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terça-feira, 2 de fevereiro de 2021

NÃO HÁ COBERTURA DOS DISCURSOS DE PUTIN E XI JIN PIN EM DAVOS

 


No Ocidente, continuam os órgãos de comunicação social a  fazer o papel dos poderes, que preferem o black-out informativo, a realmente entrarem a contestar ou criticar aquilo com que não concordam. É evidente pelo conteúdo do discurso de Putin no fórum de Davos (em versão virtual), que este será um marco importante, que irá determinar não apenas a posição oficial russa, como também será um claro desafio aos partidários do imperialismo, neo-liberais, globalistas e toda a casta militarista altantista. 

Mas, eles preferem que os servos dos países ocidentais não tenham senão uma forma abreviada e muito edulcorada, das palavras fortes do presidente da Federação Russa. 

Mas, isto mostra somente a ausência de argumentos, mostra a ausência de razão, por parte dos atlantistas, não mostra absolutamente mais nada.   

Não teria conhecimento do importante discurso de Putin, se não fosse Pepe Escobar*, um jornalista brasileiro noticiando sobre as novas rotas da seda a partir da Tailândia, com largos anos como repórter no extremo-oriente. 

Goste-se ou não do presidente da Federação Russa, goste-se ou não das teses que defende, é absolutamente confrangedor verificar que estamos metidos numa redoma informativa (no Ocidente) e que não podemos confiar nos órgãos da media corporativa, pois eles se submetem sem limites ao mandamento do seu dono, o grande capital monopolista que os controla.

*O artigo em causa (clicar para aceder): XI and Putin Make the Case for Win-Win vs. Zero-Sum


PS1: Oiça o podcast do South China Morning Post sobre o discurso de Xi Jin Pin em Davos:

https://www.scmp.com/podcasts/china-geopolitics/3119767/xi-jinping-davos-and-global-reaction-analysing-china-eu

sábado, 22 de agosto de 2020

ESTRATÉGIA NAVAL AMERICANA NOS MARES DO SUL DA CHINA E RESPOSTA DE PEQUIM

               

Tem-se utilizado muito frequentemente o conceito de «armadilha de Tucídides» (Thucydides Trap) para descrever o deslizar do conflito entre os EUA e a República Popular da China do campo meramente comercial (embora as sanções unilaterais impostas pelos EUA sejam já uma forma de guerra, reconhecida como tal pela ONU) para o campo estritamente militar. O confronto armado ainda não ocorreu, mas as provocações - neste caso, é preciso reconhecê-lo, exclusivamente do lado dos americanos - têm-se multiplicado, usando a administração de Washington a «liberdade de circulação nos mares» como pretexto falacioso para fazer constantes provocações no Mar do Sul da China. Como eu referia num artigo anterior, nem sequer o pretexto de auxiliar os vizinhos da China, que teriam razões de queixa na disputa das águas territoriais entre eles e o gigante asiático, pode ser dado como razão válida. Com efeito, a constante ameaça no mar que é chinês, ou que está na directa esfera de influência de Pequim, jamais poderá desencadear da parte chinesa outra coisa, senão o reforço das defesas e o aumento da militarização na zona, não apenas por uma questão de patriotismo, ou de posição de princípio mas, sobretudo, pela muito real ameaça militar directa que a armada dos EUA coloca, em exibições de força ao longo das costas chinesas.

Porém, o termo de armadilha de Tucídides aplicar-se-ia mais apropriadamente, se a atitude de constante provocação fosse daquele dos dois países que ainda seja o mais fraco, contra o mais forte: Se a China tivesse exactamente o comportamento que estamos a observar da parte dos EUA, desde há alguns anos. 

A questão dos termos e sua adequação para descrever fenómenos com milhares de anos de intervalo (lembremos que Tucídides reflectiu sobre a ascensão de Esparta, perante a potência dominante que era Atenas, então) é sempre imprecisa, pois se trata do domínio da analogia.

