sexta-feira, 15 de janeiro de 2021

PRELÚDIO À TARDE DE UM FAUNO - MALLARMÉ - DEBUSSY - NIJINSKY

                           
Debussy inspirou-se do poema de Stephane Mallarmé, célebre poeta da segunda metade do século XIX.

 

Debussy escreveu sobre a relação entre a sua obra musical e o poema:

« A música deste prelúdio é uma ilustração do belo poema de Mallarmé. Não pretendi resumir o poema, mas antes sugerir as várias atmosferas no meio das quais se movem os desejos e os sonhos, durante essa tarde de canícula».

Estranhamente, ou talvez não, Debussy foi considerado o chefe de fila da «música francesa», contra a «música germânica». No período seguinte à derrota de Napoleão III frente ao Kaiser, em Sedan, e consequente perda de províncias francesas germanófonas, a Alsácia e a Lorena, desenvolveu-se um nacionalismo francês muito virulento, ilustrado pelo caso Dreyfus e uma acentuada deriva de extrema-direita. Mas, o que hoje em dia transparece, é que os músicos europeus dessa época - a Belle Époque - mesmo aqueles que fossem ideologicamente nacionalistas, eram estilisticamente cosmopolitas. 

A linguagem musical tornou-se, por essa altura, plenamente emancipada de tradições nacionais, por mais nacionalismo que houvesse no ar e que veio a desencadear a tragédia da Iª Guerra Mundial.

Mesmo aquilo que chamamos «escolas nacionais», no século vinte, apenas o são no sentido trivial de grupos de compositores de uma dada nacionalidade, que se influenciaram mutuamente. Mas também estes foram influenciados por muitos outros, de outras escolas, de outras nacionalidades. 

A música sempre foi internacional, na sua essência, pois apela a sentimentos profundos, mergulha nas profundezas do sub-consciente e do inconsciente, tem uma linguagem própria, embora se entrelace com a poesia para produzir as obras-primas do canto. 

No caso do «Prélude à l'Après-midi d'un Faune» a poesia entrelaça-se com a música e esta também com a dança, através da célebre companhia de Ballet de Diaghilev, num quadro coreográfico de Nijnsky

O tema e a coreografia eram muito «ousados», havia uma auréola de escândalo, mas isso não fez esmorecer o público sofisticado e «bom vivant» que acorreu ao Théatre do Chatelêt, em Paris num dia de Maio de 1912, para assistir à estreia. 

As sociedades ditas «decadentes», são afinal as mais defensoras da arte e da liberdade artística; o inverso se passa com os regimes ditos «regeneradores», em que uma produção artística, ou está em tudo conforme ao cânon estético-ideológico de quem governe, ou não terá hipótese de singrar.

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quarta-feira, 13 de janeiro de 2021

[HÉLOÏSE DE JENLIS] CLAIR DE LUNE - DEBUSSY


 Alguns historiadores da música afirmam que Debussy é o verdadeiro arauto da modernidade em música. É verdade que ele conseguiu romper com a tradição romântica, que dominou praticamente todo o século XIX. O que é característico, embora não imediatamente perceptível em muitas produções deste músico francês da viragem do século, é a sua grande afinidade pela música modal, as escalas pentatónicas, os tons gregorianos. Ele modula dentro do universo e da linguagem modais: por isso, muitas pessoas, com o ouvido exclusivamente treinado para a música tonal, as escalas maiores e menores, da música clássica e romântica, acham esta música «difícil», «entediante», ou «demasiado erudita». Mas não se trata disso; a música de Debussy deu o salto para fora de um paradigma estabelecido e proporcionou a abertura de um vasto campo, que está na origem de todo o século XX musical. 

[VANESSA MAE] LA CAMPANELLA - PAGANINI


 Esta célebre peça de Paganini - tantas vezes interpretada ao piano, na transcrição de Liszt - está para a música clássica como uma espécie de «êxito pop» que toda a gente conhece. 
Para mim, é notável a perfeita adequação estilística e técnica de Vanessa Mae, célebre, entre outras coisas por interpretar Vivaldi no violino eléctrico. 

domingo, 10 de janeiro de 2021

QUANDO OS VÂNDALOS TOMARAM DE ASSALTO O CAPITÓLIO

A contradição mais absurda e que não pode sustentar-se:

- em nome de um «anti-fascismo», estão nos EUA, a suprimir as liberdades fundamentais e identificar grupos e correntes como alvo de «legítima» discriminação/censura nos media. Em resumo, os «anti-fascistas» de hoje comportam-se como puros fascistas!  

