quinta-feira, 8 de novembro de 2018

FUKUSHIMA - A FLORESTA RADIOACTIVA


Um documentário de NHK World sobre a vida selvagem que se desenvolveu nas áreas desabitadas da zona de Fukushima. 


Uma situação catastrófica que dura desde Março de 2011 e vai continuar. 
As consequências no Oceano Pacífico, a riqueza e diversidade da fauna também são extremamente graves.

O que mais preocupa é a ausência de informação, a ocultação da situação real da gravidade da contaminação radioactiva, sobretudo com Césio (com tempo de semi-vida muito longo). Verifica-se desde há uns anos que os isótopos radioactivos já estão a contaminar zonas da Costa Oeste dos EUA e as ilhas do Pacífico. 
Como, na realidade, o ecossistema Oceano é apenas um, a generalidade da vida marinha pode estar já a sofrer uma redução dramática. 
A ausência de resposta dos governos, sabendo eles a gravidade do problema, é muito preocupante. 
Apenas tomam medidas em relação ao aquecimento global, mas admite-se que seja apenas possível de mitigar o aquecimento, não de o evitar completamente. No entanto, o salvamento de numerosas espécies e ecossistemas oceânicos é muito mais viável, por isso a inacção é particularmente grave. Uma espécie que desaparece é uma perda irreversível; múltiplas espécies marinhas estão em risco.  
Antes de Fukushima, já havia demasiada pressão sobre muitas espécies marinhas devido a várias agressões: sobre-pesca, poluição química, aumento da temperatura e da acidez... Agora, com um aumento acentuado da radioactividade, pode haver uma cascata de extinções, desde o plâncton até às baleias.   

quarta-feira, 7 de novembro de 2018

DO NEOLÍTICO À IDADE DO BRONZE (PARTE V)

Este episódio finaliza a série (ver outras partes: I, II, III, IV )


Para ter uma ideia do período complexo que foi o final da idade do bronze, decidi aprofundar o estudo sobre aquilo que nos diz a arqueologia sobre o assunto da guerra de Tróia.

Ela foi celebrizada por Homero, mas existiu ou não ? E se existiu, foi realmente como ele a descreveu, ou a realidade afasta-se muito da epopeia? ...Existiram realmente as personagens da Ilíada?

De muito se frequentar a antiguidade e os seus escritos, acabamos por fazer uma ideia completamente idealizada do passado. Tanto mais que poetas, escritores, dramaturgos da Antiguidade, passaram a escrito estes episódios centenas de anos depois da sua ocorrência: não apenas é o caso da Ilíada, como doutras gestas dos seus povos.  Eles não se preocupavam com a objectividade histórica; tinham apenas em mente a glória do seu povo e dos seus heróis.

O que sabemos hoje da história real da guerra que se concluiu com a tomada e destruição de Tróia, o tema da obra de Homero designada por «Ilíada» ?

Felizmente, temos uma excelente série de vídeos para nos guiar em tão complexa e fascinante busca da verdade, debaixo do mito.

Lição nº1: (introdução)

                    


Lição nº2: os micénios

                    


Lição nº3:  os hititas


                   

              

Lição nº4: os povos do mar

                  


Lição nº5: a literatura grega, o ciclo épico

                  

A continuação da série de vídeos pode ser seguida clicando nos números seguintes: nº6, nº7, nº8, nº9, nº10, nº11, nº12, nº13, nº14 
É muito interessante e instrutivo seguir, nos vários episódios, as múltiplas evidências da arqueologia, confrontando-as com as versões literárias dos eventos. 

Pessoalmente, verifico que não sabia quase nada sobre a realidade do império Hitita, sobre a transição tumultuosa entre a idade do bronze tardia e o início da idade do ferro. 
Depois de ver/ouvir esta série, parece-me que, embora tenham identificado e escavado o local de Tróia no noroeste da Anatólia, demasiado pouco sabemos sobre o reino que foi derrotado. 
Seria Tróia um reino vassalo dos hititas? Seria a guerra de Tróia, não entre troianos e gregos mas com terceiros, sendo os gregos aliados e não inimigos?  
Homero descreveu uma guerra que realmente existiu, estou convencido. Mas pode ter fantasiado um certo número de eventos, mesmo que alguns factos tenham sido confirmados pelas escavações. 
É possível que a guerra de Tróia tenha consistido numa série de campanhas. O que Homero descreveu, seria então a campanha final, que resultou na destruição da cidade-estado de Tróia. 


