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segunda-feira, 18 de março de 2024

VIVER É SOFRER

Sabe-se que viver é sofrer
Mas a maior parte das pessoas
Está tão ocupada com a simples sobrevivência
Que não tem possibilidade de filosofar

A vida é sofrimento, sente-se de vários modos:
Com o corpo e com a mente
Em várias circunstâncias
A ausência de sofrimento é assimilado
Ao bem-estar, ao prazer

Mas tal não é assim;
Seria antes o sofrimento
A reinar sobre nós
Como tortura sobre o corpo
E o espírito. 
De vez em quando,
Os sofrimentos materiais e morais
São menos intensos, não desaparecem
Mas podem ser esquecidos
Por instantes.
É nessas ocasiões que nos iludimos
E acreditamos que somos «felizes».

Além disto, quero dizer-vos
Que a ideia de que existem afortunados
Que não sofrem, ou sofrem pouco,
Porque são ricos, poderosos, inteligentes ...
É falsa. Não existe correlação entre o poder
E evitar o sofrimento.

Quem aguenta o sofrimento
e não fica tão traumatizado
Como os outros tem maior resistência,
Ou resiliência, a capacidade de enfrentar
As coisas duras da vida.

Não procuro sofrer. O sofrimento
Não me trouxe paz, trouxe-me
Um início de sabedoria
A vontade de evitar sofrimentos
Inúteis, em mim e nos outros.

Sei que soa a demasiado pouco
Mas, este evitar ou menorizar
Da dor e do sofrimento
É ensinamento de séculos e séculos
Da filosofia e da educação moral





domingo, 3 de março de 2024

NA ROCHA DO TEMPO


 Na rocha do tempo contemplo o meu passado

Meço os meus passos pelo ritmo da asa

Que no céu bate até chegar ao destino

Sem o preconceito do homem civilizado

Mas com a certeza da vida e do querer


Na rocha do tempo estou realmente sozinho

Mas o sol também, e tal como o vemos

Ele não se ressente disso e continua

Imperturbável a iluminar o firmamento

Sempre, quer faça chuva ou nevoeiro


Na rocha do tempo me abrigo 

Sei que sou transitório e isso

Isso afinal não me assusta

Quando estou contemplando

O tempo, o tempo que não tem prazo

  

sábado, 2 de março de 2024

SÓ O AMOR


 NÃO HÁ NADA QUE POSSA FAZER-ME ESQUECER

O QUE VIVI CONTIGO

SEM TI, O MUNDO SERIA CHATICE

SEM TI, SÓ PODERIA SOBREVIVER 

MAS ESTAREI CONTIGO SEMPRE

DE AGORA EM DIANTE

NEM A MORTE NOS PODE SEPARAR

ASSIM PROCLAMO AOS QUATRO VENTOS

E QUEM NÃO AMA, NÃO SABE


SÓ O AMOR NOS DÁ SABEDORIA

O VERDADEIRO AMOR

NÃO NOS PODE EXTRAVIAR

É LUZ QUE ALUMIA OS TÚNEIS 

DO PASSADO, PRESENTE E FUTURO

E SERÁ ETERNO OU NÃO SERÁ


POIS ELE TRANSCENDE A FINITUDE DO CORPO

ELEVA-SE AO ESPÍRITO ETERNO, UNIVERSAL

O TEU AMOR É QUE ME LIGA AO UNIVERSO

O TEU E O DE MAIS NINGUÉM!

 



quarta-feira, 14 de fevereiro de 2024

ODOR IRRESISTÍVEL!



