sábado, 21 de outubro de 2017

SOLIDARIEDADE PASSIVA OU ACTIVA?


Nós devíamos exprimir a solidariedade activa, não através de doações anónimas de dinheiro ou bens de primeira necessidade a instituições de caridade ou do Estado, mas através de cadeias concretas de pessoas concretas com ligações reais às povoações afectadas. 
Assim, tínhamos maior controlo, maior garantia de que os dinheiros e produtos chegavam ao destino e as pessoas mais afectadas é que seriam atendidas em prioridade. 
Posso contribuir modestamente, organizando a recolha, divulgando e encaminhando, caso existam pessoas capazes de fazer a ponte com as populações afectadas.

HUBRIS E ARROGÂNCIA, É O QUE RESTA AO IMPÉRIO

               

No seguimento das questões levantadas pela iniciativa da China de estabelecer contratos futuros de compra de petróleo em Yuan, o qual é convertível em ouro no Shangai Gold Exchange, há muitos analistas que descrevem isso como um ataque direto ao dólar. O dólar seria destronado do seu papel como moeda de reserva, visto que os países produtores de petróleo (principalmente, os pertencentes à OPEP) deixam de aceitar em exclusivo esta divisa. Antes, qualquer país comprador tinha de possuir dólares para adquirir esta estratégica matéria-prima. É assim que funciona há 43 anos o sistema do petrodólar, resultante das negociações entre Kissinger e a monarquia saudita. 

Porém, tal visão é muito estreita, visto que os chineses detêm um excesso de dólares (acima de um trilião) como resultado do seu comércio, altamente deficitário para os EUA. 
Provocar  a descida acentuada do dólar, sendo esta a mais importante divisa de reserva no banco central e nos bancos comerciais chineses, parece uma forma de auto-sabotagem, mais do que medida estratégica, no contexto do sistema monetário e financeiro mundial.

Além disso, o facto do dólar continuar a ser a moeda de reserva mundial, deve-se a seus detentores, estatais ou privados, assim o quererem. Enquanto assim quiserem, não importa em que divisas seja transaccionado o petróleo (ou outra matéria-prima), o dólar continuará a estar na posição de moeda de reserva mundial. 

O perigo maior para o sistema do petrodólar, vem apenas e somente da enorme arrogância e hubris do império americano. Este tem usado e abusado da situação de privilégio de ser detentor da moeda reserva mundial para impor sanções, para dificultar o comércio e sabotar países. 
O sistema de Bretton Woods só poderia ser aceitável por todos os actores ao nível mundial, se os EUA fossem capazes de refrear a tentação de usarem a sua posição especialíssima, como arma contra todos os que se rebelam e contestam a sua hegemonia.

Com efeito, nenhum país está a salvo destas medidas de guerra económica, que são o decretar unilateral de sanções, como veio recentemente provar a imposição de sanções contra a Rússia e forçando os seus aliados (vassalos) da NATO a seguirem o mesmo caminho, mesmo com enorme prejuízo para eles próprios. 

Mas a Rússia e a China são potências demasiado grandes para ficarem «debaixo da pata» de Washington. Naturalmente, têm encetado o caminho de se autonomizarem do sistema dólar, assim como do controlo do sistema «Swift», das transferências de divisas e de transações internacionais. Já criaram e funcionam com o seu sistema próprio, equivalente ao sistema Swift.

Paralelamente, a China e a Rússia vão comprando tanto ouro quanto podem, pois sabem que este sistema monetário está no fim do seu «prazo de validade». No sistema actual, as divisas são meramente símbolos, manipulados pelos bancos centrais e comerciais, sem nenhuma ligação sólida à economia real, são divisas «fiat». 
Assim, os EUA têm tido o exorbitante privilégio de obter, a troco de «pedaços de papel» ou de dígitos eletrónicos, importações de bens e serviços, sem os quais a economia dos EUA iria certamente para o colapso, visto que já deixou há muito de ter base industrial suficiente para se auto-sustentar e exportar. 
Por outras palavras, mais nenhum país no mundo tem a capacidade de se manter sucessivas décadas (!) em défice comercial. Os EUA conseguem este prodígio, porque «exportam» a sua divisa e o mundo inteiro, por enquanto, aceita  o dólar como pagamento.

O facto do Yuan estar a dar passos para seu reconhecimento, enquanto moeda de reserva não é de agora, basta pensar-se na longa batalha para que o FMI incluísse a divisa chinesa no cabaz de divisas, o SDR (cabaz composto por determinadas percentagens de dólares, libras, yens, euros e - agora - de yuans).
Os países ou agentes privados ficarão contentes em serem detentores de yuan, pois agora têm a possibilidade concreta de trocar estes yuan por ouro. 