Lição nº14: lição conclusiva sobre a guerra de Tróia

                                       
               

terça-feira, 6 de novembro de 2018

PIANGERÒ LA SORTE MIA... da ÓPERA GIULIO CESARE, DE HAENDEL

"Piangerò la sorte mia" - Giulio Cesare - Haendel

https://www.youtube.com/watch?v=X3uYxKlJDC4


Roberta Mameli, soprano Ensemble Fratres

Na ópera de Haendel «Giulio Cesare in Egito» (estreia em 1724) Cleópatra lamenta, nesta ária, a perda simultânea do seu reino, em resultado da batalha e do seu amante, Júlio César (no entanto, este não está morto).
A intensidade dramática e expressiva está presente na partitura, mas a enorme qualidade vocal de Roberta Mameli também contribui para nos convencer, por alguns instantes, de que estamos perante uma tragédia. Oiça-se como a sua voz se reveste de ternura e depois de fúria, por aquilo que lhe está a acontecer.
Na minha opinião, o facto de ser uma gravação ao vivo, não diminui a qualidade da mesma; as imperfeições eventuais que se poderá notar na qualidade sonora, podem ser colocadas entre parêntesis, devido à emoção que transparece.

segunda-feira, 5 de novembro de 2018

A INSANIDADE DO PENSAMENTO ECONÓMICO QUE NOS REGE


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Por vezes, somos tentados a embarcar dentro da lógica, da casuística, dos escribas que passam por «economistas» na media mainstream, apenas para verificar que a sua narrativa é uma utopia, no verdadeiro sentido de um sistema que nunca poderá existir: é por demais insensata, ultrapassa todos os níveis de imbecilidade, para apenas se qualificar como instrumentos de lavagem dos nossos cérebros.

Vejamos alguns exemplos:

- Inflação / deflação: a inflação vai buscar ao bolso do trabalhador, vai retirar-lhe poder de compra. O facto de ser desejada por governos e bancos centrais é apenas devido ao super-endividamento a que estes submeteram os seus respectivos Estados. Como é bastante mais difícil e  perigoso continuar a subir os impostos (pelo menos de maneira aberta e franca), a inflação acaba por efectuar o mesmo, sem que as pessoas se apercebam do estratagema. As dívidas denominadas na divisa inflacionada continuarão a ser pagas pelo respectivo Estado, mas os credores receberão um corte no valor real das mesmas; isto ocorre, quer sejam eles grandes ou pequenos, grandes detentores de obrigações do tesouro desse Estado, ou pensionistas no limiar de sobrevivência. 
O facto é que a inflação nunca pode ser um objectivo económico positivo, para a generalidade da economia, muito em especial, para a capacidade aquisitiva dos pobres. 

Quanto à deflação, ela é pintada com as cores de uma terrível doença da economia, que é preciso evitar a todo o transe, pois significaria marasmo, ausência de investimento, espiral descendente da produção... 
Não é verdade! É um facto que as pessoas vão comprar mais se os preços baixarem, pois a imensa maioria não tem capacidade de satisfazer inteiramente as suas necessidades, muito menos as suas fantasias. Logo, a descida dos preços, não só não previne que as pessoas vão comprar mais desta mercadoria que desceu, como  funciona como estímulo à sua compra, pois alarga o universo de potenciais compradores aos clientes que antes não tinham capacidade económica para tal. 
Pensem num modelo de automóvel que custava X, havendo deflação, passa a custar menos 10%, muito mais pessoas poderão comprá-lo, visto que seus ordenados continuarão a valer Y, ou seja, aquilo que cada um recebe ao fim do mês é nominalmente o mesmo, mas cada unidade de dinheiro tem um maior poder de compra. 
Aliás, as sociedades têm vivido melhor e beneficiado da deflação em muitos produtos, desde a era industrial: com efeito, pensemos em qualquer bem industrial, vejamos qual o seu preço real (ou seja, descontando as oscilações do valor do dinheiro ao longo do tempo): 
- Um gira-discos para CDs no início dos anos 80 do século passado, era um produto muito caro, que só algumas famílias podiam comprar, mesmo no afluente Ocidente: Hoje em dia, é a um preço irrisório, comparativamente. O mesmo se pode dizer com a telefonia móvel, com todo o tipo de computadores... etc. 
Porquê? Porque razão existe uma baixa espectacular do preço  destes produtos industriais (em termos de valor real)?
- Sem dúvida, que uma produção em grande escala vai fazer baixar os custos unitários e, portanto, o produtor pode vender cada unidade a um preço menor, arrecadando o mesmo ou maior lucro. Mas igualmente, porque as inovações no processo produtivo (o trabalho de engenheiros) vão tornando a produção mais eficaz, mais barata, menos consumidora de matéria-primas caras, etc. 
O resultado,  é que todos beneficiam com esta deflação tão difamada!

