A IIIª Guerra Mundial tem sido, desde o início, guerra híbrida e assimétrica, com componentes económicas, de subversão, desestabilização e lavagens ao cérebro, além das operações propriamente militares. Este cenário era bem visível, desde a guerra na Síria para derrubar Assad, ou mesmo, antes disso.

quinta-feira, 6 de julho de 2017

[OBRAS DE MANUEL BANET] «Cambridge, Mon Amour»


Vejo e beijo estas pedras vetustas,
Talhadas, de fino grão, âmbar sombreado, 
Como as areias da minha distante costa
Este fino grão ecoa do murmúrio de um salmo

O também fino raio de luz, equação 
Newtoniana cintilação plácida do rio
Gentilmente patrulhado pelos gansos 
Monásticos guardas deste lugar

Olho o crepúsculo, por cima dos torreões 
Sobrevoando colégios e capelas
Farrapos improváveis de fantasmas 
em tons púrpura, bailando e fundindo-se...

Sinto que estás aqui, que me acompanhas...

«Aquele quadro, aquela fonte, aquela esquina, lembras-te?»
Evocarás os breves instantes de Cambridge
Um piscar de olho, uma cotovelada, um puxão de orelha
Abrirão meu rosto, nos meus velhos dias, e sorrirei.

                                                                                                          (06-07-2017)



CONFERÊNCIA POR ROGER SCRUTON - «O VERDADEIRO, O BOM E O BELO»


O Dr. Scruton representa  uma corrente de filosofia sobre estética, que tem sido completamente posta de lado pelas correntes do pós-modernismo, que revela a ligação (óbvia) a meu ver, da estética com a moral (quer individual, quer colectiva).
Uma conferência apaixonante, do princípio ao fim.


quarta-feira, 5 de julho de 2017

A CATEDRAL DE ELY

Este monumento da região de Cambridge é absolutamente ímpar, tanto pela sua monumentalidade - durou três séculos a ser edificado - como pelo enorme significado que encerra para a história de Inglaterra.




Tive imenso prazer em deambular nesta floresta de pedra, onde se sucedem o estilo românico tardio, o gótico primitivo e o gótico flamejante.




 


 Muitas das esculturas de santos que estavam inicialmente em nichos, foram removidas pelos iconoclastas,  fundamentalistas protestantes da época, que consideravam a representação dos santos como uma adoração de imagens e portanto blasfémia e contrária à sã doutrina cristã, segundo eles.

     Só se salvaram umas esculturas lá muito no cimo, praticamente inalcançáveis, no exterior da igreja. 





A capela de Sta Maria era revestida de frisos de altos relevos nas quatro paredes, com cenas do antigo e novo testamento. 

As esculturas foram vandalizadas também nessa ocasião; cortaram as cabeças dos personagens representados, mas as partes dos corpos que restam e as pregas dos tecidos, mostram que foram obra de grandes mestres do final da idade média. 



 Uma bomba destruiu - na II Guerra Mundial - a parte lateral da fachada, a qual assim permanece até hoje.

Apesar de todos os danos do tempo, da incúria, estupidez e selvajaria dos homens, este monumento respira paz. 
Foi concebido pelos monges beneditinos como prece erguida em louvor a Deus. 
Hoje em dia, à distância de um milénio desde o ínicio da sua construção, visitar esta catedral é ocasião de autêntico êxtase perante a harmonia do conjunto.

«MARTÍRIO» FILME E DEBATE [Fábrica de Alternativas, Algés]

                              Foto de Fábrica de Alternativas.

Na sequência da presença do Cacique Ládio Veron e do Jantar Benefit/Debate realizados na Fábrica de Alternativas vamos apresentar o filme "Martírio" sobre a luta dos Indios Guarani Kaiowas pelo seu direito à vida, à sua cultura e às terras onde sempre viveram e o massacre a que foram sujeitos.

Título: «Martírio» (Original)
Dirigido por: Vincent Carelli
Brasil 2016 / 160 minutos
Documentário Nacional


Martírio” é um documentário imperdível. Imperdível porque é essencial para compreender um dos mais longos e violentos conflitos de terra do Brasil: o genocídio contra os Guarani-Kaiowá e Ñandeva no Mato Grosso do Sul.

Realizado pelo documentarista e antropólogo, Vincent Carelli (que também dirigiu o excelente Corumbiara), o filme exibe cenas de quase 30 anos de experiência do director com os povos indígenas do Mato Grosso do Sul.

