A IIIª Guerra Mundial tem sido, desde o início, guerra híbrida e assimétrica, com componentes económicas, de subversão, desestabilização e lavagens ao cérebro, além das operações propriamente militares. Este cenário era bem visível, desde a guerra na Síria para derrubar Assad, ou mesmo, antes disso.

sexta-feira, 13 de outubro de 2017

HOLLYWOOD, PREDADORES SEXUAIS E PEDÓFILOS


A produção da indústria do cinema nos EUA está relacionada com a sexualidade perversa de Harvey Weinstein e de muitos outros. Hollywood está cheio de perversos sexuais e de pedófilos...

Pessoalmente, há muito tempo que evito ver filmes de Hollywood. O seu aparente brilhantismo vive apenas de orçamentos monstruosos.  Quanto a talento propriamente dito, há muito pouco quer a nível realizadores, quer de actores. Quanto aos efeitos especiais,  são efectivamente impressionantes, mas são produzidos em laboratório, por batalhões de técnicos anónimos. 
Por outro lado, a indústria cinematográfica dos EUA  abafa completamente a indústria doutros países e zonas do globo, conseguindo fazer com que nas salas de cinema de Portugal e de muitos outros países quase só passem filmes dessa proveniência, assim como nas televisões, inclusive em canais dedicados à «7ª arte» em exclusivo.

As feministas deveriam boicotar, com toda a energia, a indústria de Hollywood pois, não apenas a imagem da mulher aí representada é simplesmente a de um objecto sexual, como isso acontece também na realidade sórdida dos negócios de grandes empresários, como Weinstein: as actrizes que queriam ser contratadas já sabiam - e revelaram-no - que tinham de submeter-se à gula sexual deste ou de outros, que controlam o negócio. 

Uma civilização onde a dissolução moral ou ética é observável em todo o lado e onde a aceitação acrítica das pessoas permite todas as perversidades, desde que sejam perpetradas por famosos, poderosos e multimilionários... é uma civilização em decadência. Hollywood  é sintoma de que o seu fim está próximo.  

quinta-feira, 12 de outubro de 2017

ALGORITMO PARA A COMPLEXIDADE

Nassim Taleb já avançou um pedaço com as suas visões relativas às complexidades de um mundo onde não existe um determinismo, o mesmo é dizer, caótico. Porém, estamos muito longe de completar esta visão, mesmo se há homens, como Jim Rickards, a utilizarem métodos de análise derivados das teorias da complexidade.

Na sociedade globalizada, as relações não são simplesmente «horizontais» ou «verticais», mas ocorrem em vários planos simultaneamente.
Os sistemas de poder, desde a economia, às relações internacionais, atingem uma complexidade impossível de ser dominada por um ser humano, obviamente, mas mesmo por uma poderosa organização, dotada de meios de vigilância quase infinitos, como é o caso da NSA. Veja-se a este propósito o que diz o whistleblower Binney a Sarah Westhall, neste vídeo.

O dilema do local versus global, é um falso dilema, pois os dois termos são inseparáveis: nunca haverá um «global» que não seja composto de múltiplos «locais»  e nunca o que é da esfera «local» se confina estritamente a esse espaço, pois o ultrapassa no seu intercâmbio com o entorno.

Então, sem pretender ser original, que não é meu objectivo afinal, mas indo buscar à sabedoria acumulada por incontáveis gerações, sei que podemos sair de toda a teia de falsos dilemas, podemos deixar de ficar «esmagados» pela imensidão de variáveis que influem na nossa vida e do nosso entorno, desde o próximo até à longínqua galáxia…

Eis o «algoritmo» para se saber viver e «navegar» num mundo de complexidade inextricável:
 Devemos focalizar a nossa atenção, desenvolver o nosso talento em tudo o que está ao alcance; o resto, sendo real e por nós reconhecido como tal, está para lá da nossa capacidade de intervenção e compreensão aprofundada. 
A prudência ordena que não nos vamos imiscuir a tentar modificar o que está para além do domínio de competência que nos é próprio. 
Note-se que tal domínio pode ser muito vasto para certas pessoas ou muito restrito para outras. 
Por isso, também é essencial cumprir o preceito socrático «conhece-te a ti próprio».