 Um odor que tresanda

Mistura de suor, sujidade, sangue, lixívia

E tanto mais forte, quanto as pessoas

Fingem não se aperceber de nada

De pouco serve perfume, desodorizante, ou loção 

É fedor que se escapa de certos corpos

Por mais que disfarcem 

De nada serve toda a técnica de ocultação

Atravessa os salões, insinua-se nos carros

Existem variantes, é certo

Mas, a camuflagem odorífera neles todos

Não disfarça a nota de fundo, o típico

Agridoce de cadáver no início do apodrecimento 

Será fortuito encontro, numa mesa de anatomia,

De pedaços de corpo humano e de animal

Será essa a nutrição de requintes perversos

Mas nem todas as pessoas são assim

É preciso ter o estômago bem resistente 

Esse odor que tresanda, mas encanta

Que ninguém repara, mas todos sentem

Que intoxica, mas que se respira

Material ou imaterial; em metal, papel

Ou digital, é disso que estou a falar:

O  odor do dinheiro


( 02- 14  ANNUS HORRIBILIS 2024)





segunda-feira, 18 de dezembro de 2023

SALMOS PARA O SOLSTÍCIO DE INVERNO [OBRAS DE MANUEL BANET]

[Foto abaixo, do artigo de Jonathan Cook: https://consortiumnews.com/2023/12/14/west-fears-atrocity-upsurge-while-ignoring-gaza/ ]


É MUITO PERIGOSO PROVOCÁ-LO;

SUAS IMPRECAÇÕES ECOAM NO TEMPO

SAIBAM QUE SALADINO ESTÁ VIGILANTE

COM ALÁ E TODA A IRMANDADE.


SERÁ DO RIO ATÉ AO MAR

QUE SE TINGIRÃO AS TERRAS 

DE SANGUE JUDEU, ÁRABE, BERBER 

TERRAS ONDE HÁ DOIS MILÉNIOS

NASCEU O NOSSO SALVADOR


(SIM, O NOSSO SALVADOR:

PARA OS «CAVALEIROS» 

OLIGARCAS DE HOJE,

 É TIDO COMO RELIGIÃO 

DE POVOS ATRASADOS, 

LÁ DA IDADE MÉDIA)

 

SÓ SEGUEM O DEUS DÓLAR 

O DEUS DOS BANQUEIROS

TUDO O RESTO, VARRIDO:

HUMANISMO, VARRIDO

COMPAIXÃO, VARRIDA

VIRTUDE, VARRIDA

HONRA, VARRIDA

LEALDADE, VARRIDA

SE ALGUMA FÉ TIVEREM

ELA TEM COMO DEUS,  BELZEBU.


(NÃO CREIO QUE SEJA LÚCIFER, 

O PORTADOR DA LUZ: 

COSTUMAM CONFUNDIR TUDO 

E TROCAR OS NOMES. 

EU NÃO ACREDITO, 

PORQUE OS QUE HOJE TRIUNFAM,

 SÃO PORTADORES DE TREVAS, 

NÃO DE LUZ.)


ESTAMOS REALMENTE 

NO CORAÇÃO DAS TREVAS

HOLOCAUSTO BRUTAL,  ABSURDO

SOFRIMENTOS INFINITOS

DE INOCENTES, SACRIFICADOS 

PELOS CRIMES DE SEUS EXECUTORES


PARA OS GENOCIDAS SACRIFICADORES

DE CRIANÇAS, NÃO  HAVERÁ PERDÃO;

QUALQUER QUE SEJA A RELIGIÃO

  É PORTADORA DE PADRÃO ELEVADO

 DE JUSTIÇA, DE NOBREZA DO CORAÇÃO

NÃO HÁ RELIGIÃO OU ÉTICA

EM TUDO O QUE É FEITO

PELO DINHEIRO,

PELO OURO NEGRO,

PELO PODER DESPÓTICO

SOBRE OS OUTROS


(O NATAL DE HOJE, 

ESTÁ  CONFINADO 

AOS CRISTÃOS DO LEVANTE 

QUE SOFREM NA INDIFERENÇA 

 DOS PAÍSES «CRISTÃOS» 

RICOS E CORRUPTOS)


OS CRISTÃOS DA SÍRIA, DO EGIPTO,

DA PALESTINA, INCLUINDO ISRAEL

DA TURQUIA, DA JORDÂNIA, DO IRAQUE

VIVEM COMO BONS VIZINHOS COM MUÇULMANOS

INFELIZMENTE, VIERAM FALSOS CRISTÃOS

OS VERDADEIROS APÓSTATAS,

 PARA ESMAGAR, VIOLAR, DESMEMBRAR

E INCENDIAR SUAS TERRAS E CIDADES

JAMAIS HAVERÁ PERDÃO, NO MEU ESPÍRITO,

PARA O MAL QUE FIZERAM OS FALSOS CRISTÃOS.


