A IIIª Guerra Mundial tem sido, desde o início, guerra híbrida e assimétrica, com componentes económicas, de subversão, desestabilização e lavagens ao cérebro, além das operações propriamente militares. Este cenário era bem visível, desde a guerra na Síria para derrubar Assad, ou mesmo, antes disso.

domingo, 30 de dezembro de 2018

QUANDO O EFÉMERO É JULGADO PERMANENTE

Nesta crónica de final de 2018, gostava de veicular aos meus leitores um pouco da minha estranheza, que se desenvolve a par de uma experiência de vida.

Há muito tempo que venho seguindo os mercados para eu próprio estar prevenido e saber como «tirar as castanhas do lume» a tempo. Embora não tenha uma instrução académica nas ciências económicas, tenho muita facilidade em compreender os seus mecanismos, pois estou preparado em termos conceptuais a pensar o funcionamento de sistemas complexos na biologia. Nesta, não apenas estudamos os mecanismos ao nível dos indivíduos, com as suas complexidades intrínsecas, como também as populações e os ecossistemas, sem a compreensão dos quais a vida dum qualquer organismo será  totalmente indecifrável. 
A analogia sistémica é particularmente apropriada aos sistemas sociais, construídos pela sociedade humana, desde que não se caia numa atitude redutora, ou seja, numa falsificação ideológica da biologia evolutiva, que aliás é comum nos comentaristas de meia-tigela. 
Não somos ingénuos, nem queremos convencer ninguém a adoptar as nossas teorias!

O sistema económico é eminentemente caótico, sendo isso uma característica independente do regime económico e político que vigore: 
- a Teoria do Caos estabelece que a complexidade de certos sistemas desencadeia respostas cujas determinações são imprevisíveis, pelo que estão sempre a surgir «cisnes negros» (na definição inteligente de Nassim Taleb). 
As pessoas têm o espírito feito de tal maneira que, seja por aprendizagem, seja por inclinação natural, procuram sempre «leis», «regularidades», daí que as suas visões sejam de continuidade a 100% (o preconceito da normalidade: O AMANHÃ SERÁ COMO HOJE, PORQUE HOJE FOI COMO ONTEM...).
Em situações de instabilidade maior, essa «certeza» efémera cai por terra; as pessoas entram em pânico, julgam chegado o fim do mundo, aquilo que afinal se resume à reestruturação dos capitais, uma nova distribuição das cartas e das fichas num jogo. 
Nem num caso, nem noutro, estão correctas: nem ao tomarem o efémero como medida segura das coisas, nem em vaticinar o fim do mundo, aquando dos grandes abalos, das grandes sacudidelas.

Hoje em dia, ao contrário de há vários anos atrás, os analistas de todas as tendências parecem estar de acordo em que 2019 vai ser um ano em que o potencial tectónico da dívida monstruosa vai finalmente exprimir-se através de uma crise, que se arrisca a ser maior e mais duradoira do que todas as outras que vivemos em nossas vidas. 
Isto significa que terá de ser - pelo menos - tão grande como a de 1929 (praticamente ninguém hoje ainda vivo, era adulto aquando daquela crise). 
De facto, existem muitos factos objectivos que apontam para tal. 
Muitas pessoas amigas gostariam que isso significasse o fim do capitalismo e o alvorecer de uma outra era, chame-se a tal novo modo de produção socialismo ou outro nome qualquer. 
Porém, uma previsão arrisco fazer: infelizmente para mim - e para os outros também, creio eu - o advento dum pós-capitalismo onde reinasse mais igualdade está completamente posto de lado, pois não existe uma força «subjectiva» que empurre as pessoas para formas igualitárias de organizar a produção e distribuição da mesma. 
Tal não era o caso nos inícios do século XX, em que existia esperança num mundo regido pelo lema «de cada um segundo suas capacidades, para cada um segundo as suas necessidades». 
As pessoas foram - no capitalismo globalizado -  transformadas em consumidoras ou produtoras passivas, intercambiáveis,  contabilizáveis: reduzidas a meras mercadorias (= o conceito de alienação na sua plenitude). 
No bicentenário de Marx, o único conceito teórico do marxismo que eu reconheço guardar actualidade, é o conceito de alienação. Todos os outros estão profundamente caducos, simplesmente porque a sociedade evoluiu e as suas visões eram adequadas e apropriadas a um determinado estádio de evolução do capitalismo. Quanto ao «materialismo dialéctico» e o «materialismo histórico», nem vale a pena falar, pois são completas fabricações ideológicas, muito ao gosto cientista do século XIX. 
Na minha forma de ver as relações entre os factos, a experiência e as teorias... aqueles vêm primeiro, as teorias vêm depois: estas devem ser construídas sobre um certo número de factos, pré-existentes à sua construção. 
Se determinada teoria não tem na devida conta TODOS os factos conhecidos, à data da sua elaboração, será irremediavelmente falsa à nascença. 
Mas, mesmo uma teoria que tenha em devida conta todos os factos relevantes pode - no futuro - revelar-se falsa ou caduca. Isso, aliás, acontece constantemente nas ciências ditas «duras» (a física, a química, a biologia...). 
Mas, por que razão é que  - nas ciências ditas «moles» (psicologia, sociologia, economia...) - existe tanta teoria defeituosa, que apenas reflecte a visão ideológica do autor e nada mais? 

