segunda-feira, 2 de junho de 2025

VILLA-LOBOS e Música da América Latina (Segundas-f. musicais nº36)

                                   O VIOLÃO DE VILLA-LOBOS, por TURÍBIO SANTOS


                       

Este meu texto é para confessar a minha ignorância. 
Eu sei que existem escolas nacionais no continente Sul e Centro Americano; que há imensos intérpretes que divulgam em concerto e disco as composições destes latino-americanos.  
Sei também que a música «erudita» desses países incorpora naturalmente muitos elementos de folclore tradicional destas regiões. No entanto, o meu foco de estudo tem sido a música «clássica» europeia, em especial o barroco, o classicismo e o romantísmo. 
Isso deve-se à minha educação; ao que tive oportunidade de aprofundar nos anos formativos da minha vida. Mas, reconheço que este etnocentrismo é - afinal - um empobrecimento ao nível pessoal e do público nos países europeus, em geral. 


Bachianas Brasileiras No. 5 • Villa-Lobos • Barbara Hannigan




Encorajo as pessoas que me lêem a procurar ativamente as obras de Villa-Lobos, como de outros geniais compositores da América Latina: Do México, até à ponta Sul do continente, da Argentina e do Chile.


Márquez: Danzón Nr. 2 ∙ hr-Sinfonieorchester ∙ Andrés Orozco-Estrada



 Tenho copiado obras de compositores latino-americanos para este blog. Pode considerar estes exemplos como um estímulo para descobrir outras jóias musicais da América Central e do Sul.













GUITARRA CLÁSSICA (contém várias composições para violão da América latina)

domingo, 1 de junho de 2025

CRÓNICA DA IIIª GUERRA MUNDIAL (Nº44): «Morrer duas vezes»

Creio que a Guerra Mundial em curso já é uma evidência para todos. Por isso, hoje não vou dedicar-me a descrever qualquer episódio nesta multifacetada pugna, entre um Mundo agonizante e  outro, que tarda a nascer. Vou antes escrever sobre algo que se encontra presente em cada nação, como também nas próprias cabeças das pessoas. Refiro-me à inteligência. 

A inteligência, no sentido próprio, significa a disposição para aceitar os dados que nos chegam das mais diversas maneiras e construir hipóteses credíveis sobre a sua evolução. Mas, também, significa que, caso tais hipóteses se revelem falsas ou percam sustentação, por não terem as evidências que julgávamos, se deve descartá-las, pô-las no armário, aceitando a evidência dos factos, a sentença das verdades no terreno. 

É aqui, justamente, que se encontra o primeiro paradoxo: Enquanto as potências dos BRICS e da OSX se têm comportado de forma razoavelmente realista nestes últimos anos, do lado «ocidental» noto que, num número de países (que compreende as potências mais fortes do Ocidente, os EUA, a Alemanha, o Reino Unido e a França), seus governos se têm comportado com enorme irresponsabilidade. 

São notórias as mudanças bruscas de políticas, não apenas em relação à guerra na Ucrânia, como em relação à China, ao Médio-Oriente (em particular, a questão Israel/Palestina) e a uma série de outros assuntos.

Pois, a realidade, é como o ar: Se lhe fechas a porta, ela entra pela janela, ou pela chaminé. Não há maneira de impedir a realidade. O delírio dos dirigentes ocidentais começa justamente aqui: Pensam, pelos vistos, que  a realidade no terreno se poderá transformar através da propaganda. Isto é absurdo; porém, é exatamente o que têm feito, sucessivamente, em relação a assuntos mundiais prementes e exigindo uma resposta. 

Como é que a cidadania e os dirigentes do Sul Global vêm os comportamentos duma série de dirigentes das grandes potências ocidentais, tanto em termos económicos como militares? É compreensível que, passado o momento inicial de espanto, eles tivessem feito a sua análise e concluído que tinham de encontrar uma alternativa.  

Julgo que é completamente claro - agora - que os piores inimigos da globalização, da legalidade internacional, do papel da ONU, do respeito pelos Direitos Humanos, são justamente os que mais enchiam a boca com bombásticas declarações em defesa destes mesmos valores. 