ELES, QUE SE DIZEM CRISTÃOS E FAZEM

O CONTRÁRIO DO QUE JESUS PREGOU 

SÃO OS MAIORES INIMIGOS DA RELIGIÃO,

DEUS LHES PERDOE, SE ESTE FOR O SEU DESEJO,

MAS EU PREFIRO ESTAR DO LADO DA RAZÃO

DA JUSTIÇA, DA BONDADE, DA HUMANIDADE


O MEU NATAL É DE DOR E TRISTEZA,

SÓ HOMENS E MULHERES

DE CORAÇÃO AUTÊNTICO, ME ALUMIAM!

OS HIPÓCRITAS, POR MAIS LUZES QUE

ACENDAM EM SEUS LARES E IGREJAS

ESTÃO MERGULHADOS NAS TREVAS.

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NB: Poesias publicadas neste blog desde 2022

https://manuelbaneteleproprio.blogspot.com/p/poesias-de-manuel-banet-desde-2022.html

quinta-feira, 16 de novembro de 2023

QUASE PÓSTUMO [OBRAS DE MANUEL BANET]

 


Quase póstumo

Ainda assim querendo ser

Ingénuo outra vez nascer

Em segredo olhando

Crepúsculos de madrugada

E ventos cantando

 ao ouvido aquela

Canção antiga

 Não sei a letra

 Mas fala de sereias

E de sementes

Reminiscências

De quando fui

Noturno corujando 

Em diálogo com

Filtradores de orvalho


Mas não era eu

Afinal, tempo sonhado

Ou vida imaginada

Se foi tudo um filme

Não sei, podia sê-lo 

Ser outra história

Às vezes cómica

Ou triste

 Ou irónica

Ou trágica

Ou banal

E tudo...


O cintilar de prata à superfície do rio que flui para o mar

É efémero; eu sei

Mas o olhar, esse, é eterno

Se te concentrares e fixares

O instante como eternidade

Como universo parando para deixar

O instante ser na sua plenitude

Sem nada que o estorve

Sem outro modo de ser 

Senão o ser em si mesmo


Compreenda isto quem puder


Vamos remando num universo sem limites 

Mas cíclico e nossa insignificância

É eternidade

O ser é eterno deixa a sua marca

Não desaparece, transforma-se


Entenda isto quem puder


Eu apenas reflito o saber

Como o espelho reflete a luz

Nada  misterioso, o espelho 




sexta-feira, 10 de novembro de 2023

A BESTA ENRAIVECIDA [OBRAS DE MANUEL BANET]


 