Classificar a situação dessas populações indígenas como genocídio está longe de ser um exagero. Afinal, como classificar uma situação na qual fazendeiros organizam milícias armadas que invadem aldeias (tanto faz se é de noite ou durante o dia) atirando a esmo contra crianças, idosos e mulheres? Ou ainda as emboscadas de pistoleiros ou atropelamentos propositais contra lideranças indígenas? E ainda os aviões dos fazendeiros que lançam veneno sobre as casas e roçados das aldeias, acampamentos e retomadas; os estupros de mulheres e crianças e uma das maiores taxas de suicídios do mundo. Suicídios que expressam a calamidade vivida por esse povo. Sem sua terra original, sem poder plantar seu roçado e manter seu modo de vida, tirar a própria vida tornou-se uma via de fuga desesperada entre os Kaiowás.

Nos últimos 12 anos foram assassinados mais 400 Kaiowás e Ñandevas no Mato Grosso do Sul, segundo dados do Conselho Missionário Indigenista (CIMI). É mais de 30 assassinatos por ano, uma verdadeira Palestina dentro do Brasil. Mas quem já foi numa aldeia e ouviu os relatos sobre as barbaridades cometidas pelos fazendeiros e pistoleiros sabe que o número é bem maior. Há um número incontável de desaparecidos, atropelados e gente morta por envenenamento que não figuram nas estatísticas.

Quando se está na região meridional do Mato Grosso do Sul, porção do território originário dos Kaiowás, é preciso ter cuidado com o que fala e com quem fala. O racismo é brutal. Simpatizantes da causa indígena não são bem-vindos e podem sofrer retaliações. Também é preciso tomar cuidado quando se percorre as estradas cruzando imensas plantações de soja em direcção às aldeias e retomadas. Uma emboscada pode lhe esperar logo ali à frente. Por isso, não é nada estranho saber que o documentário não está em cartaz em nenhuma sala de cinema do Mato Grosso do Sul.

Esse medo e tensão estão presentes em “Martírio” que, em suas três horas de duração, resgata a longa marcha de resistência dos indígenas. Nos séculos XVI e XVII foram vítimas das temíveis bandeiras paulistas. Depois, no final do século XIX, suas terras foram tomadas e arrendadas aos grandes produtores de erva mate. Nessa época, os Kaiowás se tornaram escravos nas grandes plantações, atados pelo sistema de peonagem ou escravidão por dívida em lojas comerciais.

Na década de 1940 foram definitivamente expulsos de suas terras por meio de projetos de colonização. Foram, assim, confinados como bichos em oito pequenas reservas indígenas que juntas não somavam 1% de seu antigo território original. Veio a “revolução verde” e o “moderno” agronegócio nos anos 1970 que varreu quaisquer vestígios das imensas florestas que cobriam a região. Hoje, um mar de soja e cana cobrem aquela terra vermelha. Enquanto isso, o antigo SPI (e depois Funai), a partir de uma perspectiva eurocêntrica ainda incrustada na sociedade brasileira, tentam aniquilar a população indígena e incorporá-los à suposta “civilização”.

Entretanto, nas décadas de 1970 e 1980 veio a resposta indígena com as retomadas dos seus antigos territórios. Foi nessa época que surge aos olhos do mundo e do país a luta Kaiowá. Marçal de Souza Tupã-Y foi o seu porta-voz. Em 1980 discursou para o papa João Paulo II e três anos depois foi assassinado com tiros na boca. Mas os indígenas não se calaram e as retomadas seguiram. Novas lideranças e mártires surgiram como o cacique Marcos Veron, Genivaldo Vera, Rolindo Vera, Nísio Gomes, Semião Fernandes Vilhalva e muitos outros que poderiam encher essa página.

“O que tá pegando a gente é o capitalismo”, explica em guarani uma jovem liderança indígena em uma das cenas de “Martírio”. A imagem foi captada numa Aty Guasu (assembleia dos caciques Kaiowás e Ñandeva) em 1988 e demonstra a total clareza dos indígenas sobre quem são seus inimigos e contra quem se deve lutar.

