segunda-feira, 20 de fevereiro de 2017

O IMPERIALISMO LINGUÍSTICO E CULTURAL


Definir o conceito torna-se necessário, porque há uma série de equívocos em torno dos conceitos de língua e de cultura.
Primeiro, a língua não é um sistema fechado, é um sistema aberto e dinâmico. Historicamente as diversas línguas evoluíram, derivaram de outras, por processos que evocam a evolução biológica (em termos de analogia, claro). 
Segundo, o complexo universo de uma língua não apenas se traduz numa sonoridade própria dos fonemas, das palavras, mas também existem construções conceptuais que lhe são peculiares.
Existem línguas que não têm determinados equivalentes semânticos, ou porque são realidades que não aparecem na área de afirmação dessa língua, naturalmente, como por exemplo espécies biológicas, ou tecnologicamente, como certos instrumentos agrícolas que não são conhecidos/usados em dada região, ou mesmo ideologicamente, conceitos abstractos que correspondem a uma forma de sentir ou de estar (por exemplo: «o fado», presente na cultura portuguesa e árabe, ou ainda, a «saudade», de tradução difícil para qualquer outra língua). Isto acontece com todas as línguas, de todas as latitudes e épocas, porque a língua é uma entidade viva, mutável.

Porém, a língua é também sujeita a colonização, a subjugação e a etnocídio.
Na era da globalização capitalista, o inglês tornou-se uma espécie de «língua franca» universal, muito mais universal do que o Latim, na Europa das luzes, de Londres a Moscovo. 
Os Principia de Newton foram editados em Latim, assim como os Colóquios dos Simples de Garcia da Orta. Para se fazerem compreender a nível internacional, pelo pequeno escol que tinha frequentado a universidade, os autores tinham de editar as suas obras em Latim. 
Actualmente, olhando superficialmente, pode-se julgar que o Inglês tomou o lugar do Latim como língua erudita, visto que (quase) todos os livros e sobretudo artigos originais de qualquer ramo científico, são editados em Inglês, até por editoras não sediadas em países anglófonos. 
Mas o efeito é muito mais penetrante, pois levou à extinção de revistas científicas noutras línguas. Desde há décadas que as (restantes) revistas científicas alemãs, francesas, espanholas, etc. editam em Inglês, mantendo (algumas, apenas) um breve resumo do artigo na língua «nativa». Estou a referir-me ao Alemão, Francês ou Espanhol, que durante vários séculos foram também línguas com enorme projecção nas ciências, tanto ou mais que o Inglês. 

Portanto, aqui já vemos uma vertente de imperialismo linguístico, cuja gravidade se menospreza, porém é muito importante pois os novos conceitos e a evolução dos conteúdos linguísticos, semânticos vão de par com a língua onde são veiculados. 
Uma língua que não tem os termos apropriados para exprimir uma dada realidade, vai ser preterida no discurso escrito ou oral, formal ou informal. 
É assim que várias línguas europeias se tornaram externas ao discurso científico, sendo o inglês «científico» o jargão único em congressos. Isso permite que se façam compreender entre si cientistas das mais diversas culturas. 
Mas coloca-se uma situação de desigualdade formal: uma pessoa anglo-falante de nascença, ao iniciar-se neste ou naquele ramo do saber científico ou tecnológico, não terá um problema linguístico. No entanto, este problema estará presente, com maior ou menor acuidade, para todos os de língua materna não inglesa: com efeito, a língua estrutura o pensamento de modo profundo. 
As estruturas linguísticas, a estrutura gramatical profunda, são aprendidas desde o início da vida. O recém-nascido absorve os sons e reproduz esses sons ainda antes de «saber falar». Quando aprende a falar, a estrutura gramatical é assumida implicitamente. Só muito mais tarde, caso seja escolarizado, é que vai aprender formalmente a gramática da sua língua materna, que já possuía intuitivamente, em larga medida. 
A língua é «biologicamente armazenada» ao nível de estruturas especiais do nosso córtex. Nós pensamos a nível profundo na língua materna, sonhamos na língua materna …
É portanto essencial poder-se traduzir os conceitos para a nossa língua materna. 
Saber-se traduzir os conteúdos semânticos de uma língua erudita para linguagem vulgar, era absolutamente natural nos séculos XVI-XVII-XVIII, em que o Latim era a língua erudita, pois não se conversava em Latim, no dia-a-dia, todos usavam a língua comum.

