Mostrar mensagens com a etiqueta zombies. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta zombies. Mostrar todas as mensagens

quarta-feira, 11 de junho de 2025

OS ÚLTIMOS DIAS DE GAZA (POR CHRIS HEDGES)

 

Chris Hedges publica no Substack esta crónica (ver abaixo), que é um veredicto: A «civilização» ocidental está morta. Morreu, não de exaustão material, de esgotamento de recursos, ou de uma invasão por povos rivais, mas antes pela sua própria decadência moral. 

Chris Hedges faz aquilo que qualquer homem ou mulher dignos, que tenham o conhecimento hoje dos tão largamente espalhados relatos e imagens do genocídio dos palestinianos às mãos do governo sionista e das suas forças armadas, tem de fazer: Tem de concordar que a monstruosidade destes atos continuados, planeados, executados friamente, nada ficam a dever à horrorosa política de limpeza étnica/genocidária dos nazis, no século passado. 

Porém, lamentavelmente, as pessoas não aprenderam nada com o holocausto das populações judias, ciganas, de resistentes de vários povos e etnias, sacrificadas pelos nazis. Foram erigidos monumentos às vítimas, abertos museus, lembrados em palavras escritas ou faladas, mas... O horror de tudo isso que a humanidade viveu, volta agora: cerca de oitenta anos após o desmoronamento final do III Reich, vencido pelas forças aliadas. 

Eu tenho de confessar que o escrito abaixo de Chris Hedges me horripila. Não por ser exagerado, não por ser  alarmista, não por hipertrofiar certos aspectos da realidade... mas, antes pelo contrário.

O que isto significa é que a chamada «civilização ocidental» já estava morta por dentro, apodrecida, como árvore que se conserva erguida, com o tronco principal, os ramos, as folhas (embora secas), mas cuja seiva deixou de correr, definitivamente. Qualquer vendaval irá abatê-la, pois ela já não desenvolve atividade vital, já não é ativa no ecossistema, as suas raízes permanecem, mas são estruturas ocas, serão aproveitadas por fauna, flora e microorganismos, que reciclam os materiais das árvores mortas. 

Para mim, e para muitas pessoas que raciocinam sobre estas coisas, a civilização ocidental poderá dar ainda aparência de vida, durante anos ou até (sabe-se lá...) decénios. Mas, não será uma verdadeira vida; a pseudo-vida será como dos zombies, que se mexem, andam, gesticulam, mas sua vontade e alma não lhes pertencem mais. 

Gaza assinala o crime coletivo sem perdão possível; não apenas para os israelitas, que segundo sondagem recente, «aprovam maioritariamente» o genocídio dos palestinianos. Igualmente, não poderá haver perdão para todos os que se calaram, que viraram a cara, que ficaram quietos; nem para os que tinham poder para mudar o rumo das coisas: Se tivessem feito um gesto, tomado uma posição, teriam contribuído para salvar vidas, vidas inocentes. 

Mas o comportamento dos poderosos «não choca» a imensa maiora dos cidadãos. Muito mal vai a gente que, na tal «civilização» ocidental, se baseia na fruição do instante, na ilusão da publicidade, no consumo hedónico, na indiferença a tudo o que não sejam seus próprios interesses mesquinhos. 

Creio que são estas pessoas, essencialmente, já estavam preparadas para aprovar, pela passiva, qualquer ato, desde que este não pusesse em causa o seu interesse mesquinho. Esta maioria, «ensinada» a viver na passividade está - com certeza pronta - para se comportar dum modo semelhante, perante nova situação de holocausto de outro povo distante. Mas, também estará pronta a reagir assim com seus vizinhos, cidadãos que falam a mesma língua, trabalham e consomem como eles,  e são portadores dos mesmos documentos de identidade.

 Muitos, nos países do chamado «Terceiro Mundo», anseiam pela sua derrocada definitiva. Eu estou ansioso pelo mesmo que eles: Não me interessam mais os falsos juramentos, as elaboradas «defesas dos direitos humanos» e os discursos com relentos de colonialismo e de imperialismo. Seja como for, a queda desta «civilização» está traçada; as únicas incógnitas são o «quando» e o «como» acontecerá.

 Gente cobarde e chafurdando na lama moral que nutre os seus cérebros apodrecidos, não tem real futuro: A morte da civilização que produz estes monstros já ocorreu. O horror de Gaza foi a constatação do facto já consumado, uma «autópsia», uma «certidão de óbito».