A minha resposta é que...
(a) nós temos uma enorme atracção (intuitiva?) por «leis», por regularidades, por algo que nos permita tornar inteligível a realidade caótica que nos rodeia.  
(b) enquanto nas ciências duras é possível desenvolver dispositivos experimentais credíveis, ou seja, em que uma ou poucas variáveis sejam feitas variar, mantendo as restantes constantes...nos sistemas que têm como palco a sociedade humana, isso é impossível; apenas podemos fazer abstracções que servem mais ou menos a nossa ânsia da tal regularidade. 

A exemplificar isso, cabe aqui um parêntesis sobre o conceito de «mercado livre»: os fundadores da teoria económica liberal, Adam Smith, David Ricardo, e outros, viam neste conceito uma figura do espírito, uma propriedade da sociedade ideal, que eles sabiam perfeitamente não existir. 
Porém, os seus sucessores trataram de transformar esta vista do espírito, esta «experiência teórica», num «facto». Agora, são capazes de dissertar horas a fio sobre a «liberdade» do mercado. Fazem-no, creio,  mais como mantra, que os identifica com uma dada corrente. O mesmo se passa noutros sectores, só que com outros conceitos, incluindo obviamente sectores anti-capitalistas de várias conotações. 
Nesta época, paradoxalmente, é pouco apreciada a liberdade de espírito, a independência de juízo: Aquilo que permite reconhecer que um pensador, com o qual discordamos em muitos aspectos, acertou em cheio num dado ponto... Era esta atitude muito mais frequente, quando a difusão do pensamento era feita ao passo pachorrento dos cavalos atrelados a uma diligência e não à velocidade da luz, como agora! 


Estou convencido que as leituras de autores clássicos, em História, Filosofia ou na Literatura de ficção, no Romance, possam trazer imenso prazer a leitores do século XXI, caso estes se debrucem sobre as tais obras exactamente como sendo (e são, na verdade!) minas de ouro de sabedoria e de reflexão acumuladas.
O «capital de saber» é imaterial e não está dependente linearmente da disponibilidade económica de cada um. 
Saibamos usar os aspectos positivos da era da Internet, das comunicações globais instantâneas, o que implica também usar filtros que permitam descartar a «palha», sem perdermos os bons frutos.

BOM ANO DE 2019!

quinta-feira, 27 de dezembro de 2018

NA AVENTURA HUMANA, A ARTE COMEÇOU MAIS CEDO DO QUE SE PENSAVA...

Quando me refiro à aventura humana, não estou a pensar nos mais de 2,5 milhões de anos do processo de humanação, desde os vários Pithecantropus, ao género Homo e suas notáveis espécies…

         
                     Imagem: a mais antiga pintura figurativa (grota em Sulawesi)

Sabemos que houve ornamentação e certo grau de abstracção nas culturas dos Homo neanderthalensis, mas, na minha subjectividade, o «nós» começa realmente com a espécie Homo sapiens que, segundo os dados mais recentes da paleo-antropologia, deve ter surgido em África há cerca de 350 mil anos. Esta espécie, que é afinal a nossa, propagou-se muito rapidamente em vários continentes, adaptando-se a condições naturais muito diversas, desenvolvendo novas técnicas e também uma cultura simbólica cujos principais traços apenas podem ser delineados através dos vestígios materiais que deixou.
A foto acima mostra impressões de mãos e uma figura animal, difícil de se perceber: faz parte do notável conjunto de arte parietal,  duma gruta de Sulawesi que é hoje da Indonésia, com a remota idade de 40 mil anos. 
A gruta de Chauvet (em França) foi datada em cerca de 35 mil anos. Muitos outros vestígios de arte rupestre europeia pertencem a épocas mais recentes, como é o caso de Lascaux, Altamira, Foz Côa…
As figuras presentes em todos estes exemplos de arte parietal – sem dúvida, representações de forças cósmicas, assumindo a forma de leões, alces, cavalos, bisontes, etc… - espantam pela forma muito perfeita, que nos permite reconhecer - não apenas os animais selvagens contemporâneos - como o detalhe de animais extintos, os rinocerontes lanígeros, ou os mamutes.
Mas, sobretudo, espanta a capacidade de captar o movimento apenas com um traço, a sobreposição de várias posições, traduzindo os movimentos do animal (visível em certos frescos de Chauvet e nalgumas gravuras de Foz Côa), o aproveitamento dos relevos naturais das rochas nas paredes ou tectos, para dar um efeito de volume, de sombreado. 