O documentário também mostra vários minutos dos discursos de políticos ruralistas no Congresso Nacional. A bancada do agronegócio não se constrange em destilar ódio, racismo e inventar absurdas mentiras sobre as populações indígenas, classificados de vagabundos, inimigos do progresso e privilegiados por viverem de… cestas básicas…
O filme também exibe os famosos leilões de bois realizados por fazendeiros para arrecadar dinheiro e organizar milícias contra os indígenas. É preciso ter estômago para ver essas cenas. Talvez seja por isso que o espectador tenha vontade de pular de alegria quando o documentário exibe a cena em que centenas de indígenas invadem o plenário da Câmara dos Deputados e literalmente botam os parlamentares para correr. A cena é de abril de 2016 quando foi realizada uma marcha nacional indígenas contra a PEC 215 que transfere a demarcação das terras indígenas para o Congresso.

A covardia e a conivência dos governos petistas também são escancaradas. E não é só porque Kátia Abreu (ministra da Agricultura do governo Dilma), ao lado de Ronaldo Caiado, está presente no leilão da morte. Mas porque mostra um governo de joelhos aos latifundiários quando a ex-ministra da Casa Civil de Dilma, a senadora Gleisi Hoffmann (PT) promete, em audiência na Comissão de Agricultura da Câmara, que as demarcações seriam suspensas. Uma cena repulsiva e humilhante.

Em 2007, a Funai se comprometeu a identificar e demarcar 39 territórios indígenas. Mas nessa mesma época o agronegócio dá um salto, financiado, sobretudo, pelo dinheiro público. A emblemática declaração do então presidente Lula chamando os usineiros de “heróis” foi uma expressão da aliança dos governos do PT com o agronegócio. O resultado é que nenhum terra Kaiowá foi regularizada em todo o período dos governos do PT. Certa vez, em conversa com uma liderança Kaiowá, descobri que Lula sequer se prontificou em receber as lideranças indígenas. “Lula nos traiu, nos trata como se a gente fosse bicho”, disse a liderança. “Até o Fernando Henrique nos recebia”, confessou sem disfarçar sua revolta.

“Escovar a história a contrapelo” é a instrução dada por Walter Benjamin em suas famosas teses sobre História. O documentário de Vincent Carelli consegue fazer isso com competência. Dá a voz àqueles que sempre tentaram calar na bala. Traz à luz o drama dos invisíveis e vulneráveis que continuam a lutar pela sua Tekoha – palavra guarani que significa lugar da vida. Um documento imprescindível para entender o Brasil e para se indignar e lutar. Terra, justiça e demarcação!

https://www.facebook.com/martiriofilme/



Fábrica De Alternativas Comunidade
Rua Margarida Palla 19 A - 1495-143 Algés, 1495-143 Oeiras

terça-feira, 4 de julho de 2017

SONG «SURABAYA JOHNNY» BRECHT / WEILL






A canção, aqui interpretada por Lotte Lenya, é uma das mais célebres do duo Brecht/Weill. As «songs» estavam inseridas em peças teatrais, pontuavam a acção em certos momentos ou eram parte de peça predominantemente musical, como a «Ópera dos Três Vinténs»
Pese embora a circunstância da sua criação, a de peças teatrais «políticas», assim como a forte influência da música popular da época (a canção de rua, o jazz, o blues, os musicais da Broadway...) estas canções têm algo de duradouro. 
São recriadas - geração após geração - por inúmeros interpretes, são traduzidas, imitadas e adaptadas das mais diversas maneiras. 

Uma das características destas canções é a sua letra fortemente ligada à fala popular. Outra, é a utilização de frases ditas, não cantadas (recitativo), interpoladas. A melodia é fácil de decorar e de cantar e o seu ritmo é vincado. Frequentemente, o acompanhamento revela ousadias harmónicas, mas discretas: ao analisarmos a partitura, percebemos que são composições da vanguarda dos anos 20. 


Ich war jung, Gott, erst sechzehn Jahre
Du kamest von Birma herauf
Und sagtest, ich solle mit dir gehen
Du kämest für alles auf.
Ich fragte nach deiner Stellung
Du sagtest, so wahr ich hier steh
Du hättest zu tun mit der Eisenbahn
Und nichts zu tun mit der See.
Du sagtest viel, Johnny
Kein Wort war wahr, Johnny
Du hast mich betrogen, Johnny, in der ersten Stund
Ich hasse dich so, Johnny
Wie du dastehst und grinst, Johnny
Nimm die Pfeife aus dem Maul, du Hund.


Surabaya-Johnny, warum bist du so roh?
Surabaya-Johnny, mein Gott, ich liebe dich so.
Surabaya-Johnny, warum bin ich nicht froh ?
Du hast kein Herz, Johnny, und ich liebe dich so.