UM POEMA DIDÁTICO

A Besta não é racional; pode morrer, mas mata primeiro

A Besta não distingue o bem do mal; é insaciável

A Besta tem fragilidades; e não é sermos destemidos

É cortar-se a energia, o financiamento e o crédito 

Assim, cozerá no seu próprio sangue enraivecido

Pode escoucear, mas a cada gesto mais se esgota

Ninguém precisa da Besta; antes pelo contrário

Ela precisa de todos nós; vive do nosso suor

Resgatar um mundo humano: basta querer

Cortem todo o contacto, boicotem todas as relações

Cancelem negócios; o que perdem, depois ganharão 

Outra Terra se construirá, sem Bestas desumanas

Ela é como a Hidra, mas afinal tem um número

Finito de cabeças; enquanto elas espalham fogo

Fiquemos abrigados; quando ele se esgotar

O seu grande corpo mole será impotente


Ela tem a astúcia de pôr uns contra os outros

Agora, o jogo está tão à vista,  ninguém cai

Quando dá uma dentada, morde sua cauda

Esbraceja no ar como um abutre despenado

Grita impropérios e obscenidades 

Enquanto martiriza incontáveis inocentes

Mas o veneno espalha-se no próprio corpo

E abafa, na Besta, os pulmões e o coração 

Que em breve seja o seu momento final

A esperança e o alívio dos justos   







segunda-feira, 30 de outubro de 2023

O SOL [OBRAS DE MANUEL BANET]



 Ele não bate à  janela

Introduz-se no quarto, 

Sem cerimónias

Visitante não convidado

Não furtivo, pelo contrário,

O atrevido ilumina tudo

Com seus raios dourados

Muda cenários sombrios

E mesmo a melancolia

É sacudida pela luz irisada

Que suavemente escoa

Dos vidros reflexivos.

Ao Sol, a matéria sublima-se

Transmuta-se e explode

Em cores triunfantes

Anulando as sombras

E os pesadelos

Da minha mente.


sábado, 14 de outubro de 2023

REFÚGIO PRECISA-SE [OBRAS DE MANUEL BANET]

  

Perante a desrazão, a fúria destruidora

Tem de haver algo que contrarie a insanidade

Um antídoto contra a estupidez e crueldade

Um refúgio que acolha sem preconceito


Todas as almas doridas, seja qual for sua origem

Seja qual for seu pensamento, religioso ou não

Um abrigo que não questione a nação, a etnia

De cada pessoa que aí chegue e nele se recolha


Eu veria este lugar como um santuário de paz

Talvez situado em vários locais no Mundo

Não seriam somente físicos, tais refúgios

Mas locais de espiritualidade aberta


Apelo a quem tenha vocação verdadeira

Para ajudar na cura dos seus semelhantes

Não sei se já existem locais assim, mas sei

Que há urgência em construir estes refúgios



segunda-feira, 2 de outubro de 2023

AS PALAVRAS [OBRAS DE MANUEL BANET]




 A palavra ciciada ao ouvido do amor nascente

A palavra gutural num soluço de ódio demente 


A palavra altaneira, de vazio cheia como vento

A palavra medida, calculando pelo sustento 


A palavra jocosa, saída de lábio sorridente

A palavra erudita, que revela o ignorante


A palavra bolsada com raiva e desespero

A palavra mão estendida em franca amizade


A palavra cozinhada com subtil tempero

A palavra esquecida em provecta idade


As palavras são tão diversas como as gentes

Traiçoeiras ou puras, radiosas ou cinzentas


Quem só sabe palavras, de vida pouco sabe

Viver, não é lição escolar que se aprenda





sábado, 16 de setembro de 2023

CÉUS DE OUTONO [OBRAS DE MANUEL BANET]

 


Quando o frio e as primeiras chuvas

Esvaziam os locais de veraneio

Quando os matizes de cinzento 

Se desfraldam nos céus

É nessa ocasião que passeio

A minha melancolia

Contando as gaivotas

Que na praia se aquecem





Os céus sempre mutáveis

Exibem o portentoso fresco

Que nenhuma mão humana

Pode representar com pincéis

E cores numa imensa tela





Quando o Sol se põe

Iluminam-se breves os flocos

D' algodão das nuvens,

Espetáculo grandiloquente

Onde os azuis e os roxos,

Os rosa e os laranja 

Se casam em apoteose

Serena e lânguida 





Em breve, o pano de veludo 

polvilhado de luzes

 Recobre o oceano e as falésias

Cenário dum novo drama

E a noite entra em cena

domingo, 9 de julho de 2023

RENUNCIEI A LER O REAL [OBRAS DE MANUEL BANET]

