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sexta-feira, 11 de fevereiro de 2022

NUNCA FOI TÃO CLARO QUEM QUER A GUERRA NA EUROPA

Alexander Mercouris é um analista de geopolítica, que tem pautado suas análises pela descrição rigorosa dos movimentos no terreno, quer militares, quer diplomáticos. Tenho uma visão positiva do seu trabalho, porque graças a ele, tenho melhorado muito a minha visão dos problemas e do que realmente conta, neste mundo complicado e muitas vezes enganador das potências em concorrência e de ameaças de guerra, por vezes. 


Ora, aquilo que Mercouris diz, não podia ser mais claro. Ele corrobora a minha tese de que os americanos desencadearam toda esta crise de «ameaça» russa de invasão da Ucrânia para inviabilizar a independência energética  da Alemanha, impedindo que o gasoduto Nord Stream 2 entrasse em funcionamento. 
Os americanos não tiveram a mínima consideração pelos interesses dos próprios ucranianos, ao ponto de desprezarem e ignorarem as posições oficiais do governo e presidente da Ucrânia, de que não estaria iminente qualquer invasão russa. 
Esta posição de Washington tinha como motivação de base, reforçar a coesão dos aliados europeus da NATO, em torno das posições americanas, mas teve exatamente o efeito oposto. Vemos assim uns EUA, tentando aumentar a conflitualidade nas fronteiras da Rússia, em detrimento dos países envolvidos, sejam eles da NATO, ou candidatos, como é o caso da Ucrânia. 
Eles, como diz muito acertadamente um editorial do «oficioso» Global Times chinês, não se importam em desencadear uma guerra a milhares de quilómetros das suas fronteiras, pois isso vem servir os seus objetivos de hegemonia. Aliás, muitos cidadãos americanos não fazem ideia onde se encontra a Ucrânia e - portanto - o poder de Washington tem as mãos livres para fazer a sua política sem preocupação significativa sobre a opinião das populações americanas, as quais - certamente - seriam afetadas (talvez entre as primeiras!), caso houvesse uma guerra nuclear!

Reforça-se, portanto, a convicção de que a geopolítica mundial se tem estado a organizar em torno de dois grandes eixos geopolíticos: 

- O eixo «atlantista», composto pelos EUA, potências anglófonas Reino Unido, Canadá, Austrália e Nova Zelândia e pelos países do continente europeu sob bandeira da NATO: São no total 30, desde a poderosa economicamente, mas subordinada militarmente, Alemanha, até ao minúsculo Montenegro, da ex- Iugoslávia. 

- O eixo euro-asiático, composto pela China e Rússia e pelos países da Ásia Central aliados, nomeadamente, os que fazem parte, ou são candidatos, à Organização de Cooperação de Xangai. 

No resto do mundo, existem muitos outros países, uns que estão do lado atlantista, outros do euro-asiático, enquanto muitos outros balançam entre os dois.

A Rússia tem todas as razões para estar preocupada, visto que comprometeu-se a defender as populações russófonas do Don, sendo estas ameaçadas pelo poder de Kiev, que não desiste de usar a força, fazendo tábua rasa dos acordos de Minsk, por si assinados, em que o processo de paz foi delineado, mas nunca implementado por Kiev.

 Neste processo, as partes em conflito, a Ucrânia (Kiev) e as duas repúblicas separatistas de Donetsk e de Lugansk, aceitavam um cessar-fogo controlado e monitorizado pela OSCE, seguido por um processo de referendo, com vista ao estatuto de autonomia das províncias separatistas. 

Nada disto foi implementado, porém, havendo até leis votadas no parlamento de Kiev, que negam a própria letra dos acordos de Minsk. No entanto, é inegável que não existe outra solução. 

O desgaste - pelas frequentes incursões dos nazis ucranianos do Batalhão Azov, assim como os cobardes bombardeamentos contra populações civis das duas repúblicas separatistas - não pode fazer vergar a população. Apenas aviva a resistência e não tem outro fim, senão de garantir aos russófobos e neonazis, que o governo de Kiev «merece a sua confiança». Ou seja, este governo é refém da extrema-direita sem aspas, que glorifica Stepan Bandera e outros colaboradores dos nazis durante a IIª Guerra mundial, autores e cúmplices de crimes de guerra.

Enquanto houver uma chantagem permanente do império americano, querendo conservar a sua hegemonia, sobretudo no continente europeu, nós europeus, seremos apenas «carne para canhão», quer estejamos nas margens do Atlântico, quer nas fronteiras russas, quer em Paris, ou Berlim, ou Kiev ou Moscovo! 

É assim que nos veem os globalistas que controlam o poder em Washington. Note-se que os próprios governos da Europa sabem isso perfeitamente, embora o disfarcem. O paradoxo é gritante: A NATO, aliança supostamente criada e mantida para a segurança dos seus membros, em vez de trazer segurança ao continente europeu, apenas traz riscos de guerras e - mesmo - de guerra nuclear.

O caminho para o desmantelar da NATO, já o delineei em artigo anterior: uma conferência entre potências europeias (como a conferência de Westfália) em que se estabeleçam tratados, garantindo a segurança das fronteiras e a utilização sistemática dos canais diplomáticos para resolução dos conflitos, presentes ou futuros.

PS1: Exibindo a sua arrogância e ignorância, Liz Truss, a Secretária dos Negócios Estrangeiros, fez gaffe sobre gaffe no encontro com Lavrov (um excerto abaixo):

According to Russian media, Lavrov questioned whether London recognizes Moscow’s sovereignty over the Rostov and Voronezh Oblasts, in which Truss replied: “[the UK] will never recognize Russia’s sovereignty over these regions.” British Ambassador to Moscow Deborah Bronnert had to embarrassingly intervene and remind Truss that the two oblasts are actually considered Russian territory by London and are not claimed by any other country, including Ukraine.

This embarrassment follows on from Truss saying on January 30 that “we are supplying and offering extra support to our Baltic allies across the Black Sea” – the Baltics and the Black Sea are on the opposite sides of Europe to each other.

    Geografia segundo Liz Truss, secretária dos Negócios Estrangeiros do Reino Unido