The Last Days of Gaza

We Will Remember by Not Remembering

Guest post
 
READ IN APP
 
Palestinians mourn over the bodies of their relatives who were killed in an Israeli military strike on Gaza at Al-Shifa Hospital in Gaza City, Wednesday 4 June 2025. Photo credit: Jehad Alshrafi

This is the end. The final blood-soaked chapter of the genocide. It will be over soon. Weeks. At most. Two million people are camped out amongst the rubble or in the open air. Dozens are killed and wounded daily from Israeli shells, missiles, drones, bombs and bullets. They lack clean water, medicine and food. They have reached a point of collapse. SickInjuredTerrifiedHumiliatedAbandonedDestituteStarvingHopeless.

In the last pages of this horror story, Israel is sadistically baiting starving Palestinians with promises of food, luring them to the narrow and congested nine-mile ribbon of land that borders Egypt. Israel and its cynically named Gaza Humanitarian Foundation (GHF), allegedly funded by Israel’s Ministry of Defense and the Mossad, is weaponizing starvation. It is enticing Palestinians to southern Gaza the way the Nazis enticed starving Jews in the Warsaw Ghetto to board trains to the death camps. The goal is not to feed the Palestinians. No one seriously argues there is enough food or aid hubs. The goal is to cram Palestinians into heavily guarded compounds and deport them.

What comes next? I long ago stopped trying to predict the future. Fate has a way of surprising us. But there will be a final humanitarian explosion in Gaza’s human slaughterhouse. We see it with the surging crowds of Palestinians fighting to get a food parcel, which has resulted in Israeli and US private contractors shooting dead at least 130 and wounding over seven hundred others in the first eight days of aid distribution. We see it with Benjamin Netanyahu’s arming ISIS-linked gangs in Gaza that loot food supplies. Israel, which has eliminated hundreds of employees with the United Nations Relief and Works Agency for Palestine Refugees in the Near East (UNRWA), doctors, journalists, civil servants and police in targeted assassinations, has orchestrated the implosion of civil society.

I suspect Israel will facilitate a breach in the fence along the Egyptian border. Desperate Palestinians will stampede into the Egyptian Sinai. Maybe it will end some other way. But it will end soon. There is not much more Palestinians can take.

We—full participants in this genocide—will have achieved our demented goal of emptying Gaza and expanding Greater Israel. We will bring down the curtain on the live-streamed genocide. We will have mocked the ubiquitous university programs of Holocaust studies, designed, it turns out, not to equip us to end genocides, but deify Israel as an eternal victim licensed to carry out mass slaughter. The mantra of never again is a joke. The understanding that when we have the capacity to halt genocide and we do not, we are culpable, does not apply to us. Genocide is public policy. Endorsed and sustained by our two ruling parties.

There is nothing left to say. Maybe that is the point. To render us speechless. Who does not feel paralyzed? And maybe, that too, is the point. To paralyze us. Who is not traumatized? And maybe that too was planned. Nothing we do, it seems, can halt the killing. We feel defenseless. We feel helpless. Genocide as spectacle.

I have stopped looking at the images. The rows of little shrouded bodies. The decapitated men and women. Families burned alive in their tents. The children who have lost limbs or are paralyzed. The chalky death masks of those pulled from under the rubble. The wails of grief. The emaciated faces. I can’t.

This genocide will haunt us. It will echo down history with the force of a tsunami. It will divide us forever. There is no going back.

And how will we remember? By not remembering.

Once it is over, all those who supported it, all those who ignored it, all those who did nothing, will rewrite history, including their personal history. It was hard to find anyone who admitted to being a Nazi in post-war Germany, or a member of the Klu Klux Klan once segregation in the southern United States ended. A nation of innocents. Victims even. It will be the same. We like to think we would have saved Anne Frank. The truth is different. The truth is, crippled by fear, nearly all of us will only save ourselves, even at the expense of others. But that is a truth that is hard to face. That is the real lesson of the Holocaust. Better it be erased.

In his book One Day, Everyone Will Have Always Been Against This, Omar El Akkad writes:

Should a drone vaporize some nameless soul on the other side of the planet, who among us wants to make a fuss? What if it turns out they were a terrorist? What if the default accusation proves true, and we by implication be labeled terrorist sympathizers, ostracized, yelled at? It is generally the case that people are most zealously motivated by the worst plausible thing that could happen to them. For some, the worst plausible thing might be the ending of their bloodline in a missile strike. Their entire lives turned to rubble and all of it preemptively justified in the name of fighting terrorists who are terrorists by default on account of having been killed. For others, the worst plausible thing is being yelled at.

You can see my interview with El Akkad here.

You cannot decimate a people, carry out saturation bombing over 20 months to obliterate their homes, villages and cities, massacre tens of thousands of innocent people, set up a siege to ensure mass starvation, drive them from land where they have lived for centuries and not expect blowback. The genocide will end. The response to the reign of state terror will begin. If you think it won’t you know nothing about human nature or history. The killing of two Israeli diplomats in Washington and the attack against supporters of Israel at a protest in Boulder, Colorado, are only the start.