                       Foto: Diante da tela «Isto não é um cachimbo» de R. Magritte
 

Renunciei a ler o real com as lentes deformantes dos media

Mas leio todos os dias o meu jornal feito de pássaros e de formigas

Nos jardins e nas ruas do meu bairro


Renunciei a compreender os humanos como entes racionais

Mais racional é a onda no mar, ou o trovão no céu


Renunciei a encontrar as razões dos políticos

Como, de qualquer maneira, são sempre discursos

Para enganar o eleitor, nada se pode extrair deles


Mas, um animal não finge, nem esconde

Só exprime o que sente; como a criança pequena


Afinal não renunciei a ler o real, devo autocorrigir

Porque o real é isso mesmo que leio; as produções

Dos humanos são apenas poluição de que nunca se fala  

Muito perniciosa: a poluição mental


Ela a todos enjaula, tritura e embrutece

Só se mantêm livres os poetas, uns tipos estranhos

Mas, afinal sábios, prudentes, humanistas


[Eu a ninguém aconselho: quem quiser que escolha

Não despreze este escrito, pois pode ter mais sumo

Do que parece, à primeira vista.]



segunda-feira, 1 de maio de 2023

História de fantasmas [OBRAS DE MANUEL BANET]






 Acordei no País dos sonhos

Percorri léguas e léguas de caminhos esconsos 

Ou de amplas autoestradas

Para me encontrar frente a um espelho

Num palácio abandonado


Este espelho é a porta de entrada

Dos que permaneceram no limbo

Para o tal Reino, onde sonhar

Significa a Vida e viver

Só representa a necessidade

Contingente da jornada


O sócio desta sociedade

Ultra secreta não precisa

De senha ou sinal para

Reconhecer seus pares

Caminhando ou vogando

Por rios serenos entre sedas

Ondeantes ao vento


- Mas a morte, a morte que nos espera

E sempre nos alcança?

Onde pára ela?

- Ela caminha ao nosso lado

Sem receio. Nós sabemos

Que ela é Rainha

E não a repudiamos


Viver em sonho e caminhar

Por suas veredas é distinção

De poetas. Eles comunicam

Fraternamente a seus pares

As rotas que tomaram,

As paisagens por onde passaram,

As histórias que ouviram


Para eles, dizer a verdade não custa

As mentiras que possam dizer

Não o são para os outros irmãos 

Todos descodificam fórmulas

Ou sortilégios, são línguas

Correntes, banais


Se alguma vez acordam

Precisam logo de retomar

A onírica estrada, 

Seja por que meio for 

A realidade do real é-lhes fatal

Definham, acorrentados

 Às medíocres rotinas


São aves ou peixes

Embora aparentem pertencer

À espécie humana

Mergulham na profundeza

Dos mares, ou planam

Muitos metros acima do solo


Ou talvez sejam outra

Espécie em gestação

A que substituirá

Mulheres e homens

Comuns de hoje;

Não sabemos


No meio do ruído

Das multidões

Estão silenciosos

E quando poderosos

Pretendem prestar-lhes

Homenagem, erguem

Estátuas e monumentos

Mas não  leem sua poesia.





domingo, 15 de janeiro de 2023

ODE À MÚSICA [OBRAS DE MANUEL BANET] + «AN DIE MUSIK» (FRANZ SCHUBERT)

A música sempre, eterna companheira

Nos momentos tristes ou alegres

Desta vida, o que nos vale és tu

Não sou de exclusivismos, todo o som

De qualidade me pode preencher 

Me impressiona,

Mas tem que ter alma

Para envolver-me e seduzir-me


Ela é uma presença constante

Por mais que recue no passado

Ou me ponha a escutar no presente

Ela tem a chave do meu ser

Mãe só há uma; porém 

Em espírito, fui nutrido pelo

Leite da sempiterna música

Das canções de embalar

Às grandes sinfonias 

Sim, Mãe há só uma:

Foi a minha música

Desde o berço, até hoje

À sua memória associo

Belos momentos musicais!