O ouro, vale a pena recordá-lo, embora tenha sido «desmonetizado», continua a ser um metal monetário e um símbolo de riqueza e de poder, como foi durante milénios. 
De outro modo, seria absurdo e incompreensível que todos os bancos centrais possuam importantes quantidades deste metal; se fosse apenas uma matéria-prima entre outras, não haveria razão objetiva para tais instituições - exclusivamente financeiras -continuarem a deter e adquirir mais ouro. 
Nos finais da IIª Guerra Mundial, o regime de Hitler estava já claramente derrotado: ainda assim, conseguia fazer importações a troco de ouro, pois já não conseguia que os parceiros comerciais aceitassem o marco alemão.

Quando houver bastante comércio internacional em várias outras divisas, diminuindo bastante a fatia de cerca de 60% actual em dólares, as nações e as empresas já não verão como essencial possuírem esta moeda em reserva. 
É nessa altura que o dólar será abandonado como reserva «oficiosa», pois toda a gente sabe que o dólar - desde 1971 - já não está garantido por nada de sólido. Antes, mantinha a sua convertibilidade em ouro, o que resultava do acordo de Bretton Woods
O desaparecimento do estatuto do dólar, enquanto divisa de reserva, não será súbito, nem total: basta ver o exemplo histórico da libra.

Vários analistas de mercados financeiros vêem sinais claros de que o ouro voltará a desempenhar um papel de relevo no sistema monetário internacional. Com efeito, este tem uma vantagem inegável sobre qualquer divisa emitida por um banco central: é que não pode ser fabricado a preceito ou conforme as conveniências de uma super-potência, além de seu valor ser o mesmo em todo o mundo e aceite, independente do local onde foi minerado ou refinado. 

sexta-feira, 20 de outubro de 2017

DIXIT DOMINUS - HAENDEL


Esta obra de juventude de Haendel (tinha apenas 21 anos) ganhou merecida fama. Corresponde ao seu período romano, na cidade do Papa. 
Quando a compôs para o rito católico - ele, protestante luterano - as autoridades, que presidiam aos ritos da Igreja Católica, não viram nisso qualquer inconveniente. 
No início do século XVIII, havia muito maior tolerância religiosa do que nos dois séculos anteriores, pelo menos, nas figuras de proa da sociedade e no alto clero. 
As épocas de tolerância são, geralmente, épocas de paz e de progresso em todos os planos. São - porém - momentos frágeis, sempre suscetíveis de sucumbirem às paixões fanáticas de uns e outros. 
Com esta obra, merecidamente ressuscitada e frequentemente executada nos últimos anos, pode ver-se que «o Saxão», como era conhecido Haendel em Itália, tinha um domínio magistral das várias técnicas de composição que floresceram no barroco. 

A secção inicial, o grande coro sobre «Dixit Dominus», é um monumento, como poucas peças de carácter sacro: neste grande fresco inicial, a tensão entre as notas de valor longo e as frases curtas, incisivas, confere à peça uma energia irresistível.

Quanto às árias para vozes solistas, acompanhadas pela secção de arcos da orquestra, pontuadas por discretas intervenções do coro, são das mais expressivas do reportório sacro. 

O grande fresco final do «Gloria Patri» é um outro grande monumento de contraponto «fugato», com um brilhantismo inultrapassável.

Vivaldi, no mesmo período - princípios do século XVIII - também compôs «Dixit Dominus» dos quais sobreviveram dois. Parece-me muito interessante confrontar o tratamento que estes dois mestres, Haendel e Vivaldi, lhe deram. Cada um soube imprimir o seu cunho pessoal, mas em plena conformidade com o espírito do texto.

A ideia de que J. S. Bach seria o «mestre do contraponto e da fuga», enquanto Haendel seria antes o «autor de peças para solistas e para a ópera», fica completamente posta de rastos, aqui. 
Basta ouvir com atenção as grandes obras vocais de Bach e de Haendel, para se reconhecer que ambos dominavam todas as técnicas de composição e  as utilizavam como mestres.

A repetição (como extra) da ária «De Torrente» para solistas, coro e orquestra, foi muito bem escolhida por Elliot Gardiner, outro mestre do barroco, como gosto de chamá-lo: ele eleva a interpretação desta e de muitas outras peças a cumes inexcedíveis. 



quinta-feira, 19 de outubro de 2017

EXPOSIÇÃO DE DESENHO POR SARA PESTANA -

                             Foto de Sarapintar.

