quinta-feira, 15 de julho de 2021

[RACHMANINOV, CONCERTO PARA PIANO N.3] + ODE À MÚSICA ETERNA


Khatia Buniatishvili, Neeme Järvi and the Verbier Festival Orchestra perform Sergei Rachmaninoff’s Piano Concerto No. 3 in D minor, op. 30 at the Verbier Festival in 2011. Russian composer Sergei Rachmaninoff (1873 – 1943) wrote his third Piano Concerto in 1909 at the Ivanovka country estate 550 kilometers south east of Moscow. Rachmaninoff spent the summer months here from 1890 until his emigration to the US in 1917. The three movements of the piece recall the structure of typical solo concerts of the Romantic era. Piano Concerto No. 3 in D minor, op. 30 was premiered by the New York Symphony Orchestra on November 28, 1909 in New York, conducted by Walter Damrosch. Rachmaninoff, who had been practicing the concert on a silent piano during his Atlantic voyage, played the solo part himself. As a child, pianist Khatia Buniatishvili, born in 1987 in Tblisi, Georgia, was considered a wunderkind. She began to play the piano at the age of three and gave her first concert with the Tblisi concert orchestra at the age of six. International performances followed when she was ten. In 2008, she gave her US debut at New York’s Carnegie Hall. Since then, Buniatishvili has been regularly invited to many high-profile festivals and has given concerts in the world’s most renowned concert halls, for instance at Vienna’s Musikverein, at the Concertgebouw Amsterdam and at the Berlin Philharmonic. She has won the highly respected Echo Classic Award twice. The Verbier Festival is one of the most prestigious classical music events in the world. The quality of the participating artists as well as the originality of the programs have established the festival as a highlight of the music season. It takes place for two weeks in late July and early August in the mountain resort of Verbier, in Switzerland. (00:20) I. Allegro ma non tanto (16:52) II. Intermezzo: Adagio (26:20) III. Finale: Alla breve

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ODE À MÚSICA ETERNA



Música, que nos comunicas calor na escuridão dos tempos,

Dás vida e desejo de prosseguir em plena luz e d'alma inteira

Quero te adorar e te beber como criatura eternamente no Éden.

Sem ti, a sensaborona mediocridade arrastaria tudo para o abismo.

Imerso em ti, oceano sem limite, o espírito ressalta, retemperado.




quarta-feira, 14 de julho de 2021

DITADURA TOTALITÁRIA INSTALA-SE EM FRANÇA

Ditadura inaugurada quando o presidente Macron anunciou aos franceses toda a extensão da obrigatoriedade do passe sanitário. Não há uma obrigatoriedade, em resumo, se alguém se submete a ficar eternamente em casa, em confinamento, ou prisão domiciliária.



 Esta deriva autoritária, negando o direito das pessoas a dispor do seu corpo, vai trazer uma sociedade com um novo tipo de apartheid: «os vacinados e os não vacinados». Além disso, a coerção não se vai restringir ao «passe sanitário». Já está colocado o princípio de submeter diversas medidas sociais, como os apoios escolares, à conformidade com a ditadura «sanitária». Quando as pessoas acordarem, terão penalizações ou suspensões de direitos fundamentais. O direito à saúde? Um «não-vacinado» não poderá entrar num estabelecimento hospitalar, para ser tratado quando doente, por exemplo.

A partição entre os «vacinados» e os «não-vacinados» vai aumentar as fraturas na sociedade, vai potenciar os conflitos. 

Está-se perante a negação dos direitos (e do próprio Estado de Direito) aos cidadãos que não querem (e com boas razões !) ser vacinados com vacinas experimentais, apenas com autorização provisória de colocação no mercado. Acresce que estas têm mais de clonagem, do que de vacinas propriamente ditas. 

Estamos - portanto - a assistir a uma viragem, não apenas na França, mas em toda a Europa da União Europeia. Note-se,  o governo do Reino Unido tem uma atitude mais «liberal» e respeitadora dos direitos das pessoas. Nos últimos tempos, houve manifestações muito participadas, populares, reclamando a liberdade de ser ou não ser vacinado, no Reino Unido. Lamentavelmente, é diferente a atitude dos dirigentes de países poderosos da UE: Estão JÁ muito longe da democracia liberal, que de tanto se vangloriam, nos discursos

[NB: Cabe aqui fazer um parêntesis para lembrar que Hannah Arendt, ao caracterizar a instalação do Estado totalitário, mostrou que quem toma o poder, não se embaraça em abolir a constituição. Simplesmente ignora-a. Foi assim, na subida ao poder de Hitler e dos nazis, como em relação a Estaline e seu aparelho de terror. A letra da constituição de Weimar dava garantias de respeito pelos direitos individuais. Esta constituição foi ignorada, mas não foi abolida pelos nazis, foi mantida durante todo o IIIº Reich, até à sua derrota. De mesma forma, a letra da constituição da União Soviética, promulgada no tempo de Lenine, também tinha artigos sobre direitos e liberdades dos cidadãos. Estes artigos foram sistematicamente violados, mas nunca revogados ou modificados, no período estalinista.]