Este algoritmo aplica-se na vida económica, por exemplo, não deve multiplicar os investimentos por «n» objectos, para além daquilo que será capaz de abarcar (imaginemos alguém que tivesse de gerir «n» propriedades, urbanas, rurais, comerciais e industriais, dispersas por todo o país… claro que não poderia ser bem sucedido, se estivesse essencialmente sozinho nessa tarefa).

Mas também se aplica a um domínio filosófico, como a discussão em torno da existência ou não de divindade. 
O alcance do espírito humano não é superior a um certo limite. 
Sendo claro que não poderá abarcar todo o universo, na sua extensão espaço-tempo, logicamente, a questão da existência ou não de Deus, do ponto de vista filosófico é uma questão sem solução. 
As pessoas fariam melhor em se debruçar sobre questões pertinentes humanamente e que, embora sem solução agora, se espera acabarão por encontrar solução, futuramente. Este questionar é o típico da ciência destes últimos três séculos que, como sabemos, teve imenso sucesso, mesmo que também tenha trazido problemas.

O leitor poderá pensar que este algoritmo, afinal, não é mais do que a aplicação do bom senso. 
Sim, mas o tal bom senso, dele todos dizem possui-lo, mas -afinal- está muito mal distribuído. 
A tal ponto que, para não confundir com uma falsa sabedoria, convencida e ignorante, prefiro inverter os termos e falar antes de «Senso Bom*».

[*titulo de colectânea inédita de ensaios filosóficos que escrevi nos anos de 1989 e 1990]


quarta-feira, 11 de outubro de 2017

UM PROJECTO FALIDO NUNCA EVITARÁ SER ARRASTADO PELAS FORÇAS CENTRÍFUGAS

Porque motivo o que se tem passado na Catalunha diz respeito à cidadania europeia no seu todo e não apenas à península Ibérica?

Temos de olhar para o quadro geral: 

1- o fiasco do projecto europeu, protagonizado pela coligação entre centristas neoliberais de esquerda (os social-democratas e socialistas) e de direita (os democratas cristãos e centristas). 
A imposição do tratado de Lisboa, após a derrota por referendo da constituição europeia, significou que o quadro institucional neste continente ficou basicamente congelado, tanto em relação a mudanças sociais, como mudanças de fronteiras. Mas este congelamento é absurdo e irrisório, porque a sociedade e as forças que a impulsionam nunca param, transformam-se sempre, numa ou noutra direcção.

2- o contexto em que surge a constituição espanhola, é o de uma negociação de cúpulas, para viabilizar a «transição»: nesta mudança de regime político, apoiada pelo grande capital espanhol e multinacional, monitorizada pelas instâncias internacionais, sobretudo a NATO (dominada pelos EUA e pelos atlantistas), todos fizeram as suas jogadas para terem um naco de poder. Foi um compromisso entre os dissidentes de última hora do franquismo e as correntes reformistas e neoliberais (inclusive PCE, PSOE...)

3- a existência de uma forte consciência da especificidade cultural própria, uma assinalável diferença na composição político-ideológica e a noção de ser contribuinte líquido crónico duma entidade estatal (o estado espanhol) que largamente desprezou (e despreza ainda, pelos vistos) o sentir e os direitos do povo.

O projecto europeu, tal como foi formulado e mantido, não faz sentido nenhum hoje. Esta contradição e aberração salta aos olhos, quando vemos o comportamento da eurocracia perante a situação criada na Catalunha.

Esta questão, embora estritamente respeite ao povo catalão e afecte os restantes povos ibéricos, não deixa de ter um papel mais geral como factor na desagregação do consentimento tácito dos governados nas «democracias» contemporâneas: as pessoas aceitam e fingem que «acreditam» no sistema, em tempos normais. Mas, quando as coisas atingem um grau intolerável de arbítrio e humilhação, dá-se um sobressalto e um repúdio da eurocracia e dos seus representantes partidários locais. 