Enquanto serviram para fazer avançar as causas dos tais países ocidentais, estes valores foram invocados insistentemente pelos dirigentes. Mas, logo que as situações concretas os colocaram do outro lado, do lado dos acusados, então as coisas já não eram assim: É o caso do genocídio da população indefesa de Gaza, contemplada friamente pela classe política ocidental quase toda. Mas, esta indiferença, esta conivência com os carniceiros sionistas, torna o seu silêncio a maior evidência acusatória contra eles: Não há nenhum povo ao qual não se apliquem os princípios dos Direitos Humanos, mas é precisamente isto que se infere da atitude dos governos ocidentais, de nada fazerem para defender os direitos vitais do povo palestiniano: para eles, há povos e povos, há direitos humanos que se aplicam mais ou menos, consoante os casos. Seu comportamento chocante tem um inegável relento a racismo, a colonialismo. 

Sinceramente, acho que a civilização Ocidental já está «fora de prazo». Está condenada a desaparecer de um modo, ou de outro. Sob nenhuma forma poderá, nem merece sobreviver enquanto projeto político. O que houve de positivo no passado desta civilização não está em causa. Quanto aos  indivíduos nascidos nestas paragens, não devem ter receio, se se mantiverem numa postura digna. Mas, a classe política, essa, não tem outro destino senão o de regressar ao esgoto de onde saíu e onde deveria ter ficado. Apenas a indiferença e o engano fizeram com que as populações se deixassem iludir e votassem neles. 

A inteligência dos cidadãos tem sido atacada por vários métodos. Um deles, é a utilização da ciência do comportamento com objetivos perversos, contrários ao humanismo. Nesta guerra sem fronteiras e sem limites, existe um departamento especializado na OTAN. Destina-se a desenvolver e pôr em prática a guerra psicológica: Os avanços no estudo da psique humana têm sido desviados dos objetivos de cura, ou tratamento das doenças mentais. Estes centros de investigação militar servem para redesenhar  os comportamentos, através de técnicas de condicionamento. Estes factos tornam as distopias de Aldous Huxley, ou doutros autores de ficção sociológica, tristemente atuais. Aliás, os próprios militares e políticos da OTAN consideram a guerra psicológica como algo que se aplica, não apenas ao «inimigo», como também à população dos países da Aliança, ou de países amigos.

Nestes últimos tempos, entrámos numa fase de involução, no ciclo histórico longo: Muito provavelmente, iremos ver a situação internacional degradar-se mais, antes que venha uma nova fase construtiva, talvez uma nova civilização mundializada, mas totalmente distinta do falido modelo globalista, da ditadura neoliberal imposta pelas oligarquias e executada pelos nossos governos. 

A civilização ocidental atual está a morrer, duas vezes: 

- Uma primeira vez, porque os atos de muitos dos seus governantes a traem, a si própria; os valores afixados são cinicamente negados no quotidiano; o seu próprio legado humanista está a ser insultado pelos dirigentes atuais. 

- E uma segunda vez, porque este mesmo comportamento está sendo repudiado em todo o Globo, pela maioria de países, reunindo a maioria da população mundial. É nesta última parte do Mundo, que se constroem os alicerces duma nova Civilização, composta por todas as etnias e culturas, em pé de igualdade.



WARWICK POWELL: «PODEM FICAR COM VOSSOS DÓLARES; NÓS TEMOS O DYSPROSIUM»

 Traduccion desde el texto original de Warwick Powell* :

«Memo to Capitol Hill: You Can Keep Your Dollars - We’ve Got the Dysprosium»



El poder estratégico de los materiales está aumentando y China tiene la ventaja en el sector upstream.

Los diplomáticos chinos deben sentirse a veces como Dédalo. Dédalo era el padre de Ícaro, quien advirtió a su hijo que si volaba demasiado cerca del sol, sus alas se derretirían y caería al suelo. Consumido por la arrogancia, Ícaro ignoró las advertencias de Dédalo.

Durante años, China advirtió a Washington que convertir en arma la cadena mundial de suministro de tecnología tendría graves consecuencias. De manera silenciosa, constante y notable moderación, Beijing emitió declaraciones, ofreció advertencias por canales secretos y dio señales sutiles de que la escalada de Washington no quedaría sin respuesta.

Pero Washington no escuchó. Quizás no pudo ser. El problema no es que las señales no estuvieran allí, sino que la arrogancia y una visión racializada del mundo hicieron que los responsables políticos estadounidenses fueran sordos al razonamiento estratégico no occidental y al lenguaje sutil del  diplomático . Cuando Pekín habló en el lenguaje tranquilo y codificado de la diplomacia, sin recurrir a la hipérbole, no fue interpretado como resolución sino como retirada. Como de costumbre, la moderación se confundió con debilidad.