Chaim Engel, who took part in the uprising at the Nazis’ Sobibor death camp in Poland, described how, armed with a knife, he attacked a guard in the camp.

“It’s not a decision,” Engel explained years later. “You just react, instinctively you react to that, and I figured, ‘Let us to do, and go and do it.’ And I went. I went with the man in the office and we killed this German. With every jab, I said, ‘That is for my father, for my mother, for all these people, all the Jews you killed.’”

Does anyone expect Palestinians to act differently? How are they to react when Europe and the United States, who hold themselves up as the vanguards of civilization, backed a genocide that butchered their parents, their children, their communities, occupied their land and blasted their cities and homes into rubble? How can they not hate those who did this to them?

What message has this genocide imparted not only to Palestinians, but to all in the Global South?

It is unequivocal. You do not matter. Humanitarian law does not apply to you. We do not care about your suffering, the murder of your children. You are vermin. You are worthless. You deserve to be killed, starved and dispossessed. You should be erased from the face of the earth.

“To preserve the values of the civilized world, it is necessary to set fire to a library,” El Akkad writes:

To blow up a mosque. To incinerate olive trees. To dress up in the lingerie of women who fled and then take pictures. To level universities. To loot jewelry, art, food. Banks. To arrest children for picking vegetables. To shoot children for throwing stones. To parade the captured in their underwear. To break a man’s teeth and shove a toilet brush in his mouth. To let combat dogs loose on a man with Down syndrome and then leave him to die. Otherwise, the uncivilized world might win.

There are people I have known for years who I will never speak to again. They know what is happening. Who does not know? They will not risk alienating their colleagues, being smeared as an antisemite, jeopardizing their status, being reprimanded or losing their jobs. They do not risk death, the way Palestinians do. They risk tarnishing the pathetic monuments of status and wealth they spent their lives constructing. Idols. They bow down before these idols. They worship these idols. They are enslaved by them.

At the feet of these idols lie tens of thousands of murdered Palestinians.


Originally produced for Scheerpost

sexta-feira, 8 de abril de 2022

NOSSOS GRILHÕES MENTAIS: GESTÃO DA PERCEÇÃO (PERCEPTION MANAGEMENT)






 Quando penso nas grandes linhas do que tem sido o século XXI, verifico como a forma mais acabada de conduzir as massas tem sido a gestão da sua perceção.

Com efeito, quem tem o controlo sobre os grandes meios de comunicação social, quer seja o Estado, quer sejam os grandes grupos privados, pode moldar a perceção da realidade, ocultando, dizendo apenas as partes convenientes de uma realidade, ou mesmo, fabricando de todas as peças uma falsa narrativa. 

O pretexto para os americanos invadirem o Afeganistão em 2001, para depois invadirem o Iraque em 2003, para continuarem com a Líbia, o Sudão, a Síria, o Iémen...Foi - na verdade - um monstruoso «Pearl Harbour», querido pelos redatores do manifesto PNAC, os neocons. Eles têm-se sucedido em postos importantes de Washington, sob todas as presidências, enquanto elementos-chave do Estado profundo nos USA, com a participação e conivência ativa de uma grande parte do grande capital: nomeadamente, a banca (JP Morgan, Goldman Sachs e a grande banca de negócios), Blackrock e Vanguard (empresas tentaculares, desde o imobiliário, até fundos especulativos, e tomando controlo de empresas lucrativas nos USA e noutras partes do Império), as Grandes da Tecnologia (Amazon, Google, Microsoft, Apple...). Estas últimas, com seus superlucros, não só beneficiam de um monopólio de facto; são parte ativa da gestão da imagem, da censura e blackout de pessoas, ideias e informações contra a ortodoxia...

Evidentemente, não são eles os nossos únicos inimigos, mas estão de facto a usar, de forma constante, armas de destruição massiva da inteligência das pessoas. Armas que não se apresentam como tal, que as pessoas vão «voluntariamente» procurar. De facto, seria mais apropriado fazer-se uma analogia com drogas duras... Pois, o cérebro humano alimenta-se, não apenas de informação vinda do interior (ele próprio e o organismo no qual existe), como do constante fluxo de informação vinda do exterior. Assim, conforme estamos a ser «nutridos» com informação (ou lixo informativo) estamos a ser subtilmente moldados. 

A nossa perceção consciente e nosso ego podem recusar a evidência. Muitas pessoas pensam que são «elas próprias» que estão no controlo, que são elas que adotam ou rejeitam tal ou tal informação ou ponto de vista e, pensam elas, isso resulta do funcionamento lógico e racional do cérebro.

Porém, de facto o cérebro não é um computador, não é uma máquina; o cérebro recebe constantemente o «input» de impressões e afetos, que se exprimem por variações nos níveis hormonais, variações de neurotransmissores nesta ou naquela área cerebral, num complexo de circuitos de retroação.

