Uma peça que eu me habituei a relacionar com o destino e ... com a força de enfrentá-lo, também!
sábado, 13 de abril de 2024
Trio para Violino, Violoncelo e Piano de Schubert
sexta-feira, 12 de abril de 2024
O CANÁRIO NA MINA DE CARVÃO*
O CANÁRIO NA MINA DE CARVÃO*
Nas últimas semanas, tanto o ouro como a prata, têm subido de forma parabólica, sem cessar. Esta subida é correlacionável com uma situação muito anómala do mercado. Em particular, os acontecimentos geopolíticos indicam aos investidores (apenas 0.5% dos investidores têm ouro nos seus portefólios!) que estamos a passar pelo período mais conturbado, não só do século XXI, como das nossas vidas.
A instabilidade geopolítica foi potenciada por dois acontecimentos:
- O ataque terrorista contra um concerto na periferia de Moscovo, que fez 144 mortos e grande número de feridos, cuja responsabilidade o governo russo atribui aos serviços ucranianos, inspirados por Washington e Londres. Em consequência deste ataque, houve um potenciar e alargar de ações ofensivas russas em toda a Ucrânia.
O segundo evento é o ataque às instalações consulares iranianas, pelos israelitas. Este ataque causou sete mortos diretos, dos quais um general iraniano.
Ao atacar representações diplomáticas, que são salvaguardadas pela convenção de Viena, estejam onde estiverem e sejam de que país for, o governo de Israel indicou que não hesitaria em transgredir todas as regras e convenções internacionais, como aliás o tem feito abundantemente no genocídio que leva a cabo em Gaza, desde o 7 de Outubro passado.
Todo o mundo está a aguardar quando e como será a resposta iraniana a este crime. As representações diplomáticas são consideradas território do país; portanto, o ataque de Damasco pelos israelitas é uma agressão ao território do Irão. É uma agressão brutal, sem dúvida, motivada pelo desespero de terem de retirar de Gaza onde -apesar da chacina causada na população civil - não conseguiram erradicar o Hamas (o seu objetivo declarado).
As pessoas mais bem informadas, assim como grandes empórios financeiros e os bancos centrais, já há muito tempo que começaram a acumular ouro (e prata) para enfrentar a enorme crise económico-financeira-monetária que está agora a começar a desenrolar-se, mas que desde 2008 era visível, aquando do quase-colapso do sistema global do capitalismo e das catadupas de dinheiro oferecido aos grandes bancos sistémicos e aos grandes fundos de investimento.
Como de costume, os últimos a despertar são os pequenos, convencidos de que estão a fazer fortuna na bolsa quando, na verdade, o valor nominal das ações deixou de ter significado, face à perda acelerada de valor (em termos reais de poder aquisitivo) das principais divisas nas quais essas ações estão cotadas.
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* No passado, os mineiros costumavam levar, para dentro das minas, canários engaiolados; se estes morressem, então isso devia-se a concentração elevada de metano, pois os canários eram mais sensíveis. Então, havia que evacuar a mina, antes que ocorresse uma explosão. Ficou a expressão para designar o sinal que antecede a catástrofe em termos financeiros.
quinta-feira, 11 de abril de 2024
OPUS. VOL. III 11. PALAVRAS OBSCURAS
Serão palavras obscuras,
As que eu tenho para te mostrar:
Amei a luz e o calor
Não vi o cortejo
De invejosos atrás de mim
Ofereci meu coração
E afeto, mas a quem
Não sabia dar de volta
Agora estou às voltas
Com o meu passado
Arrependimento?
Só de ter sido ingénuo
Pois amor não é pecado!
Neste mundo onde vivemos
Hipocrisia, cobiça e outros
Sentimentos venenosos
Involucraram-se
Nas massas cerebrais
Dos contemporâneos
Ao ponto de não saberem
Distinguir a realidade
Das suas narrativas
Auto justificadoras.
Tenho pouca esperança
D'amanhãs que desencantam
Dedico-me a estudar e mergulhar
Na Natureza, ela me ensina
Meu otimismo está na fonte
D'onde a glória cósmica
Emana; nas sociedades
Contemporâneas
Em vão procurei
A fonte de Vida
Procurei longamenteNo meio das trevas
Não tenhais ilusões
Procurai o bem e o justo
No interior de vós próprios
Não em discursos elogiosos
Mas no saber de si próprio
Só assim podereis
Velejar na travessia
Do oceano turbulento.
terça-feira, 9 de abril de 2024
PLAYLIST: CHARLES AZNAVOUR - 20/20
Digam-me se concordam que os 20 sucessos de Aznavour desta playlist pertencem às suas vinte melhores composições/interpretações !
domingo, 7 de abril de 2024
OPUS. VOL. III 10. VENDAVAL DE ABRIL
Onde estão os dias da minha juventude
Em que dançávamos embevecidos pelos sons
Que nos pareciam dizer o que nos ia no coração
Em que as raparigas eram atraentes e prudentes
Para nos darem esperança de namoro somente
As infinitas discussões politicas, as ilusões
Podeis rir ou desprezar; eu tenho boas recordações
São minhas, são vossas, rapazes e moças desses anos
Não importa que sejais avós, que estejais na reforma
Este período da nossa história coletiva foi
Entre exaltações, ilusões e trambolhões
O tempo único de florescimento
O desabrochar de mil canções
Que nos encheram corações e almas
De esperança
Não será isso o mais importante?
- Aquilo que nos faz viver,
Nos transporta além do nosso ego
- Aquilo que vence a estupidez
A mesquinhez e a cupidez?
