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sábado, 12 de abril de 2025

REFLEXÃO: METAMORFOSES INVOLUTIVAS


Nada me preparou para o choque que têm sido os últimos tempos de desvario neste mundo. Nem consigo assimilar os tempos que correm, como «nova normalidade». Para mim (e para quantos outros mais?) estes tempos são uma aberração. Posso tentar explicar a mim próprio os processos complexos, interseções de modificações sociais, culturais, políticas, etc... que dariam conta do surgimento destes humanos regressivos que se comportam de forma ostensivamente patológica, como psicopatas ou sociopatas. Outros, tentam fazer de conta que está tudo «normal», sabendo eles muito bem que não é nada assim. É que a grande massa das pessoas se deixou capturar pelo medo, um medo também ele patológico, visto que exagera o poderio dos malfeitores e a impossibilidade de defesa e contra-ataque das suas vítimas. É uma sociedade onde os indivíduos se encontram isolados, na enorme pobreza de elos sociais, sujeitos a condicionamento subreptício... Sim, sei isso!
Para minha auto-orientação e para eventual apoio à reflexão de outros sobre o assunto, decidi verter alguns «pixels» no écran e na memória do meu computador, para abordar de frente fenómenos sociais aos quais nos confrontamos todos.

Se chamam metamorfose à transformação da lagarta em crisálida e esta em borboleta ou inseto perfeito, como se pode chamar o processo inverso?

- A transformação de entidades adultas («insetos perfeitos») em crianças aterradas (as « crisálidas») e por fim, em «vermes rastejantes» (as «lagartas»): Chamarei isso «metamorfose involutiva»

Metamorfose involutiva, quando o indivíduo adulto regride ao estado infantil e ainda mais, ao estado de feto no ventre materno...

Contrariamente ao  fenómeno descrito  para um grande número de espécies, no caso do primeiro tipo de metamorfose, a metamorfose involutiva não incide sobre estruturas físicas, mas apenas mentais. Uma pessoa pode ter sofrido esta forma radical de metamorfose involutiva, embora aparentando fisicamente ser um adulto, na posse da sua racionalidade e controlando enquanto adulto desejos e paixões.

Porém, numa situação de confronto com a realidade que ele/ela considera dever a todo o custo evitar (estado de «denegação»), ele/ela vai comportar-se segundo a fórmula típica das crianças pequenas: Referência ritual e obsessiva à autoridade, ao modelo de autoridade dos «que sabem», que ocupam uma posição hierárquica de poder sobre elas (real ou simbolicamente), em substituição da Mãe e do Pai.

Em caso de serem expostas a uma situação de perigo real e não simbólico, reagem com pânico, com desorientação e muitas vezes com uma fúria desesperada: A fúria da criança a quem retiram o brinquedo ou a chucha, chorando e gritando para que lhe devolvam o objeto tranquilizador.

Os ataques coletivos contra alguém, que supostamente, encarna todo o «mal», é também típico destas pessoas,  cobardes integrais, que apenas se desinibem e se revelam quando em grupo. Aí sentem que gozam de impunidade total, para insultar, agredir e  martirizar a vítima.

Na minha vida (nasci em 1954), fui poupado às terríveis perseguições e brutalidades protagonizadas pelos nazis e pelos fascistas, no período entre as duas Guerras Mundiais. Mas o fascismo, recentemente, passou a estar inserido no quotidiano, sobretudo nas sociedades pretensamente «civilizadas». Este fascismo hipócrita é ainda mais perigoso que o fascismo da primeira época histórica, pois muitas pessoas não conseguem fazer a conexão entre os fenómenos. Parece-lhes que o fascismo histórico foi uma época de violência, brutalidade, negação dos direitos humanos... e que nunca mais voltará. Mas isto é falso; um fascismo - hoje larvar e com roupagens diferentes - pode crescer e tornar-se avassalador, a qualquer momento. É assim que pessoas bem intencionadas se bloqueiam e bloqueiam os outros, ao não considerar as realidades sociológicas de frente. Involuntariamente, proporcionam a implantação desta nova forma de totalitarismo, permitindo aquilo que era considerado intolerável, poucos anos antes.

