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terça-feira, 18 de fevereiro de 2020

[Manlio Dinucci] O FUTURO DA AMÉRICA CADA VEZ MAIS ARMADO


                    

ITALIANO PORTUGUÊS

O “Orçamento para o futuro da América”, apresentado pelo Governo dos EUA, mostra quais são as prioridades da Administração Trump no orçamento federal para o ano fiscal de 2021 (que inicia em 1º de Outubro deste ano).
Antes de tudo, reduzir as despesas sociais: por exemplo, corta 10% à atribuição pedida pelo Departamento de Saúde e Serviços Humanitários. Enquanto as mesmas autoridades da Saúde comunicam que só a gripe provocou nos USA, de Outubro a Fevereiro, cerca de 10.000 mortes confirmadas numa população de 330 milhões. Notícia silenciada pela comunicação mediática de destaque, a qual lança o alarme global para as 1.770 mortes causadas pelo coronavírus na China, um país com 1,4 bilião de habitantes, que foi capaz de tomar medidas excepcionais para limitar os danos da epidemia.
Não pode deixar de haver a suspeita sobre a verdadeira finalidade da campanha mediática massacrante, a qual semeia o terror sobre tudo que é chinês, quando, na motivação do Orçamento dos EUA, lê-se que “a América enfrenta o desafio proveniente dos Estados nacionais rivais ressurgentes, em particular, a China e a Rússia”.
A China é acusada de “travar uma guerra económica com armas cibernéticas contra os Estados Unidos e contra os seus aliados” e “querer moldar à sua própria semelhança a região Indo-Pacífica, crítica para a segurança e para os interesses económicos USA”. Para que “a região seja libertada da má influência chinesa”, o Governo USA financia com 30 milhões de dólares o “Centro para o Desenvolvimento Global para combater a propaganda e desinformação da China”.
No contexto de “uma concorrência estratégica crescente”, o Governo USA declara que “o Orçamento dá a prioridade ao financiamento de programas que aumentam a nossa vantagem bélica contra a China, contra a Rússia e contra todos os outros adversários”. Para esse fim, o Presidente Trump anuncia que, “para garantir a segurança interna e promover os interesses USA no exterior, o meu Orçamento necessita de 740,5 biliões de dólares para a Defesa Nacional” (enquanto requer 94,5 biliões para o Departamento de Serviços de Saúde e dos Serviços Humanitários).
A atribuição militar compreende

Ø 69 biliões de dólares para operações bélicas no exterior,
Ø mais de 19 biliões para 10 navios de guerra
Ø 15 biliões para 115 caças F-35 e outros aviões,
Ø 11 biliões para melhorar as armas terrestres.

Para os programas científicos e tecnológicos do Pentágono, são solicitados 14 biliões de dólares, destinados ao desenvolvimento de armas hipersónicas e de energia directa, sistemas espaciais e redes 5G.
Estes são apenas alguns elementos de uma longa lista da despesa (com dinheiro público), que compreende todos os sistemas de armas mais avançados, com lucros colossais para a Lockheed Martin e para outras indústrias de guerra.
Ao orçamento do Pentágono, juntam-se várias despesas de carácter militar inscritas nos orçamentos de outros departamentos.

Ø No ano fiscal de 2021, o Departamento de Energia receberá 27 biliões para manter e modernizar o arsenal nuclear.
Ø Departamento de Segurança Interna também terá 52 para o seu próprio serviço secreto.
Ø Departamento de Assuntos dos Veteranos receberá 243 biliões (10% a mais do que em 2020) para os militares aposentados.

Tendo em conta estes e outros elementos, a despesa militar dos EUA superará, no ano fiscal de 2021, 1 trilião de dólares. A despesa militar dos Estados Unidos exerce um efeito motriz sobre a dos outros países que, no entanto, permanecem em níveis muito mais baixos. Mesmo tendo em conta só o orçamento do Pentágono, a despesa militar dos EUA é 3/4 vezes mais elevada do que a da China e mais de 10 vezes superior à da Rússia.

Deste modo, “o orçamento assegura o domínio militar USA em todas os sectores bélicos: aéreo, terrestre, marítimo, espacial e cyber-espacial”, declara a Casa Branca, anunciando que os Estados Unidos estarão, dentro em breve, capazes de produzir em duas instalações, anualmente, 80 ogivas nucleares novas.
“O futuro da América” pode significar o fim do mundo.

il manifesto, 18 de Fevereiro de 2020

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CONVITE À CONFERÊNCIA EM 25 DE ABRIL

DEUTSCH ENGLISH FRANÇAIS ITALIANO NEDERLANDS PORTUGUÊS ROMÎNA SVENSKA SUOMI РУССКИЙ TÜRKÇE



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http://www.natoexit.it/ -- ITALIANO