                      Image result for lionnes de Chauvet


                 
                   Acima: Grota Chauvet. Abaixo: Relevo cavalos Foz Côa                  


Estas figuras tinham a virtude mágica de se pôr em movimento, aquando dos ritos iniciáticos, à luz dos archotes.

Como dizia Picasso, ao sair da gruta de Lascaux, recém-descoberta: «nós não inventámos nada! Eles já sabiam tudo!». Com efeito, eles tinham um olhar atento e agudo, a mestria da forma e do movimento, a ciência dos pigmentos, sabiam jogar com o relevo e com sombra e luz …


O etnocentrismo, segundo o qual a nossa civilização seria a mais evoluída e as realizações do Homem contemporâneo superiores ... baseiam-se na ideia (muito antiquada, afinal) de que existe um «progresso», visto como um aperfeiçoamento na escala física, mental, moral e cultural da humanidade.
Deste sentido preciso de progresso só posso discordar totalmente, face às numerosas evidências de que disponho e que a ciência paleo-antropológica mais avançada nos põe diante dos olhos:
- O ser humano cedo assumiu a plenitude das suas características, físicas e psíquicas. Seria mais fácil admitir uma decadência, pois é certo que a aptidão física foi decrescendo, à medida que os humanos se fecharam em grandes cidades e que as suas formas de subsistência foram cada vez menos tributárias da força física.
Os homens de há várias dezenas de milhares de anos, assim como os raros caçadores-recolectores que restam neste Planeta, eram/são dotados de capacidades físicas notáveis. Porém, já nos seus alvores, a nossa espécie era também portadora de sofisticação cultural num grau muito superior ao doutros símios antropóides e mesmo dos nossos antepassados ante-humanos, de outras espécies do género Homo.
Isto explica-se facilmente na medida em que a subsistência e a expansão de Homo sapiens estavam dependentes da capacidade de tecer laços profundos, de constituir uma sociedade que possuísse um máximo de resiliência colectiva.
Os grupos humanos primitivos têm as prioridades da vida na ordem correta, ao contrário dos civilizados, sobretudo quando estes estão encerrados numa cultura tecnológica, da qual são escravos… sem o saberem.

A espantosa aventura humana consistiu nos mais de trezentos mil anos ANTES do que hoje se convenciona chamar «a civilização», o aparecimento de sociedades urbanas, com um poder centralizado, com religiões, sacerdotes e templos, com exércitos e guerras, etc…
Embora quase tudo na História dessa humanidade do período paleolítico pareça estar irremediavelmente perdido, pode-se ainda, através da antropologia física e da arqueologia reconstruir algo do que foi esta aventura. A evidência de simultânea expressão artística em duas regiões muito afastadas do globo, é indicação de que as capacidades artísticas já eram partilhadas pelos grupos humanos ANTES de saírem de África, há cerca de 80 - 90 mil anos. 
A tendência para romantizar a humanidade do paleolítico pode estar presente, mesmo nos espíritos mais rigorosos podem existir projecções inconscientes das concepções dos homens modernos e seus preconceitos.
Mas pode-se resistir a essa tendência implícita de reconstruir o passado à nossa imagem pois, na verdade, sabemos demasiado pouco sobre os grupos humanos que constituíram as primeiras culturas, produtoras de arte parietal. 
Conhecemos as técnicas materiais que utilizavam, sabemos qual o seu modo de vida genérico, podemos – por vezes – isolar e sequenciar o seu ADN, mas não fazemos ideia de como seriam seus idiomas, qual a extensão dos seus saberes, nomeadamente em relação aos fenómenos naturais, quais as narrativas que relacionavam o mundo dos humanos com a natureza e o sobrenatural… Talvez as culturas de há 40 mil anos atrás fossem semelhantes, pelo menos em certos aspectos, às culturas de caçadores-recolectores actuais, mas isto é uma mera hipótese…

