[SE OS SONHOS INFESTAM A MINHA VIDA, É PRECISO DAR ESPAÇO AOS SONHOS, SE UMA MELODIA ME ENCHE A ALMA, É PRECISO QUE ELA SAIA, RESPIRE]
Eu dei-me a sonhar a melodia desta
célebre peça. Ela estava presente no interior do meu sonho, desempenhava
um papel... Mas qual?
Tinha um timbre familiar e antigo,
este piano, cujas notas percutiam no interior da minha cabeça.
Não posso fazer mais do que
conjeturas sobre o que sonhei: talvez um encontro à beira do lago Balaton? Um
passeio pelas dunas de Deauville? Uma tarde soalheira à sombra duma latada em
Colares?
Não sei; não posso senão fantasiar.
Qualquer coisa como o reencontrar de uma paisagem, que se escondia na minha
memória, como de outra vida se tratasse... Há tanto tempo já!
Porém, os sentimentos de nostalgia e
de tristeza mesmo, não me pareciam assim tão insuportáveis; gostava de
vaguear por esses espaços meio reais, meio sonhados.
Tudo se prendia com afetos, com
ausências, com romances para sempre insatisfeitos. Assim
como conversas bruscamente truncadas, que nunca mais terão a sua continuidade.
Assim é a nossa vida, uma sucessão
de momentos, alguns de espanto, muitos de enfado. Assim nós seremos um dia, somente recordação saudosa de outras eras.
Depois... Bem, depois é... um outro
começar, outra vida que desponta e vem encher outro peito, outra
cabeça, de inúmeros sentimentos e pensamentos...
Perdoa-me, estou cometendo o crime de
lesa-música, ao reduzir algo tão sublime a sensações pessoais. Pessoalíssimas.
Mas este escrito destina-se apenas a exorcizar uma obstinada reverberação do
espírito.