Porém, para muitos observadores, o poderio dos EUA já não é realmente o nº 1 mundial. O poderio económico desapareceu; é um país extremamente carenciado, na sua estrutura produtiva. Isso deveu-se à estratégia dos muito poderosos oligopólios (que governam a política nos EUA), de exportação das manufacturas e capacidade produtiva americana para países do Terceiro Mundo. Maximizando assim os seus lucros, as corporações da super-potência mundial tornaram esta, de facto, «Terceiro Mundo». Os EUA ficou sem capacidade de auto-abastecimento em sectores estratégicos, desde a própria aeronáutica (a importação de metais e terras raras da China é essencial para fabrico dos seus aviões de combate), até à indústria farmacêutica, como se viu recentemente, incapaz de obter ao nível doméstico moléculas / matérias-primas para fabrico de medicamentos essenciais (ex: antibióticos).

Então, os Estados Unidos, no esquema de Tucídides, seriam a potência que já perdeu o estatuto de domínio sem contestação, estando a tentar desesperadamente limitar os danos, isto é, manter-se numa aparente posição de dominância face ao resto do mundo, para poder continuar a explorá-lo, a fazer chantagem, a usar a força ou ameaça da força, como exclusivo «instrumento diplomático». Sobretudo, a gastar rios de dinheiro do orçamento (com a dívida mais astronómica de toda a História) para uma desenfreada acumulação de armamento sofisticado, de todo o género.

Pelo contrário, temos de reconhecer a contenção que tem mostrado a China, perante um avivar da guerra híbrida. Esta, tem consistido em sanções económicas injustas, apoio muito evidente aos separatistas Uigures, aos estudantes ditos «democráticos» de Hong Kong, o cerco permanente de bases militares rodeando a China, a invasão periódica pela frota dos EUA dos mares do Sul da China.  

A diplomacia chinesa tem muito a perder, se responder «taco-a-taco» às provocações americanas. Os sucessos maiores da China consistiram no quebrar do isolamento e conseguir que regimes, até mesmo muito favoráveis aos EUA, prossigam num caminho de boa vizinhança e de acordos em tudo o que for possível, sem terem de «virar a casaca», como é o caso da Coreia do Sul

A China [sem esquecer sua elite governante e seu «nacional-comunismo», a brutalidade da repressão das dissidências, ou seu enorme desprezo pela real preservação do ambiente e dos ecossistemas...] tem uma visão estratégica global. É um facto, que demonstra estar-se perante uma potência madura. Uma visão que se concretiza nos BRICS, na Organização de Cooperação de Xangai, nas Novas Rotas da Seda e nos laços com muitos países próximos ou distantes, quer no sentido ideológico, quer geográfico. 

Pelo contrário, os EU da Amerika retomam a odiada «diplomacia da canhoneira», erigem-se em defensores dos direitos humanos, quando eles próprios são os piores violadores dos mesmos, ao fazerem guerras criminosas e em apoio a regimes criminosos e claramente desprezando os mais elementares direitos humanos. 

Ainda por cima, em relação aos pobres e oprimidos, no seu território, não existe verdadeira justiça ou direitos humanos: os EUA é um Estado onde a polícia tem uma protecção legal absoluta para matar ou ferir, sem que nada lhe aconteça. 

 Para mim, não se trata de uma «escolha»: não tenho (e creio que praticamente nenhum/a dos meus leitores/as terá) possibilidade de escolher o rumo, ou influenciar o mesmo, dos grandes acontecimentos internacionais... goste-se ou não, simpatize-se ou não, com esta ou aquela potência mundial. 

Aquilo que se pode fazer, neste contexto, é pressionar em prol da paz, pela descida dos níveis de tensão, por um desarmamento recíproco e controlado. Deve-se tudo fazer para que a opinião pública desperte da sua letargia e se erga para exigir aos seus governantes respeito pela sua vontade de paz mundial. 