Criptomoedas: Os bancos centrais querem-nos convencer de que as moedas têm necessariamente de ser emitidas por uma entidade estatal ou com o aval do Estado (eles, claro está!) e fazem uma campanha ardilosa e destruidora da reputação das cripto-moedas. Mas, ao mesmo tempo e paulatinamente, vão adquirindo cripto-moedas, vão ensaiando soluções «blockchain» que eles próprios controlam, etc. 
Afinal, para os bancos centrais o que conta é o controlo sobre as divisas. O fundador da dinastia Rothchild, dizia mais ou menos isto: «Não me importa quem governa o país, desde que seja eu a controlar a emissão de moeda». Ou seja, quem tem o controlo da produção de moeda, é um banco central, formalmente independente do governo, não tendo que responder senão perante o conglomerado de bancos que o formam. 
É assim com a Federal Reserve Bank, constituída por bancos privados dos EUA, mas que usa o termo «federal» de forma mais que ambígua para dar a entender ser do (Estado) federal... 
É assim com o BCE, o banco central europeu, constituído com participação de capitais de uma série de grandes bancos privados europeus, os quais exercem discretamente a sua influência. 
O FMI, com sede em Washington, funciona como uma enorme concentração de capitais privados, pois são de grandes entidades financeiras privadas os capitais que são emprestados para «ajudar» as nações em apuros, às quais «oferecem» planos de resgate e reestruturação da economia. 
Era bom que as pessoas todas soubessem que os biliões que Portugal ou a Grécia têm estado a pagar, à custa da miséria dos seus respectivos povos, vão parar às carteiras de negócios dos grandes bancos e cartéis financeiros, na origem dos empréstimos negociados com essa instituição. 
O próprio banco central dos bancos centrais, o BIS com sede em Basileia (Suiça), tem uma política virada para a estabilidade da grande banca, não para a resolução dos problemas dos povos. 

Impostos e equidade: Num sistema completamente sob controlo de grandes instituições financeiras centralizadas, quer sejam públicas ou privadas, o trabalhador está sujeito a pagar, de uma forma ou de outra, uma fatia proporcionalmente maior de imposto, para sustentar o Estado, do que o rico. 
A falácia consiste em dizer que o imposto está sujeito a escalões, cuja percentagem será tanto maior, quanto o rendimento anual do contribuinte. 
Mesmo neste sistema, existem múltiplos esquemas contabilísticos, inclusive legais, que permitem fazer baixar os impostos dos muito ricos. 
Mas esta fuga ao fisco não se compara com a fuga organizada e à vista dos poderes reguladores, para os paraísos fiscais. Em Portugal, todos os bancos (incluindo a CGD estatal, mas que funciona como qualquer banco comercial) oferecem aos seus clientes mais afortunados a possibilidade de terem contas off-shore, ou seja, contas em sucursais dos mesmos bancos em paraísos fiscais, não sujeitas às regras e leis do país. 
Por outras palavras, não haverá autêntica «luta contra paraísos fiscais» em parte nenhuma, enquanto os bancos comerciais mantiverem sucursais off-shore, que são um elo crítico para alimentar essa imensa bolha de capitais que se encontra fora do controlo de qualquer entidade pública ou governo. 
Sendo isto assim, como todas as pessoas bem informadas o sabem, o resultado é claro: os que trabalham ou trabalharam como assalariados é que têm de providenciar o grosso do dinheiro para sustentar as despesas dos Estados! 