O que está a acontecer hoje naquela parte da península hispânica, pode acontecer amanhã noutra qualquer. 
Mas, o mesmo cenário pode ocorrer em muitas outras zonas e Estados do espaço UE. 
 Todos os Estados de grande dimensão (e quase todos os de média ) possuem um certo grau de heterogeneidade étnica e linguística, o que faz com que muitas destas regiões se sintam colonizadas pelas capitais dos respectivos estados e pelos grupos que monopolizam o poder dentro destes. 

                     europe-distinct-separatist-movements




terça-feira, 10 de outubro de 2017

ONFRAY: o niilismo está nos negadores do niilismo

Uma longa conversa de Michel Onfray, sobre Thoreau e sobre Huellbecq.
Dois livros, «Viver uma vida filosófica: Thoreau o selvagem»
e «Houellebecq educador».




                                   

segunda-feira, 9 de outubro de 2017

IBÉRIA, ENCRUZILHADA DE POVOS E CULTURAS

Um grande amigo meu, José António Antunes, enviou-me um lindíssimo vídeo que fez, com base em fotografias do Alhambra de Granada, resultantes de uma recente estadia na Andaluzia. 
O seu canal do Youtube tem muitos outros vídeos, em que conjuga uma excelente fotografia, sobretudo de paisagem, com um fundo sonoro sempre adequado e de qualidade. 

                    

O envio deste vídeo inspirou-me esta crónica, num momento em que as pessoas das várias regiões da Península parecem esquecer o muito que têm de comum, para o bem e para o mal, apesar de nós vivermos numa civilização mundializada. 
O mundo transformou-se numa aldeia e todos os grandes centros se equivalem, de certa maneira. 
Claro que existem particularidades, monumentos, gentes diferentes. Mas a tecnologia, a uniformidade de costumes, vestuário, transportes, etc. faz com que, de facto, não saiamos da mesma «bolha» global. 
Neste contexto, é paradoxal e anacrónico um ressurgir dos nacionalismos.

Acho que devíamos reflectir sobre o mal que a ambição ou ganância dos poderosos fizeram ao expulsarem os Árabes do Reino de Granada - por Isabel a Católica, de Castela - e a expulsão dos judeus de Espanha e de Portugal. Sabemos  como, no reinado de D. Manuel I, tal expulsão foi acompanhada de massacres e de conversões forçadas.  
A decadência da península Ibérica começou nesse preciso momento, pouco depois de Colombo atingir a América e de Vasco da Gama chegar à Índia. 
Os árabes trouxeram uma civilização requintada, preservando muito da ciência da antiguidade, nomeadamente dos filósofos, naturalistas e matemáticos gregos. Sem dúvida, o nosso conhecimento da produção intelectual da Grécia clássica seria muito menor sem o contributo árabe. Além disso, os árabes tinham avançado em várias ciências (Álgebra, Geografia, Alquimia) muito mais do que o mundo cristão. 
Quanto aos judeus, povo sem Estado desde o primeiro século da era cristã, eles tinham uma maior protecção sob o império Otomano ou nos Reinos árabes do Norte de África, do que em quaisquer partes da cristandade ocidental. 
Mas, ainda assim, tinham sido tolerados nos reinos cristãos, após a chamada «reconquista» e estavam relativamente bem integrados na era medieval, na Ibéria. Eles tinham sinagogas, podiam exercer o seu culto, embora fossem discriminados de várias maneiras.
Os judeus forneceram a Portugal e Espanha uma elite de cientistas e de eruditos, capazes de fazer avançar várias ciências associadas com a navegação e a expansão marítima: as matemáticas, a astronomia, a geografia, a decifração de códices e manuscritos em grego, árabe e noutras línguas...
A migração forçada dos judeus deu-se para paragens menos fanáticas, mais tolerantes: a Inglaterra e a Holanda. Não será este o factor suficiente da decadência dos impérios ibéricos e da ascensão dos impérios marítimos de Inglaterra e da Holanda: mas, estou certo que este factor teve o seu peso em tal mudança.

Hoje em dia, as pessoas estão completamente esquecidas ou ignorantes da sua própria história: 
- Por exemplo, não sabem que os reinos visigóticos eram constituídos por uma elite guerreira, vinda do centro e norte da Europa, que mantinha e subjugava as populações autóctones (já convertidas ao cristianismo antes deste domínio visigótico). 
- Quase ninguém sabe que os invasores do Norte de África incluíam nas suas hostes cristãos, não obedientes ao papa, naturalmente. 
- Foi a Península Ibérica um dos principais focos de arianismo, mas quase ninguém sabe o que foi esta heresia e como foi implantada nestas terras.     