Tudo decorre daí, da vontade da cidadania: a melhoria nos Direitos Humanos dentro de cada país é claramente beneficiada por um clima de distensão nas relações internacionais, de respeito pela soberania dos Estados. 

Isso verificou-se, por exemplo, em relação a Cuba: Nas fases em que os EUA tiveram uma política mais «agressiva», foram também períodos em que a oposição interna teve vida mais difícil; pelo contrário, a melhoria das relações e abertura duma embaixada (dos poucos aspectos positivos da política externa de Obama), corresponderam a uma relativa melhoria da situação dos direitos humanos. 

Mas, pode-se generalizar, pois aconteceram situações análogas na Europa de Leste, incluindo Polónia e outros países do Pacto de Varsóvia, aquando da política de Gorbatchov, de acabar com a guerra-fria e realizar reformas na URSS, com repercussões nos seus aliados.

A luta dos povos por maior liberdade e justiça é favorecida por um aprofundamento dos laços amistosos entre Nações, por uma descida dos níveis de armamento, por não erigir e, pelo contrário, abater as barreiras artificiais à circulação de pessoas, de ideias e ao comércio internacional. 

É claro e auto-evidente, que estes factores estão interligados: Quem adopta sinceramente estes princípios e segue estes critérios, está no bom caminho da paz, da democracia, do progresso.  

NOTA 1: depois de escrito este artigo, um artigo de Pepe Escobar publicado no Asia Times, mostra com pormenor que a liderança da China possui uma estratégia de longo prazo, tal como eu afirmava, enquanto os EUA (... quem governa o Pentágono, não me parece que seja este presidente) apenas têm atitudes de provocação contra a China.

NOTA 2: A gravidade da situação de confrontação naval não pode ser minimizada por ninguém com bom senso. Os EUA estão a fazer manobras agressivas e provocatórias, em águas territoriais chinesas. Estão a imiscuir-se na disputa entre a China Popular e Taiwan, não para resolver problemas, mas para terem um pretexto de intervenção.

   

terça-feira, 11 de fevereiro de 2020

[Manlio Dinucci] GRÉCIA - VENDA DE BASES MILITARES AOS EUA

                          



O Parlamento grego ratificou o “Acordo de Cooperação para Defesa Mútua”, que concede aos Estados Unidos o uso de todas as bases militares gregas. Elas servirão às forças armadas USA não só para armazenar armamentos, reabastecer-se e treinar, mas também para operações de “resposta às emergências”, ou seja, para missões de ataque.

Particularmente importante, é a base aérea de Larissa, onde a Força Aérea dos EUA já instalou drones MQ-9 Reaper, e a de Stefanovikio, onde o Exército dos EUA já introduziu helicópteros Apache e Black Hawk.

O Acordo foi definido pelo Ministro da Defesa grego, Nikos Panagiotopoulos, “vantajoso para os nossos interesses nacionais, pois aumenta a importância da Grécia na planificação USA”. Importância que a Grécia tem já há algum tempo: basta recordar o golpe de Estado sangrento dos coronéis, organizado em 1967, no âmbito da operação Stay-Behind dirigida pela CIA, seguida em Itália pela temporada de massacres iniciada com a Piazza Fontana, em 1969.

Naquele mesmo ano, instalou-se na Grécia, em Souda Bay, na ilha de Creta, um Destacamento Naval USA proveniente da base de Sigonella, na Sicília, às ordens do Comando USA de Nápoles. Hoje, Souda Bay é uma das mais importantes bases aeronavais USA/NATO no Mediterrâneo, usada nas guerras no Médio Oriente e no Norte de África. Em Souda Bay, o Pentágono investirá outros 6 milhões de euros, que se juntarão aos 12 que investirá em Larissa, anuncia Panagiotopoulos, apresentando-o como um grande negócio para a Grécia.