Já em relação ao Inglês científico, somos hoje incapazes de pensar em assuntos científicos, sem incluir no discurso, no nosso idioma, palavras anglo-saxónicas. A própria explicação dos conceitos subjacentes a estes termos anglo-saxónicos, também acaba por ter expressão mais fácil e «espontânea» em Inglês.
A língua materna, não anglo-saxónica, encontra-se assim relegada para um estatuto secundário, em muitos aspectos da cultura científica.

Mas não é apenas neste domínio que as línguas estão a ser atacadas na sua essência.
Também se nota uma invasão do Inglês como língua preferida na música pop, rock, rap, etc… a qual tem a função de identificador de geração e factor de coesão dos adolescentes. 
Assim é banal, nos adolescentes, observar-se a audição constante de canções apenas em língua anglo-saxónica. Esta linguagem usada na cultura pop e rock é muito empobrecida, em geral: não tem o requinte e a riqueza de significados das letras dos anos da década de 1960 (Bob Dylan, os Beatles e muitos outros, tinham letras de canções com qualidade poética elevada). 
Sobretudo, as jovens gerações são «treinadas» a sentir e pensar noutra língua que não é a sua própria. 
Muitos jovens julgam terem-se apropriado essa língua, mas a sua capacidade linguística está longe do nível de desempenho médio de anglo-falantes da mesma idade e ano de escolaridade. 
Na realidade, a língua Inglesa é que se apropriou das suas mentes, pois eles não conseguem exprimir-se em português, vernáculo ou popular, mas julgam (erradamente) que estão a pensar, ou mesmo a sentir, em Inglês. 

Esta colonização linguística nunca pode ser dissociada da colonização mental e ideológica. Ela não deve ser confundida com a capacidade de expressão num idioma estrangeiro, por alguém que possui plena capacidade de se exprimir na sua língua autóctone.

Tal como no caso da língua científica, nota-se que a total dominação do Inglês corrente, como língua da indústria musical e de entretenimento, coloca línguas e culturas diferentes, o português, o francês, o alemão, o espanhol, etc., numa postura marginal, nos seus próprios países de origem. 
Muitos grupos musicais – não anglo-saxónicos - apenas compõem e cantam em Inglês. Muitos dos filmes ou dos vídeos, produzidos em vários países, já não são falados na língua original desse país, são falados em Inglês e depois dobrados, eventualmente, para essa língua. Dá-se um fenómeno semelhante ao da cultura científica: para se ter audiência, para se vender, é necessário escrever, falar, cantar em Inglês.
Este imperialismo cultural pode considerar-se arma de dominação «suave» (o dito «soft power»), por oposição ao bombardeio, à ocupação militar, etc. Porém, este imperialismo linguístico viabiliza todas as restantes dominações e inviabiliza o desenvolvimento autónomo das culturas nacionais e regionais.

O etnocídio actual tem preocupado muitos filósofos, linguistas, especialistas da cultura e antropólogos de muitos países, incluindo cientistas de países anglo-saxónicos, que vêem - com razão – que esta extinção maciça de línguas e culturas é realmente um empobrecimento geral da humanidade. 
Todos saímos a perder desta perda de diversidade. Note-se que, com a perda de uma língua, é também a perda de uma literatura, de um imaginário, das chaves para compreensão da música, das artes plásticas… tudo isso desaparece ou fica apenas sob forma de objectos enigmáticos, a serem interpretados pelos arqueólogos. 
Uma língua que desaparece, é um corpo de cultura que morre. Podemos tentar perceber como funcionava tal corpo em vida, mas ele está irreversivelmente morto. O fenómeno é grave, com certeza. Porém, não se imagina a mobilização das pessoas em defesa das culturas, no mesmo grau que em defesa de espécies em vias de extinção ou de ecossistemas em perigo.
No meu entender, não existe a Natureza, por um lado e a Cultura, por outro. Deveria pensar-se a Ecosfera como incluindo a Noosfera, a esfera do saber e do conhecimento. 

Esta Noosfera tem de ser protegida, pois nós estamos – enquanto humanos- simultaneamente ancorados no mundo dos objectos e das ideias. Trata-se de aplicar o mesmo critério, num e noutro caso, ao fim e ao cabo: Nenhuma espécie/língua viva é mais ou menos importante que as outras, todas desempenham um papel no ecossistema, todas são resultantes de uma longa evolução.
Infelizmente, não existem movimentos pujantes em defesa da vida cultural, das línguas em particular. Porém, vemos que haveria todos os motivos para o fazer. 
Isto deve ser radicalmente separado de passadismos, de glorificações nacionalistas, ou reflexos xenófobos. 
Mas também não devemos cair no provincianismo, na incapacidade de decidir em nosso próprio benefício e do nosso povo e cultura. 