«An die Musik» de 
Franz Schubert (arranjo para violoncelo e piano)


sábado, 17 de dezembro de 2022

IDADE de SAPIÊNCIA [OBRAS DE MANUEL BANET]




O azul do céu não me impede de sentir o fresco vento norte
A idade de prata e ouro é quando olhas o céu e vês
O voo da ave inscrito
A bruma matinal escorrendo pelo vale

A certeza de que a terra é redonda e que se entretém
Rodando sobre si própria
Indiferente às travessuras dos humanos
Não nos traz aquela vertigem!

A ti entrego este sonho cerrado
Sob as pálpebras fechadas
Abertas ao mundo interior
Aquele que conta e contém

Todo o universo numa gota
De bruma que se condensa
Essa gota uni em verso a ti
No ser sem tempo, que és

De tal domínio não há fuga
Mas também que fazer
Lá fora, remando entre estrelas?
Trazei-me a gota reflexiva

Das aves eu sempre serei
Adorador, sem asas coloridas
Extasiado pela sua sombra
Que me faz sentir invejoso

E depenado e descamado
Mas sempre maravilhado
Outrora dava importância
A outras aventuras

Mas a Terra é redonda e
Gira em torno do Sol:
Mau ano, bom ano
Sempre será uma certeza!


Murtal, Parede 17 Dezembro de 2022



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Poema anterior neste blog: «Quero Ser Animal»

sexta-feira, 4 de novembro de 2022

QUERO SER ANIMAL [OBRAS DE MANUEL BANET]


 Sim, amanhã, a esperança

Sim, amanhã, a paz

Mas, hoje, tudo recoberto 

Dum véu de tristeza

Todos olvidados do dever


A humanidade perdeu a bússola

Os humanos não têm cura

Esqueceram seu Deus, 

Ou pior; por Ele se tomam!


Não quero mais ser humano:

Quero ser animal, só animal

Estar bem dentro do meu ser

Instinto seguro de animal

Me guie a cada passo


Quero perder toda a ilusão

De ser racional, alucinação

Mortífera do orgulho

Que enche o peito dos imbecis


Ser menino, não! Pois ele, afinal

É homem em potência,

Tem caprichos, tem birras

Homem-menino julga-se tudo

Permitido, não tem juízo


Ser animal é obedecer 

À Natureza e esta, o que é

Senão o Seu Criador?

É obedecendo à Natureza

Que se cumpre o trilho


Tudo o mais são bazófias!

É filosofia de trazer por casa

É ser covarde e cruel

É ser humano no pior sentido


Ser animal  é estar em harmonia

Consigo próprio, aceitar

A verdade eterna 

De nossa incompletude


O animal vive no instante

O seu ser é eterno 

Não se projeta no futuro

Felicidade, só assim possível!




                 





domingo, 16 de outubro de 2022

RECADO ÀS GERAÇÕES FUTURAS, SE AS HOUVER [OBRAS DE MANUEL BANET]

                                        Homem escrevendo uma carta - Gabriel Metsu , Séc. XVII


Supondo que as palavras não morreram,  o que é uma audaciosa aposta, eu sei, quero deixar um RECADO deste mundo, às gerações que vierem; se elas existirem!

Não quero fazer-lhe sermões de moral. Sei lá que vivências serão as dos humanos, quando num futuro distante, for estudado «o século XXI»? 

O século em que a estupidez e ganância dos poderosos quase despoletou o Apocalipse nuclear? 

Se as gerações futuras puderem ler este texto, significa que afinal não se chegou a esse ponto.

Creio que a lição a tirar pelas gerações futuras será: Como evitar armadilhas semelhantes?

- O meu recado é o seguinte:

 Nunca deixem vossos problemas, as questões graves, em mãos alheias!

A perversidade de tal sistema - a delegação sistemática do poder a uma minoria - acaba por desembocar em guerra. Pois esta é a maneira de uns poucos se manterem no controlo, obrigando todos os outros a obedecer!