Zuerst war es immer Sonntag
So lang, bis ich mitging mit dir
Aber schon nach zwei Wochen
War dir nicht nichts mehr recht an mir.
Hinauf und hinab durch den Pandschab
Den Fluß entlang bis zur See:
Ich sehe schon aus im Spiegel
Wie eine Vierzigjährige.
Du wolltest nicht Liebe, Johnny
Du wolltest Geld, Johnny
Ich aber sah, Johnny, nur auf deinen Mund.
Du verlangtest alles, Johnny
Ich gab dir mehr, Johnny
Nimm die Pfeife aus dem Maul, du Hund.



Surabaya-Johnny, warum bist du so roh ?
Surabaya-Johnny, mein Gott, ich liebe dich so. 
Surabaya-Johnny, warum bin ich nicht froh ?
Du hast kein Herz, Johnny, und ich liebe dich so. 

Ich hatte es nicht beachtet
Warum du den Namen hast
Aber an der ganzen langen Küste
Warst du ein bekannter Gast.
Eines morgens in einem Sixpencebett
Werd ich donnern hören die See
Und du gehst, ohne etwas zu sagen
Und dein Schiff liegt unten am Kai.
Du hast kein Herz, Johnny
Du bist ein Schuft, Johnny
Du gehst jetzt weg, Johnny, sag mir den Grund.
Ich liebe dich doch, Johnny
Wie am ersten Tag, Johnny
Nimm die Pfeife aus dem Maul, du Hund.


Surabaya-Johnny, warum bist du so roh ?
Surabaya-Johnny, mein Gott, ich liebe dich so. 
Surabaya-Johnny, warum bin ich nicht froh ?

Du hast kein Herz, Johnny, und ich liebe dich so.

I was young, I was just sixteen then
When you came up from Burma one day
And you told me to pack up my suitcase
And I did, and you took me away
I said, "Do you work nice and steady
Or do you go sailing and roving out to sea?"
And you said, "I have a job on the railroad
And baby, how swell it's all gonna be"
You said a lot, Johnny. It was all lies
You sure had me fooled, right from the start
I hate you when you laugh at me like that
Take that pipe out of your mouth, Johnny

Surabaya Johnny. Is it really the end?
Surabaya Johnny. Will the hurt ever mend?
Surabaya Johnny. Ooh, I burn at your touch
You got no heart, Johnny, but oh, I love you so much

Oh, at first you were kind and gentle
'Til I packed up and went off with you
And it lasted two weeks until one day
You laughed at me and hit me too
You dragged me all over the city
Up the river and down to the sea
Now I look at myself in the mirror
And some old woman looks back at me
You didn't want love, Johnny, you wanted money
I gave you all I had. You wanted more
Oh, don't look at me that way
I'm only trying to talk to you
Wipe that grin off your face, Johnny

Surabaya Johnny. Is it really the end?
Surabaya Johnny. Will the pain never mend?
Surabaya Johnny. How I burn at your touch
You got no heart, Johnny, but oh, I love you so much

When we met I forgot to ask you
Why they called you that funny name
But in every hotel on the seacoast
I found out, and I loved you all the same
I'm tired. I'm worn out
The sea's pounding in my ears
And I reach out my arms to hold you
You're not here and who even cares?
You got no heart, Johnny. You're just no good
You going now? Oh, tell me why
I love you after all, Johnny, like that very first day
Don't laugh at me no more, Johnny.

Surabaya Johnny. Is it really the end?
Surabaya Johnny. Will the hurt ever mend?
Surabaya Johnny. Oh, I burn at your touch
You got no heart, Johnny, but oh, I love you
I love you, I love you so much

Written by Bertolt Brecht, Eugen Berthold Brecht, Kurt Weill • Copyright © Warner/Chappell Music, Inc, Tratore

segunda-feira, 3 de julho de 2017

O QATAR E O FIM DO PETRO-DÓLAR

                      

Esqueçam tudo o que sabem sobre o Médio-Oriente, ou melhor, tudo o que julgam saber, visto que temos estado literalmente a sofrer sucessivas lavagens ao cérebro, acerca das guerras na bacia do Mediterrâneo e no Oriente-médio.

Com efeito, os media apresentam sempre a grelha de leitura do conflito religioso, na sua vertente sectária, entre muçulmanos xiitas e sunitas. Nada é mais falso do que esta leitura «confessional» para explicar o fundamento profundo destas guerras. 