Em tempo de guerra, a propaganda, ou seja, a forma mais maciça de influenciar a mente coletiva, torna-se mais pesada, torna-se opressiva. O regime dos países ocidentais, agora, é muito parecido com regimes do Leste, na era soviética*. Eu conheci vários países da Europa do Leste, incluindo a URSS, numa época em que as pessoas tinham a propaganda oficial por um lado e por outro, havia circulação de informação de forma semiclandestina. 

Tanto nesse contexto, como no que se verifica hoje nos países ocidentais, não havia uma impossibilidade de acesso, pelo cidadão comum, a essas fontes alternativas de informação. Nos regimes do tipo que existiram na Europa do Leste, até ao final dos anos 80, era possível encontrar pessoas abertamente críticas em relação ao sistema. Hoje, nos países ditos de «democracia liberal» é também possível encontrar pessoas, que são francamente contrárias ao Status Quo. 

Mas, não são essas pessoas que fazem a opinião. A opinião é feita por escribas, jornalistas, «pivots», pseudointelectuais, pseudo analistas, «peritos», que constantemente se sucedem, sobretudo nos meios informativos de maior audiência, despejando a «verdade» (dos regimes), as meias-verdades, as mentiras, as puras fabricações. Mas o ponto fulcral é a ausência de contraditório: Tudo isso é despejado sem que qualquer outra opinião, realmente contraditória, se faça ouvir de modo que as grosseiras deformações da realidade possam ser questionadas seriamente.  

A sofisticação do sistema de gestão da informação vai muito longe, pois os partidos ditos de oposição, mesmo com etiqueta de socialistas, comunistas, ou anticapitalistas, foram cooptados para fazer parte do coro. Quando cantam, é em harmonia, podem até fazer contraponto, mas globalmente, não deixa de ser a narrativa do poder. Apenas a ênfase, o vocabulário e os chavões são ligeiramente diferentes. Os incautos creem que estão a ouvir, ver, ou ler, alguém de «esquerda autêntica», porque lança uma série de chavões e de frases-feitas, que funcionam como luzinhas - chamariz. 

Na política-espetáculo, o discurso é tudo, a narrativa impera sobre os factos, a forma sobre o conteúdo, a personalidade e a aparência física de quem emite a «opinião», primam sobre tudo o resto. Estamos perante uma ilusão coletiva de democracia, um teatro de aparências, pois não existem reais contrapoderes. 

Os tribunais não são independentes, como sabe qualquer pessoa que esteja dentro do sistema judicial. Nem é preciso invocar casos de corrupção (reais, mas quase nunca desvendados, pois afetariam a credibilidade da instituição); basta pensarmos nos mecanismos legais e bem oleados das promoções e nomeações dentro dos corpos da magistratura. 

O mesmo se passa noutros corpos portadores de prestígio. Pensemos nos médicos e na cobardia do seu comportamento, a sua cedência face ao lóbi das grandes farmacêuticas, a sua traição do juramento de Hipócrates, o seu alheamento em fazer respeitar os direitos (já não são sagrados?) dos pacientes disporem do seu corpo e decidirem que tratamento desejam realmente ter. 

Enfim, a realidade é completamente  diferente das imagens oficiais. Também noutras profissões reina uma profunda corrupção. Referi os casos acima, para exemplificar com profissões tidas como prestigiosas. Pode-se imaginar, por analogia, o que se passa quotidianamente nas outras profissões. Na verdade, basta abrirmos os olhos e os ouvidos, e observarmos o que se passa à nossa roda.

Está-se, portanto, dentro dum processo de hipnose coletiva, de denegação da realidade, pois as pessoas foram condicionadas mentalmente** a só darem crédito aos que detêm «prestígio social»; a aparência torna-se o critério de credibilidade de algo. Por isso, é tão fácil manipular as pessoas. É um exercício feito em doses maciças e um crime contra a humanidade. Contra a humanidade em geral e contra aquilo que há de humano em cada um de nós; um abuso, uma violação das consciências. 

Mas, tal não é percebido pelos «zombies», que vão buscar informação 24/24h. no seu «smartphone», que vivem numa completa dependência, como os drogados por substâncias químicas, cocaína, heroína, anfetaminas, etc. Há pessoas que entram em estado de choque sem o seu «smartphone», se o perderam, se alguém o roubou. Ficam desorientadas, zangadas ou desalentadas, em pânico, sem saber o que fazer, como se comportarem. Estão escravizadas pelas maquinetas, num grau que apenas tem paralelo com a dependência nos neurónios cerebrais dum adito por drogas químicas.