 

 

quinta-feira, 8 de setembro de 2022

UM POEMA É SONHO [OBRAS DE MANUEL BANET]

 



Um poema é sonho...

Não vás procurar racionalidade e lógica

Mas de facto o sonho tem um fio condutor

Esquece as quadras e as rimas

Escolhe a música que brota

Do interior das palavras

E as palavras que são música

E que fluem do peito e da alma 

Canção aflorando na memória

Seja alegre ou nostálgica

Ela irrompe e arrasta-nos

Para terras nunca exploradas


Poeta, seja a música que te guie

E deixa para compêndios de filosofia

Os discursos racionais, demonstrativos

O que tem a demonstrar o cântico

Da ave, senão "olha; estou aqui!"

Assim seja o poema, belo e puro

Melodia natural como um rio!


               
                                                           Melro comum (macho)



 










quarta-feira, 17 de agosto de 2022

FORASTEIRO À BEIRA MAR [OBRAS DE MANUEL BANET]

                            ,Imagem: quadro a óleo de Eduard Honoré Gandon



Forasteiro à beira mar

Longe está meu pensamento

Outrora ensinou-me o vento

Outrora ensinou-me a amar


Indivíduos nos envaidecemos

Não nos ligamos jamais ao ser

Esquecidos de que irrompemos

Em Universo dum único Ser


Aos meus pés a maré vem

Mas não sou o rei da lenda

O horizonte mil sóis tem

Mil luas e uma legenda


Num tempo esquecido

Alguém olhou e adorou

O canto espairecido

Por cima das ondas soou


Basta um gesto, um olhar

 De beleza o coração cheio

Pode na certeza se firmar

Do passado imenso veio






quarta-feira, 6 de abril de 2022

AZUL É O CÉU, NADA MAIS [OBRAS DE MANUEL BANET]

 

Azul é o céu, nada mais

Nada mais que o céu azul

E para além do céu?

Nada mais, só o azul do céu.

Este azul me oprime, de tão leve que se pousa

Este azul «pan-color», de cartaz publicitário

Tão real como uma pincelada num muro

Este azul é mais agressivo do que um céu de chumbo

Que as nuvens ameaçadoras que nos trazem granizo

Este azul é inderrotável é impossível compor com ele

Pode ser que alguns o achem belo, eu não vejo nele

Senão monotonia de azul.

Mas aceito o seu veredicto, não vou argumentar 

Saberei fazer como se ele não existisse

Como se por cima da minha cabeça

Não houvesse nada, absolutamente

Apenas existir sem pensar

Apenas estar sem impor

Apenas olhar sem ajuizar

Somente o céu azul me 

Incomoda, bem sei porquê

Estou condicionado pela sua presença

Mas assumo ser diferente ou indiferente

Enfim, gostava de olhar a terra do céu

É isso que eu não farei tão cedo

Exilado no solo, como ave

Vendo suas irmãs voarem

Muito alto pra horizontes

De calor e abundância

Bandos de aves sem dono

As que riscam o azul do céu

Em volta do globo terrestre

Como eu gostaria de ser

Assim, o azul do céu

Não seria para mim 

senão um meio de viajar

Uma autoestrada sem fim

Jogo também, complexo jogo

De orientação, de saber 

Ancestral das rotas 

E uma aventura inscrita 

Na memória da espécie.

Ah, então eu poderia contar

As formigas humanas que

Olhavam para o nosso bando

Quando ele sobrevoava arrozais,

Ou prados, vilas ou lugares.

Já nem me lembraria muito bem

O que é ser um humano

Seria como uma memória vaga

Sonho ou pesadelo que passa

Com um batimento da asa

E talvez, nesse corpo novo

O céu se engalanasse  

Num esplendor de tons vermelhos 

-doirados, enquanto atravessava 

O oceano, rumo ao paraíso das aves.