Aqui, joga a submissão absurda à autoridade, uma aura de super-humanos, dada pela media de massas, às figuras públicas, quer sejam políticos, empresários, artistas, desportistas, cientistas, etc. É como se as pessoas tivessem de se curvar perante os novos senhores feudais do momento, na medida em que eles (simbolicamente ou na realidade) têm na sua mão o destino dos indivíduos.

A sociedade de hoje não é  irreligiosa, nem ateia. É antes, uma sociedade onde o divino, o transcendente, o espiritual desapareceram ou ficaram confinados a minorias sem poder. Em vez das expressões de transcendência das sociedades tradicionais, assiste-se hoje a cultos de uma coorte de pseudo-deuses, ídolos, magos, hipnotistas e gurus de pacotilha... pela multidão ávida, que projeta nesses deuses efémeros a sua profunda carência de afeto, de humanidade, de calor. Os que fazem esta projeção, estão já em configuração mental propícia para serem manipulados, tornarem-se crentes sectários de uma ideologia, seja ela qual for.

Estão receptivos a adorar um chefe; dêem-lhes um chefe, não importa quem, na realidade; seja quem for, terá de se exibir como semideus, acima do comum dos mortais. A omnipresença dos deuses de pacotilha, graças à magia eletrónica/digital, será o outro fator decisivo para serem adorados como chefes, pelas massas «lobotomizadas».




terça-feira, 14 de setembro de 2021

O COMPLEXO DE «ANJO DA GUARDA»

 Mais misterioso do que o facto de que milhões de pessoas se submetem ao poder, é o facto deste mecanismo estar profundamente ancorado no inconsciente coletivo.

A transposição da necessidade biológica de proteção da criança pequenina em relação aos pais e demais adultos é talvez uma chave para esclarecer este mistério da servidão voluntária. 

Quando se é criança, é de vital importância ter grande confiança nos adultos que rodeiam o ser humano em fase da aprendizagem, é crucial este pequeno ser aceitar que está numa posição de inferioridade não apenas em relação à força, como também às capacidades, à sabedoria. O mundo é um grande mistério, a criança está constantemente a «tropeçar», a enganar-se e ela sabe-o ou percebe-o confusamente. Daí que seja inteiramente natural e de acordo com a necessidade do desenvolvimento ontológico, que exista essa dependência da criança em relação aos adultos. Mas, as coisas não ficam por aqui*, pelos aspetos práticos e concretos da vida, pois nos aspetos mais simbólicos também estão as crianças muito suscetíveis de construírem um modelo de super-mamã, de super-papá. 

Estes super progenitores, transferem-se depois, na aceitação da religião, seja ela mono- ou pluri-deísta, onde os entes individualizados, pessoalizados, são vistos como intercessores, daí as preces, os sacrifícios, as necessidades de ritos para apaziguar etc. Porém, no universo laicizado dos últimos duzentos anos, no chamado «Ocidente», em particular, a figura do herói, do chefe mítico, que também é ancestral e se confundia com os deuses ou semi-deuses da antiguidade, passa a desempenhar o papel de entidade mágica, para a qual se dirigem as preces. 

O que é uma adesão a um partido, uma ideologia, um determinado líder, etc. senão a transposição num universo laico, desdeificado, da necessidade de proteção, de ter um ser acima do vulgar, um herói ou heroína, que serve como objeto de culto, de intercessor/a pelas preces, sejam elas palavras de ordem ritualmente repetidas em comícios ou manifestações, ou em boletins de voto? 

As pessoas que seguem determinado ideário e aderem a uma tendência política não são crianças, nem atrasadas mentais, direis. Tendes razão, de forma nenhuma quero dar a impressão de que as pessoas sejam limitadas na sua inteligência. O meu ponto de vista é que estes mecanismos agem ao nível muito profundo e portanto não são fáceis de serem reconhecidos pelos indivíduos, mesmo pelos mais inteligentes e cultos que se possa imaginar. O inconsciente existe; as pulsões profundas existem; não somos capazes de nos «emancipar» dessa parte da nossa psique, da mesma maneira que não poderíamos viver, propriamente, somente sobreviver, se nos fosse retirado um pedaço substancial e contendo centros importantes do nosso cérebro.