DECLARAÇÃO DE FLORENÇA
Para uma frente internacional NATO EXIT,
em todos os países europeus da NATO
DANSK DEUTSCH ENGLISH ESPAÑOL FRANÇAIS ITALIANO NEDERLANDS
PORTUGUÊS ROMÎNA SLOVENSKÝ SVENSKA TÜRKÇE РУССКИЙ

Manlio Dinucci, geógrafo e geopolitólogo. Livros mais recentes: Laboratorio di geografia, Zanichelli 2014 ; Diario di viaggio, Zanichelli 2017 ; L’arte della guerra / Annali della strategia Usa/Nato 1990-2016, Zambon 2016, Guerra Nucleare. Il Giorno Prima 2017; Diario di guerra Asterios Editores 2018; Premio internazionale per l'analisi geostrategica assegnato il 7 giugno 2019 dal Club dei giornalisti del Messico, A.C.

Tradutora: Maria Luísa de Vasconcellos
Email: luisavasconcellos2012@gmail.com
Webpage: NO WAR NO NATO

terça-feira, 11 de fevereiro de 2020

[Manlio Dinucci] GRÉCIA - VENDA DE BASES MILITARES AOS EUA

                          



O Parlamento grego ratificou o “Acordo de Cooperação para Defesa Mútua”, que concede aos Estados Unidos o uso de todas as bases militares gregas. Elas servirão às forças armadas USA não só para armazenar armamentos, reabastecer-se e treinar, mas também para operações de “resposta às emergências”, ou seja, para missões de ataque.

Particularmente importante, é a base aérea de Larissa, onde a Força Aérea dos EUA já instalou drones MQ-9 Reaper, e a de Stefanovikio, onde o Exército dos EUA já introduziu helicópteros Apache e Black Hawk.

O Acordo foi definido pelo Ministro da Defesa grego, Nikos Panagiotopoulos, “vantajoso para os nossos interesses nacionais, pois aumenta a importância da Grécia na planificação USA”. Importância que a Grécia tem já há algum tempo: basta recordar o golpe de Estado sangrento dos coronéis, organizado em 1967, no âmbito da operação Stay-Behind dirigida pela CIA, seguida em Itália pela temporada de massacres iniciada com a Piazza Fontana, em 1969.

Naquele mesmo ano, instalou-se na Grécia, em Souda Bay, na ilha de Creta, um Destacamento Naval USA proveniente da base de Sigonella, na Sicília, às ordens do Comando USA de Nápoles. Hoje, Souda Bay é uma das mais importantes bases aeronavais USA/NATO no Mediterrâneo, usada nas guerras no Médio Oriente e no Norte de África. Em Souda Bay, o Pentágono investirá outros 6 milhões de euros, que se juntarão aos 12 que investirá em Larissa, anuncia Panagiotopoulos, apresentando-o como um grande negócio para a Grécia.

No entanto, o Primeiro Ministro Kyriakos Mitsotakis indica com precisão que Atenas já assinou com o Pentágono, um acordo para o reforço da sua frota de F-16, que custará à Grécia 1,5 bilião de dólares e que também está interessada em comprar aos USA, drones e caças F-35.

A Grécia também se destaca por ser na NATO, depois da Bulgária, o aliado europeu que destina há muito tempo, a maior percentagem do PIB (2,3%) para a despesa militar.

O Acordo também garante aos Estados Unidos “o uso ilimitado do porto de Alexandroupolis”. Está localizado no mar Egeu, perto do Estreito de Dardanelos que, ligando no território turco, o Mediterrâneo e o Mar Negro, constitui uma rota fundamental de trânsito marítimo, sobretudo para a Rússia. Além do mais, a vizinha Trácia Oriental (a pequena parte europeia da Turquia) é o ponto em que chega da Rússia através do Mar Negro, o gasoduto TurkStream.

O “investimento estratégico”, que Washington já está a efectuar nas infraestruturas portuárias, visa fazer de Alexandroupolis, uma das bases militares USA mais importantes da região, capaz de bloquear o acesso dos navios russos ao Mediterrâneo e, ao mesmo tempo, neutralizar a China, que pretende fazer do Pireu, um porto de escala importante da Nova Rota da Seda.

“Estamos a trabalhar com outros parceiros democráticos da região para repelir protagonistas malignos, como a Rússia e a China, acima de tudo a Rússia, que usa a energia como instrumento da sua influência malévola”, declara o Embaixador dos EUA em Atenas, Geoffrey Pyatt, salientando que “Alexandroupolis desempenha um papel crucial para a segurança energética e para a estabilidade da Europa”.

