Os
portugueses e os europeus em geral estão sendo propositadamente mantidos no
escuro no que toca à gravidade da crise do Euro e da economia.
Com o provável
rebentamento de uma crise muito pior que a de 2008, já no horizonte próximo de
2017, a maior parte das pessoas vão ficar completamente arrasadas, com uma
parte muito substancial das suas poupanças destruídas, ou o poder de compra de
seus salários ou pensões grandemente reduzido.
Um
fator que torna a situação mais confusa é a total rendição de uma parte da esquerda,
incluindo a que se gosta de afirmar como «anticapitalista» a teses neokeynesianas,
as quais decretam que, em situações de recessão, a produção de grandes
quantidades de dinheiro (QE = «quantative easing») vai estimular a economia e
criar o efeito de inflação benéfico para os mercados.
Estas afirmações são
absurdas em si mesmas: a verdadeira estimulação da economia tem de ser feita
propiciando a construção de infraestruturas e de estímulos ao consumo, como
defendeu Keynes aliás, não com a deliberada destruição do valor do dinheiro
como pretendem os neokeynesianos.
A diluição do valor do dinheiro e a tentativa
de fazer disparar a inflação não apenas são ineficazes enquanto «estímulo» da
economia, têm exatamente o efeito oposto. Isto é simples de ver, pois a
diluição do valor do dinheiro, conjugada com a impossibilidade de manter
rendimento significativo com as formas tradicionais de aforro, inevitavelmente
vai trazer um aumento do capital mal aplicado, seja em ações ou obrigações, ativos
financeiros muito hipervalorizados: quando ocorre uma correção (o que acaba
sempre por acontecer) há uma perda brutal de capital para os investidores
individuais, mas também para os investidores institucionais, tais como fundos
de pensões.
Isto significa que a insistência no «QE» por parte do banco central
europeu (BCE) faz exatamente o contrário do que pretende remediar. Agrava a
carência de capital, desvia somas colossais para a especulação e acaba por
estimular - não a economia - mas a destruição de capital, subsequente de
decisões de investimento equivocadas ou aventureiras.
O
conjunto das pessoas parece ignorar que estão a segurar na sua mão algo que - de
dia para dia - perde valor. Quando o valor de uma moeda é diluído, por aumento
constante das unidades dessa moeda em circulação sem uma destruição equivalente
como contrapartida, isso vai inevitavelmente diminuir o poder de compra da
mesma, chama-se inflação monetária.
Esta inflação monetária vai transformar-se
em qualquer momento em inflação nos preços, pois não existe nenhum mecanismo
que possa prevenir que – num momento ou noutro – os detentores de grandes
quantidades dessa moeda decidam coloca-la na economia «real», adquirindo bens,
etc. A quantidade de capital mantido em espera de investimento pelos grandes
bancos, não trouxe ainda um efeito na economia real, pois eles não arriscam
empresta-lo para atividades económicas, preferem guardá-lo nas suas próprias
contas do BCE, auferindo um juro muito baixo, mas sem risco e assim também
retendo a sua solvabilidade e compensando para eventuais perdas nos setores
mais especulativos, como seja o mercado de derivados onde estão todos
mergulhados até ao pescoço.
Como as operações com derivativos não estão
sujeitas às regras de contabilidade bancárias das outras operações, não se pode
– de facto – saber ao certo quantas «apostas» nos mercados de derivados tal
ou tal banco ou outra entidade fez. Pode-se apenas fazer uma estimativa.
Todo
este processo parece um enorme ciclo de Ponzi, onde as «garantias» de
solvabilidade dos bancos são «garantidas» por papel-moeda que está cada vez
mais diluído.
Os detentores de poupanças e os detentores de dívida (pública ou
privada) são os grandes castigados, pois detêm algo que se vai desvalorizando
mais e mais.
Os sistemas públicos de pensões são largamente utilizadores de
veículos financeiros que estão constantemente a perder rendibilidade; não há
dúvida que isso corresponde a parte do problema da «sustentabilidade» do
sistema de pensões, parte esta que poucas vezes se vê descrita; é um
agravamento substancial ao problema demográfico, mas que é passado sob
silêncio.
A
crise do euro mantém-se desde há mais de seis anos, pelo menos (apareceu em toda a sua
extensão com a crise grega), e não vai ser «curada» por nenhuma medida das que
o BCE ou os governos têm estado a seguir.
Infelizmente, serão os pobres a sofrer
as consequências de uma aceleração da inflação. Desejar um aumento da inflação
para 2% e pensar que se pode manter esse número «mágico» é como desejar que as
pessoas percam «só um pouco» confiança na moeda, mas sabemos que uma perda parcial
de confiança pode ampliar-se até uma rejeição total da moeda ou uma destruição
total da confiança, como na hiperinflação em curso na
Venezuela ou nos exemplos históricos.
Não existe nenhum caso de inflação
deliberada e controlada a contrapor aos múltiplos exemplos de inflação fora de
controlo, quando as autoridades monetárias e governamentais se põem a «brincar»
com a moeda! É uma história que - desde os romanos do final do império, até à Alemanha de 1923, ao Zimbabué, etc. - acaba sempre mal!
Os
banqueiros centrais estão a brincar com o fogo, sabem-no, mas não se importam,
porque assim mantêm a falsa coesão de um sistema, o sistema da moeda única, que
foi mal concebido e pior implementado.
A
análise da crise do Euro e da eurolândia por «opinadores» que escrevem nos
jornais e em blogues, incorre muitas vezes no erro de tomar por válidos os
mitos das teorias económicas em voga, neokeynesianas e outras, o que mostra até
que ponto estão – de facto – dentro do paradigma neoliberal.
A consequência, é
que o público, em vez de alertado para os problemas reais, está na ilusão de
falsas panaceias, caminhando de olhos fechados para o colapso.
Chego
à conclusão de que, aquando da avalanche e colapso do sistema financeiro,
praticamente ninguém estará preparado. A opinião pública foi intencionalmente
distraída das questões e dos factos.
A
quem aproveita o crime?