As possibilidades de pessoas que escaparam ao processo de lobotomia ou de zombificação, se fazerem entender pelas lobotomizadas ou zombificadas, são nulas na prática. Pois, as pessoas só podem perceber o que outra está a comunicar, se forem capazes de percorrer o discurso e tentar retraçar a linha de raciocínio dessa pessoa. Mas, isso não foi aprendido na escola, nem foi cultivado ao longo da vida. Portanto, é como dar uma partitura de música complexa a alguém que nunca estudou música, e nem sequer se interessou por música... Evidentemente, tal não resultaria! 

Assim, só resta às pessoas que se entendem, de se darem a conhecer umas às outras, com muito mais proveito e prazer, do que tentarem «macaquear» os processos da media de massas. Também aqui, é evidente que não é possível erguer um contrapoder significativo à ditadura dos media e seus meios de condicionamento. É porém sempre possível preservar a nossa capacidade de diálogo, de argumentação, de partilha de pontos de vista e de confronto (não violento) de opinião, com outras pessoas que não foram lobotomizadas. Não interessa que tenham preferências culturais, políticas, etc., assim ou assado; interessa que sejam pessoas capazes de abertura real, que percebam o princípio elementar da vida em sociedade, o respeito pelos outros, pelas suas opiniões, seus direitos, de mesma forma como nós gostamos de ser respeitados.

-----------

* Ver AQUI o artigo de Jonathan Cook, que descreve como os opositores são classificados como «doentes mentais», tal como eram descritos e internados em hospitais psiquiátricos, os dissidentes da era soviética.

**A forma como a media mainstream se transformou em (voluntária) arma de propaganda anti-russa, ilustra o grau de condicionamento a que o público está sujeito: https://www.strategic-culture.org/news/2022/04/14/war-ukraine-really-about-us-pursuing-regime-change-in-russia-bruce-gagnon/

quinta-feira, 31 de outubro de 2019

JOHN W. WHITEHEAD - CUIDADO COM O MAL NO NOSSO MEIO

                                      http://www.informationclearinghouse.info/52480.htm

RETIRADO DE https://nowarnonato.blogspot.com/


                                                  
Outubro 29, 2019

“Vêm-nos na rua. Observam-nos na TV. Podem até votar num deles, neste Outono. Vocês consideram que são pessoas como vós. Estão errados. Completamente errados. ”
- They Live (Eles Vivem)


Estamos a viver em dois mundos, vocês e eu.
Existe o mundo que vemos (ou que somos feitos para ver) e, a seguir, há aquele que sentimos (e, ocasionalmente, vislumbramos), o último dos quais é completamente diferente da realidade impulsionada pela propaganda fabricada pelo governo e pelos seus patrocinadores corporativos/empresariais, incluindo a comunicação mediática.
De facto, o que a maioria dos americanos percebe como vida - privilegiada, progressista e livre - nos Estados Unidos, está muito longe da realidade, onde a desigualdade económica está a aumentar, as agendas verdadeiras e o poder incontestável estão enterrados sob camadas de linguagem orwelliana incompreensível e de obscurecimento corporativo indecifrável e a “liberdade” tal como ela é, é administrada em pequenas doses de acordo com a lei, pela polícia militarizada e armada até aos dentes.
Nem tudo é o que parece.
Este é o argumento do filme They Live, de John Carpenter, lançado há mais de 30 anos e permanece, irritante e assustadoramente apropriado, para a nossa era moderna.
Mais conhecido pelo seu filme de terror Halloween, que assume que existe uma forma do mal tão sombria que não pode ser morta, a produção total de Carpenter está imbuída de uma forte inclinação lacónica anti-autoritária, anti-establishment, que fala das preocupações do cineasta sobre o desenrolar da nossa sociedade e, particularmente, do nosso governo.
Carpenter retrata, frequentemente, o governo a agir contra os seus próprios cidadãos, uma população fora de contacto com a realidade, com a tecnologia descontrolada e perigosa e um futuro mais horrível do que qualquer filme de terror.
Em Escape from New York, Carpenter apresenta o fascismo como o futuro da América.
Em The Thing, uma reconstituição do clássico de ficção científica de 1951 do mesmo nome, Carpenter pressupõe que, cada vez mais, todos nós estamos a desumanizar-nos.
Em Christine, o filme da adaptação da novela de Stephen King sobre um carro possuído pelo demónio, a tecnologia exibe vontade e consciência próprias e entra numa violência assassina.
Em The Mouth of Madness, Carpenter observa que o mal cresce quando as pessoas perdem “a capacidade de reconhecer a diferença entre a realidade e a fantasia”.
E depois existe o They Live de Carpenter, no qual dois trabalhadores migrantes descobrem que o mundo não é o que parece. De facto, a população está a ser controlada e explorada por estrangeiros que trabalham em parceria com uma elite oligárquica. Habitualmente, a população - felizmente inconsciente da verdadeira programação em acção nas suas vidas - tem sido embalada com suavidade, doutrinada em conformidade, bombardeada com distracções da comunicação mediática e hipnotizada através de mensagens subliminares transmitidas pela televisão e por vários dispositivos electrónicos, bem como através de cartazes de propaganda em lugares públicos e dispositivos semelhantes.
Somente quando o vagabundo sem abrigo, John Nada (interpretado ao extremo pelo falecido Roddy Piper) descobre um par de óculos de sol sofisticados - lentes Hoffman – é que Nada vê o que está por trás da realidade fabricada pela elite: o controlo e a escravidão.
Quando vista através das lentes da verdade, a elite, que parece humana até ser despida dos seus disfarces, mostra serem monstros que escravizaram os cidadãos para atacá-los.
Da mesma forma, cartazes de propaganda em lugares públicos emitem mensagens ocultas e que exprimem autoridade: uma mulher de biquíni num anúncio está realmente a exigir que os espectadores “CASEM E REPRODUZAM”. As prateleiras das revistas gritam “CONSUMAM” e “OBEDEÇAM”. Um maço de notas de dólar nas mãos de um vendedor proclama, “ESTE É O VOSSO DEUS.”
Quando vistas através das lentes , de John Nada, algumas das outras mensagens ocultas a ser marteladas no subconsciente das pessoas incluem: NÃO TENHAM NENHUM PENSAMENTO INDEPENDENTE, CONFORMEM-SE, SUBMETAM-SE, PERMANEÇAM ADORMECIDOS, COMPREM, VEJAM TV, NÃO USEM A IMAGINAÇÃO e NÃO QUESTIONEM A AUTORIDADE.