Ahora, cuando Estados Unidos enfrenta un déficit agobiante de los materiales que sustentan su base industrial de defensa, esa interpretación errónea se ha convertido en una responsabilidad estratégica. La respuesta de China a las sanciones a los semiconductores no es reactiva. Es sistémico. Y comienza río arriba, con las materias primas que Estados Unidos no puede reemplazar fácilmente.

Washington ha pasado los últimos seis años intensificando los controles de exportación, las listas negras y las sanciones para cortar el acceso de China a los semiconductores de alta gama. Pero mientras Estados Unidos se concentraba en el área downstream, donde se graban y prueban los chips, China aceleró su propia capacidad downstream mientras consolidaba su control en el upstream: los elementos de tierras raras que hacen que todo el sistema funcione.

¿El principal entre ellos? Dysprosium y terbium, que son fundamentales para la producción de imanes de alto rendimiento utilizados en vehículos eléctricos, turbinas eólicas y armas guiadas de precisión. Y hay ironía aquí: dysprosium viene del griego  dysprositos , que significa “difícil de conseguir”. Es un nombre que el Pentágono está aprendiendo muy bien.

China no se limita a extraer estos elementos. Domina su refinamiento y procesamiento, controlando más del 85% de la capacidad mundial. Estados Unidos, por el contrario, aún carece de la capacidad de separar y purificar la mayoría de las tierras raras a gran escala. Lo que esto significa es que sin exportaciones chinas, o cadenas de suministro en el exterior aprobadas por China, industrias estadounidenses clave se paralizarán. Y esto incluye partes clave del sector de contratistas de defensa de EE.UU., que, como  demostraron los consultores estadounidenses Govini en varios informes , depende en gran medida de proveedores chinos de materias primas y componentes.

A pesar de los denodados esfuerzos por reducir la exposición, la dependencia es profunda y amplia, lo que hace casi imposible desenredarse en un corto período de tiempo sin dejar al sector de defensa críticamente restringido.

Las advertencias de China nunca fueron extravagantes. No respondió a la escalada estadounidense con amenazas. Habló de una “cooperación de beneficio mutuo”, enfatizó la estabilidad y se presentó como defensor de la integridad de la cadena de suministro global. Pero esto no era deferencia; Se trataba de una cuestión de Estado. Siempre hubo espacio para que Estados Unidos cambiara de rumbo y avanzara silenciosamente por un camino menos hostil.

Washington, moldeado por su propia cultura política, malinterpretó esto por completo. Una cultura obsesionada con el rendimiento inmediato y la imagen mediática asumía que el silencio o el lenguaje moderado y las acciones modestas significaban parálisis y debilidad. Se suponía que la diplomacia significaba dependencia, una visión que sigue distorsionando la evaluación que hace Washington de las cartas en la actual ronda de guerras comerciales. Washington también supone que el ascenso de China dependió, de algún modo, de la indulgencia estadounidense.

Además, Washington siguió suministrando armamento de alta tecnología a Taipei e instaló misiles de mediano alcance en Filipinas. El Pentágono es cada vez más estridente en sus pronunciamientos sobre China. Figuras importantes de la administración, como el vicepresidente J. D. Vance y el secretario de Defensa, Pete Hegseth, por no mencionar al secretario de Estado, un halcón ideológico de pura cepa, Marco Rubio, han declarado que China es el adversario de Estados Unidos. Estados Unidos ha estado acumulando amenazas militares a tiro de piedra metafóricamente de China continental, ajeno a la posibilidad de que tales medidas eventualmente provoquen reacciones.

Pero China no necesitaba imitar el tono de Washington y, de hecho, no necesitaba imitarlo simétricamente. Sólo necesitaba ganar tiempo y construir (y eventualmente consolidar) apalancamiento donde realmente importa. La atención se centró en el material: lo que se podía encontrar en el suelo; ¿Qué se podría hacer en las plantas procesadoras? y con qué eficiencia podría desarrollar y desplegar la física y la química de los campos magnéticos y la separación metalúrgica. 

Ahora, con sólo girar una palanca política, puede dejar inoperantes sectores enteros de Estados Unidos. Si continúan desplegando misiles apuntando hacia nosotros, paralizaremos su capacidad de fabricación de misiles. 