Nesse âmbito, insere-se o “Acordo de Cooperação para a Defesa Mútua” com os USA, que o Parlamento grego ratificou com 175 votos a favor, do centro-direita ao governo (Nova Democracia e outros) e 33 contra (Partido Comunista e outros), enquanto 80 declararam “presente”, de acordo com a fórmula do Congresso USA, equivalente à abstenção, em uso no Parlamento grego. O Syriza, a “Coligação da Esquerda Radical” liderada por Alex Tsipras, absteve-se. Partido este, que esteve primeiro no Governo, agora está na oposição, num país que depois de ser forçado a vender a própria economia, agora vende não só as suas bases militares, mas o pouco que resta da sua soberania.

il manifesto, 11 de Fevereiro de 2020







DECLARAÇÃO DE FLORENÇA
Para uma frente internacional NATO EXIT, 
em todos os países europeus da NATO

Manlio DinucciGeógrafo e geopolitólogo. Livros mais recentes: Laboratorio di geografia, Zanichelli 2014 ; Diario di viaggio, Zanichelli 2017 ; L’arte della guerra / Annali della strategia Usa/Nato 1990-2016, Zambon 2016, Guerra Nucleare. Il Giorno Prima 2017; Diario di guerra Asterios Editores 2018; Premio internazionale per l'analisi geostrategica assegnato il 7 giugno 2019 dal Club dei giornalisti del Messico, A.C.

Tradutora: Maria Luísa de Vasconcellos 
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terça-feira, 7 de janeiro de 2020

O QUE ESTÁ POR DETRÁS DO ASSASSINATO DO GENERAL SOLEIMANI

                             

Para além da decisão táctica de Trump e do Pentágono de eliminar Soleimani, o que está em jogo é o controlo da região mais rica em petróleo e decisiva para o abastecimento internacional. 

Até agora, os americanos contentaram-se em obter acordos de «protecção» dos reinos petrolíferos a troco da exclusividade da venda do petróleo em dólares. Lembre-se que as transacções em US$ são rastreadas pelos bancos dos EUA, e podem ser eficazmente embargadas por ordem de Washington. 
Lembremos também o papel decisivo dos petro-dólares na compensação do défice crónico e monstruoso do orçamento dos EUA. O défice é colmatado graças à compra de obrigações do tesouro dos EUA por parte das petro-monarquias. Além disso, com os dólares obtidos, a Arábia Saudita e outros, compram armamento sofisticado e sua manutenção à indústria bélica americana (o maior exportador de armamento mundial).

Se decidiram assassinar Soleimani, não foi certamente pelas razões invocadas. Mas antes, porque estão desesperados por não conseguir mais fazer funcionar o sistema do petro-dólar, pois demasiados actores estão a rebelar-se ou a - discretamente - virar a casaca, para garantirem protecção dos poderosos aliados Rússia e China. Esta é a realidade estratégica global a que os EUA estão confrontados. 

A resposta a esta situação foi - com certeza - cozinhada pelas forças que controlam Washington e que têm Trump na mão (chame-se complexo militar industrial, Estado profundo, militaristas do Pentágono...): Para eles, a solução longamente planeada era o confronto directo com o Irão, única forma que encaravam para contrariar a deserção de uma série de aliados na região e portanto, a perda de hegemonia e o fim do sistema do petro-dólar. Eis a lógica intrínseca deles: Como não conseguem mais obter, como dantes, a submissão dos seus aliados-vassalos no Médio-Oriente, têm de fomentar uma guerra. Assim, poderão obter o alinhamento forçado destes contra o Irão. 
Eventualmente, conseguirão - em caso de vitória - o controlo directo dos poços de petróleo iraquianos, o que revela sua ambição totalitária de domínio mundial. Esta ambição de guerra já existia há muito tempo, manifestou-se múltiplas vezes, mas muitas pessoas não conseguiam compreender a natureza verdadeira do jogo. 
Agora, com a pretensão de Trump de se apropriar (roubar) o petróleo, não só da Síria, como do Iraque, está-se perante uma afirmação clara e descarada de apropriar o petróleo do Médio-Oriente, como despojo de guerra. 