No entanto, o Primeiro Ministro Kyriakos Mitsotakis indica com precisão que Atenas já assinou com o Pentágono, um acordo para o reforço da sua frota de F-16, que custará à Grécia 1,5 bilião de dólares e que também está interessada em comprar aos USA, drones e caças F-35.

A Grécia também se destaca por ser na NATO, depois da Bulgária, o aliado europeu que destina há muito tempo, a maior percentagem do PIB (2,3%) para a despesa militar.

O Acordo também garante aos Estados Unidos “o uso ilimitado do porto de Alexandroupolis”. Está localizado no mar Egeu, perto do Estreito de Dardanelos que, ligando no território turco, o Mediterrâneo e o Mar Negro, constitui uma rota fundamental de trânsito marítimo, sobretudo para a Rússia. Além do mais, a vizinha Trácia Oriental (a pequena parte europeia da Turquia) é o ponto em que chega da Rússia através do Mar Negro, o gasoduto TurkStream.

O “investimento estratégico”, que Washington já está a efectuar nas infraestruturas portuárias, visa fazer de Alexandroupolis, uma das bases militares USA mais importantes da região, capaz de bloquear o acesso dos navios russos ao Mediterrâneo e, ao mesmo tempo, neutralizar a China, que pretende fazer do Pireu, um porto de escala importante da Nova Rota da Seda.

“Estamos a trabalhar com outros parceiros democráticos da região para repelir protagonistas malignos, como a Rússia e a China, acima de tudo a Rússia, que usa a energia como instrumento da sua influência malévola”, declara o Embaixador dos EUA em Atenas, Geoffrey Pyatt, salientando que “Alexandroupolis desempenha um papel crucial para a segurança energética e para a estabilidade da Europa”.

Nesse âmbito, insere-se o “Acordo de Cooperação para a Defesa Mútua” com os USA, que o Parlamento grego ratificou com 175 votos a favor, do centro-direita ao governo (Nova Democracia e outros) e 33 contra (Partido Comunista e outros), enquanto 80 declararam “presente”, de acordo com a fórmula do Congresso USA, equivalente à abstenção, em uso no Parlamento grego. O Syriza, a “Coligação da Esquerda Radical” liderada por Alex Tsipras, absteve-se. Partido este, que esteve primeiro no Governo, agora está na oposição, num país que depois de ser forçado a vender a própria economia, agora vende não só as suas bases militares, mas o pouco que resta da sua soberania.

il manifesto, 11 de Fevereiro de 2020







DECLARAÇÃO DE FLORENÇA
Para uma frente internacional NATO EXIT, 
em todos os países europeus da NATO

Manlio DinucciGeógrafo e geopolitólogo. Livros mais recentes: Laboratorio di geografia, Zanichelli 2014 ; Diario di viaggio, Zanichelli 2017 ; L’arte della guerra / Annali della strategia Usa/Nato 1990-2016, Zambon 2016, Guerra Nucleare. Il Giorno Prima 2017; Diario di guerra Asterios Editores 2018; Premio internazionale per l'analisi geostrategica assegnato il 7 giugno 2019 dal Club dei giornalisti del Messico, A.C.

Tradutora: Maria Luísa de Vasconcellos 
Email: luisavasconcellos2012@gmail.com
Webpage: NO WAR NO NATO

segunda-feira, 11 de novembro de 2019

GLOBALISTAS QUEREM DESENCADEAR TRAGÉDIA EM HONG KONG

Desde há seis meses que os protestos em Hong Kong são noticiados de maneira completamente distorcida pela media ocidental, ao serviço das forças mais obscuras que se possam imaginar. 
A mudança de táctica do Império em relação à China, não se traduz apenas pela guerra de sanções e de tarifas, com aqueles que eram - até agora - os maiores exportadores de bens industriais para os EUA. 
Eles querem fazer com a China e Hong Kong (e com outras zonas), aquilo que fizeram - com bastante sucesso - com a URSS, desencadeando uma guerra de atrito às suas portas, no Afeganistão, com os djihadistas, que depois se tornaram Al Quaida. 
A direcção do partido comunista da China guarda uma viva memória do isolamento internacional resultante da repressão ao movimento de estudantes, que culminou com a tragédia da Praça de Tien An Men em 1989, para avançar com uma ocupação militar da cidade que é - para todos os efeitos - território da China.
Agora, vejo que este atraso, mostrou uma face de hesitação em resolver o problema, que apenas encorajou os gangs de jovens encapuçados e capazes das maiores barbaridades e cobardias. 

