Gustave Moreau: Édipo e a Esfinge (detalhe)
A pouco e pouco, as imagens maravilhosas esfumam-se.
Viro-me para o outro lado, na cama. Mas o sonho foi-se, nada o poderá fazer regressar.
Ficou-me o sabor a insólito, a sensação de segunda vida, o quarto secreto que se fecha quando voltamos ao quotidiano banal.
As respostas que tanto ansiava, tardavam em chegar, e os dias iam passando.
Só as noites eram minhas, e dormindo acordava no reino onde outra vida - forte - desabrochava.
Tudo o que me interessava estava para além do racional, da experiência sensível comum.
Mas não buscava o esotérico, nem sensações estranhas, ou visões alucinogénias.
Estava à beira de desvendar um grande mistério, não havia ponto de referência nesse oceano cósmico
Em suspensão durante o dia, em que todas as tarefas se repetiam sem surpresa, levantava voo nas asas do sonho
Realmente, não é demasiado difícil vogar assim.
Exercitava manter o equilíbrio entre o sonho e o real, naqueles instantes quando se está prestes a acordar
Agia por intuição, não de forma deliberada. O que me atraía?
Um mundo onde as coisas e pessoas se moviam, comunicavam, de forma semelhante à nossa realidade «vulgar».
Porém, nada era vulgar, nele. Tudo se revestia duma solene e tranquila sabedoria.
Eu emergia dessas viagens imóveis, inspirado, pousando lúcido olhar sobre os meus problemas diurnos.
Pelo sonho, vinha-me a chave para a melhor forma de enfrentar a vida.
Se isto tudo é ilusório, se é real, não sei!
Serão descargas de neurónios cerebrais, ou reflexo de universos paralelos, onde nos movemos? Não sei!
Possuo esta fonte de beleza, de sabedoria e de força anímica dentro de mim, e conto com ela.
Não quero - nunca me passou pela cabeça - domá-la, mas estou grato por ela zelar por mim,
À Deusa Cósmica, que desce em silêncio, que se manifesta no sonho e se despede de mim, quando estou semiacordado.
(*) Poesias 2016-21
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