Claro que, tanto os inimigos como os amigos dos EUA, vêm isto tudo e estão a posicionar-se em conformidade.

sexta-feira, 3 de janeiro de 2020

[Manlio Dinucci] Fogos de artifício de fim de ano: 50 bombas nucleares USA da Turquia para Aviano

                            

Tradutora: Maria Luísa de Vasconcellos
Email: luisavasconcellos2012@gmail.com
Webpage: NO WAR NO NATO

“Cinquenta ogivas nucleares estariam prontas para mudar da base turca de Incirlik, na Anatólia, para a base USAF de Aviano, em Friuli Venezia Giulia, já que os EUA desconfiam cada vez mais da lealdade à NATO do presidente turco Erdogan”: relata a ANSA citando o que foi declarado pelo general aposentado da Força Aérea dos EUA, Chuck Wald, numa entrevista à Bloomberg, em 16 de Novembro. O facto da ANSA e alguns jornais falarem sobre este assunto, mesmo tarde, ainda é positivo. Isto confirma o que il manifesto documentou há muito tempo. "Parece provável - escrevemos em 22 de Outubro (mas a ANSA ignorou a notícia) - que, entre as opções consideradas em Washington, há a transferência de armas nucleares dos EUA da Turquia para outro país mais confiável. Segundo o Atomic Scientists Bulletin (EUA), a base aérea de Aviano pode ser a melhor opção europeia do ponto de vista político, mas provavelmente não tem espaço suficiente para receber todas as armas nucleares da Incirlik. O espaço poderia, no entanto, ser obtido, dado que já havia começado em Aviano, o trabalho de reestruturação para acolher as bombas nucleares B61-12 ».
Baseado no que foi relatado pela ANSA, o coordenador nacional dos Verdes, Angelo Bonelli, pergunta ao governo se confirma a notícia e traz imediatamente o problema à avaliação do Parlamento, pois que a Itália seria “transformada no maior depósito de armas nucleares da Europa e este silêncio do governo italiano é inaceitável”. Na realidade, não é só o governo que está calado, mas o próprio Parlamento, onde a questão das armas nucleares dos EUA em Itália, é tabu. Levantá-la significaria questionar a relação de sujeição da Itália aos Estados Unidos.
Assim, a Itália continua a ser a base avançada das forças nucleares USA. Segundo as últimas estimativas da Federação de Cientistas Americanos, em cada uma das duas bases italianas e nas da Alemanha, Bélgica e Holanda, actualmente existem 20 bombas B61 para um total de 100 mais 50 em Incirlik, na Turquia. No entanto, ninguém pode verificar quantas são na realidade. Das estimativas resulta que os USA estão a diminuir o seu número, o que está longe de ser tranquilizador. Eles estão a preparar-se para substituí-las pelas novas bombas nucleares B61-12. Diferentemente da B61, lançada verticalmente, a B61-12 segue em direcção ao alvo, guiada por um sistema de satélite e também tem a capacidade de penetrar no subsolo, explodindo em profundidade para destruir os bunkers dos centros de comando. O programa do Pentágono planeia, a partir de 2021, construir 500 bombas B61-12 com um custo de aproximadamente 10 biliões de dólares. Não se sabe quantas B61-12 serão instaladas em Itália, nem em que bases, provavelmente não só em Aviano e Ghedi. Como mostra o mesmo anúncio do projecto, publicado pelo Ministério da Defesa, os novos hangares de Ghedi poderão hospedar 30 caças F-35 com 60 bombas nucleares B61-12, o triplo das actuais B-61 (il manifesto, 28 de Novembro de 2017).
Ao mesmo tempo, os USA estão a preparar-se para instalar mísseis nucleares terrestres (entre 500 e 5.500 km) na Itália e em outros países europeus, semelhantes aos Euromísseis eliminados pelo Tratado INF, assinado em 1987 pelos USA e pela URSS. Acusando a Rússia (sem qualquer prova) de tê-lo violado, os USA retiraram-se do Tratado, começando a construir mísseis da categoria proibida: em 18 de Agosto eles testaram um novo míssil de cruzeiro e, em 12 de Dezembro, um novo míssil balístico, este último capaz de atingir o objectivo em poucos minutos. Ao mesmo tempo, estão a fortalecer o “escudo antimísseis” na Europa. Na sua “resposta assimétrica”, a Rússia começa a instalar mísseis hipersónicos que, capazes de atingir uma velocidade de 33.000 km/h e de manobrar, podem perfurar qualquer “escudo”.
A situação em que nos encontramos é, portanto, muito mais perigosa do que demonstra a notícia já alarmante da provável transferência de bombas nucleares USA de Incirlik para Aviano. Nesta situação, domina o silêncio imposto pela vasta coligação política bipartidária responsável pelo facto da Itália, país não nuclear, albergar e estar preparada para usar armas nucleares, violando o Tratado de Não Proliferação que ratificou. Essa responsabilidade torna-se ainda mais grave, pelo facto da Itália, como membro da NATO, se recusar a aderir ao Tratado sobre a Proibição de armas nucleares (Tratado ONU), votado por uma grande maioria da Assembleia Geral das Nações Unidas.

il manifesto, 30 de Dezembro de 2019

terça-feira, 3 de dezembro de 2019

[Manlio Dinucci] CIMEIRA LANÇA NATO NO ESPAÇO


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A Cimeira lança a NATO no Espaço,
custos até às estrelas
Manlio Dinucci


Realiza-se em Londres, em 4 de Dezembro, o Conselho Atlântico Norte dos Chefes de Estado e de Governo, que celebra o 70º aniversário da NATO, definida pelo Secretário Geral, Jens Stoltenberg, como “a aliança mais bem sucedida da História”.