                          

A violência e cobardia que exibem quotidianamente, mostra que os «democráticos» são totalmente fascistas, nos seus modos de actuar... 
Pegar fogo a um idoso indefeso é o método que eles usam para persuadir as pessoas a concordar com as suas interpretações da «democracia»!

O facto é que a população de Hong Kong tem perdido muito nestes confrontos quotidianos: muitos negócios saem - muitos vão para Singapura - para não mais voltar; o turismo está de rastos, o que implica também que as lojas de luxo - objecto de ataques constantes - fechem e vão também para outras paragens. 

Sobretudo, enquanto durarem os desacatos e os actos quotidianos de violência,  não existe hipótese de negociação entre a Administração Autónoma de Hong Kong e algum grupo de cidadãos que (legitimamente) esteja preocupado com a manutenção do estatuto de Hong Kong, segundo o lema «Um País, Dois Sistemas». 
Pelos acordos de devolução negociados com os britânicos, até 2047 Hong Kong pode ter propriedade privada, como noutras urbes capitalistas ocidentais, a propriedade privada dos meios de produção está garantida, pelo menos, até ao fim do período de transição.

Ora, acontece que a violência sistemática, por energúmenos mascarados, é dirigida - em especial-  aos símbolos do poder da China continental e aos negócios de cidadãos chineses continentais, recém estabelecidos. Isto é causador da maior crise económica e financeira, que todos os sectores de Hong Kong estão a atravessar, neste momento. 
Note-se, quase toda a população actual de Hong Kong é composta de migrantes da China continental, que vieram para este território, uns antes da devolução da colónia britânica à China (1997), outros depois. 

A estratégia de afundar Hong Kong como praça financeira de primeira importância na Ásia tem objectivos claros:
- dificultar a obtenção de capitais para investimento, que se serviam de Hong Kong como porta de entrada na China continental.
- dificultar as Novas Rotas da Seda, levantando dúvidas dos parceiros comerciais da China.
-  diminuir o prestígio da China, na arena internacional
- eventualmente, dar pretexto para um agravamento das sanções e tarifas, «justificando» a guerra comercial e económica que o Ocidente, em particular EUA com os seu acólitos britânicos e outros, levam a cabo.

É por demais evidente que, o que escrevi há uns meses atrás, se justifica plenamente.
O povo de Hong Kong é refém dos globalistas, que não se importam nada em levá-lo ao desespero, ao ponto de terem de imigrar. Estes globalistas, o que pretendem é intensificar a guerra suja contra Pequim, nada mais.
A única maneira de fazer com que este macabro processo seja parado, é o próprio poder político de Hong Kong apelar ao auxílio das autoridades da China continental, para - conjuntamente - porem cobro a esta guerra terrorista e contra-revolucionária.


quarta-feira, 21 de agosto de 2019

O QUE ESTÁ EM JOGO NA CRISE DE HONG-KONG?

                                 
                              Hong Kong’s days as global financial hub may be numbered – Jim Rogers

Ela pode ter sido fortemente impulsionada pela comunidade de negócios, aliada com os serviços de «inteligência» dos EUA e britânicos. Mas, o facto permanece que os problemas de Hong-Kong são os mesmos que os da China continental, mas sob outra perspectiva. 


Vou tentar explicitar o meu ponto de vista da forma mais simples possível.