economia «de mercado» é ficção pura: um «mercado» que opera magicamente, distribuindo as perdas e ganhos, consoante os seus intervenientes saibam, ou não, dobrar-se à regras do mercado e tirar vantagem do que ele oferece. Quem detém os capitais e controlo do mercado de acções são os grandes capitalistas, os grandes bancos, as grandes empresas, que conseguiram uma fatia monopolista do mercado de um produto ou serviço...
Não existe mercado livre na bolsa desde que as grandes entidades privadas decidiram investir nas suas próprias acções, comprando as suas próprias acções para manter as mesmas a subir ou a flutuar, mantendo em estado semelhante os restantes títulos, por efeito de arrastamento.
Não existe mercado livre nas praças financeiras quando as grandes firmas, desde os «hedge funds» (fundos de capitais), até aos grandes bancos mundiais, usam algorítmos que fazem milhares de compras e vendas, apenas num segundo, de uma mesma acção (ou outro produto financeiro), arrastando as cotações de determinadas acções para cima ou para baixo. 
Não existe mercado quando as poupanças de milhões de pessoas são devoradas para colmatar os enormes buracos criados pela grande banca («Too big to fail»), à qual governos e bancos centrais vão entregar - incondicionalmente - fabulosas somas de dinheiro público. Estas entidades aproveitaram para concentrar e consolidar os seus impérios, para extraírem maior lucro para si próprias, nunca para favorecer uma retoma industrial. 

Podemos compreender com os exemplos acima que, na base dos raciocínios dos «economistas de serviço» no universo mediático usual, estão uma série de falácias, de «parti pris» e que eles não são neutrais. 
A sua linguagem é, ela própria, uma construção em que são dados como demonstrados toda uma série de  conceitos falsos ou de conceitos que são aplicados de forma completamente inadequada à realidade.
Mas eles não estão nesses lugares para ajudar as pessoas a aperceberem-se da realidade. Estes são os «spin-doctors» («doutores da treta»), pagos para convencer as pessoas de que os seus governantes e os grandes capitalistas fazem sempre o seu melhor para servir a população....


sexta-feira, 2 de novembro de 2018

Sumi Jo interpreta «AN DIE MUSIK» de SCHUBERT



Sumi Jo possui uma voz excepcional, com uma gama extensa e uma grande riqueza de timbre. 
Aprendi a apreciá-la ouvindo um CD que me foi oferecido há muitos anos: «Journey to Baroque». 

Esta versão do lied de Schubert é muito boa, embora existam várias outras que poderia ter seleccionado. 

                                
                                     Manuscrito de «An die Musik» (*)
 
                               (*https://en.wikipedia.org/wiki/An_die_Musik)

Abaixo, a letra (*)  em alemão e tradução em inglês:

Original GermanEnglish Translation
Du holde Kunst, in wieviel grauen Stunden,
Wo mich des Lebens wilder Kreis umstrickt,

Hast du mein Herz zu warmer Lieb' entzunden,
Hast mich in eine beßre Welt entrückt,
In eine beßre Welt entrückt!
Oft hat ein Seufzer, deiner Harf' entfloßen,
Ein süßer, heiliger Akkord von dir,

Den Himmel beßrer Zeiten mir erschloßen,
Du holde Kunst, ich danke dir dafür,
Du holde Kunst, ich danke dir!
You, noble Art, in how many grey hours,
When life's mad tumult wraps around me,

Have you kindled my heart to warm love,
Have you transported me into a better world,
Transported into a better world!
Often has a sigh flowing out from your harp,
A sweet, divine harmony from you

Unlocked to me the heaven of better times,
You, noble Art, I thank you for it,
You, noble Art, I thank you!                                       

quinta-feira, 1 de novembro de 2018

DO NEOLÍTICO À IDADE DO BRONZE (PARTE IV *)

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                 Carro da idade do bronze, com c. 4000 anos