Retirei a 2ª imagem abaixo de um artigo do célebre blog «Moon of Alabama». Vale a pena ler na íntegra «Democrats Use Capitol Incident To Suppress Political Dissent »**

....Foi no ano de 455, que os vândalos saquearam Roma e que, para o Império Romano, foi o começo do fim ... 


Vejam e comparem com a «invasão» do Capitólio de Washington, que ocorreu na semana passada...

A encenação poderia ter sido melhor preparada e executada! Já se viu «invasores», muito divertidos a posar para a fotografia???

                            

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**citando: «Não se enganem. Ambas as acções resultantes do cómico «saque» do Capitólio, a lei de Terrorismo Doméstico de Biden e a erradicação sistemática de canais para pessoas com certas opiniões, serão sobretudo usadas contra a esquerda.»

 «Quando o presidente Biden iniciar a sua primeira guerra, todo o protesto significativo contra ela será classificado como terrorismo doméstico. Todas as comunicações contra tal guerra, serão classificadas como «incitações» e banidas. Sabemos isto, porque foi sempre assim.»

NB1: Ler Caitlin Johnstone: «Patriot Act 2, Censorship, And Other Notes From The Edge Of The Narrative Matrix»

NB2: Ler Kit Knightly: «Prepare for the new “Domestic Terrorism Bill”»

NB3: Como o «pântano» venceu Trump: https://off-guardian.org/2021/01/09/sometimes-you-drain-the-swamp-sometimes-the-swamp-drains-you/

NB4: Este diagnóstico é de grande importância; só espero que as coisas sejam diferentes do que anuncia. https://www.unz.com/tsaker/the-mob-did-not-win/ 

NB5: Uma entrevista a Daniel Estulin, muito esclarecedora, a não perder: 

https://www.youtube.com/channel/UCJxANI_P2Dhyai2ZiBS_C_A

sábado, 9 de janeiro de 2021

[OBRAS DE MANUEL BANET] PERANTE A NOVA IDADE DAS TREVAS

                        
Dias estranhos vieram e parece que vão ficar. Mais dia, menos dia, as coisas mudarão, sim. Mas, entretanto, o tempo passa e nada daquilo por que ansiámos se realiza. 

Estamos metidos num túnel do tempo. Não podemos virar para um ou outro lado, não podemos recuar, só podemos avançar e não existe luz ao fundo do túnel. 

Acham exagerada esta perspectiva? 
-Eu também a achei; eu também refreei o pessimismo, tentei ver as coisas com olhos mais tranquilos... tentei e não consegui. 

Agora, só espero que as pessoas saibam, por instinto, conservar a sua humanidade fundamental. Pois não se trata de menos, para mim, que uma luta gigantesca entre a civilização verdadeira e as trevas. Deixámos que as trevas se alongassem demasiado. Fomos condescendentes com os nossos pequenos pecados, de homens e mulheres vivendo nesta era super-sofisticada, nesta era de automatização, digitalização e de isolamento egocêntrico. 
Pior; adorámos deuses de pacotilha, os nossos brinquedos de tecnologia, julgando com desprezo tudo o resto. Não desprezámos apenas os que não tinham acesso a tais «maravilhas», como desprezámos toda a herança cultural que os povos e culturas transportam, absortos e viciados na sofreguidão do prazer instantâneo, da ilusão de saber, potência, conhecimento, sabedoria... 

O que melhor nos caracteriza é a impotência. A incapacidade em nos auto-governarmos, uma incapacidade que seria desculpável em crianças inexperientes, mas que ocorre em adultos e adultos muitas vezes caprichosos, embriagados de poder e honrarias. 

No fundo, a humanidade está a encaminhar-se para o longo período das trevas, de livre vontade, pois várias são as vozes cheias de bom-senso que têm vindo a avisá-la. Estas vozes, de vários quadrantes espirituais, de várias escolas de pensamento, são a consciência da humanidade, mas pouco ou nada contam nas circunstâncias presentes.
  
Pelo contrário, a saturação de informação, vai relativizar tudo. Será necessário muito saber, sabedoria e coragem para destrinçar - num universo de falsas notícias e de pseudo-notícias - quais são as relevantes. Tornou-se impossível o cidadão comum efectuar esta triagem de informação. 

No entanto, os que o fazem para nos fornecer informação, extensa ou resumida, não são neutrais, não são pessoas desejosas de comunicar a verdade; por outras palavras, não são repórteres ou jornalistas honestos, são propagandistas disfarçados de profissionais de informação.

