Porque razão os bancos centrais asiáticos estão a comprar toneladas de ouro? - Não é ouro em si mesmo que lhes importa neste momento, mas é a forma mais expedita de se livrarem de US dollars!!

terça-feira, 11 de abril de 2023

O QUE SIGNIFICA «REVOLUÇÃO»?

 Revolução é uma das palavras mais ambíguas do vocabulário. Ela é usada a torto e a direito, desde políticos, propagandistas, ideólogos, até mesmo historiadores. Na realidade, eu penso que existe uma indefinição semântica que só permite manter a ambiguidade e é disso que vivem todos os oportunismos.

Como ninguém tem a propriedade da língua e ainda menos da sua utilização, o que posso eu criticar, afinal? Seria legítima esta  autocrítica, se eu ficasse por aqui. Porém, irei mais fundo, pois este tema é dos mais estimulantes. Creio que - para um pensamento crítico e com verdadeiro substrato filosófico - é preciso fazer um ponto prévio, já aqui feito noutros textos, de que a língua humana é capaz de preencher muitas funções, simultaneamente. Se não tivermos atenção ao contexto e a outros fatores, arriscamo-nos a cair como preza dum locutor pouco escrupuloso com as palavras que utiliza.  

A muitos, parecerá uma preocupação excessiva com as palavras e o seu significado. Mas, eu verifico que a propaganda, usada constantemente por Estados, governos, partidos e outras instâncias segregadoras de ideologias, tem o (mau) hábito de dar «nomes», que não correspondem à descrição clássica dos mesmos.  E não faz isso por acaso!

Estudando a História, verifico que -  em ocasiões de rutura de paradigma - aparecem muitas pessoas a reivindicar a qualidade de revolucionários.  Muitas pessoas são levadas a fazer tomadas de posição, de que se envergonham mais tarde, caso tenham um mínimo espírito autocrítico. 

Não deveríamos cair nas garras dos demagogos: Eles são tais como aqueles vendedores, que antes iam de porta em porta, agora estão no écran do «smartphone, ou tv ou doutro meio eletrónico. No caso dos comerciais, podemos acabar por comprar algo de que realmente não precisamos; mas, no caso dos demagogos de todas as cores e feitios, é muito pior: podem vender-te a guerra, como sendo o caminho para a «paz», a espoliação dos países e povos mais empobrecidos, como a sua «libertação» ou «emancipação» e por aí adiante! Reparem como o célebre romance 1984, de Orwell caracteriza o estado totalitário. Ele descreve a inversão e transformação radical da língua, a «novilíngua» e a erradicação do passado («quem domina o passado, domina o presente e quem domina o presente, domina o futuro»). Além disso, havia uma total ausência de propósito estratégico, nas sucessivas guerras que Oceânia e Eurásia se faziam, assim como na inversão das alianças, sem lógica compreensível. 

Não «ressoa» isto com situações* que se estão a passar, importantes e muito reais, mas que nós - desde os mais «bem» informados, aos que estão totalmente desfasados - não compreendemos? Todos, estamos na ignorância do que será o futuro. O futuro, querem-no definir alguns megalómanos, como Klaus Schwab, que - com certeza - estudou Lenine e Mao, entre outros. 

Na nossa ingenuidade, de forma implícita e explícita, estamos sempre a «dar crédito» (= a acreditar) aos indivíduos que pronunciam belas palavras e frases, que ressoam com os nossos sentimentos, convicções, ideologias... É assim que se consegue a adesão ou a simpatia de pessoas pouco ginasticadas na análise crítica, ou seja, que confundem a palavra com o ato: ora, esta distinção é fundamental para se perceber o mundo dos homens. No campo da política, são inúmeros os exemplos dos que se apresentam aos eleitores como defensores disto e daquilo, quando na verdade, o que querem é simplesmente arrebanhar votos e consciências, para levar a cabo suas ambições de poder. 