Se a sequenciação completa do genoma humano trouxe uma série de surpresas (mas isto seria tema para outro artigo) a descoberta de ADN antigo de várias proveniências e o seu relacionamento com o ADN das pessoas contemporâneas tem um papel igualmente desestabilizador relativamente às «certezas» das origens deste ou daquele povo. 
Hoje, iremos ver como é que um povo - os yamnaya - oriundo de uma zona entre as montanhas do Cáucaso e o Mar Negro, chamada o Ponto, se expandiu há cerca de 4500 anos atrás, espalhando os seus genes - como comprovado pelo ADN antigo - mas também a sua língua, o proto-indo-europeu, de onde derivaram quase todos os idiomas actuais da Europa e também do Próximo-Oriente, da Pérsia e do Norte da Índia.
Com efeito, contrariamente ao que se pensava, o modelo de transformação de uma cultura noutra por influências, «continuísta», não é o mais adequado, sendo antes a ruptura decorrente de invasão e conquista, uma modalidade de transformação que se afirma cada vez com maior nitidez, à medida que o ADN antigo vai sendo mais utilizado nos estudos.
Segundo os estudos com ADN antigo, os haplotipos autóctones (presentes no cromossoma Y) são substituídos, há cerca de 4500 anos atrás, seguidos de transformações em muitos aspectos tecnológicos, como as cerâmicas cordiformes, sepulturas de novo tipo, formando pequenas colinas artificiais e rituais diferentes de sepultamento, sepulturas individuais em vez de colectivas. Tudo o que se conhece nesta transição, indicia uma mudança de uma sociedade relativamente igualitária, para uma fortemente hierarquizada. 
Esta modificação teria mesmo sido acompanhada pelo desaparecimento completo dos autóctones do sexo masculino na Península Ibérica, como refere David Reich (1).

A domesticação do cavalo (2) e a utilização da roda radiante (ao contrário da roda de madeira sólida) tornando mais leves e ágeis os carros de guerra, terão sido os meios que permitiram a rápida conquista dos Yamnaya. 
Eles invadiram em ondas sucessivas, ultrapassando as grandes estepes e planícies a leste do Danúbio e do Elba, até ao Oeste do continente europeu, até o Atlântico. A data da conquista de Península Ibérica terá sido um pouco mais tardia, mas nem por isso foi menos avassaladora, ou mesmo, brutal.  
As hostes eram compostas essencialmente por homens; as mulheres não seriam mais do que um décimo da população em migração. Sabemos isso, pelo rasto do ADN antigo de haplotipos de  mulheres yamnaya, em populações europeias ocidentais após a invasão.
Houve portanto formação de descendentes híbridos entre homens yamnaya e mulheres autóctones. 

Note-se que ocorreu outra substituição de haplotipos típicos de uma população masculina autóctone de caçadores-recolectores, com aparecimento de novos haplotipos, oriundos de populações que já praticavam agricultura, muitos milénios antes (cerca de 10 mil anos antes do presente), aquando da transição do Paleolítico tardio para o Neolítico. Na Península Ibérica, o processo terá ocorrido há cerca de 8000 anos, bastante mais tarde que em relação ao centro da Europa. 
As migrações que espalharam as culturas do Neolítico na Europa deixaram rasto nos ADN dos cromossomas Y: verifica-se uma substituição não a 100%, mas da ordem de 80%. 
Por contraste, nas invasões do fim da idade do cobre (Calcolítico), início da idade do bronze, observa-se uma substituição total dos haplotipos anteriores (masculinos). Os especialistas em dinâmica populacional (3) da antiguidade colocam portanto a hipótese de que existiu uma guerra de extermínio e escravização dos sobreviventes, com tomada das mulheres dos povos submetidos pelos guerreiros invasores.

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Não sou a pessoa indicada para escrever em detalhe sobre as mutações (4) que sofreu o continente europeu, ao longo dos milénios do que se convencionou chamar a pré-história. 
Apenas gostava de chamar a atenção para o facto de haver muitas culturas esquecidas do grande público, do imaginário colectivo, apenas estudadas pelos eruditos. Mesmo as várias narrativas da antiguidade, que referem povos como os «filisteus» (Bíblia), ou os «troianos» (Ilíada), têm contribuído para uma visão parcial dos mesmos; só agora, com a arqueologia contemporânea, podem ser plenamente reavaliados. 



(1) A genetic analysis has revealed that, about 4500 years ago, part of southern Europe was conquered from the east. In what is now Spain and Portugal, the local male line vanished almost overnight, and males from outside became the only ones to leave descendants.
David Reich of Harvard Medical School in Boston, Massachusetts presented the results on Saturday at New Scientist Live in London, UK.
https://reich.hms.harvard.edu/