Não sei o que vai acontecer, mas no curto prazo, está a haver um colapso do turismo, da hotelaria e da restauração em França. Estes sectores, muito importantes para o emprego, também são importantes para as indústrias transformadoras e os serviços. Será impossível manter esta situação de modo «pacífico», mesmo com a imposição de restrições ao direito de manifestar, de reunir, de palavra, etc. Não acredito que o povo francês - no seu conjunto - não compreenda o que lhe estão a preparar. 

Nada do que se passa num país da «União» europeia é indiferente aos restantes. Uma nova legislação é normalmente ensaiada num só Estado, ou num pequeno número de Estados, para logo ser alargada ao conjunto. O processo autoritário desta generalização, é realizado através de «diretivas europeias» (deveriam chamar-se «leis», na verdade), emitidas pela Comissão de Bruxelas. Todos os países e suas assembleias legislativas têm um prazo - passado o qual, o país faltoso pagará multas - para verter no seu Direito interno a norma europeia em causa.   

Veremos o que acontece nos próximos meses, com a aceleração garantida da inflação. O banco central europeu (BCE) vai aumentar ainda mais a impressão monetária. Irá continuar a compra da dívida soberana dos Estados. Os países continuarão a endividar-se, sem teto ou restrições de qualquer espécie. Antes, eram a Grécia e  Portugal, os sobre-endividados na UE. Agora, a França e a Espanha passaram a ter, igualmente, um endividamento de mais de 100% do PIB, caminhando alegremente para os 120%... 

Nada pode ficar como dantes. Um Estado policial e autoritário poderá vir a instalar-se. Em França existe descontentamento popular mas, nas circunstâncias presentes, ele só pode reforçar a vertente direitista-populista. Os partidos à esquerda estão esfacelados pelo abandono de «uma linha de unidade de classe» (usando a terminologia marxista), para abraçarem a «movida» identitária e o fracionamento das lutas. 

Assim, com as esquerdas parlamentares e sociais fora-de-jogo, as fileiras da direita chauvinista e conservadora têm vindo a engrossar, quotidianamente.

 O mal-estar dos franceses ditos «de raiz» (seja lá o que isso for), tem sido explorado, ampliando os medos e ódios contra todos os imigrantes. Este estado de coisas é mantido com a política de ghettos (as «periferias pouco seguras»). Nestes ghettos vive «um exército de reserva» de trabalho precário, disponível e a baixo preço. 

O grande patronato está contente com isso, pois advoga a abertura das fronteiras e legalização indiscriminada dos clandestinos em França. 

Nisso, está a espelhar a política de total abertura à imigração, levada a cabo pelos democratas nos EUA, à qual Trump queria fazer obstáculo, mas não conseguiu.

Tudo isto é perverso: as pessoas ficam presas a falsas dicotomias, a fidelidades irredutíveis: é o triunfo da política «identitária». 

Este jogo dura há demasiado tempo. O respeito pelos «princípios republicanos» não entusiasma por aí além os eleitores. A polarização a que se assiste agora, neste lançamento da campanha eleitoral para a presidência, significa que as tensões irão muito depressa ao rubro. Macron é o «bombeiro-pirómano». Ele é também o fantoche da oligarquia. Esta, pagou e assinou em seu nome próprio*, um anúncio a página inteira, declarando que «aceitar refugiados, é importar talentos». Só não dizem a razão do seu entusiasmo. Vão pagá-los, esses talentos importados ... abaixo, muito abaixo dos salários dos cidadãos franceses com qualificações equivalentes.

Antes, as forças armadas designavam-se como «La Grande Muette» (= a grande muda), um grande corpo estatal, que não manifestava em público a sua opinião, nunca. Recentemente, vimos vários grupos semi-anónimos, militares, a posicionarem-se. 