Então, falando em relação a mim próprio e aos ideais que transporto: 
- Que esta idade das trevas seja vista como parecida, em vários aspectos, à que fez a ponte entre a antiguidade e a idade moderna, da queda do império de Roma, ao Renascimento.  Nessa altura, os restos da civilização greco-romana foram salvos da aniquilação por um pequeno número de eruditos, tanto cristãos, como muçulmanos ou judeus. Eles salvaram preciosos manuscritos, textos de ciência, literatura, filosofia, religião, dos séculos passados. 

Os monges medievais passaram - de geração em geração - este legado, copiando manuscritos que, de outro modo, seriam perdidos para todo o sempre. Para mim, foram tão «heróis», como os humanistas do Renascimento, que se encarregaram de devolver à luz esses escritos, os traduziram, os comentaram, e construíram uma nova cultura sobre as bases da antiguidade clássica. 

Estou lendo agora o D. Quixote na versão integral, em tradução de Aquilino Ribeiro. 
Sinto que é importante nos apropriarmos novamente das obras clássicas da nossa cultura.  Pois ela nos enriquece para além das nossas próprias expectativas mais optimistas. Saberão alguns que me lêem o que é essa sensação estranha e deliciosa, como se estivéssemos em colóquio íntimo com esses mestres do passado.

Não posso dar conselhos a ninguém, só a mim próprio: Serei como os monges medievais, guardando uma espiritualidade, uma cultura e um saber, o melhor que puder, divulgando-os com o mesmo carinho com que as gerações anteriores se dedicaram a fazê-lo. Estou a fazer o meu dever, apenas, a restituir aquilo que recebi, o legado ou herança imaterial que molda verdadeiramente as nossas vidas em sociedade. 

Quem não quiser ser triturado por robots ditos de Inteligência Artificial, que faça o que há de mais humano: reflicta, pense, emocione-se, exprima os sentimentos e as reflexões, comunique com os seus semelhantes, homens e mulheres de igual inclinação, dialogue por todos os meios com outras almas que sejam também sensíveis, curiosas, desejosas de fazer o bem. 

Se conseguirmos manter esta corrente, nas várias sociedades, culturas e etnias que compõem o «puzzle» humano, outros poderão, mais tarde, retomar o fio da humanidade e comporão as obras de um novo Renascimento.

                             
O nocturno em Dó menor Op.48, nº1 de Chopin, aqui interpretado por François Chaplin, parece-me adequado para exprimir a solenidade e serenidade do momento. Nada como uma música de beleza transcendental, para nos ajudar a encarar a realidade do que estamos a viver. Se os momentos que presenciamos são históricos, épicos, 
únicos... então a música de Chopin, em geral, é apropriada. Apesar de ser em tom menor, esta peça tem uma energia cheia de esperança, acho mesmo que se eleva, e a nós com ela, para um plano superior.

sexta-feira, 8 de janeiro de 2021

E ASSIM A OLIGARQUIA VENCEU POR «KO» A DEMOCRACIA

                     
A crise de 2007-2008 foi apenas o borbulhar de uma acumulação de capital fictício, de capital levantado a partir de operações com derivados, os tais produtos financeiros (contratos de futuros, etc) transpostos,  ou copiados dos mercados de matérias-primas (principalmente agrícolas, para assegurar um rendimento das colheitas, etc.). Afinal, foi a financiarização que permitiu que hipotecas «sub-prime» se vendessem «por atacado», nos diversos mercados mundiais, como se fossem investimentos seguros...

A resposta ao colapso, consistiu em injectar somas colossais nos bancos ditos sistémicos, para evitar que a queda do Lehman Brothers viesse a arrastar consigo a queda dos outros bancos e instituições financeiras. Foi uma medida de emergência, que o governo dos EUA e a FED decidiram no momento. Mas essa emergência foi prolongada por sucessivas compras de «activos tóxicos» aos ditos bancos, pela FED. Logo as economias mais desenvolvidas e respectivos bancos centrais - Banco central do  Japão, o ECB, o Bank of England, etc... - faziam o mesmo. A massa monetária foi-se multiplicando, sem que houvesse a recuperação económica vigorosa, como era desejada.