Esta campanha de doutrinação projectada pela elite em They Live, é dolorosamente familiar para quem estudou o declínio da cultura americana.
Os cidadãos que não pensam por si mesmo, obedecem sem questionar, são submissos, não desafiam a autoridade, não pensam de maneira inovadora e que se contentam em sentar-se e divertir-se, são cidadãos que podem ser facilmente controlados.
Desta maneira, a mensagem subtil de They Live fornece uma analogia adequada da nossa própria visão distorcida da vida no Estado Polícia americano, ao que o filósofo Slavoj Žižek se refere como ditadura em democracia, “a ordem invisível que apoia a vossa liberdade aparente”.
Estamos a ser alimentados com uma série de ficções cuidadosamente planeadas que não têm nenhuma semelhança com a realidade.
Os que detêm o poder querem que nos sintamos ameaçados por forças fora do nosso controlo (terroristas, atiradores, bombistas).
Eles querem que tenhamos medo e dependamos do governo e dos seus exércitos militarizados para a nossa segurança e bem-estar.
Eles querem que desconfiemos uns dos outros, divididos pelos nossos preconceitos e prontos para apertar as gargantas uns dos outros.
Acima de tudo, eles querem que continuemos a marchar juntos, progredindo exactamente à mesma velocidade e na mesma direcção, especialmente, de acordo com as suas regras.
Afastem as tentativas do governo para nos distrair, desviar e para nos confundir e sintonizar com o que realmente está a acontecer neste país, e irão defrontar-se com uma verdade inconfundível e desagradável: a elite endinheirada que nos governa, consideram-nos recursos dispensáveis a serem usados, abusados e descartados.
De facto, um estudo realizado pela Universidade de Princeton e Northwestern concluiu que o governo dos EUA não representa a maioria dos cidadãos americanos. Pelo contrário, o estudo descobriu que o governo é chefiado pelos ricos e poderosos, a chamada “elite económica”. Além do mais, os pesquisadores concluíram que as políticas adoptadas por essa elite governamental quase sempre favorece interesses especiais e grupos de lobby.
Por outras palavras, estamos a ser governados por uma oligarquia disfarçada de democracia e, sem dúvida, a caminho do fascismo - uma forma de governo onde governam os interesses corporativos privados, o dinheiro controla e comanda e as pessoas são vistas como meros sujeitos para serem controlados.
Não precisa apenas de ser rico - ou ser fiel aos ricos - para ser eleito hoje em dia, mas ser eleito também é uma maneira infalível de ficar rico. Como relata a CBS News: “Uma vez no cargo, os membros do Congresso desfrutam de acesso a ligações e informações que podem usar para aumentar a sua riqueza, de maneiras sem paralelo no sector privado. E quando os políticos deixam o cargo, as suas ligações permitem-lhes lucrar ainda mais.”
Ao denunciar esta corrupção flagrante do sistema político americano, o antigo Presidente Jimmy Carter criticou o processo de ser eleito - para a Casa Branca, para a mansão do governador, para o Congresso ou para as legislaturas estaduais - como "suborno político ilimitado ... uma corrupção do nosso sistema político como recompensa/”LUVAS” aos principais contribuintes, que querem e esperam e às vezes recebem, favores para si mesmos quando as eleição acabarem.”
Tenham a certeza de que, quando e se o fascismo finalmente se firmar na América, as formas básicas de governo permanecerão: o fascismo irá aparentar ser amigável. Os legisladores estarão em sessão. Haverá eleições e a comunicação mediática continuará a avalizar o entretenimento e as banalidades políticas. No entanto, o consentimento dos governados não será imprescindível. O controlo real terá passado, finalmente, para a elite oligárquica, que controla o governo nos bastidores.
Soa familiar?
É claro que agora somos governados por uma elite oligárquica de interesses governamentais e corporativos.
Mudamos para o “corporativismo” (preferido por Benito Mussolini), que é um ponto intermediário no caminho para o fascismo completo.