Porém, «uma tomada em mãos da situação», eufemismo de golpe de Estado, já está em curso. Seu protagonista é o próprio presidente Macron.  Agora, resta saber se ele tem realmente «as costas quentes», ou se está a fazer um bluff arriscado.

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[* com assinaturas pessoais dos grandes patrões]


terça-feira, 13 de julho de 2021

CARTA AO MEU TIO ALBERT + POST SCRIPTUM

 

                 "A educação não é a aprendizagem dos factos, mas o treino da mente para pensar"

CARTA AO MEU TIO ALBERT


Estejas lá onde tu estiveres, pois tu sabes que «Deus não joga aos dados», 

Eu te direi que hoje* bem achei uma prova daquele teu belo e profundo pensamento.

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POST SCRIPTUM: 


Às vezes, penso que o meu primeiro (??) grande erro foi o de não me ter deixado ficar pela faculdade de Medicina, em vez de desertar para Biologia.

Provavelmente, seria hoje uma pessoa algo diferente, mas não completamente diferente; só nas aparências e na visão dos outros, «do social». Mas, isso não me importa muito. Ao fim e ao cabo, fiz o que sempre gostei.

As histórias que o meu pai contava à mesa eram um bocado chatas, mas lá me iam entrando pelos ouvidos adentro e ficavam por vezes entranhadas nas circunvoluções do cérebro, à espera de oportunidade.

Pelo que jamais alguém aprendeu com os erros alheios. Sei isto, por experiência própria e por observação direta de várias gerações.

Contrariando a frase-feita, direi que a melhor coisa que existe, não são as crianças; mas sim, as crianças que têm avós/avôs e as adoram e que elas adoram. Deste convívio, resultam os maiores dons de uma para outra geração, as histórias que contam.

Para as crianças permanecerem (e não «se tornarem» pois são todas, naturalmente) inteligentes, não lhes devem colocar smartphone, ou computador, ou consola de jogos, nas mãos. Mas, livros de histórias divertidos, adequados ou, ainda melhor, a leitura desses livros...feita com os seus avós. Enfim, coisas que façam sonhar. Sabem, a faculdade de sonhar é o que faz os humanos ser aquilo que são. 

Como preservei a capacidade de sonhar? Como preservei um certo grau de fantasia, imaginação, poesia, emoção?

 - Como são preciosas as horas em companhia de pessoas mais velhas! Desde pequenino, tenho uma enorme ternura e verdadeiro fascínio pelos idosos. Para mim, é claro o porquê disto: tive as mais encantadoras, as mais queridas avós do Mundo. Entre muitas recordações, ficam as histórias de vida delas próprias e de seus esposos, histórias reais, não fantasiadas.

O meu maior privilégio foi o de ter herdado o capital humano que herdei. Nem é genético, propriamente dito, nem é cultural, tão-pouco, pois eu podia ter vivido num ambiente culto, mas frio à minha volta. 

A pouca imaginação que tenho, a capacidade de me emocionar, a fascinação não simulada pelas diversas formas de beleza, a capacidade de compaixão pelos outros, tudo isso são traços de carácter herdados. Mas herdados de quem? Não apenas das avós; também dum conjunto de pessoas, nem sempre da família próxima ou alargada, pois inclui professores e professoras, que me deram muito mais do que as matérias que lecionaram.

Independentemente da classe, do meio social, do ambiente cultural, existe a herança simples da palavra ao ouvido, dos adultos (muitas vezes, os/as avós) para as crianças.

Esta herança indelével é um tesouro que se transporta pela vida inteira. Não importam os bens materiais, não importa o grau na hierarquia das instituições sociais: Faltando esta herança, não conseguimos nunca ser inteiramente humanos.  


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*) Relaciona-se com uma operação, uma análise e com ... doce. Lamento não poder explicar em detalhe. Mas, algumas pessoas amigas compreenderão.

sábado, 10 de julho de 2021

MERCENÁRIOS E CONTRATANTES

                               Bartolomeo Colleoni, o famoso Condottiere do Séc. XV


A guerra está mais ou menos completamente privatizada. O motivo real dessa privatização é que as guerras do Império não têm nenhum atrativo para os nacionais US, mesmo os das classes baixas, que foram durante decénios atraídos por salários elevados e pela possibilidade de frequentarem o ensino superior (privado e muito caro, nos EUA), depois de cumprirem o contrato como soldados, graças a bolsas especiais. 