O medo, a angústia, as fobias, tudo o que se traduz por comportamentos aversivos, tem uma origem em camadas muito profundas do psiquismo. Não é portanto fácil extirpar esses medos, em geral, sobretudo se eles entroncam, se fundem de algum modo, com medos e traumas experimentados na infância, os quais estão presentes, mas não são do foro consciente para a quase totalidade dos indivíduos. Os mesmos medos, os traumas, podem ser reavivados, reatualizados na vida adulta. É o papel da propaganda, a que se disfarça em informação objetiva, muitas vezes como sendo «a ciência», o de reativar esses estádios muito profundos e inconscientes, que ocorrem em todos os indivíduos, embora a natureza precisa das fobias, dos traumas seja obviamente muito diversa e varie muito no concreto, de pessoa para pessoa.   

Igualmente, a solução «mágica» de invocar o «anjo da guarda», que pode ser uma pessoa, uma «força ou energia natural», um deus ou uma ideologia, permite pontualmente acalmar a angústia dos indivíduos, que são confrontados com a situação angustiante, da qual não podem sair, ou fugir; contra a qual os meios de luta individuais são irrisórios, mas cuja realidade avassaladora corresponde a condenação sem apelo.

É exatamente o que se está a passar com a transformação duma parte das pessoas em «párias», por não aceitarem a «salvação vacinal». Elas são malevolamente acusadas (sobretudo por media e políticos sem escrúpulos) de serem transmissoras do vírus terrível. A manipulação resulta, porque vai acordar terrores irracionais da morte, da doença misteriosa, epidémica. 

Estão, conscientemente, os que controlam o discurso mediático, a desencadear esta regressão para o estádio infantil, em que a criança, destituída de saber e experiência da vida, confia nos pais. Aqui, serão «cientistas», «dirigentes», «chefes de Estado e de governo» e «gurus» diversos.

Note-se que é compreensível e que traduz uma necessidade biológica, o comportamento da criança de procurar proteção junto dos «anjos da guarda» dos progenitores, em primeiro lugar, e na ausência deles, quaisquer adultos que aparentem ser confiáveis, como parentes (avós, tios, tias, etc.), ou educadores (professores/as, instrutores/as, etc). É saudável e racional, na criança, esta acreditar naquilo que um progenitor, ou parente, ou pessoa próxima lhe disser. 

A regressão em causa, é desencadeada pelo medo, que tem aliás uma componente social muito forte, pois as pessoas começam a ficar deveras assustadas se, em seu redor, vêm comportamentos que denotam que os outros também têm medo. 

O medo é contagioso. A epidemia atual é sobretudo uma epidemia de medo e de irracionalidade. Vai demorar algum tempo a «curar-se», pois não serve de nada o discurso racional, perante o pânico. É necessário que a situação evolua e que as pessoas deixem de estar como que hipnotizadas, para haver um retorno ao funcionamento normal e racional ao nível social.  

A humanidade, ou parte importante dela, está nesta fase, ativada propositadamente por forças poderosas que, aliás, o fazem abertamente. É em fases assim que as transformações mais profundas ocorrem, mas não no sentido de uma «revolução», mas de uma «contrarrevolução» ou «regressão», da instalação dum poder «neofeudal», uma sociedade onde existe uma enorme diferença entre os poderosos, os que possuem tudo e os servos, os que não possuem nada, objetos  manipuláveis a preceito.

Os «anjos da guarda», para os quais os adultos  dirigem hoje suas preces, não são mais que os seus senhores, os donos dos escravos, disfarçados de anjos. 

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* NB: A este respeito convém notar que um dos «truques» para dominar ou ter ascendente sobre alguém é fazer esse alguém sentir-se «pequenino». É tão comum, no discurso das pessoas autoritárias, dirigir-se a um adolescente ou adulto, como se se tratasse de criança pequenina ...