É preciso realmente recuar a 1971 e ao repúdio de Bretton Woods pelos EUA, a superpotência sob cuja égide foram firmados estes acordos. Do repúdio unilateral de Bretton Woods nasceu o petrodólar, resultante do acordo da monarquia saudita com Kissinger em só aceitar dólares em pagamento do petróleo contra uma proteção total pelo exército dos EUA. 

Só assim se compreenderá que a batalha que se trava é económica e financeira antes de mais; que envolve parcerias estratégicas para controlar os mercados estratégicos de «ouro negro» (petróleo e gás natural) e do ouro, propriamente dito. 

Finalmente, para se possuir uma perspetiva realista sobre a reorganização do mundo ao nível do padrão monetário, o chamado «reset», teremos que compreender o seguinte: quem controlar os fluxos de capitais, controlará o futuro, ora o capital real não é o dólar, ou petrodólar ou euro dólar, mas antes as matérias primas estratégicas, nomeadamente e em primeiro lugar os combustíveis fósseis, assim como o ouro, o valor de reserva em última instância.

Quem quiser perceber algo das lutas, das guerras, dos terrorismos, terá de se distanciar das narrativas dos media de «referência». Só fazendo uma pesquisa individual poderá adquirir algum saber, para além do ecrã de propaganda. Só quem puder ou souber manter-se ao corrente da situação, diversificando as suas fontes, poderá construir sua visão geral de geoestratégia e de política.

Os artigos de Shaun Bradley («O fim do petro-dólar, o que a FED não quer que você saiba») e de Ahmed Charai («A única saída para a crise do Qatar) têm aspetos criticáveis, enunciam as opiniões dos respetivos autores, mas eu aconselho a sua leitura integral e atenta, pois estão recheados de informações preciosas, as quais são sonegadas ou cujo significado é sistematicamente obscurecido pela comunicação social de massa. 

A crise entre o Qatar e os outros países do Conselho do Golfo (formada pela Arábia Saudita e os Emirados) é reveladora da transição para fora do petrodólar e da perda de hegemonia dos EUA. 

Neste gigantesco jogo de tronos ... as populações, principalmente os civis inocentes, são as grandes vítimas.

Mas também estamos a assistir a isto tudo, porque a «nação excepcional» e seus aliados europeus, decidiu - há muito tempo - que as políticas focalizadas nos «direitos humanos» só se aplicavam a países de Leste e à Rússia (ou à União Soviética). Apenas usadas como arma de contra-propaganda ao «comunismo e socialismo» (ou, mais precisamente a quaisquer alternativas populares, mesmo as mais reformistas...). 

Quanto às monarquias do Golfo, cada qual mais reacionária que a outra, completamente corrompidas, tinham de ser acarinhadas por «realismo político». Aqui, pouco importava elas não serem propriamente modelos de virtudes humanitárias (veja-se a guerra contra os civis no Iemen, largamente ignorada, veja-se a guerra por procuração, contra um dos poucos regimes laicos, o sírio...). 

Mas, como mostra a crise dos países do Golfo com o Qatar, chegou o momento de certos aliados mudarem de campo, o que acontece também com a Turquia. Por outras palavras, a grande mudança, o «reset», está a desenrolar-se diante dos nossos olhos. 

Quem não observar as coisas tal como elas são, irá fatalmente tomar decisões erróneas, a todos os níveis, porque irá considerar como sólido aquilo que se está a desmoronar, irá investir em miragens, para ficar com uma «mão cheia de nada». 

Tanto no plano financeiro, como no sentido de «investimento emocional», as pessoas deveriam questionar - antes que seja tarde demais - as suas certezas. Aquilo que tomam como «dado adquirido» resulta - muitas vezes - da perpétua propaganda que se abate sobre todos nós. 

Quem ler os dois artigos supra-citados e os comparar com a narrativa que nos é constantemente vendida nos media, terá um elemento comparativo e de avaliação. Não me parece exagero dizer que temos estado sujeitos a endoutrinamento, neste assunto, como em muitos outros. 
Infelizmente, isso acontece um pouco por todo o mundo, talvez mais maciçamente nos países onde o nível cultural geral é baixo. Mas, onde o público é mais sofisticado, a mentira também o é! 

terça-feira, 27 de junho de 2017

MÚSICA JOYA - CONCERTO PARA ÓRGÃO, J. S. BACH



Uma alegria, exuberante de vida, este concerto para órgão, baseado num concerto para violino e cordas pelo seu ilustre aluno Johann Ernst, Duque de Saxe-Weimar
Aqui, interpretado por Simon Preston aos órgãos da Catedral de Luebeck, a melhor versão que consegui captar no youtube.