De facto, a guerra deixou de ter qualquer relação com a defesa do território, pelo menos, nos países dominantes do hemisfério ocidental. Nota-se que, as missões em África (Líbia, Chade, Mali), no Médio Oriente (Iémen, Síria) ou na Ásia Central (Afeganistão), apenas constituem as versões mais recentes de aventuras neocoloniais, mesmo quando debaixo da capa e sob os auspícios de «forças de paz» da ONU.  

Seja no país sede do Império (EUA), seja nas potências vassalas (Reino Unido, França, etc...) a privatização da guerra segue o seu percurso típico de privatização dos lucros para as empresas de mercenários, enquanto os custos são públicos, financiamentos inscritos em rubricas de «defesa» ou outras, dos orçamentos estatais. Assim, ficam satisfeitas estas empresas de mercenários - que se transformaram em autênticos potentados, com poderosos meios militares e logísticos- mas  também os deputados que podem aprovar estas despesas na ignorância dos cidadãos comuns, convenientemente dissimuladas em rubricas de «cooperação», «ajuda ao desenvolvimento», etc.

Uma extensiva pesquisa surgiu no Newsweek, sobre os segredos do exército «incógnito»  de autoria de WILLIAM M. ARKINNesta peça extensa, são dissecados os meandros do exército secreto dos EUA, que conta já com 60 mil homens, segundo o autor, sendo certo que as suas funções no terreno, deixaram há muito de ser a de meros auxiliares, fornecendo apoio logístico. São - de facto - um exército mercenário encoberto, com meios muito sofisticados, mais ou menos como comandos, mas sem ligação orgânica à estrutura militar do Estado, como é o caso daquelas forças especiais.

No caso da retirada* do Afeganistão, segundo vários relatos, não se trata realmente de retirada, mas antes da transformação da guerra: Esta, deixa de ser protagonizada maioritariamente por forças dos Estados, pelos contingentes da NATO, com elementos das forças armadas dos países da aliança, para ficar entregue a um conjunto de «contratados» (maneira eufemística de designar mercenários) que irão sustentar pontos-chave do dispositivo ocidental. Estes incluem uma série de bases dispostas na proximidade das fronteiras com o Irão, a China e Rússia. Embora o Afeganistão não tenha fronteira direta com este último país, pode seu território ser facilmente alcançado atravessando outros países da Ásia Central.  Estas bases têm funções de espionagem, de manter uma pressão permanente por exemplo, com mísseis, que poderão ser, a qualquer momento, equipados com ogivas nucleares e como ponto de apoio a guerrilhas que poderão infiltrar os territórios inimigos. Vital - também - será a proteção dos campos de ópio e fábricas secretas, que processam esta droga, para ser transportada em voos secretos, até a vários pontos do globo, onde existam bases dos EUA. Este tráfico de droga está confirmado, para além de qualquer dúvida, tendo como motivação primária fornecer dinheiro às operações secretas da CIA. 

Quando leio, hoje, que a famosa empresa «Blackwater», está em condições de substituir  os soldados que abandonam o Afeganistão, vem-me à memória Maquiavel. No tempo de Maquiavel, no fim do século XV, princípios de século XVI, muitos potentados e príncipes italianos tinham como coluna vertebral de seus exércitos, mercenários, cujo chefe ou «condottiere», era um senhor da guerra que oferecia os seus préstimos a troco de pagamento em espécies sonantes. Os exércitos das grandes potências, na Europa dos séculos XVI até ao Séc. XIX e posteriormente, recrutavam mercenários, em regimentos completos, desde o coronel, até aos soldados rasos e oriundos de um só país, como os regimentos Suíços, Irlandeses, etc. 

Ao longo do século XX e até agora (século XXI), existem algumas forças «de certa forma mercenárias», como a Legião Estrangeira (em França e na Espanha), os Gurkas (Nepaleses ao serviço dos britânicos) ou ainda os Guardas Suíços do Vaticano. Porém, estes regimentos não são considerados formalmente como mercenários. 

Na realidade, os mercenários atuais têm um vínculo exclusivo a uma empresa, a qual os recruta, os equipa e os coloca no terreno, a troco de pagamento pela potência estatal. Esta, pode assim desencravar-se de uma situação difícil, ou em que não obteria o aval dos cidadãos e/ou dos parlamentos, para levar a cabo os seus desígnios. Os cenários de conflito protagonizados por mercenários, recentemente, foram os da Rep. Dem. do Congo e doutros países de África. 