Um “sucesso” inegável. Desde a demolição através da guerra, da Federação Jugoslava, em 1999, a NATO alargou de 16 para 29 países (30, se agora incluir a Macedónia do Norte), expandindo-se para Leste, muito próxima da Rússia. “Pela primeira vez na nossa História - sublinha Stoltenberg - temos tropas prontas para combate no Leste da nossa Aliança”. Mas a Organização do Tratado do Atlântico Norte foi além disso, estendendo as suas operações bélicas às montanhas afegãs, e através dos desertos africanos e do Médio Oriente.

Agora a Grande Aliança ambiciona mais. Na Cimeira de Londres – anuncia, antecipadamente,  Stoltenberg - os dirigentes dos 29 países membros “reconhecerão o Espaço como nosso quinto campo operativo”, que se junta ao terrestre, ao marítimo, ao aéreo e ao ciberespaço. “O Espaço é essencial para o sucesso das nossas operações”, sublinha o Secretário Geral, deixando perceber que a NATO desenvolverá um programa espacial militar. Obviamente, não fornece detalhes, mas informa que a NATO assinou um primeiro contrato de 1 bilião de dólares para modernizar os seus 14 aviões AWACS. Eles não são simples aviões radares, mas centros de comando voadores, produzidos pela Boeing americana, para a gestão da batalha através de sistemas espaciais.

Certamente, quase nenhum dos líderes europeus (para a Itália, o Primeiro Ministro Conte) que, em 4 de Dezembro, “reconhecerão o Espaço como o  nosso quinto campo de operativo”, conhece o programa espacial militar da NATO, preparado pelo Pentágono e pelos altos comandos militares europeus subordinados, juntamente com as principais indústrias aeroespaciais. Muito menos sabem os Parlamentos, como o italiano, que aceitam qualquer decisão da NATO, sob comando USA, sem se preocupar com suas implicações político-militares e económicas.

A NATO é lançada no Espaço no prosseguimento do novo Comando Espacial criado pelo Pentágono, em Agosto passado, com o objectivo, declarado pelo Presidente Trump, de “garantir que o domínio americano do Espaço nunca seja ameaçado”. Trump então anunciou o estabelecimento subsequente da Força Espacial dos Estados Unidos, com a tarefa de “defender os interesses vitais americanos no Espaço, o próximo campo de batalha da guerra”. A Rússia e a China acusam os EUA de abrir caminho para a militarização do Espaço, alertando que têm capacidade para responder. Tudo isso aumenta o perigo de guerra nuclear.

Mesmo que o programa espacial militar da NATO ainda não seja conhecido, uma coisa é certa: será extremamente caro. Na Cimeira, Trump pressionará os aliados europeus para que aumentem as suas despesas militares para 2% ou mais, do PIB. Até agora, fizeram-no oito países: Bulgária (que elevou para 3,25%, um pouco abaixo de 3,42%, dos EUA), Grécia, Grã-Bretanha, Estónia, Roménia, Lituânia, Letónia e Polónia. Os outros, apesar de permanecerem abaixo de 2%, estão empenhados em aumentá-la. Impulsionada pela enorme despesa USA - 730 biliões de dólares em 2019, 10 vezes superior à da Rússia - a despesa militar anual da NATO, segundo dados oficiais, ultrapassa 1 trilião de dólares. Na realidade, é superior à indicado pela NATO, pois que não inclui vários elementos de natureza militar: por exemplo, o das armas nucleares dos EUA, inscrita no orçamento, não do Pentágono, mas do Departamento de Energia.

 A despesa militar italiana, que subiu do 13º para o 11º lugar no mundo, ascende, em termos reais, em cerca de 25 biliões de euros por ano, sempre a aumentar. Em Junho passado, o Governo Conte I adicionou 7,2 biliões de euros, também fornecidos pelo Ministério do Desenvolvimento Económico, para a compra de sistemas de armas. Em Outubro, na reunião com o Secretário Geral da NATO, o governo do Conte II prometeu aumentá-la constantemente em cerca de 7 biliões de euros por ano a partir de 2020 (La Stampa, 11de Outubro de 2019).

Na Cimeira de Londres serão pedidos à Itália mais biliões de dinheiro público, para financiar as operações militares da NATO no Espaço, enquanto não há dinheiro para manter em segurança e reconstruir os viadutos que desabam. 