El dysprosium no sólo es una tierra rara. Es esencial. Sin ella, los imanes permanentes de alta resistencia utilizados en sistemas de guía de misiles, radares avanzados, aviones de combate e interceptores de defensa aérea comienzan a fallar. Estos imanes deben funcionar a altas temperaturas con extrema precisión, y el dysprosium es lo que los estabiliza. En términos sencillos, sin dysprosium, la capacidad de precisión del ejército estadounidense se degrada. Los sistemas Patriot, los F-35 y los interceptores hipersónicos dependen de componentes que ya no pueden fabricarse a gran escala sin el suministro chino.

El dysprosium y el terbium no son insumos de lujo. Son fundamentales para los sistemas de defensa aérea, las plataformas de guía de misiles y las tecnologías de energía dirigida de EE. UU. Estos sectores no se pueden construir de la noche a la mañana. No existen sustitutos fáciles. En un escenario de conflicto real, la ausencia de estos elementos significaría una focalización deficiente, un rendimiento degradado del radar y lagunas en la defensa aérea en capas. 

China no necesita disparar un tiro para neutralizar estos sistemas. Lo único que necesita es pausar las exportaciones.

La administración estadounidense puede imprimir dólares siempre y cuando el Congreso apruebe las asignaciones y levante el techo de la deuda. Pero Washington no puede imprimir dysprosium. 

Tampoco puede imprimir tiempo, que es lo que le falta a Estados Unidos mientras lucha por reconstruir sus capacidades de refinación de tierras raras que fueron deslocalizadas hace décadas.

Los contratistas de defensa, los desarrolladores de energía limpia, los fabricantes de productos electrónicos y los fabricantes de vehículos eléctricos ahora enfrentan la dura realidad de que sus cadenas de suministro están estratégicamente comprometidas. No tenía por qué ser así, pero la beligerancia, la arrogancia y la sordera de Washington tienen consecuencias. Donde hay una acción hay una reacción igual y opuesta, como dicen.

Ahora, el gobierno estadounidense debe encontrar los medios y acelerar la búsqueda de sustitutos o instalaciones nacionales. Pero no llegarán con la suficiente rapidez para igualar el control de China, o su capacidad para abastecer selectivamente a aquellos a quienes decide empoderar. Los tipos de capacidades de los que estamos hablando no sólo son caras (estoy seguro de que se encontrará el dinero), sino que también consumen mucho tiempo. Podría tomar más de una década para ponerse en funcionamiento, momento en el cual el mundo -y las tecnologías- habrán evolucionado y cambiado radicalmente.

Desarrollar una cadena de suministro de tierras raras autosuficiente (desde la mina hasta el imán) no es una carrera industrial de dos años. Es una revisión estructural que durará una década. Incluso con financiación ilimitada, reconstruir la capacidad de extraer, separar, refinar y fabricar materiales de tierras raras de alto rendimiento dentro de Estados Unidos o entre aliados confiables llevará al menos entre siete y diez años. Y eso supone que la voluntad política, la autorización regulatoria y los avances tecnológicos estén alineados. Es una tarea difícil y Occidente no tiene un buen historial en la entrega oportuna de megaproyectos de ingeniería.

Mientras tanto, las reservas estratégicas de Estados Unidos son finitas. A medida que la guerra en Ucrania se prolonga e Israel consume tecnologías y municiones militares estadounidenses, las demandas sobre la base industrial de defensa sólo aumentarán. Esta creciente presión no se corresponde con una nueva capacidad de suministro. Sin acceso a las tierras raras chinas y a la infraestructura para procesarlas, Estados Unidos corre el riesgo de debilitar su capacidad de defensa desde dentro.

Washington aún puede imaginarse que tiene el dominio de la escalada militar. Pero en términos materiales, es China la que puede apretar el puño sin disparar un tiro, no sólo limitando las exportaciones sino acelerando las asociaciones globales que desvían por completo los recursos del acceso estadounidense.

Y así, China acelera el despliegue de su capacidad en el exterior. Las empresas chinas, respaldadas por financiamiento estatal, están implementando operaciones upstream en África, América Latina y el Sudeste Asiático. No se trata simplemente de acuerdos sobre recursos, sino de pactos geopolíticos enfocados en empoderar al sur global, parte de una red más amplia de seguridad indivisible en la que China está inserta. Y cada nueva refinería construida fuera de la influencia estadounidense refuerza un mundo donde la base material del poder ya no fluye a través de Washington.