A estrutura do poder na China é a dum capitalismo de Estado (designada «socialismo com características chinesas»). 
Neste capitalismo de Estado, contam sobretudo as ligações orgânicas ao poder político e à hierarquia militar. Os que estão próximos do poder, beneficiam de uma situação de enorme privilégio que lhes permitiu amassar - durante menos de vinte anos - fortunas. A China é um paraíso para bilionários... 
A China reveste-se portanto das roupagens do «socialismo», para levar a cabo um desenvolvimento que efectivamente arranca milhões da pobreza, mas também projecta a desigualdade e a estratificação de classes para níveis do século XIX. 
Os marxistas auto-iludem-se ao ver a China como a grande esperança de um socialismo brotar - como que por encanto - do mais vigoroso desenvolvimento capitalista deste século.  

Quando Hong-Kong entra em revolta dá-se uma coligação frágil de interesses entre defensores de uma visão radical da democracia (essencialmente estudantes) e  uma burguesia, que vive numa bolha artificial de negócios, centro internacional da Ásia como há poucos, com toda a espécie de negócios, o capitalismo sem máscara, glorificado pelos mais fundamentalistas religiosos dos mercados. 
Do outro lado, a burocracia do partido comunista está interessada em Hong-Kong enquanto porta de entrada de capitais frescos para alimentar a economia de exportação - embora esta esteja em desaceleração - na China continental. Este facto é suficiente para esperar que a situação se acalme, em vez de usar a violência da repressão, conquanto não a descarte totalmente, como se pode verificar com o amassar de forças militares na cidade próxima de Hong-Kong, em  Shenzhen.

Com certeza que Hong-Kong, na sua natureza capitalista não disfarçada, contradiz a doutrina socialista com características chinesas oficial. Porém, o facto de ter regressado à soberania chinesa foi um êxito do regime pós-Mao. 
Com efeito, o regime chinês mascara-se de socialista, mas a sua essência é a de  um capitalismo de Estado, de características orientais, evocando o «Modo de Produção Asiático» que Marx inventou para arrumar aquilo que não se conformava nem com o modelo feudal, nem com o capitalista. 
É igualmente importante, sobretudo pela coesão das massas com a elite dirigente, o nacionalismo nesse dito «socialismo com características chinesas». 
A aceitação passiva pelo povo do PCCh, tem a ver com a cultura nacionalista arreigada, nomeadamente, com a atribuição aos imperialistas de todos os males que sofreu o povo chinês no «século de humilhação»(entre 1840 e 1949). 
Mas também tem a ver, por outro lado, com a rápida ascensão do nível de vida de milhões de pessoas, devido ao «milagre» económico das últimas décadas. As pessoas renunciam à esfera política, porque ocupando-se apenas dos assuntos do quotidiano, das suas vidas pessoais, conseguem alcançar uma relativa felicidade, avaliada em termos da construção de uma carreira, de uma família etc. 
Apenas os estudantes, com o seu modo de vida incerto, enquanto grupo social em transição, sem segurança, sem fortes amarras ao mundo da produção, têm atracção pela militância política; em geral ela traduz-se pela defesa de mais democracia, mais liberdade, maior justiça social. As suas posturas tornam-se facilmente extremas e as formas, radicais. 
Isto verificou-se também, ironicamente, nos movimentos radicais na origem do Partido Comunista da China e de outros partidos comunistas da Ásia, na década de 1920.

Em termos gerais, a situação encontra-se num impasse. Mas ela terá uma resolução, seja ela qual for, mais ou menos repressiva. Tal, porém, dificilmente será no sentido de satisfazer os anseios da população autóctone pela conservação da sua democracia e auto-governo, sentimentos generalizados dos que se manifestam pacificamente em Hong-Kong. 

A razão deste meu pessimismo, é que as forças que têm conduzido a contestação não estão interessadas na conciliação com o poder comunista, não querem a negociação: querem prolongar o braço-de-ferro, porque a sua táctica, inspirada e encorajada pelas agências da ex-potência colonial (Grã-Bretanha) e dos EUA, é a de expor o poder de Pequim, como sendo de natureza totalitária. 