Il manifesto, 3 Dezembro 2019


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DECLARAÇÃO DE FLORENÇA
Para uma frente internacional NATO EXIT, 
em todos os países europeus da NATO
Tradutora: Maria Luísa de Vasconcellos 
Email: luisavasconcellos2012@gmail.com
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sexta-feira, 15 de novembro de 2019

THIERRY MEYSSAN: As insolúveis contradições do Daesh e do PKK/YPG



Só conhecemos o que se passa no Levante através da propaganda de guerra do país em que vivemos. Ignoramos os outros pontos de vista e, mais ainda, como os nossos exércitos se têm comportado. Para destrinçar o verdadeiro do falso, os historiadores terão que examinar os documentos disponíveis. Ora, aquilo que nos diz a documentação militar ocidental contradiz as declarações dos políticos e a narrativa dos jornais. Apenas tomando em consideração a existência duma estratégia do Pentágono desde 2001 é que se poderá compreender o que se tem realmente passado, e porque é que, a este propósito, se chega hoje em dia a tais contradições.

                    

A remodelagem do Levante segundo o Estado-Maior do Pentágono para o Levante. Este mapa foi descrito pelo Coronel Ralph Peters num artigo, em 13 de Setembro de 2001, mas só foi publicado em 2006.

Não se compreende o que se passa no Norte da Síria porque se acredita, logo à partida, que uma luta aí opunha os malvados jiadistas do Daesh (E.I.) aos simpáticos Curdos do PKK/YPG. Ora, isto é absolutamente falso. Essa luta apenas acontecia quando se tratava de limitar os respectivos territórios ou por solidariedade étnica, jamais por razões ideológicas ou religiosas.

Além disso, não se quer ver o papel que jogou Donald Trump. Como a imprensa passa o seu tempo a insultar o Presidente eleito dos Estados Unidos, não se pode contar com ela para analisar e compreender a sua política no Médio-Oriente Alargado. Ora, há uma linha directriz clara: o fim da doutrina Rumsfeld/Cebrowski, herança do 11 de Setembro. Nisto, ele opõe-se aos seus generais —todos formatados nos mandatos Bush Jr e Obama em controlar o mundo— e à classe política da Europa ocidental.

Para compreender o que se passa, é preciso considerar os factos a montante e não a jusante. Regressemos ao plano elaborado pelo Pentágono no início da Administração Bush, em 2001, e revelado, dois dias após os atentados de 11 de Setembro, pelo Coronel Ralph Peters na Parameters [1], a revista do Exército de Terra dos EUA: a «remodelagem» do mundo, a começar pelo Médio-Oriente Alargado. Este plano foi confirmado, um mês mais tarde, pelo Secretário da Defesa, Donald Rumsfeld, que nomeou o seu principal cérebro, o Almirante Arthur Cebrowski, director do Gabinete de Transformação da Força. Ele foi explicitado pelo assistente deste último, Thomas Barnett, em 2005, no The Pentagon’s New Map (O Novo Mapa do Pentágono -ndT) [2]. E, ilustrado pelo mesmo Ralph Peters logo que ele publicou, em 2006, no Armed Forces Journal (Jornal das Forças Armadas -ndT) o mapa do primeiro episódio: aquilo em que se devia tornar o Médio-Oriente Alargado [3]. Tendo em conta as dificuldades encontradas no terreno, ele foi objecto de uma emenda publicada por uma pesquisadora Pentágono, Robin Wright, no suplemento dominical do New York Times [4], em 2013.

Segundo estes documentos cinco Estados deviam ser desmembrados em quatorze entidades: a Síria e o Iraque, o Iémene, a Líbia e a Arábia Saudita. 

                
Mapa publicado por Robin Wright em 2013, quer dizer um ano antes da transformação do Daesh e antes da do PKK/YPG.

Em relação à Síria e ao Iraque, estes dois Estados deviam ser divididos em quatro. O mapa publicado em 2013 desenha os contornos de um «Sunnistão» e de um «Curdistão», ambos a cavalo sobre os dois Estados actuais. No ano seguinte, o primeiro foi criado pelo Daesh (EI), o segundo pelo YPG. No momento em que este mapa foi publicado, o Daesh não passava de uma minúscula organização terrorista anti-síria entre centenas de outras; enquanto o YPG era uma milícia pró-governamental, na qual os salários dos combatentes eram pagos pela República Árabe Síria. Nada no terreno permitia prever a criação do Califado e do Rojava desejada pelo Pentágono.

O quotidiano curdo turco Özgür Gündem [5] publicou o registo de decisão da reunião no decurso da qual a CIA preparou a maneira pela qual o Daesh (EI) invadiria o Iraque, a partir de Raqqa. Este documento indica que Masrour "Jomaa" Barzani, então Chefe da Inteligência no Governo regional do Curdistão, participou nesta reunião de planificação (planejamento-br), a 1 de Junho de 2014, em Amã (Jordânia). Ele tornou-se o Primeiro-ministro do Governo regional do Curdistão iraquiano em Julho passado.

Importa lembrar que, segundo o mapa de Robin Wright, o «Curdistão» dos EUA devia incluir o Nordeste da Síria (tal como o «Curdistão» francês de 1936) e a região curda do Iraque (o que os Franceses não haviam considerado).

O apoio do Governo regional do Curdistão iraquiano à invasão do Iraque pelo Daesh (EI) é incontestável: ele deixou os jiadistas massacrar os Curdos de religião Yazidi no Sinjar e reduzir as suas mulheres à escravidão. Os que foram salvos foram-no por Curdos turcos e sírios, vindos especialmente ao local, para lhes dar apoio salvador sob o olhar trocista dos peshmergas, os soldados Curdos iraquianos.

O Daesh cometeu inúmeras atrocidades, impondo o seu reino pelo terror. Ele realizou uma limpeza religiosa dos Curdos yazidis, Assírios cristãos, Árabes xiitas etc. Estes «rebeldes» beneficiaram da ajuda financeira e militar da CIA, do Pentágono e de, pelo menos, 17 Estados, tal como foi reportado, com documentos em suporte, pelos diários búlgaro Trud [6] e croata Jutarnji list [7]. Com um pessoal devidamente formado em Fort Benning (USA), o Daesh(EI) lançou impostos e abriu serviços públicos até se constituir em «Estado», muito embora ninguém o tenha reconhecido como tal.

Não sabemos como o PKK foi transformado, em 2005, de um partido político marxista-leninista pró-soviético para uma milícia ecologista libertária e pró-atlantista. E, ainda menos, como o YPG da Síria mudou de pele em 2014.

Ele passou para o comando operacional de oficiais turcos do PKK e da OTAN. Segundo o lado da fronteira turco-síria, o PKK-YPG é internacionalmente qualificado de maneira diferente. Se se estiver posicionado na Turquia, é «uma organização terrorista», mas se estiver na Síria, torna-se «um partido político de oposição à ditadura». Ora até 2014, ele não via ditadura na Síria. Batia-se pela defesa da República Árabe Síria e pela manutenção do Presidente Bashar al-Assad no Poder.

O YPG respeitou as leis da guerra e não cometeu atrocidades comparáveis às do Daesh (EI), mas não hesitou em limpar etnicamente o Nordeste da Síria para criar o «Rojava», o que constitui um crime contra a humanidade. Ele espoliou e expulsou centenas de milhar de Assírios e de Árabes. Acreditava bater-se pelo seu povo, mas estava apenas a realizar os sonhos do Pentágono. Para isso, beneficiou, publicamente, do armamento do Pentágono, tal como o semanário britânico dos mercados militares Jane’s [8] e o quotidiano italiano Il Manifesto [9] mostraram, e da França, tal como François Hollande o revelou. O Rojava acabou por não ter tempo de se fundir com a região curda do Iraque.

Após a queda do Califado, entre outros sob os golpes do PKK/YPG, este pediu a autorização do governo de Damasco para atravessar as linhas do Exército árabe sírio a fim de voar em socorro dos Curdos do Noroeste ameaçados pelo Exército turco. O que obteve. Mas assim que o PKK/YPG se movimentou, fez transitar oficiais do Daesh, em fuga, que foram presos pela República Árabe Síria.

Estes documentos e estes factos não nos dizem que protagonistas estão certos ou errados, isso é uma outra questão. No entanto, no terreno, é impossível ser ao mesmo tempo contra o Daesh(EI) e a favor do PKK/YPG sem cair em irreconciliáveis contradições .

Os actos de Donald Trump consistiram em destruir os pseudo-Estados fabricados pelo Pentágono : o Califado e o Rojava ; o que, no entanto, não significa nem o fim do Daesh (EI), nem o do PKK/YPG.

Tradução

[1] “Stability, America’s Ennemy”, Ralph Peters, Parameters, Winter 2001-02, pp. 5-20. Également in Beyond Terror: Strategy in a Changing World, Stackpole Books.
[2The Pentagon’s New Map, Thomas P. M. Barnett, Putnam Publishing Group, 2004.
[3] “Blood borders - How a better Middle East would look”, Colonel Ralph Peters, Armed Forces Journal, June 2006
[4] “Imagining a Remapped Middle East”, Robin Wright, The New York Times Sunday Review, 28 septembre 2013.
[5] « Yer : Amman, Tarih : 1, Konu : Musul », Akif Serhat, Özgür Gündem, 6 temmuz 2014.
[6] “350 diplomatic flights carry weapons for terrorists”, Dilyana Gaytandzhieva, Trud, July 2, 2017.
[8] “US arms shipment to Syrian rebels detailed”, Jeremy Binnie & Neil Gibson, Jane’s, April 7th, 2016.
[9] “Da Camp Darby armi Usa per la guerra in Siria e Yemen”, Manlio Dinucci, Il Manifesto, 18 aprile 2017.