A única certeza que possuo em relação a este assunto, é a seguinte: 
- Quaisquer que sejam os factos que a paleo-antropologia e as outras ciências venham a revelar, o importante é  que os humanos de hoje saibam mais e melhor sobre a profundidade da humanidade e da sua aventura.
Acredito que isso aumentará a humildade das pessoas e não a sua soberba; que o conhecimento desta história irá eliminar ou ajudar a combater o racismo, a xenofobia e o etnocentrismo, visto que a humanidade actual é una. 
Somos descendentes dos Homo sapiens, que se espalharam pelos 5 continentes (África, Europa, Ásia, Austrália e América). 
As pessoas, esclarecidas e informadas, terão desejo de preservar os vestígios e monumentos do passado, em promover o desenvolvimento das técnicas e da sociedade tecnológica, no respeito pelas culturas  tradicionais existentes (incluindo o respeito pelo território e pela dignidade dos actuais caçadores-recolectores), tal como pelas do passado e pelo mundo natural. 
Sem isso, sem um respeito profundo por si própria, enquanto humanidade multi-facetada, pelo seu próprio passado e pelo mundo natural, sejam quais forem os progressos tecnológicos, a humanidade caminhará para a degradação e para o abismo.



quarta-feira, 26 de dezembro de 2018

FRAGONARD: ADORAÇÃO DOS PASTORES

                             Fragonard. L'Adoration des Bergers, 1775

FRAGONARD FOI UM DOS EXPOENTES DA PINTURA FRANCESA NO SÉCULO XVIII

O seu estilo caracteriza-se por uma grande leveza, como se pode ver pelas obras abaixo:

                                                    Fragonard. Inspiration, Autoportrait, 1769 
                                                   1-     Auto-retrato, 1769      


                                       Image result for portrait de Mme Fragonard
                                       2 - Cena mitológica


                                                Image result for Fragonard oeuvre 
 
                                                3- A leitora    


                                                Image result for Fragonard oeuvre
                                               4- Dama com ramo de flores e cãozinho

É um artista tipicamente rococó que, no final da vida, evoluiu para um estilo neoclássico. 
Aprecio a leveza do seu traço, a subtileza dos rostos, a variedade cromática dos tecidos. 
Normalmente, é associado a cenas galantes ou eróticas, porém é também um pintor da intimidade, do quotidiano.

terça-feira, 25 de dezembro de 2018

CONCERTO PARA 2 VIOLINOS DE VIVALDI E TRANSCRIÇÃO PARA ÓRGÃO DE BACH

        Vivaldi:  Concerto op. 3 nº8 para 2 violinos

                              

J. S. Bach: Concerto para órgão, em Lá menor BWV 593,
baseado em Vivaldi

                    
Simon Preston, orgão

segunda-feira, 24 de dezembro de 2018

CONCERTO DE VIVALDI E TRANSCRIÇÃO PARA ÓRGÃO POR BACH

Oiçam, em primeiro lugar, a interpretação da Akademie für Alte Musik Berlin, do Concerto de Vivaldi...
                       https://www.youtube.com/watch?v=nVGYXFGaLqk



Akademie für Alte Musik Berlin

Concerto para 2 Violinos,Violoncelo, Cordas e Baixo Contínuo em Ré menor Op. 3/11 RV 56

I. Allegro - [Adagio e spiccato] - Allegro - [Adagio] 0:0
I. Largo e spiccato 3:45
III. Allegro 6:10
Este belíssimo concerto de Vivaldi foi um dos que J.S. Bach transcreveu para o órgão solo.

- Ver abaixo, o referido concerto para órgão de Bach, BWV 596, por Köhler:

                              https://www.youtube.com/watch?v=juKolphjfds

                                   

domingo, 23 de dezembro de 2018

«NÃO CHORAI POR MIM; POIS VOU PARA ONDE A MÚSICA PRINCIPIA...»*

(*Últimas palavras de João Sebastião Bach.)

                 composers' last words

Com Yehudi Menuhin e David Oistrakh como solistas e a orquestra da RTF, sob direcção de Philippe Capdeville, na salla Pleyel em Paris, 1958: 
A interpretação magistral e digna, da grande obra de Bach, o concerto para 2 violinos BWV 1043.



                                          https://www.youtube.com/watch?v=DJh6i-t_I1Q

sábado, 22 de dezembro de 2018

A URGÊNCIA CLIMÁTICA É UMA FALSIFICAÇÃO



François Gervais é um reputado professor universitário francês, ex-membro do GIEC. 
Tudo o que ele diz, está baseado em dados seguros, inclusive, dados do próprio GIEC. 
Em várias ocasiões, há mais de um ano, tenho exposto neste blog, argumentos e evidências apontadas por este universitário de maneira muito clara e pedagógica.
A razão profunda desta enorme fraude tem a ver com o controlo das finanças mundiais através da famosa «taxa carbono»
A insurreição dos coletes amarelos em França, tem como ponto de partida o repúdio de mais esta taxa, suportada pelos trabalhadores para consolidar o poder das elites.

O referido professor publicou recentemente o livro «L’urgence climatique est un leurre» (a urgência climática é uma falsificação) onde mostra que, se existe consenso, é antes de natureza mediática e política, em vez de científica!

A não perder!