O corporativismo é onde os poucos interesses monetários - não eleitos pelos cidadãos - governam sobre muitos. Dessa forma, não é uma democracia ou uma forma republicana de governo, que é o que o governo americano foi estabelecido para ser. É uma forma de governo de cima para baixo e uma história aterradora, tipificada pelos desenvolvimentos ocorridos nos regimes totalitários do passado: Estados Polícias onde todos são observados e espiados, detidos por infracções menores pelos agentes do governo e colocados sob controlo da polícia e colocados em campos de detenção (também conhecidos como campos de concentração).
Para que o martelo final do fascismo caia, será necessário o ingrediente mais crucial: a maioria das pessoas terá de concordar que não é apenas conveniente, mas que é necessário.
Mas por que razão um povo concordaria com um regime tão opressivo?
A resposta é a mesma em todas as épocas: o medo.
O medo é o método mais usado pelos políticos para aumentar o poder do governo. E, como a maioria dos comentaristas sociais reconhece, uma atmosfera de medo atravessa a América moderna: o medo do terrorismo, o medo da polícia, o medo dos nossos vizinhos etc.
A propaganda do medo tem sido usada com bastante eficiência por aqueles que querem obter controlo, e está a agir sobre a população americana.
Apesar de termos 17.600 vezes mais oportunidades de morrer de doenças cardíacas do que de um ataque terrorista; 11.000 vezes mais hipóteses de morrer de um acidente de avião do que de uma conspiração terrorista que envolva um avião; 1.048 vezes mais possibilidades de morrer de um acidente de carro do que de um ataque terrorista e 8 vezes mais probabilidades de ser morto por um polícia do que por um terrorista, entregamos o controlo das nossas vidas aos oficiais do governo que nos tratam como um meio para atingir um fim - a fonte do dinheiro do poder.
Como adverte o homem de barba em They Live: “Eles estão a desmantelar a classe média adormecida. Cada vez há mais pessoas que estão a ficar pobres. Nós somos o gado deles. Estamos a ser criados para a escravidão.”
A este respeito, não somos muito diferentes dos cidadãos oprimidos em They Live.
Desde o momento em que nascemos até que morremos, somos doutrinados para acreditar que aqueles que nos governam o fazem para o nosso próprio bem. A verdade é completamente diferente.
Apesar da verdade nos confrontar, cara a cara, permitimos que nos tornassem zombies medrosos, controlados e pacificados.
Vivemos num estado perpétuo de negação, isolados da dolorosa realidade do Estado Polícia americano por notícias de entretenimento em telas de parede a parede e pelas televisões.
Hoje em dia, quase todos ficam de cabeça baixa enquanto olham obcecados, como zombies, para o visor dos seus telemóveis/celulares, mesmo quando estão a atravessar a rua. As famílias sentam-se nos restaurantes com a cabeça baixa, separadas pelos seus telemóveis e desconhecem o que está a acontecer à sua volta. Os jovens parecem especialmente dominados pelos dispositivos que seguram nas mãos, alheios ao facto de que podem, simplesmente, apertar um botão, desligar a coisa e ir embora.
De facto, não há actividade em grupo maior do que aquela ligada àqueles que assistem a telas - ou seja, televisão, computadores portáteis, computadores pessoais, telefones celulares, etc. Na verdade, um estudo da Nielsen relata que a visualização americana em tela está ao nível mais alto de todos os tempos. Por exemplo, o americano médio assiste aproximadamente 151 horas de televisão por mês.
É claro, a questão é, que efeito é que esse consumo de tela tem na mente de alguém?
Psicologicamente, é semelhante à dependência de drogas. Os pesquisadores descobriram que “quase imediatamente após ligar a TV, os indivíduos relataram sentir-se mais descontraídos e, como isso ocorre muito rapidamente e a tensão regressa rapidamente após a TV ser desligada, as pessoas são condicionadas a associar a visualização da TV à ausência de tensão.”A pesquisa também mostra que, independentemente da programação, as ondas cerebrais dos espectadores diminuem a velocidade, transformando-as, assim, num estado mais passivo e sem resistência.
Historicamente, a televisão tem sido usada pelas autoridades para acalmar o descontentamento e pacificar pessoas problemáticas. “Perante o número excessivo de pessoas nesses locais e os orçamentos limitados para reabilitação e aconselhamento, cada vez mais, os funcionários prisionais estão a usar a TV para manter os presos calmos”, segundo a Newsweek.