A «excepção cultural» é uma necessidade. Devia-se proibir ou restringir o uso de línguas estrangeiras na publicidade (em cartaz, em anúncios da televisão, de rádio…); não se devia usar termos estrangeiros em textos oficiais, em comunicações de entidades públicas, em livros didácticos (excepto, se estes forem para ensino de língua estrangeira, obviamente). Devia-se ter imenso cuidado com a correcção – lexical, ortográfica e gramatical – nos textos nos casos acima referidos e também na linguagem dos jornalistas e apresentadores na televisão, rádio…

O Inglês (ou outras línguas) tem um lugar natural no nosso ensino. A literatura de qualidade em línguas estrangeiras deveria ser promovida. Muito se deve fazer - e é justo que se faça - para difusão de outros idiomas na nossa sociedade. 

Mas devemos proteger a língua nativa, o Português. Isso passa por uma atitude consciente de cultivar o nosso próprio idioma e de dar relevo merecido aos criadores do passado e presente que o utilizam, sejam eles eruditos ou populares.

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PS: Phil Butler apresenta uma ideia de noosfera que se deve ao Presidente Putin ou a alguém próximo. Vale a pena ler: 

domingo, 19 de fevereiro de 2017

sábado, 18 de fevereiro de 2017

EMPATIA, PARTILHA E ALTRUÍSMO




                            O  cão, o símio, etc. sabem muito bem o que é a noção de justiça!

TEORIA DA CONSCIÊNCIA E «INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL»

Roger Penrose: The Emperor's New Mind, Quantum Mind, Quantum Consciousness, The Laws of Physics



                               [vejam o vídeo com sub-títulos em inglês, fica mais fácil de seguir]


Uma excelente forma de nos familiarizarmos com os problemas da física e do estudo da consciência.


sexta-feira, 17 de fevereiro de 2017

SABER VIVER EM PAZ CONNOSCO PRÓPRIOS E COM OS OUTROS (*)


(*) Creio que estes princípios ou reflexões se podem aplicar nas nossas vidas, independentemente das condições concretas. Oxalá o leitor possa acrescentar outros, de sua iniciativa e nos dê a conhecer... ganhando em sabedoria, ganhamos todos!


- Ser o seu próprio banco central

- Ser o seu próprio governo (autogoverno)

- Gerir o tempo não é andar atrás dos ponteiros do relógio

- Produzir o seu próprio modo de pensar, seus próprios valores políticos, ideológicos, morais

- Não procurar obter um determinado efeito nos outros, das nossas acções; porém, observar qual o referido efeito das nossas acções passadas e tentar pôr-se na pele do outro.

- Prevenir ao máximo a doença, não fumando, não cometendo excessos com comidas e bebidas alcoólicas, evitando as irregularidades dos sonos, fazendo exercício físico adequado à idade e à condição física, em suma: Apostar a 100% na atitude preventiva em termos de saúde

- Dar graças por tudo o que temos de bom, na nossa própria pessoa; e aquilo que não é assim tão bom, seja um desafio para nossa autotransformação.

- Mostrar afecto, não reprimi-lo, para com as pessoas que têm estima por nós. Manifestar afecto de forma discreta, como estar atento ao que a pessoa diz, aos seus desejos.

- Obedecer aos ciclos, aos ritmos da Natureza, sejam eles curtos ou longos, diurnos, lunares, sazonais, anuais, plurianuais… fazer tudo em harmonia com estes ciclos

quinta-feira, 16 de fevereiro de 2017

A NOVA ROTA DA SEDA E A ESTRATÉGIA DO OCIDENTE

Na sequência da II Guerra Mundial, o campo socialista ficou fortalecido com a adesão da Rep. Popular da China, recém proclamada, para grande temor e fúria do imperialismo dos EUA e seus vassalos «ocidentais». 


                          

É uma ironia da História que o eixo Moscovo-Pequim, que parecia tão sólido pela uniformidade ideológica, foi afinal o elo fraco, explorado por Nixon e por Henry Kissinger, na sequência do afastamento dos dois gigantes, após a subida de Nikita Krutchev ao poder na URSS: os dois «irmãos inimigos» só se reaproximaram bem mais recentemente, após verificarem que a política dos EUA e apaniguados continuava numa lógica de Guerra-fria, que nada os fazia parar. 
A confrontação actual do eixo euro-asiático com o eixo anglo-saxónico não será ideológica, mas será na mesma um confronto total. Desde uma vintena de anos, o «Ocidente» apenas respeita o direito internacional quando lhe convém, apenas denuncia casos de violação dos direitos humanos em regimes que não se alinham por ele, tem como único «instrumento diplomático» a força armada, para esmagar todos os que não se conformam com a sua lei ... No entanto, na sequência do golpe de estado de Kiev, em Fevereiro de 2014, financiado e apoiado pelos EUA, a Rússia acelerou conversações para um acordo global, estratégico e económico com a China, vendo que os governos da Europa ocidental  tinham caído numa total vassalagem face aos EUA.