O facto de que continuem - na Ibéria - a ignorar a verdadeira história de seus povos tem consequências graves. Vai exacerbar o vírus do nacionalismo, quer seja insuflado pelos «vencedores», com as suas dinastias e reinos, sua língua e cultura... quer pelos «vencidos», os da Catalunha, do País Basco, de Andaluzia, da Galiza e de Portugal...

Assim, deve-se responsabilizar pelo crime de instigar à rivalidade entre comunidades que podiam e deviam ter boa vizinhança, tanto mais grave quanto se verifica estar correlacionado com actos violentos, os que, nos Estados Ibéricos (português e espanhol), descrevem a História de seus países de modo a perpetuar mitos de força e glória nas mentes das crianças e adolescentes; estes não têm, praticamente, outra fonte para conhecerem o seu passado. 
Quando alguns se rebelam contra o poder central, fazem-no muitas vezes hipertrofiando momentos da História em que a sua etnia, a sua cultura, foi brilhante, dando crédito a uma contra-História, tão mítica e enviesada como a História oficial.

A causa da paz e do entendimento entre os povos só ganharia em que a História de cada povo, de cada nação, deixasse de ser leccionada do modo como tem sido, reforçando estereótipos, avivando sentimentos bélicos em relação a vizinhos: nomeadamente, os povos do Norte da África, além de todos os povos da Ibéria.
Aprendemos muito com nossos vizinhos, trocámos mercadorias, participámos em empresas comuns, sofremos sob os mesmos opressores, participámos iludidos ou contrariados nas mesmas aventuras coloniais, etc. 
Além do mais, também casámos e procriámos e portanto, partilhamos um fundo genético ao nível das populações. Eis um facto hoje incontestável, com o extraordinário desenvolvimento das técnicas de ADN; mas, desde há muitas décadas, já era conhecido de biólogos populacionais e demógrafos. 

sexta-feira, 6 de outubro de 2017

PROFECIAS AUTO-REALIZADAS?

Será que o facto de se esperar que um dado acontecimento ocorra (e afirmá-lo), aumenta a probabilidade deste mesmo ocorrer? Será que por se gritar «vem aí o lobo!» ele acaba por vir?

Estas interrogações vêm a propósito da guerra anunciada dos EUA com a Coreia do Norte, que certos arautos de um imperialismo sem limites, não se cansam de chamar. 
Estes têm interesse em fazer com que esta guerra rebente.
Veja-se a situação completamente artificial nos EUA: 
 - uma economia fracamente produtiva, realmente dependente de importações daqueles que - oficialmente - são potência rival, para não dizer inimiga (R. P. China); 
- uma finança completamente distorcida por uma dívida monstruosa, impagável, com tendência para se acumular e nenhum incentivo a qualquer medida de contenção; 
- com o prestígio dos EUA completamente de rastos, quer pela patética prestação de Trump enquanto presidente, quer sobretudo, da errática estratégia de Washington em que grupos rivais no Estado profundo se degladiam, ora levando a melhor um sector, ora outro.

Por outro lado, a ascensão dos BRICS e sobretudo da China, tem como corolário a descida do dólar e, em especial do petrodólar, a moeda reserva mundial, que é um dos sustentáculos da política dos EUA, sendo o outro o seu enorme poderio militar. 

Mesmo no campo estritamente militar, as guerras eternas em que os EUA se envolveram (e envolveram seus aliados da NATO) no Médio-Oriente, nada corre bem. Estes fracassos mostram que a força militar, por mais poderosa que seja, não é capaz de tudo: está limitada pela sua incapacidade em ser vitoriosa contra forças de guerrilha, desde que estas estejam determinadas e tenham uma base real na população onde actuam.