No nos equivoquemos: esto no está sucediendo porque China quiera la confrontación. Esto ocurrió porque China no tuvo otra opción. Pekín advirtió, esperó y sólo actuó cuando se hizo evidente que la estrategia de contención de Washington era permanente. Y ahora, la respuesta de China no es ruidosa, pero sí letal, y se da a través del control de materiales, no de pruebas de misiles.

Esto no es sólo una guerra comercial. Es una corrección civilizacional. Se trata de un ajuste de cuentas en sentido ascendente, en el que la materialidad prima sobre los pagarés. Marca el fin de la ilusión de que Estados Unidos podría dominar la tecnología global e imponer su voluntad a través de la “diplomacia del dólar” mientras sigue dependiendo de otros para obtener las materias primas de la modernidad.

El comercio es mutuamente beneficioso por la razón básica de que los participantes se necesitan unos a otros. Pero cuando una de las partes intenta perjudicar a otra mientras obtiene beneficios para sí misma, llega un punto en que esa asimetría no puede sostenerse. 

En este proceso de intensificación progresiva liderado por Estados Unidos, China ha convertido su paciencia en posición. Ha demostrado que mientras los imperios crean espectáculos, las civilizaciones construyen estructuras basadas en cimientos materiales. 

A aquellos en el Capitolio que creían que la supremacía monetaria de Estados Unidos era suficiente, que los semiconductores siempre se someterían a la ley estadounidense y que los minerales eran simplemente productos básicos para comprar, China ha enviado un mensaje. Esta vez, el mensaje no puede ser confundido ni malinterpretado, incluso si Marco Rubio no confía en las traducciones oficiales de China:

Puedes conservar tus dólares. Tenemos el dysprosium.

--------------------



(*) 
Warwick Powell is Adjunct Professor at Queensland University of Technology and a Senior Fellow at Taihe Institute, Beijing. He is the author of "China, Trust and Digital Supply Chains". "Dynamics of a Zero Trust World".

quarta-feira, 28 de maio de 2025

A FÍSICA DAS BOLHAS ESPECULATIVAS

 Desde já quero afirmar que há zero hipóteses da bolha do crédito não rebentar. A hipótese de ser desinflada suavemente, sem haver grandes cataclismos nos mercados e na economia mundial, é apenas um sonho que poderá servir para tranquilizar pessoas especuladoras e gananciosas, daquelas que costumam embarcar na narrativa mais fantasista, mas que satisfaz o seu insaciável  apetite por mais e mais lucro.

Então, qual é a física (e não a metafísica!) das bolhas especulativas?

- As bolhas não têm um substrato real, ou seja, são expansões de preços, de capitalizações bolsistas ou valorações nos mercados, que não têm por base um verdadeiro acréscimo de valor da coisa especulada. Quer sejam ações, títulos do tesouro, túlipas, quadros de artistas «na moda», objetos de coleção, ou outro veículo qualquer, quais são os fatores psicológicos* subjacentes? 


1º - A perceção de que um ativo está continua e persistentemente subindo de preço. Temos os exemplos das ações cotadas no NASDAQ, das cotações do Bitcoin e outras criptomoedas, etc.

2º - A perceção de que, devido à enorme procura de um certo item, este se torna mais e mais raro no mercado, quer isto seja verdade, quer não. Temos os exemplos do ouro e dos metais preciosos. No longo prazo, realmente, vai havendo menor quantidade de metal precioso, extraído das minas, ou por descobrir. Mas nos semi-condutores ou «chips» é diferente. Neste caso, há estrangulamentos causados por sanções e guerra comercial, mas ao nível da produção dos mesmos não há diminuição, apenas roturas nas cadeias de abastecimento.

3º - A perceção de que um pequeno investimento pode fazer a fortuna de qualquer um. Esta ilusão é muito difundida no público que se deixa seduzir pelas criptomoedas. Em geral, a procura  de ações já claramente sobrecotadas, o «panic buying», é motivada pelo receio de que «todos vão beneficiar e ficar mais ricos. Se eu perder a oportunidade, irei ficar para trás». 

4º - A perceção de que «desta vez será diferente». Claro que os episódios especulativos são únicos num certo aspecto, as circunstâncias particulares nunca se repetem. 