Assim, chega-se ao ponto da evolução em que o eixo de aliança estratégica entre os países que formam a Eurásia está a consolidar-se a olhos vistos. 
Recordo que a Organização de Segurança de Xangai, estabeleceu, há alguns anos, um acordo aprofundado na luta contra o terrorismo entre a Rússia, a China e várias repúblicas ex-soviéticas. 

O acordo Russo-Chinês concretizou-se no fornecimento por pipe-lines, a partir da Sibéria, de grande parte do crude e do gás natural de que a China necessita. Este será apenas um aspecto do vasto acordo estratégico entre Moscovo e Pequim. 
Este acordo é um formidável desafio ao petro-dollar(*), visto que o maior consumidor de crude e de gás natural terá como principal fornecedor o segundo maior produtor e tudo isto, usando divisas dos respectivos países, Yuan e Rublos, não usando o Dollar. 

Simultaneamente, a China lançou a nova Rota da Seda. Para isso, criou um Banco Asiático de Investimento, uma iniciativa de investimento dirigida a todos os países que quisessem aderir sem pressupostos outros que estabelecer relações comerciais mutuamente vantajosas. 
Num instante, a China obteve a adesão de mais de 60 países, como membros fundadores, nos quais se incluía o Reino Unido. Este, viu que o seu interesse no longo prazo era estar dentro do barco, que era inevitável a China tornar-se a primeira potência económica, sendo já dominante em muitos sectores do comércio internacional.

Um «Ocidente» relutante foi obrigado a aceitar o Yuan chinês no cabaz de divisas que formam os «Special Drawing Rights»  ou seja a moeda do FMI, a qual poderá segundo James Rickards, substituir o Dollar. 
A este propósito, deve-se compreender que a presente subida do Dollar não é devida a confiança na sua economia e na sua capacidade geo-estratégica, mas antes um corolário da enorme quantidade de Treasuries(**) (Obrigações do Tesouro US) que têm sido vertidas no mercado. Para que estas sejam vendidas, do outro lado tem de haver dispêndio de dollar: logicamente, vai haver uma falta de dolares no mercado. Foram vendidas, no ano transacto, quantidades astronómicas de treasuries, nos mercados. Os principais vendedores foram a China, o Japão, a Arábia Saudita. Esta subida do dollar, para além dos aspectos especulativos, é portanto o «canto do cisne», enquanto moeda de reserva mundial. 
A machadada final será dada quando os países petroliferos, Arábia Saudita e os diversos diversos Emiratos, começarem a aceitar outras moedas, além do dollar, pelo seu petróleo.
O Irão já se mostrou bastante audaz ao anunciar que vai começar a vender os seus dollars e a aceitar pagamentos noutras divisas. O famoso decreto de Trump que bania provisoriamente entradas de pessoas oriundas do Irão, um dos sete países do Médio Oriente visados, foi apenas o pretexto. 

Apesar de toda a incerteza gerada pela transição da presidência dos EUA, há porém desenvolvimentos altamente prováveis: 
. Vai reforçar-se a colaboração, a todos os títulos, entre Moscovo e Pequim. 
. Haverá um aprofundar de crise do Euro e - portanto - uma perda de influência da Europa nos assuntos económicos mundiais. 
. Pelo contrário, a China continuará, com seus numerosos acordos de comércio com países do Terceiro Mundo, a drenar uma parte importante das matérias primas, sustentando as economias desses países.
. Isto permitirá que os países fornecedores de matérias-primas se autonomizem, quer das ex-metropoles dos tempos coloniais, quer dos novos poderes que as substituiram.
. O eixo Euroasiático vai aprofundar-se no comércio, em particular, devido à complementaridade em termos de recursos energéticos, de matérias-primas.
. As diversas potências, grandes ou pequenas, no continente Euroasiático, verão como decisivo para a sua segurança e estabilidade globais, a cooperação em matérias de defesa, de luta contra o terrorismo, contra a criminalidade económica.

