A realidade «judaica do Antigo Testamento» do povo judeu de Israel atual é tão fictícia como a dos germânicos serem «arianos» e terem sido declarados como «a raça superior» pelo regime hitleriano. Na verdade, são os palestinianos os mais próximos geneticamente do povo judeu de há dois mil anos. Isso não lhes confere um estatuto especial, mas apenas mostra o grotesco e a monstruosidade em basear a política em dados étnicos ou «rácicos». A política baseada em elementos raciais é uma clara negação dos Direitos Humanos, inscritos na Carta da ONU e inúmeros documentos oficiais em todos os países (incluindo Israel).

sábado, 14 de agosto de 2021

[OBRAS DE MANUEL BANET] SONHOS QUE SÓ EU SONHEI

                           Gustave Moreau: Édipo e a Esfinge (detalhe)


SONHOS QUE SÓ EU SONHEI (*)



Emergi do sonho, ainda estonteado pela vertiginosa corrida, que fizera na dimensão onírica, onde tudo é possível e onde nada é aquilo que parece.

A pouco e pouco, as imagens maravilhosas esfumam-se.

Viro-me para o outro lado, na cama. Mas o sonho foi-se, nada o poderá fazer regressar.

Ficou-me o sabor a insólito, a sensação de segunda vida, o quarto secreto que se fecha quando voltamos ao quotidiano banal.

As respostas que tanto ansiava, tardavam em chegar, e os dias iam passando. 

Só as noites eram minhas, e dormindo acordava no reino onde outra vida - forte - desabrochava.

Tudo o que me interessava estava para além do racional, da experiência sensível comum.

Mas não buscava o esotérico, nem sensações estranhas, ou visões alucinogénias. 

Estava à beira de desvendar um grande mistério, não havia ponto de referência nesse oceano cósmico

Em suspensão durante o dia, em que todas as tarefas se repetiam sem surpresa, levantava voo nas asas do sonho

Realmente, não é demasiado difícil vogar assim.

 Exercitava manter o equilíbrio entre o sonho e o real, naqueles instantes quando se está prestes a acordar

Agia por intuição, não de forma deliberada. O que me atraía?

Um mundo onde as coisas e pessoas se moviam, comunicavam, de forma semelhante à nossa realidade «vulgar».

Porém, nada era vulgar, nele. Tudo se revestia duma solene e tranquila sabedoria.

Eu emergia dessas viagens imóveis, inspirado, pousando lúcido olhar sobre os meus problemas diurnos.

Pelo sonho, vinha-me a chave para a melhor forma de enfrentar a vida. 

Se isto tudo é ilusório, se é real,  não sei!

Serão descargas de neurónios cerebrais, ou reflexo de universos paralelos, onde nos movemos? Não sei!

Possuo esta fonte de beleza, de sabedoria e de força anímica dentro de mim, e conto com ela.

Não quero - nunca me passou pela cabeça - domá-la, mas estou grato por ela zelar por mim,

À Deusa Cósmica, que desce em silêncio,  que se manifesta no sonho e se despede de mim, quando estou semiacordado. 

 

(*) Poesias 2016-21


Sem comentários: