Para minha auto-orientação e para eventual apoio à reflexão de outros sobre o assunto, decidi verter alguns «pixels» no écran e na memória do meu computador, para abordar de frente fenómenos sociais aos quais nos confrontamos todos.
Se chamam metamorfose à transformação da lagarta em crisálida e esta em borboleta ou inseto perfeito, como se pode chamar o processo inverso?
- A transformação de entidades adultas («insetos perfeitos») em crianças aterradas (as « crisálidas») e por fim, em «vermes rastejantes» (as «lagartas»): Chamarei isso «metamorfose involutiva»
Metamorfose involutiva, quando o indivíduo adulto regride ao estado infantil e ainda mais, ao estado de feto no ventre materno...
Contrariamente ao fenómeno descrito para um grande número de espécies, no caso do primeiro tipo de metamorfose, a metamorfose involutiva não incide sobre estruturas físicas, mas apenas mentais. Uma pessoa pode ter sofrido esta forma radical de metamorfose involutiva, embora aparentando fisicamente ser um adulto, na posse da sua racionalidade e controlando enquanto adulto desejos e paixões.
Porém, numa situação de confronto com a realidade que ele/ela considera dever a todo o custo evitar (estado de «denegação»), ele/ela vai comportar-se segundo a fórmula típica das crianças pequenas: Referência ritual e obsessiva à autoridade, ao modelo de autoridade dos «que sabem», que ocupam uma posição hierárquica de poder sobre elas (real ou simbolicamente), em substituição da Mãe e do Pai.
Em caso de serem expostas a uma situação de perigo real e não simbólico, reagem com pânico, com desorientação e muitas vezes com uma fúria desesperada: A fúria da criança a quem retiram o brinquedo ou a chucha, chorando e gritando para que lhe devolvam o objeto tranquilizador.
Os ataques coletivos contra alguém, que supostamente, encarna todo o «mal», é também típico destas pessoas, cobardes integrais, que apenas se desinibem e se revelam quando em grupo. Aí sentem que gozam de impunidade total, para insultar, agredir e martirizar a vítima.
Na minha vida (nasci em 1954), fui poupado às terríveis perseguições e brutalidades protagonizadas pelos nazis e pelos fascistas, no período entre as duas Guerras Mundiais. Mas o fascismo, recentemente, passou a estar inserido no quotidiano, sobretudo nas sociedades pretensamente «civilizadas». Este fascismo hipócrita é ainda mais perigoso que o fascismo da primeira época histórica, pois muitas pessoas não conseguem fazer a conexão entre os fenómenos. Parece-lhes que o fascismo histórico foi uma época de violência, brutalidade, negação dos direitos humanos... e que nunca mais voltará. Mas isto é falso; um fascismo - hoje larvar e com roupagens diferentes - pode crescer e tornar-se avassalador, a qualquer momento. É assim que pessoas bem intencionadas se bloqueiam e bloqueiam os outros, ao não considerar as realidades sociológicas de frente. Involuntariamente, proporcionam a implantação desta nova forma de totalitarismo, permitindo aquilo que era considerado intolerável, poucos anos antes.
Aqui, joga a submissão absurda à autoridade, uma aura de super-humanos, dada pela media de massas, às figuras públicas, quer sejam políticos, empresários, artistas, desportistas, cientistas, etc. É como se as pessoas tivessem de se curvar perante os novos senhores feudais do momento, na medida em que eles (simbolicamente ou na realidade) têm na sua mão o destino dos indivíduos.
A sociedade de hoje não é irreligiosa, nem ateia. É antes, uma sociedade onde o divino, o transcendente, o espiritual desapareceram ou ficaram confinados a minorias sem poder. Em vez das expressões de transcendência das sociedades tradicionais, assiste-se hoje a cultos de uma coorte de pseudo-deuses, ídolos, magos, hipnotistas e gurus de pacotilha... pela multidão ávida, que projeta nesses deuses efémeros a sua profunda carência de afeto, de humanidade, de calor. Os que fazem esta projeção, estão já em configuração mental propícia para serem manipulados, tornarem-se crentes sectários de uma ideologia, seja ela qual for.
Estão receptivos a adorar um chefe; dêem-lhes um chefe, não importa quem, na realidade; seja quem for, terá de se exibir como semideus, acima do comum dos mortais. A omnipresença dos deuses de pacotilha, graças à magia eletrónica/digital, será o outro fator decisivo para serem adorados como chefes, pelas massas «lobotomizadas».