Jim Rickards é um homem familiarizado com as altas esferas da finança (FMI, etc.), do complexo militar (Pentágono) e dos serviços de informação (CIA): 
Por isso, preocupa-me esta  entrevista dada por Jim Rickards a Greg Hunter
Avisa sobre a alta probabilidade da Coreia do Norte disparar um novo míssil, aquando do aniversário (10 de Outubro) do partido comunista Norte-coreano. 
Igualmente preocupantes são os exercícios militares planeados pela Coreia do Sul para 21 deste mês. 
Rickards vê uma janela entre 10 e 21 de Outubro, em que algo poderá acontecer. É verdade que ele não deseja que algo aconteça, mas está - de certa maneira - a avisar o seu público, sobretudo do mundo dos negócios.  
Embora ele não o afirme taxativamente, o facto é que nestas ocasiões, se as forças do Estado profundo quiserem, elas podem accionar um ataque de falsa bandeira, como o tem feito noutros momentos.
Não serão as pessoas em torno do presidente Trump, nem ele próprio, que irão fazer recuar os «neocons» nos seus intentos, como aliás vimos, com a comédia da suposta interferência da Rússia na eleição de Trump. 
Hoje, é por demais evidente que se tratava de um estratagema para colocar embaraços ao presidente eleito, logo a seguir à sua eleição, como aviso de que ele não conseguiria realizar nada, a não ser que aceitasse seguir, no essencial, a estratégia desse mesmo «Estado profundo»...
Seria bom que houvesse consciência internacional de que há forças interessadas em desencadear uma guerra «a quente», não apenas com a Coreia do Norte, pois pensam -loucamente - que há reais hipóteses de que uma tal guerra possa ser vitoriosa para o «Ocidente». 
Sabemos, infelizmente, que há mais hipóteses de que, partindo de uma guerra dita «limitada», se possa chegar a um holocausto nuclear, que eliminará a civilização e talvez até a vida na Terra.

quinta-feira, 5 de outubro de 2017

COMO É CALCULADO O ÍNDICE DE INFLAÇÃO?

Esta reflexão ocorreu-me pela leitura dum excelente artigo de Charles Hugh Smith, intitulado «tenha cuidado sobre o que deseja». Com efeito, no supracitado artigo demonstra que o índice de inflação para os EUA está completamente dissociado da realidade. Os valores descontam toda uma série de factores de aumento de preço em produtos diversos. Por exemplo, novos carros vêm com melhorias ao nível de sistemas de segurança e de vários acessórios, sendo benefícios reais e como tal contabilizados nesse sistema de avaliação de preços, mas realmente trata-se de um cálculo artificioso, pois pura e simplesmente o comprador do carro novo não tem a opção - em muitos casos - de comprar o tal novo modelo, mas por menos uns 10 mil dólares e sem os tais benefícios que estavam ausentes na série anterior. Esse mesmo fenómeno é geral e notório em equipamentos electrónicos e computadores. Os que calculam os preços descontam sistematicamente a parte no preço que eles estimam ser devida a inovações incorporadas no novo produto, por comparação com o anterior. Os casos mais escandalosos são os dos custos da saúde e dos estudos. Como se estes factores não tivessem uma incidência elevada nas despesas das famílias. Dirão que o fenómeno é mais preocupante num país como os EUA, onde a saúde é cara, essencialmente entregue a companhias de seguros privadas, onde as universidades também são privadas e cobram somas abismais para um ensino nem sempre de grande qualidade. Sim, é verdade. Mas na Europa e em Portugal, as mesmas coisas ocorrem, os mesmos aumentos para os mesmos serviços, com a única diferença que, neste país,  muito mais pobre que aquilo que se costuma pensar quando se invoca «a Europa», um número impressionante de pessoas não tem sequer real acesso a saúde de qualidade e o número dos que frequentam o ensino até ao nível de licenciatura ou mais é muito menor, do que nos restantes países do «espaço euro». 

O valor da inflação em Portugal é uma construção dos governos e administrações, um fraco reflexo, ou mesmo uma completa ficção, daquilo que os portugueses comuns experimentam no dia a dia. Porém, este «índice» estabelece uma série de valores de aumentos, desde as pensões até aos ordenados da função pública. É com base neste índice que são calculados os aumentos das rendas de casa, ou as prestações sociais. 
Por causa deste número fictício e completamente manipulado, o próprio PIB é calculado usando como índice «deflator», um valor muito menor do que deveria ser, permitindo exibir uma ligeira progressão, quando, na verdade, o país se encontra em depressão há vários anos a esta parte.  