No intervalo de tempo de 2009 a 2018, os grandes grupos financeiros, os fundos de investimento, etc... foram comprando os activos financeiros - acções, obrigações, derivados - nos mercados, a tal ponto que a inflação nestes produtos se tornou muito notória: Por exemplo, subiam cotações bolsistas de empresas que não tinham lucro e estavam com uma montanha de dívidas. Os juros das obrigações soberanas de Portugal atingiram valores de mercado baixíssimos, semelhantes às dos EUA, depois de terem estado com juros acima dos 10% em 2012 - 2013, numa severa crise da dívida soberana. Esta fora causada por sobre-endividamento por parte do governo e seguida por especulação contra estes títulos da dívida. Mas o ECB passou a comprar a dívida de todos os países do euro, enchendo assim a sua folha de activos; os juros, tanto mais baixos quanto mais as cotações sobem nas obrigações, foram descendo. O efeito perverso, é que em países com desequilíbrio crónico da balança de pagamentos, pouco ou nenhum esforço se fez para equilibrar as suas contas.

Em Dezembro de 2018, as bolsas sofreram um «crach», completamente inesperado para muitos investidores. A razão deste foi a política da FED, de «re-normalizar» os juros, levada a cabo com subidas muito graduais, ao longo do ano anterior e outras anunciadas. Perante este crach, a FED teve logo de anunciar uma inversão da política. A partir deste ponto, era claro que o sistema financeiro e os bancos centrais que - de certo modo - tentavam regulá-lo, estavam metidos num ciclo infernal: 

- Se parassem a injecção permanente de dinheiro e deixassem de manter o custo dos empréstimos (os juros) em valores baixíssimos, desencadeavam uma crise financeira, que se poderia avolumar e transformar em depressão económica;

- Se continuassem com esta política de oferecer «dinheiro gratuito» aos grandes actores financeiros, estavam a desbaratar a confiança nas divisas fiat (dólar, euro, etc) e corriam o risco de que a inflação saísse do universo dos activos financeiros, para os produtos de consumo e se tornasse hiper-inflação.  Diga-se que os governos quase sempre preferem inflacionar a divisa, a fazer «default». Em ambos os casos falham as suas obrigações de pagamento, mas no primeiro caso não têm de o confessar. 

Assim se chega a Setembro de 2019, em que os bancos, nos EUA, começam a não emprestar uns aos outros, tal como aconteceu no desencadear da crise de 2008, nas operações de empréstimo de curta duração. O facto de não emprestarem facilmente traduziu-se na subida dos juros, que passaram para mais de 10%, quando o normal era da ordem de 2-3 % . A FED teve de injectar neste mercado «REPO» somas de biliões semanalmente. Esta intervenção foi anunciada como de curto prazo, um mês ou dois. Mas, apesar de haver dito que este expediente seria de curta duração, a FED continuou até ao fim do ano e para além deste, a injectar somas colossais, o que fez muitos observadores considerar que a FED estava discretamente a intensificar o «quantative easing» (impressão monetária, na realidade). 

Veio a crise dita do COVID, no primeiro trimestre de 2020. Antes disso, o grande capital mais por dentro das realidades financeiras, começou a vender activos, principalmente acções cotadas e aumentando os activos de baixo risco, como obrigações do Tesouro (treasuries), imobiliário, metais  (ouro e prata)... Nas bolsas, o que desencadeou pânico em Março, foi o facto de a FED não conseguir obter uma significativa baixa dos juros, apesar de ter injectado uma quantia elevada no mercado. Teve de voltar à carga poucos dias depois para conseguir estabilizar, um pouco, os mercados obrigacionistas. 

De então para cá, o sistema está em roda livre, pois os bancos centrais, em uníssono, puseram-se a verter grandes quantidades de divisas, sem qualquer suporte na economia real, criando ou ampliando bolhas para todos os activos financeiros existentes. Um mercado não financeiro, o imobiliário, continuará durante algum tempo artificialmente cotado, mas sua descida será muito rápida. Aliás, já começou: o sector comercial e o sector dos apartamentos de luxo estão ambos em colapso ou, pelo menos, estão paralisados. Quanto aos mercados do ouro e da prata, valores refúgio com especial apelo nos países da Ásia (China, Índia, etc.), têm subido acentuadamente (crescimento do preço do ouro de 25% num ano, quando cotado em dólares), apesar dos esquemas de supressão, envolvendo contratos de futuros - emitidos fraudulentamente mas impunemente - por grandes bancos, que agem por conta dos governos e bancos centrais ocidentais. 