Porém, as diferentes fases do ciclo estão sempre presentes: 

1- A "descoberta". 2- a "subida exponencial". 3 - as "oscilações no topo". 4 - a "descida brusca e inesperada" atribuída ao acontecimento X,Y ou Z. 5 - o "ressaltar do ativo" dando oportunidade a novos investidores entrarem. 6- A descida fatal, acentuada e prolongada . Todos querem vender, mas só poderão fazê-lo com grandes perdas. 7- O «ressalto do gato morto», uma transitória inversão da trajetória descendente que faz com que alguns acreditem que ainda poderá haver uma "subida espectacular". 8 - O cancelar do sonho; quando o "mirífico veículo para enriquecer toda a gente" se torna  odiado e desprezado por todos.


No caso da expansão mundial do crédito (= da dívida) estamos na fase em que muitos investidores já estão com receio, já muitos desconfiam das manobras dos bancos centrais, mas em que poucos têm a lucidez de analizar o fenómeno no seu conjunto e compreender a natureza desta enorme bolha. Com efeito, a bolha do crédito impulsiona todas as outras (a bolha do imobiliário, a bolha das bolsas de valores, etc.) e perpetua-se devido a um erro de avaliação dos indivíduos e mesmo das nações. 

Um indivíduo fica iludido (num contexto de inflação) quando pensa: «tenho hoje mais notas de banco, do que na semana passada, portanto sou mais rico». 

Uma nação também é vítima da expansão sem limites do crédito, através de falsificação do cálculo do PIB. Este, em todos os países,  é manipulado: Minorizam sempre o grau de inflação para que o PIB, mecanicamente, apareça como positivo, quando na realidade, está em contração.

Porém, há quem jogue o seu jogo de enganar as massas, para daí tirar maior proveito próprio. Os bancos centrais e os governos estão mais avançados e mantêm o público na maior ignorância possível. Estão a forjar novos e implacáveis meios de nos escravizar,  mais ainda do que já estamos: Os famosos CBDC estão aí, tecnicamente prontos para funcionar, apenas esperando que a oligarquia mundial escolha o momento mais favorável para os Bancos Centrais, coordenadamente, lançarem as ditas divisas digitais. Ficam no vago, quanto aos detalhes técnicos, pois estes poderiam assustar (e com razão, aliás) o povo. Teremos a «surpresa» de ficarmos completamente dependentes, transparentes, e sujeitos aos governantes... A definição mesma da escravidão. Mas, sempre com a «garantia» dos governos, de que é para o bem dos cidadãos e, sobretudo que «será fácil» e que não terá grandes diferenças (dizem eles!) em relação ao dinheiro digital que já existe hoje.

A guerra também preenche o seu papel. 

Para submeter a cidadania a um novo regime de controlo absoluto das nossas finanças pessoais, através dos CBDCs, não há nada melhor que uma «situação excecional» para servir de alibi.

Qual o pretexto de que os governos se servem para suprimir as liberdades mais elementares e os direitos «inalienáveis» dos cidadãos? Quando há um estado de guerra, todas as liberdades e garantias são suspensas, por simples decreto governamental. O cidadão desaparece, o que conta é o sacrifício coletivo pela pátria... Os intervalos entre guerras são geralmente superiores a 50 anos, pelo que as pessoas da geração que viveu isso,  ou já morreram, ou têm a memória demasiado debilitada pela velhice; as jovens gerações não sabem nada dos sofrimentos dos seus avós e o que lhes «ensinam» na escola, são narrativas moralistas e que passam sob silêncio o papel dos grandes industriais e financeiros.

Como dizia Napoleão, «o dinheiro é o nervo da guerra». Os mais belicosos dirigentes, nos países da UE, pretendem reforçar os arsenais com empréstimos forçados, sem mandato dos respectivos povos, uma autêntica extorção dos cidadãos pelos Estados. Centenas de triliões de dólares serão gastos em armamentos. Estes triliões acabam sempre por ser cobrados, pelos impostos, às presentes e futuras gerações. Mas, nunca vão buscar esse dinheiro à fortunas das oligarquias, causadoras destas catástrofes. Porém, sabemos que elas as provocaram,  as amplificaram e delas beneficiaram. É normal:  São elas que traçaram o cenário; não se pode esperar que o façam de modo a que seja a sua própria classe a perder!

-----------------------

*Nota: trata-se de aspectos psicológicos nos indivíduos e nas massas e suas repercussões no preço de mercado de um ativo.