A privatização da guerra não é um progresso, sob nenhum ângulo. Em relação às tropas regulares, os mercenários estão menos obrigados pelas leis da guerra. Isto significa que não terão a proteção de serem considerados como «forças combatentes», na eventualidade de serem capturados. Serão considerados criminosos de direito comum. Como sabem que não beneficiarão, em caso de captura, da proteção ou pagamento de resgate pela potência para a qual combatem, talvez isto os incite a ter comportamentos criminosos, em especial, em relação a civis.

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*Veja como Pepe Escobar analisa o complexo jogo diplomático sob auspícios da SCO e envolvendo os Taliban e governo afegão. 

George Harrison: All Things Pass (FULL MOVIE)


 

                          +What Is Life

sexta-feira, 9 de julho de 2021

[Maria Martinón-Torres] «Novos avanços sobre a evolução humana em Eurásia»


[Dia de Darwin, 18-03-2021]
«Novos avanços sobre a evolução humana em Eurásia»
Maria Martinón-Torres

Esta conferência, tão interessante em si mesma, pelos desenvolvimentos recentes de que nos dá conta, ainda o é mais, pela forma muito avançada como apresenta os recentes fósseis descobertos em várias localizações de Ásia, da China e da Indonésia, em particular. 

Vale a pena sublinhar que a conferencista não teve - com certeza - conhecimento da descoberta do Homem da Harbin (Homo longi) cujo anúncio, através de publicação de artigos em revista científica, foi apenas em Junho deste ano. Ora, ela dá uma tentativa de explicação para uma série de fósseis, que não apresentam características de neandertais, nem de humanos modernos, como sendo talvez da espécie H. denisovans, cujos restos fósseis até agora reconhecidos (osso da mão e dois dentes, na gruta de Denisova, uma parte de mandíbula inferior, numa gruta do Tibete) não são suficientes para a caracterizar anatomicamente, embora o seu ADN tenha sido sequenciado. 

Com certeza vamos ter, nos próximos meses ou anos, uma síntese de muitas descobertas dispersas, que se acumularam nos últimos dez anos em particular, que têm sido complicadas de «arrumar» dentro de um ou outro conceito de evolução humana. 
Inclusive, é possível que a descoberta recente em Israel, de um Homo não sapiens, nem neandertal típico, possa corresponder à tal hipótese do vai e vem, da expansão e contração em ondas de povoamento, a partir do Levante, hipótese que foi enunciada na conferência por Maria Martinón-Torres.

Espero que tenhais igual prazer ao que eu tive ao ver e ouvir esta conferência, de qualidade superior e muita clareza.
 

 

quinta-feira, 8 de julho de 2021

Descoberta escultura com 51 mil anos, atribuída a neandertais, na Baixa Saxónia

 Uma recente descoberta , na Baixa Saxónia, de um artefacto com cerca de 51 mil anos, faz recuar as possíveis formas de arte e de pensamento abstrato, ao tempo em que os neandertais (Homo neanderthalensis) eram os únicos habitantes dessas paragens.

Na gruta do Unicórnio, os arqueólogos descobriram um pé de cervo gigante extinto (Megaloceros giganteus), cujo osso foi fervido e depois trabalhado, com entalhes claramente intencionais, completamente distintos dos que resultam da atividade de dissecação.

 

                                     Imagem do pé de cervo gigante com entalhes (51 mil anos)

Este achado não deveria surpreender as pessoas que têm acompanhado as descobertas dos últimos anos respeitantes a neandertais. Com efeito, têm-se acumulado evidências de sofisticação destes primos dos Homo sapiens, que com eles conviveram na Europa, pelo menos entre 55 mil anos e 28 mil anos. Há aproximadamente 60 mil anos, que os homens modernos, saídos de África (via Levante), ocuparam territórios onde os neandertais estavam instalados, desde há cerca de 400 mil anos. 

Os neandertais, mais robustos, com um corpo adaptado ao frio intenso da última glaciação, ocuparam uma enorme extensão do continente euroasiático, onde deixaram vários testemunhos das suas capacidades de abstração. Por exemplo, foram atribuídos a neandertais desenhos abstratos a ocre, numa gruta em Espanha, com 65 mil anos, numa altura em que Homo sapiens ainda não tinha alcançado a Península Ibérica. 

De qualquer maneira, o pé de cervo esculpido da gruta do Unicórnio, na Baixa-Saxónia, é o testemunho mais antigo de escultura paleolítica até agora descoberto. Outras esculturas paleolíticas, até agora conhecidas, estatuetas do homem-leão e de divindades femininas, estão datadas de 40 mil anos ou menos, tendo sido produzidas por Homo sapiens.