Tudo o que vês
Tudo o que se passa em teu redor
Os protagonistas, os figurantes
Tudo
É um teatro
É o teatro da vida
Não é comédia, nem tragédia
Embora possa ter cenas e atos
Que se conformam mais
com uma ou com outra
A vida é para ser vista como um espetáculo
Se estás metido nesse espetáculo,
Como ator ou figurante
Tenta fazer-te espectador.
Serás capaz disso?
E se o fores, garanto-te que
Terás uma certa paz
A paz de saber que
Agradável ou não
Este espetáculo
Tem um fim
Haverá um final - um tombar da cortina
E tudo acabou!
Sim, as chatices são transitórias,
Sim, as dores, os sofrimentos
Os gostos e os desgostos
Os prazeres e as frustrações
Tudo é transitório
Alegra-te:
É assim a vida, não vale
de nada te lamentares que
ela seja como é.
Se a vires como uma imensa
peça de teatro, ao fim e ao cabo
O que lá se passa pode implicar-te
Ou não, conforme queiras jogar:
Queres ser ativo, intervir, modificar
o enredo, acrescentar o teu grão de sal?
Pois seja; terás então de te aguentar
No palco da vida; é mesmo um palco,
Não se trata de metáfora.
Estás aqui durante o tempo da peça
E nem mais um instante.
Será uma convenção chamar
«morte» ao cair do pano,
«falecimento» à sineta que incita à saída
ou à musica pomposa que acompanha
O fim do filme na tela prateada.
Tanto faz: a saída acontece sempre
Podemos dizer: «ó, tão cedo! que pena»
ou «que alívio»...
ou não dizer nada.
Como numa peça ou num filme,
devemos usufruir de cada instante,
Com a melhor disposição possível
Apreciar os volteios dos acrobatas
As cabriolas dos animais de circo
As proezas dos ilusionistas
contorcionistas,
amestradores,
hipnotistas,
palhaços
etc...
Aplaudir, ou assobiar em protesto,
Mas, sempre com a noção
De estar perante um espetáculo.
Pessoalmente, quero assim proceder.
Não ficar empolgado
Com o que passa no palco
Porque a vida real é tão mais
profunda, atravessa
aquilo que chamam «a morte»
A morte pode ser um renascer, ou ser o vazio
Aceito-a, sem hesitação
Querer fugir a este destino
Faz da vida um inferno:
Não atrasa verdadeiramente o fim
E não se gozam os mais preciosos momentos
da curta existência.
A morte não me assusta,
a morte, a minha pessoal
Não a temo, nem vejo como seja para temer
Aceito que sou mortal
Tenho ganas de viver, sim,
mas isso não me inibe que aceite
a morte, como transformação.
No Universo é impossível haver desaparecimento, aniquilação
Tudo se transforma, nada permanece