As potências ocidentais esperam assim desautorizar a ascensão da China à liderança do Terceiro Mundo, como no tempo do Movimento dos Não-Alinhados dos anos 60 do século passado. Mas agora, esta liderança já não seria sob a bandeira internacionalista (incluindo nela o nacionalismo revolucionário dos movimentos de libertação), mas teria as roupagens dum mundo multipolar, através das «Novas Rotas da Seda».

No ponto de vista geo-estratégico, esta agitação em Hong-Kong é um episódio da guerra híbrida levada a cabo pelos poderes ocidentais e os EUA contra a China. Não existe solidariedade verdadeira com a população de Hong-Kong da parte destes governos, nem da media ocidental; não estão realmente interessados na liberdade dos cidadãos de Hong-Kong. 
Eles tentarão tudo para desencadear uma situação de repressão, com Pequim no papel de «mau da fita».

O jogo das potências ocidentais é triplo: trata-se de 
(1) afundar a sedução das Novas Rotas da Seda junto de governos dos países do «Terceiro Mundo», 
(2) desestabilizar por dentro o regime chinês e
(3) «justificar» perante a sua opinião pública ocidental a agressividade, o cerco militar que têm levado a cabo, iniciado com o «Pivot to China» de Obama e continuado por Trump. 

Se houver um banho de sangue em Hong-Kong, tanto melhor! É assim que eles raciocinam...

PS: uma outra perspectiva sobre HK, no vídeo abaixo. 
https://www.youtube.com/watch?v=a38bOtUEXcc
   

quarta-feira, 10 de julho de 2019

SE O MUNDO FOSSE UM TABULEIRO DE XADREZ...

Se o mundo for visto como um enorme e multidimensional xadrez....

                           Resultado de imagem para globalist chess game

Os EUA serão, obviamente, jogadores principais, detentores de um império, chamemos-lhe grupo «N» (NATO e associados).
No lado oposto, está um consórcio de nações poderosas, tanto geo-estrategicamente como economicamente, a Rússia, a China e também a Índia, que agora fez uma viragem decidida para o lado euro-asiático, afastando-se dos cantos de sereia anglo-americana (ver aqui a tradução de artigo de Pepe Escobar). 
Mas também o Irão, assim como um enorme conjunto de nações, mais de 60, que já participam em projectos das Novas Rotas da Seda (chamemos a esse grupo X, da Organização para a Cooperação de Xangai).

No campo N, encontram-se os parceiros dos EUA, mas essas parcerias são cada vez mais problemáticas.
- Por exemplo, Doha (Qatar) fez uma viragem decisiva há alguns anos, em direcção ao Irão (visto que têm interesse comum em explorar o gás natural que se encontra em jazida comum por debaixo das águas territoriais de ambos). O Qatar recebeu auxílio da Turquia, quando a Arábia Saudita fez um autêntico cerco, tentando curvar o emir de Qatar à disciplina do Conselho dos Estados do Golfo, entidade que agrupa os emirados e monarquias que bordejam o Mar Vermelho.

- Outro exemplo, a Turquia, embora se possa considerar este país o mais estratégico da NATO - com uma posição de extensa fronteira com a Rússia e uma localização de «pivot» na Ásia Central - está realmente em rota de colisão com os americanos e com a NATO, ao adquirir o sistema de mísseis S-400 russo. 
Mas esta aquisição é afinal a consagração da inversão de alianças, após a tentativa falhada de golpe de Gülen, eminência parda dos Irmãos Muçulmanos, inicialmente um dos promotores de Erdogan. O golpe contava com apoio encoberto da CIA e da NATO. Aliás, Gülen refugiou-se nos EUA e estes têm repetidamente recusado extraditá-lo, apesar de existirem provas inequívocas da conspiração e de ele ter prosseguido actividades contra o regime turco no exílio americano. 
Só a ajuda da Rússia, então uma potência «quase» inimiga, permitiu que as forças leais a Erdogan fizessem abortar o golpe em curso. Muitos mortos, feridos e presos resultaram da sangrenta aventura inspirada ou, pelo menos, aprovada por Langley (o quartel-general da CIA, nos EUA).