Os típicos demagogos, os políticos com maior ambição e portanto com mais probabilidade de alcançar lugares cimeiros são aqueles que dominam perfeitamente o código dos sentimentos humanos, das paixões. Isto porque como dizia  Robert A. Heinlein, um grande autor de Ficção Científica: «os humanos não são seres racionais; mas racionalizadores». Isto aplica-se a todas as atividades humanas. Em particular, à governação e a «conduzir as massas», a liderar as «revoluções». Trata-se da técnica de pôr as pessoas a fazerem exatamente o contrário do que seriam os seus interesses, os seus sentimentos genuínos. Mas de as levar a isso, convencidas de que estão a fazê-lo para o «bem», para «o interesse coletivo», etc.  

Não é preciso o leitor estar equipado em permanência com um dicionário enciclopédico, para conseguir descortinar a profusão de sentidos da palavra «revolução», quando está a ser pronunciada ou escrita por alguém. O «segredo» é simplesmente não dar atenção exclusiva ao que essa pessoa diz ou escreve, mas antes, qual é a coerência entre o seu discurso, a sua narrativa e os seus atos concretos, neste momento e no passado. 

Pense neste exemplo: Seria ridículo um ator de cinema, de teatro ou de ópera, ser tomado como alguém deveras convencido do que diz, ou representa. Assim, o talento de ator/atriz está em fazer-nos crer que ele/ela não está a representar. De outro modo, o seu desempenho soa a «falso». É o mesmo com o mundo da política, da ideologia, de «pensadores» e «fazedores de opinião». 

Não pretendo anunciar nada de novo. Basta lembrar o provérbio, que existe em várias versões, em várias línguas, mas dizendo o mesmo: «Não sejas como Frei TOMÁS, FAZ O QUE ELE DIZ E NÃO O QUE ELE FAZ!» 

Tome-se o provérbio acima como critério, é um bom instrumento para evitarmos ser enganados. Por exemplo, na vida real encontramo-nos com um sujeito; ele apresenta-se e fala connosco sobre diversos assuntos. Após algum tempo, descobrimos que esse sujeito estava a «fazer teatro»; na realidade, ele omitiu muitas coisas, inventou outras, provavelmente com o intuito de nos induzir a fazer qualquer coisa (no interesse dele, não no nosso!). É quase impossível não se ter encontrado um tipo de pessoa assim; pode-se ter encontrado, e não se ter percebido o que ele queria realmente. 

Quanto a mim, se alguém fala de revolução, eu quero saber desde logo:

- Para quê, para que fim, com que objetivo(s) de longo alcance

- Como, ou seja, que meios serão necessários para levar a cabo essa transformação

- E quais os protagonistas: Será um grupo de revolucionários treinados? Se diz que é uma «multidão», ou é pouco inteligente, ou pensa que nós somos pouco inteligentes...

No caso em que eu fique esclarecido dos três pontos acima, depois quero ver, na prática, como agem essas pessoas que se reclamam de um objetivo «revolucionário». Pois é infinitamente mais fácil traçar um programa revolucionário, do que levá-lo a cabo. E, mais fácil proclamar os princípios, do que fazer com que todos ajam de acordo com esses mesmos princípios. Não é por um certo número de indivíduos ter uma fixação obsessiva, uma «mística» revolucionária, que estes indivíduos são realmente revolucionários! 

Certamente, outras pessoas podem ter abordagens melhores que a minha. Gostava de ler as opiniões dos leitores. Se noutra língua, que não o português, podem ser escritas na língua original e traduzidas pelo app- tradutor, que se encontra no lado direito desta página. 

Muito obrigado!

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(*) Um exemplo claro de ocultação de responsabilidades, pelos media ocidentais, é o caso Nordstream, leia: 

https://www.unz.com/jcook/why-the-media-dont-want-to-know-the-truth-about-the-nord-stream-blasts/

1 comentário:

Manuel Baptista disse...

Alguns aspetos do fenómeno político são analisados no artigo seguinte:

https://manuelbaneteleproprio.blogspot.com/2022/06/que-teoria-politica-para-o-nosso-tempo.html