Se, tudo o que os bancos centrais e governos encontram como «solução» mágica, são as divisas digitais centralmente emitidas, ou seja, uma digitalização total e forçada do dinheiro em circulação, nada de essencial será resolvido. A desconfiança do público não vai dissipar-se: muitas pessoas vão constatar que sua situação objectiva continua a piorar. Apenas os bancos serão beneficiários da captura e retenção de pequenas somas nos seus cofres, quando o público já não puder transaccionar em papel-moeda.

No entretanto, as pequenas e médias empresas de todo o mundo ocidental estão em grave risco. A crise de desemprego vai ser enorme, pois elas empregam cerca de 70% da força de trabalho por conta de outrem, em Portugal e noutros países europeus (os outros 30% são funcionários públicos e de grandes empresas).

Não haverá possibilidade de reabsorver esta massa enorme de trabalhadores. Por isso mesmo, a «elite» (oligarquia) tem apontado como «solução» o rendimento mínimo incondicional (RMI), ou seja, as pessoas, quer tenham ou não emprego, receberão uma soma - por ex.: 500 € - a qual lhes permitiria suprir as necessidades básicas. Mesmo antes que venha uma crise de hiperinflação, uma inflação mais elevada é suficiente para tornar essa «esmola social» completamente insuficiente para sustentar as pessoas. 

A classe dos ricos não tem nenhuma intenção de se desapossar dos seus excedentes. Ela está a congeminar a «solução» seguinte, apresentada por Klaus Schwab e os oligarcas que se reúnem no Fórum Económico Mundial de Davos (este ano tendo sido deslocado e adiado, para Singapura, em Junho...): 

- A sociedade de «participantes» ou «stakeholder society» mais não é do que uma espécie de feudalismo, adaptado ao século XXI. O grosso das pessoas não poderá senão alugar, não serão proprietárias de nada... Não serão proprietárias da sua habitação, apenas inquilinas, terão de arrendar veículos, instrumentos de trabalho, etc. Terão de constituir micro-empresas, onde trabalharão e farão trabalhar seus familiares, por vezes, com rendimento demasiado baixo, que o rendimento mínimo iria suprir.    

Mas, este «sonho molhado» da oligarquia que nos explora, só pode ser eficaz se houver colaboração activa dos agentes do Estado, os governos, as polícias, os tribunais, etc. Não se verá -pós-pandemia de COVID - um renovo da liberdade, nem da participação cidadã na vida política: pelo contrário, haverá sempre algum «vírus», ou «terrorista» para «justificar» estados de excepção, que se tornarão a norma, enquanto as constituições serão mantidas... isto é, mantidas penduradas nas paredes, para decoração!

O que é confrangedor observar é a entusiástica adesão a aspectos parciais deste plano macabro, plano esse que é completamente público, uma «conspiração a céu aberto», por parte de grupos tradicionalmente defensores dos direitos dos cidadãos, como os partidos de esquerda, os sindicatos, os intelectuais, os universitários, os artistas, os jornalistas... 

- Num primeiro momento, ficaram siderados com a resposta, vinda de cima, dos governos, à pandemia. Depois, ficaram tomados de psicose de pânico alguns; outros, perceberam confusamente que tinham dado o aval à maior tomada de poder deste século, ao maior golpe contra a liberdade. Mas não tinham receio em relação ao seu nível de vida pessoal, em relação às suas pessoas físicas e dos seus familiares, desde que ficassem quietinhos ...E assim, a oligarquia venceu por «KO» a democracia. 

Os que estão suficientemente longe do poder para compreender a gravidade do que se passa, estão a reagir, mas são demasiado destituídos de meios, face a cartéis bem organizados, instituídos e financiados. Muitas pessoas irão acordar, para o tarde, numa altura em que será difícil fazer algo, sem correr sérios riscos.


PS1 (08/01/2021): Depois de ter escrito este artigo, veio-me à notícia a estranha circunstância da «invasão» do Capitólio em Washington. 

Segundo a análise de Paul Craig Roberts, o Estado Profundo  tem feito uma luta incessante contra Trump, desde o momento da sua eleição há quatro anos, até agora. Também defende a tese de que o Establishment quer vingar-se de Trump e fazê-lo de um modo tal que este não possa vir a liderar um movimento/partido alternativo/populista. 

A obsessão censória de algumas figuras, querendo perseguir tudo o que seja «trumpista» com um zelo semelhante ao da Inquisição e do McCarthyism, mostram que já não existe laivo de democracia liberal nos EUA: Esta faliu, com os golpes sucessivos e mortíferos, vindos tanto do lado do Partido Republicano, como do Democrata. 

A época que se avizinha, no chamado Ocidente, é sombria...