- Os países que experimentaram a brutal agressão e ocupação pelos EUA, o Afeganistão e o Iraque, não estão dispostos a servir como rampa de lançamento de um qualquer ataque contra o vizinho Irão. As grandes manifestações de agressividade dos EUA no mês passado, contra o Irão, acabaram com um «rabo entre as pernas», pois qualquer ataque teria de ser efectuado à distância, sem possibilidade de uma invasão, por terra ou por mar. Isto porque as relações dos EUA com muitos países árabes e da Ásia Central se têm deteriorado nos últimos tempos.

- Outra carta que tem sido jogada pelos EUA, além da ameaça militar, é a das sanções. 
Estas sanções, «urbi et orbi», estão a deslocar completamente o puzzle das alianças e acordos entre países, incluindo  os que estão no «coração» da Aliança Atlântica. 
Quer os europeus, que já não alinham com os EUA para sancionar o Irão e montaram um sistema de pagamentos alternativo, por forma a terem a possibilidade de continuar a comerciar com a república islâmica, sem terem de sofrer sanções, quer a Turquia, muito interessada no petróleo iraniano e que tem feito uma troca directa de petróleo por ouro, torneando assim as sanções impostas pelos EUA... quer ainda, os próprios britânicos que - no afã de garantirem uma posição vantajosa para a sua banca, na internacionalização da moeda chinesa (o  Yuan) - estão a participar em projectos dos BRICS. 
Este grupo (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul), representa cerca um quarto das trocas comerciais mundiais. Nele existem muitas diferenças, como seria de esperar. Porém, a aliança Rússia-China está cada vez mais consolidada em múltiplos planos, desde o financeiro  ao militar. Porém, a Índia fez recentemente um passo decisivo em direcção a um compromisso maior com os dois colossos, Rússia e China.

Isto são apenas exemplos. De facto, as Novas Rotas da Seda são essencialmente imbatíveis, se se mantiverem dentro dos princípios saudáveis da não-intervenção nos assuntos internos dos Estados e das trocas com vantagens mútuas. Este projecto é imbatível porque não se trata de um projecto militar, ou imperialista, o que implicaria a conquista de territórios, a ocupação de nações. 
Trata-se de um projecto genuinamente comercial. É a versão contemporânea da ideia liberal do livre comércio, do comércio sem obstáculos políticos ou institucionais e que vai enriquecer todos os intervenientes (estratégia «win-win»). 

Evidentemente, o poderio militar americano não desapareceu, até pode reforçar-se em múltiplos aspectos. Também o anúncio do destronar do dólar como principal moeda de reserva bancária e das trocas comerciais, é prematuro. 

Mas, projectando a situação presente no futuro não muito distante, verificamos que os EUA estão com maior dificuldade em impor pela força (ou ameaça dela) a sua vontade, quer aos adversários, quer aos aliados (ou vassalos). A doutrina oficial dos EUA é de que tem de exercer a hegemonia, de que não pode tolerar que outra potência seja capaz de desafiar a sua vontade (doutrina Brzezinski).

Diria que, se não é ainda um «xeque mate» para o império globalista, é certamente um ponto em que fica claro para todos, que o melhor que pode esperar o «eixo Atlântico» (EUA e aliados da NATO, etc) será uma situação de empate, ou seja, um mundo multipolar onde é necessário contar com o eixo Euro-asiático (os BRICS, a OCX - Organização de Cooperação de Xangai). 

Para mais pormenores sobre o tema, recomendo as leituras seguintes: