narrativas, lendas, mitologias...Todas as populações humanas hoje existentes, todos os povos presentes e passados, têm algum tipo de cultura imaterial. 
É um facto de grande importância, encontrarem-se gravuras rupestres e signos abstratos muito parecidos, na Europa do Oeste e numa ilha da Indonésia, distantes de milhares de quilómetros, ambos com mais de 40 000 anos(12), ambos sendo obra de Homo sapiens. Eram os mesmos, os humanos que saíram de África e que migraram,(10) quer para a Europa, quer para a Ásia, na mesma altura. Estes achados arqueológicos dizem-nos que, no ponto de origem - ou seja, em África - eles já possuíam a cultura que irão transportar depois, nas suas migrações, para as paredes de grutas de França e Ibéria (Europa) ou de Sulawesi (Indonésia). 
Mais recentemente, foram encontradas figuras rupestres na Colômbia (9), em local datado do final do paleolítico. Os povos iniciais do continente americano atravessaram, pela Beríngia, o estreito de Behring há talvez uns 20 mil anos. 

Isto significa que a origem da arte se situa no continente africano, pois este é também o berço das formas ancestrais de humanidade (8). Existem abundantes provas de que foram originadas no continente africano, tanto a espécie Homo sapiens, como várias outras espécies do género Homo. Houve migrações para fora de África, a mais antiga terá sido a dos Homo erectus, talvez cerca de 1,8 milhões de anos, em direção à Ásia. Quanto aos Homo neanderthalensis, estes foram originados no continente Euroasiático, a partir duma espécie, vinda de África, H. heidelbergensis, presente na Península Ibérica (Atapuerca) e noutros pontos da Europa. 

O paleolítico contrasta com o neolítico, tanto no modo de vida, como na arte

As formas e conteúdos próprios do paleolítico são claramente caracterizáveis. A arte - pictórica ou abstrata - muda, de modo radical, a partir do neolítico. 
Uma interessante apresentação de arte parietal a céu aberto, pela extensão e duração (de -24 mil anos, a cerca de -5000 anos) é o Vale do Côa. Nas gravuras mais antigas, aparecem exclusivamente como elementos figurativos animais ou  formas antropomorfas em que os elementos humanos se fundem com os de um animal. No final do paleolítico (14 a 12 mil anos) a representação da figura humana torna-se mais frequente. 
As gravuras mais recentes, já do neolítico (com 10 mil a 5 mil anos em relação ao presente), por contraste, apresentam as figuras humanas em posição «dominante» em relação aos animais. 
Tal mudança está bem patente na muito recente descoberta (7) de gravuras neolíticas (-10 mil anos em relação ao presente, ou mais recentes), nas margens do rio Ocreza, afluente do Tejo (próximo da vila de Mação). 
Este tipo de representação, dando o papel central à figura humana, significa uma mudança na religiosidade: As religiões tornam-se formais, institucionalizadas, possuindo uma casta de sacerdotes, uma hierarquia, um rei no cume, etc.
O homem modifica  a visão da sua relação ao Cosmos, à Natureza. A representação dos animais passa a segundo plano ou a ser mostrada sob forma subordinada aos humanos. Nesta época, a representação do mundo espiritual sofre uma mutação também. O mundo espiritual torna-se, a partir das sociedades agrárias arcaicas do Neolítico, o reflexo da sociedade humana, com suas hierarquias, justiça, forças soberanas, etc. 

                               Fig.17: Gravuras rupestres neolíticas, vale do Ocreza: cena com figuras humanas.     
              
Estes factos contrastam com a constância da cosmovisão paleolítica, cujos testemunhos se estendem por cerca de 30 mil anos
No entanto, não acredito em visões idílicas do paleolítico, sobretudo porque uma grande parte desse período foi numa era glaciar. As condições rudes puseram à prova os genomas humanos: Deve ter havido uma forte pressão de seleção darwiniana associada, durante grande parte deste período. Mas, embora o seu modo de vida não tenha sido fácil, os seus ossos fossilizados dão-nos a indicação de que as pessoas não sofriam - em geral - de desnutrição, duma dieta com múltiplas carências, ou de doenças epidémicas. Todas as patologias atrás referidas estão presentes em ossadas fossilizadas, a partir do neolítico (início: 12-10 mil anos). Pelo que se pode inferir do registo fóssil, as pessoas no Neolítico, viveram - por vezes - com graves carências e com doenças nutricionais. Essas fomes periódicas, malnutrição, epidemias estendem-se até hoje. Não começaram no paleolítico, mas com a revolução neolítica, com a sedentarização e a introdução da agricultura. 

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* A respiração das pessoas e a combustão  dos archotes, no espaço fechado, vão causar o aumento do CO2 e a diminuição  do O2, no ar da gruta.

** O antropólogo Jean-Loïc Le Quellec tem interpretado a arte parietal como testemunho de um mito das origens, da emergência dos animais e dos humanos do seio das profundezas. Os rituais e as pinturas associadas às grutas seriam um processo de atualizar essa criação. Pode ser que esta interpretação se baseie demasiado em lendas e mitos que ele recolheu, junto de várias culturas contemporâneas. Nunca se está a salvo de cometer anacronismos, quando nos debruçamos sobre mistérios longínquos!  
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Bibliografia

(1) Modern Humans’ Earliest Artwork and Music: New European Discoveries


(2) Langage de signes et communication graphique à la fin du Magdalénien

(3) Les secrets de la grotte de Bruniquel

(4) Paleolithic Cave Arts in Northern Spain(1) El Castillo Cave, Cantabria

(5) La Grotte de Niaux FR3 2017

(6) Earliest hunting scene in prehistoric art

(7) Mação anuncia descoberta de novas gravuras rupestres no vale do Ocreza

(8) Nouveaux regards sur les arts préhistoriques

(9) Spectacular Ice Age rock paintings found in Colombian rainforest

(10) Conferência de J-J Hublin - Le Peuplement de l'Europe

(11) Conferência de J-J Hublin - Neandertais e Denisovianos

(12) Cave Paintings - Earliest-Known Animal Cave Art

(13) The World Oldest Animal Paintings

segunda-feira, 18 de outubro de 2021

[Michael Hudson] SUPER IMPERIALISMO


Saiu uma nova edição (a 3ª), atualizada, de «Super Imperialism» de Michael Hudson, economista e professor universitário, consultor do governo chinês em assuntos económicos. 
Os entrevistadores (do site Gray Zone) têm feito um trabalho notável, de furar o muro de silêncio sobre muitos assuntos e opiniões que o Império - com a media prostituta à ordens - não gosta de ver tratados. 
Partilhe-se ou não as opiniões deste autor, o que ele diz e escreve é, muitas vezes, relevante
Considero Michael Hudson alguém com algo de novo e original a dizer. Espero poder, em breve, ler a 3ª edição da obra «Super Imperialism». 


PS1: Uma entrevista com Michael Hudson, sobre o seu livro com o podcast e a transcrição AQUI

 

MISSA ALEMÃ DE SCHUBERT D.872




 Em memória dos entes queridos que partiram e que permanecem no meu coração. Abençoados sejam! 


Uma peça arque-conhecida, muito popular na Áustria, embora inicialmente mal recebida pelas autoridades da Igreja católica. Mas, o público apoderou-se destes hinos devocionais. Na realidade, são uma coletânea de textos devocionais, e não uma missa: O seu texto afasta-se bastante do texto da missa. Mas, sobretudo, tem a qualidade da musicalidade posta ao serviço de devoção. Está ao nível doutras grandes obras sacras, como o Requiem de Mozart. 
Cada hino desta sequência tem uma estrutura muito simples, bastante fácil de memorizar, tal como os corais luteranos. Esta simplicidade, unida à perfeita harmonização, fazem destas peças joias musicais, pondo em relevo o texto*. 
Vale a pena ouvir esta «Missa» alemã de Schubert, com a máxima atenção e na íntegra!

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