Dado que a maioria do que os americanos assistem na televisão é fornecido por canais controlados por seis mega corporações, o que assistimos agora é controlado por uma elite corporativa e, se essa elite precisar promover um ponto de vista específico ou pacificar os seus espectadores, poderá fazê-lo em larga escala.
Se estamos a observar, não estamos a agir.
Os que detêm o poder compreendem esta afirmação. Como o jornalista de televisão, Edward R. Murrow, advertiu num discurso de 1958:
Actualmente, estamos ricos, gordos, confortáveis e tolerantes. Presentemente, temos uma alergia embutida a informações desagradáveis ou perturbadoras. Os nossos meios de comunicação mediática reflectem-no. Mas, a menos que reduzamos os nossos excedentes de gordura e reconheçamos que a televisão, em geral, está a ser usada para nos distrair, iludir, divertir e isolar-nos, então a televisão e aqueles que a financiam, aqueles que olham para ela e aqueles que trabalham nela, poderão ver uma imagem totalmente diferente demasiado tarde.
Quando tudo estiver dito e feito, o mundo do They Live não é tão diferente do nosso. Como um dos personagens salienta, “os pobres e a classe desfavorecida estão a aumentar. A justiça racial e os direitos humanos são inexistentes. Eles criaram uma sociedade repressiva e nós somos os seus cúmplices involuntários. A sua intenção de governar repousa na aniquilação da consciência. Fomos embalados num transe. Eles tornaram-nos indiferentes connosco e com os outros. Temos a nossa atenção concentrada apenas no nosso benefício.”
Também estamos focados apenas nos nossos próprios prazeres, preconceitos e benefícios. Os pobres e as classes desfavorecidas também estão a aumentar. A injustiça racial está a agigantar-se. Os direitos humanos são quase inexistentes. Fomos, igualmente, embalados num transe, indiferentes aos outros.
Alheios ao que temos pela frente, temos sido levados a acreditar que, se continuarmos a consumir, a obedecer e a ter fé, as coisas vão dar certo. Mas isso nunca aconteceu com regimes que começam a ganhar notoriedade. E quando sentirmos o martelo cair sobre nós, será tarde demais.
Então, onde isso nos deixa?
Os personagens que povoam os filmes de Carpenter fornecem algumas pistas.
Sob o seu machismo, eles ainda acreditam nos ideais de liberdade e igualdade de oportunidades. As suas crenças colocam-nos em constante oposição à lei e ao establishment, mas ainda assim são os guerreiros em prol da liberdade.
Quando, por exemplo, John Nada destrói o hipo-transmissor alienígena em They Live, restaura a esperança, dando aos Estados Unidos uma chamada de despertar para a liberdade.
Essa é a chave: precisamos de acordar.
Parem de se distrair facilmente com espectáculos políticos inúteis e prestem atenção ao que realmente está a acontecer no país.
A verdadeira batalha pelo controlo desta nação não está a ser travada entre republicanos e democratas nas urnas.
Como deixo claro no meu livro Battlefield America: The War on the American People, a verdadeira batalha pelo controlo desta nação está a acontecer nas estradas, nos carros da polícia, nas testemunhas, nas linhas telefónicas, nos departamentos governamentais, nos escritórios corporativos, nos corredores e nas salas de aula de escolas públicas, nos parques e nas reuniões da Câmara da capital e das vilas e cidades, em todo o país.
A verdadeira batalha entre a liberdade e a tirania está a ocorrer perante os nossos olhos, se os abrirmos.
Todas as armadilhas do Estado Polícia americano estão agora à vista.
Acorda, América.
Se eles vivem (os tiranos, os opressores, os invasores, os senhores), é apenas porque “nós, o povo” estamos a dormir.


Este artigo foi publicado originalmente em The Rutherford Institute.
Categoria: Free Society

Escrito por: John W. Whitehead


John W. Whitehead, advogado constitucional, autor, fundador e presidente do Instituto Rutherford. Pode ser contactado em johnw@rutherford.org. Este artigo é uma versão revisada de uma peça que apareceu originalmente no site do Rutherford Institute, www.rutherford.org, e é reimpresso com permissão.