Em meados do século, teremos talvez um eixo continental Lisboa-Moscovo-Pequim, como o nascer de uma nova entidade geo-política no espaço euroasiático, que sempre foi uno geograficamente, mas demasiadas vezes fraccionado por guerras e rivalidades.
O eixo anglo-saxónico - essencialmente o Reino Unido, os EUA, o Canadá e a Austrália - irá disputar o terreno palmo a palmo, não hesitando em lançar uma guerra generalizada, na tentativa desesperada de manter a hegemonia. 
Porém, outro Mundo é possível (e preferível); um Mundo multipolar, como aliás tem sido, na maior parte da História.

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(*) É sabido que a hegemonia financeira do dollar tem sido mantida graças ao acordo do chamado petro-dollar, ou seja, a exclusividade de pagamento em dólares do petróleo da Arábia Saudita e outros países árabes que, em troca, receberam a garantia de protecção total por parte dos EUA. 

(**) As obrigações do Tesouro dos EUA são a forma habitual dos países manterem dólares em suas reservas financeiras nos bancos centrais. Terem dólares em reserva é uma necessidade, porque tem sido - até aqui - a moeda indispensável para compra, nos mercados mundiais, de combustíveis fósseis.

quarta-feira, 15 de fevereiro de 2017

NATO EM ÁFRICA: A MENTIRA DO «TERRORISMO»

ANTÓNIO COSTA PRETENDE QUE AS FORÇAS ARMADAS PORTUGUESAS ESTÃO NA REP. CENTRO AFRICANA NUMA MISSÃO DE COMBATE AO TERRORISMO. MAS SERÁ ISSO VERDADE?

O que é evidente é o alargamento da NATO para teatros que não têm que ver com o seu próprio estatuto de «aliança defensiva» euro-atlântica e norte-americana... Pois ela está empenhada numa aventura de consolidação do poder neo-colonial, em países estratégicos de África.

Em África, os Chineses têm investido muito, através de construção de infraestruturas, de apoio efetivo ao desenvolvimento desses países, sobretudo obtendo contratos de fornecimento de matérias-primas. O desenvolvimento vigoroso da Rep. Pop. da China necessita disso. Contra tal penetração pacífica, os poderes do «ocidente» (os EUA e seus vassalos), têm feito ofensivas militares desde o Mali, o Sudão, a Rep. Centro Africana, etc. sob pretexto de combater o terrorismo.

Ora, este argumento do «terrorismo» não é credível, pois o real papel das forças da NATO e outras, tem sido o de manter e consolidar o poder de ditadores que lhes estão próximos.
Sabe o leitor que o Mali é o terceiro produtor de ouro do continente africano e que a sua produção vem subindo de ano para ano?
A Rep. da África do Sul, membro dos BRICS, tem sido até agora o primeiro produtor, mas com uma produção decrescente.

Não apenas no Mali, também no Sudão (rico em petróleo) e em muitos outros países africanos que possuem interesse geo-estratégico nota-se hoje a presença de tropas da NATO. Se tais países estão envolvidos em sangrentas guerras civis, o facto é que elas só podem subsistir pelo tráfico permanente de armas e munições, com origem nas tais potências «protectoras».

A verdade é que tais guerras são instigadas, alimentadas e ampliadas pelos poderes ex-coloniais ou outros. A recolonização de África tem vindo a observar-se desde que a NATO se projectou como «protetora» do contrinente Africano, na sequência da conferência de Washington em que se auto-atribuiu o papel de «polícia mundial».

Todas as pseudo-justificações de «combate ao terrorismo» caem por terra, quando nós perguntamos as questões óbvias:
- quem arma e equipa os terroristas?
- quem os financia?
- que interesses esconde essa defesa de regimes ditatoriais?
- que proveito tem a NATO em manter bases nesses países?

Ninguém, com espírito independente, pode acreditar na sinceridade destes políticos, que apenas pretendem a continuidade da exploração de África, como uma espécie de reserva de matérias-primas do «Ocidente».

Eles vêem a sua hegemonia ameaçada, porque os países africanos têm - desde há alguns anos - feito acordos mutuamente vantajosos com a China, que lhes permitem emanciparem-se da tutela neo-colonial e arrancar para o desenvolvimento. Ora é isso, justamente, que os imperialistas não podem tolerar. Têm de inventar motivos «legítimos» para reocupar estes países ricos em ouro, petróleo, metais industriais, solos férteis e mares ricos em peixe.

O cidadão europeu, além de estar a ser enganado, está a ser espoliado: é obrigado a pagar pelas guerras do império, para satisfazer a gula insaciável de imperialistas e de suas clientelas da indústria bélica, das empresas mineiras, do agronegócio, etc.