terça-feira, 29 de outubro de 2019

«O CALIFA, FILME CIA ENTRE A FICÇÃO E A REALIDADE»


POR Manlio Dinucci -- A Arte da Guerra 
TRADUÇÃO DE : Maria Luísa de Vasconcellos





ITALIANO PORTUGUÊS

“Foi como assistir a um filme”, disse o Presidente Trump, depois de testemunhar a eliminação de Abu Bakr al Baghdadi, o Califa, Chefe do ISIS, transmitido na Situation Room da Casa Branca. Aqui, em 2011, o Presidente Obama assistia à eliminação do então inimigo número um, Osama Bin Laden, Chefe da Al Qaeda. O mesmo argumento: os serviços secretos dos EUA tinham localizado,há muito tempo, o inimigo; este não é capturado, mas eliminado: Bin Laden é morto; al Baghdadi suicida-se ou é “suicidado”; o corpo desaparece: o de Bin Laden é sepultado no mar,os restos de al Baghdadi, desintegrados pelo cinto de explosivos,também esses são espalhados no mar. O mesmo produtor do filme: a Comunidade de Inteligência, formada por 17 organizações federais. Além da CIA (Agência Central de Inteligência), existe a DIA (Agência de Inteligência de Defesa), mas cada sector das Forças Armadas, bem como o Departamento de Estado e o Departamento de Segurança Interna, têm o seu próprio serviço secreto.


Para as acções militares, a Comunidade de Inteligência usa o Comando das Forças Especiais, instalado em, pelo menos, 75 países, cuja missão oficial compreende, além da “acção directa para eliminar ou capturar inimigos”, a “guerra não convencional conduzida por forças externas, treinadas e organizadas pelo Comando ". É, exactamente, o que começou na Síria, em 2011, no mesmo ano em que a guerra USA/NATO destrói a Líbia. Demonstram-no as provas documentadas, já publicadas em ‘il manifesto’.

- Por exemplo, em Março de 2013, o New York Times publicou uma pesquisa detalhada sobre a rede da CIA, através da qual chegam à Turquia e à Jordânia, com o financiamento da Arábia Saudita e de outras monarquias do Golfo, rios de armas para os militantes islâmicos treinados pelo Comando de Forças Especiais USA, antes de serem infiltradas na Síria. 

- Em Maio de 2013, um mês após ter fundado o ISIS, al Baghdadi, encontra na Síria uma delegação do Senado dos Estados Unidos chefiada por John McCain na Síria, como mostra a documentação fotográfica. 


- Em Maio de 2015, um documento do Pentágono datado de 12 de Agosto de 2012 é desclassificado pela Judicial Watch, no qual se afirma que há “a possibilidade de estabelecer um principado salafita na Síria oriental, e é exactamente o que os países ocidentais desejam, os Estados do Golfo e a Turquia, que apoiam a oposição”. 

- Em Julho de 2016, é desclassificado pelo Wikileaks um email de 2012 no qual a Secretária de Estado, Hillary Clinton, escreve que, dada a relação Irão-Síria, “a destituição de Assad constituiria um imenso benefício para Israel, diminuindo o medo de perder o monopólio nuclear.” Isso explica por que motivo, não obstante os EUA e os seus aliados iniciarem, em 2014, a campanha militar contra o ISIS, as forças do ISIS podem avançar sem perturbações em espaços abertos, com longas colunas de veículos armados.


A intervenção militar russa em 2015, de apoio às forças de Damasco, reverte o destino do conflito. O objectivo estratégico de Moscovo é impedir a demolição do estado sírio, que provocaria um caos do tipo líbio, vantajoso para os USA e para a NATO, para atacar o Irão e cercar a Rússia.


Os Estados Unidos, irracionais, continuam a jogar a cartada da fragmentação da Síria, apoiando os independentistas curdos e depois abandonando-os para não perder a Turquia, posto avançado da NATO na região.


Neste contexto, compreende-se por que al Baghdadi, como Bin Laden (anteriormente aliado dos USA contra a Rússia, na guerra do Afeganistão), não podia ser capturado para ser processado publicamente, mas que devia desaparecer fisicamente para fazer desaparecer as provas do seu verdadeiro papel na estratégia USA. Por isso, a Trump agradou tanto o filme com um final feliz.


il manifesto, 29 de Outubro de 2019