No «Atelier Aberto» do artista plástico Malenga encontra-se, até ao primeiro dia de Novembro, a exposição de Sara Pestana (Sarapintar) intitulada «Metamorfome».
Estou consciente da enorme originalidade desta jovem artista, além dos laços de amizade que me ligam com ela e com os seus pais. 
O seu estilo, muito original, está em evolução permanente, com novas propostas estéticas e explorando interacções entre vários domínios, desde as artes plásticas até à filosofia, passando pela psicologia. 
Por isso, despachem-se em ir visitar a exposição em Lisboa,  rua São João da Mata 59. 

quarta-feira, 18 de outubro de 2017

SOBRE OS BEATLES

A uma distância de meio século, porque razão a geração que cresceu nos anos 60 foi praticamente construída - ideologicamente, mas sobretudo esteticamente - pelos Beatles?
O que eles faziam, musicalmente e poeticamente, era sempre de uma qualidade grande, muito grande mesmo. 
Parecia fácil, entrava no ouvido, mas era uma permanente renovação de um som, indo buscar a tudo o que estava ao seu alcance, desde as ragas indianas aos concertos sinfónicos, não desprezando as suas raízes de rythm and blues.

Como foi possível, porque razão eles eram (e são ainda) únicos?


                           Com mais de 60 anos, continuam a ser perfeitos, originais, inimitáveis.

terça-feira, 17 de outubro de 2017

HAENDEL - ária da ópera Ariodante

«Scherza, infida in grembo al drudo»
(Ariodante)- Handel
Rolando Villazón com Paul Mac Creesh e Gabrieli Players - 2008




Uma das mais belas árias do barroco, aqui interpretada magistralmente.
No espectáculo total da ópera desse tempo, não apenas deviam revelar-se os talentos dos cantores, como também devia ser ocasião dos compositores traduzirem em música toda a gama das paixões humanas.
Haendel, como ninguém, conseguiu transpor para música os sentimentos complexos de ciúme e dum amor ainda vibrante, que experimenta o protagonista desta ópera Ariodante.
Outras árias das suas óperas e oratórias possuem intensidade dramática e beleza semelhantes a esta peça.
Como genial pintor de sons, em dois traços ele consegue traduzir o indizível. Com alguns sons apenas, magistralmente colocados sobre palavras, acompanhados do discreto fundo sonoro da orquestra, consegue este prodígio.
O mais estranho é que, segundo várias biografias, Haendel não foi homem de grandes paixões: soube porém exprimir na música os mais arrebatados estados de alma.

segunda-feira, 16 de outubro de 2017

A SOLUÇÃO REALISTA PARA FOGOS EM PORTUGAL E MUITO MAIS

                     

Continuamos a atirar para «os políticos», para «os partidos» e para as forças económicas, como sendo os responsáveis pelo estado de enorme falta, que origina as tragédias dos incêndios e a quotidiana má gestão, que não causa mortes ou danos visivelmente, que não tem direito às primeiras páginas de jornal, mas que tem efeitos tão ou mais devastadores, que os referidos incêndios.
Mas, se calhar, não são eles, os únicos responsáveis de todas as calamidades que se abatem sobre este país.

A cidadania em Portugal tem sido adormecida ao som de canções de embalar ou cantos sereia, emitidos pelos figurões dos partidos, os quais sabem fazer o discurso que o povo quer ouvir.



Trata-se de uma espécie de engano muito peculiar, pois os que são enganados, sabem - afinal - que o estão a ser. Mas, ainda assim, querem ouvir promessas,  querem «acreditar», querem ter «esperança» e votam  - em geral - segundo a etiqueta ideológica, mas não fazem mais do que isso. O seu papel, na democracia, limita-se a colocar um voto na urna, de tempos em tempos. E isso não é participação nenhuma!

Deveria ser o papel das pessoas mais conscientes o de perceberem e explicarem porque motivo esta «democracia» não funciona, nem mesmo ao nível mais elementar. 
A razão é simples: não existe, de facto, qualquer representação que não se degrade - com o tempo - em compadrio, em troca de favores, em esteio para a corrupção. O único antídoto para isto, é a democracia directa, ou democracia assembleária. 
Ou seja, as pessoas «comuns» têm de mudar completamente de atitude; têm de colocar a resolução dos problemas nas suas próprias mãos. 
Teoricamente, os níveis da freguesia e do município deveriam ser apropriados para se ensaiar desde já uma política verdadeira, ou seja, em Assembleias Cidadãs, com poder para controlar e, eventualmente, revogar os eleitos dos cargos. 

Deveria ser este o objectivo de quaisquer pessoas sinceras, sem outra vinculação, a não ser o compromisso que assumiram com o povo.