Serei sempre adolescente
Na alma, não por passadismo
Mas por escolha, depois de ter
Visto a miséria em que se transformou
Boa parte dos adultos de hoje:
O seu "ideal" é encaixar no sistema!
Perdoo tudo, menos a covardia
O não ter coragem de fazer
O que seja preciso, para repor
A justiça e dignidade no seu entorno
Podem ter muita "competência", etc. mas
Onde está a vossa decência?
Se quiserdes, podeis viver "com a espinha direita"
É vossa escolha...
Digo-vos ser bem pior
Viver rastejando e espezinhado.
- Tudo o resto é bem pouco, indigno
E fracassado, não tenham ilusões:
O "vencer na vida" que eles apregoam
É vencer no concurso
Para escravo abjeto dos Senhores
Se é este o vosso objetivo, lamento,
Mas não terei qualquer palavra de apreço
Pela vossa entrega ao serviço das bestas
Do momento; só poderei lamentar.
Os outros que me seguem
Sabem que eu não lhes tento vender
Esta ou aquela ideologia
Apenas que sejam livres, humanos,
Dando e recebendo amor
O amor verdadeiro que não
Se vende nem compra
Que pode ter ou não ter
Uma componente física.
Tem de ser genuíno.
sexta-feira, 5 de abril de 2024
O ESPELHO DE NARCISO
MITOLOGIAS (XIII*)
Narciso era um jovem muito belo, mas que vivia sob um decreto do destino, revelado à nascença, a sua mãe: Ele viveria muito tempo, se nunca visse a sua própria imagem. Mas, num dia de grande calor, o jovem Narciso debruçou-se para beber água de uma fonte. Aí, viu o reflexo do seu rosto e ficou siderado pela sua própria beleza. Tanto se enamorou de sua própria imagem, que tal obsessão o levou a definhar e a morrer.
Esta história da mitologia grega, como todas as outras, é uma forma simbólica de descrever traços de personalidade, por vezes nefastos, dos humanos.
Jehan Georges Vibert: Narcisse
Cada um fará a leitura que mais lhe pareça adequada à sua visão: Sem dúvida, que a história indica algo profundo da alma humana. Por outras palavras, não se trata de uma história «moralizadora».
Note-se a relação da história de Narciso, com a de Psyché (a jovem mulher tão bela, que fazia inveja a Afrodite) e Eros (o Amor, filho de Psyché). O reflexo, aqui, é devolvido a Psyché pelo amor heterossexual ou seja, apenas este pode funcionar como o real «espelho» da alma; não o próprio, não o autoerotismo, mas o confronto com o não-próprio, com o amor de outrem.
Nos dois mitos, o sujeito - quer seja Narciso, ou Psyché - está perante si próprio/a, está a ver a imagem de seu corpo, de sua alma (eidolon ; «ídolo»). Quando Psyché observa a sua perfeição ao espelho, dá-se aí oportunidade para o enamoramento narcísico. Mas, Eros vem durante a noite: Eles fazem amor em sonho, satisfazendo-se o desejo de Psyché, de amar e ser amada.
No caso de Narciso, porém, o percurso de vida é descendente; o auto-amor conduz à auto-destruição. Segundo uma versão do mito, Narciso tanto se enamorou da imagem, que acabou por mergulhar no lago que a reflectia e afogar-se, no vão desejo de se unir a ela.
Quando observo os meus contemporâneos, especialmente as pessoas que se transportam para todo o lado com smartphones e que os utilizam - entre outras funções - como câmara fotográfica portátil, não posso deixar de me surpreender pela frequente realização de selfies, ou seja, de imagens de si próprios. Estes selfies podem também ser com outrem, ou até em grupo, sem dúvida. Porém, o mais frequente é tratar-se de autorretratos singulares, em geral, com alguma paisagem ou monumento por detrás, como para imortalizar o momento. Trata-se de uma glorificação do ego, sem dúvida. Que estas pessoas afinal sejam narcisistas, isso não se pode inferir pelo simples gesto de fazer um «selfie». Mas, simbolicamente, creio que o gesto dá a imagem do tempo em que vivemos; a exaltação do ego, o amor de si próprio, o egoísmo e hedonismo glorificados.
Seria injusto inferir que todas as pessoas que tiram selfies, sejam necessariamente egolátricas. Porém, é expectável que se observe tal comportamento, se alguém for egolátrico, narcisista. Não nos podemos admirar que ele/ela se comporte desta maneira, que se mire e remire ao «espelho» do smartphone e queira "eternizar" sua imagem, associando-a à paisagem magnífica, ou a um monumento célebre.
Lembro-me duma publicidade a uma marca de leite (há mais de uma dezena de anos, creio). Uma jovem mulher, de corpo esbelto e cara sorridente, afirmava: «Se eu não gostar de mim própria, quem gostará?» (ou algo semelhante, se a memória não me falha).
Lembro também, há alguns anos, do aparecimento e propagação de uma daquelas frases-feitas: «de que é preciso cultivar a auto-estima». Francamente, a auto-estima é cultivada até à exaustão, até à desmesura de muitos se sentirem legitimados a pisar os direitos dos seus vizinhos, ou colegas, ou familiares, sob pretexto de levarem a cabo seu «projeto pessoal». Vi, com preocupação, tal «auto-estima» ser apresentada como algo de positivo, algo que se deveria cultivar nas crianças e adolescentes.
*Consulte aqui os números anteriores desta série