A tabela abaixo, retirado desta página, mostra como as inflações mensais são tão erráticas, o que não deixa de colocar várias interrogações. 

Tabelas - IPC Portugal actuais e histórico

IPC PT últimos meses

 períodoinflação
 agosto 20171,136 %
 julho 20170,902 %
 junho 20170,909 %
 maio 20171,451 %
 abril 20171,979 %
 março 20171,370 %
 fevereiro 20171,553 %
 janeiro 20171,331 %
 dezembro 20160,878 %
 novembro 20160,575 %

IPC PT últimos anos

 períodoinflação
 agosto 20171,136 %
 agosto 20160,724 %
 agosto 20150,658 %
 agosto 2014-0,359 %
 agosto 20130,153 %
 agosto 20123,077 %
 agosto 20112,906 %
 agosto 20101,980 %
 agosto 2009-1,330 %
 agosto 20083,015 %

Outros números de inflação

 países/regiõesinflaçãoperíodo
 IHPC DE1,789 %agosto 2017
 IHPC BE1,998 %agosto 2017
 IHPC EUR1,497 %agosto 2017
 IHPC FR0,993 %agosto 2017
 IHPC NL1,500 %agosto 2017
 IPC BE2,009 %setembro 2017
 IPC US1,939 %agosto 2017
 IPC NL1,400 %agosto 2017
 IPC JP0,602 %agosto 2017
 IPC RU3,293 %agosto 2017


A primeira das quais é saber se, sendo o país largamente importador, que efeito terão as oscilações doutras divisas e das suas cotações, relativamente ao euro. Verifica-se, se colocarmos em paralelo uma tabela com cotações do euro em dólares, em libras ou noutras moedas, que existe um maior aumento da inflação quando o euro em sido mais forte em relação a todas as moedas com as quais Portugal faz comércio frequente (ver valores de Agosto de 2017, em que a cotação do euro atingiu um máximo em relação ao dólar). Isto é bastante insólito. 
A segunda interrogação incide sobre as oscilações importantes de inflação de um mês para o outro: não sabemos se os cálculos contemplam a existência, ou não, de fatores corretivos devidos à sazonalidade de certas despesas (por exemplo, gabardinas em Agosto ou artigos de praia em Dezembro). A terceira interrogação e talvez a mais importante é a que tem a ver com a ausência completa de referências sobre os critérios e procedimentos estatísticos utilizados. 
Provavelmente, uma pessoa muito interessada, poderá pedir ao INE (Instituo Nacional de Estatística) algumas informações sobre os critérios usados para cálculo do índice de inflação. Mas, a imensa maioria contenta-se em aceitar o «dado» de que a «inflação de Agosto de 2017 foi de 1,136%» coisa que é impossível de validar ou de invalidar. É decretada assim, sendo todos os cálculos (pelo menos os oficiais) baseados nestes dados numéricos. 
Daqui decorrem duas consequências importantes: como estes dados estão geralmente fora da realidade e enviesados no sentido de diminuírem o valor real da inflação, as pessoas vão perdendo poder de compra, vão sentindo cada vez maior aperto  mas não sabem ao certo o que se passa. Têm a sensação vaga do seu ordenado ou pensão valer cada vez menos, mas sem - porém - poderem relacionar com os dados mais gerais da situação económica. 
Outra consequência: as pessoas podem ouvir que a situação do país está a melhorar e que - por azar - elas estão pior, mas que a situação das pessoas terá melhorado, em média. Satisfaz portanto o papel de propaganda discreta do governo e de contenção das despesas do mesmo, em relação a obrigações do Estado, desde pensões e prestações sociais, até aos ordenados dos funcionários. 

De facto, estes números são tão falsos em relação à realidade económica das famílias e das empresas - do país em geral - como eram os dados estatísticos do bloco soviético, na era da guerra fria (nos anos 50 a 80 do século passado). 
O facto de economistas e investigadores se basearem em dados completamente falseados mostra até que ponto a economia não é uma ciência, mas apenas um discurso feito à medida das necessidades de justificar este ou aquele discurso de poder, como esclareci em detalhe aqui.

A nossa capacidade em tomar decisões acertadas, quer ao nível pessoal, quer ao nível de empresas, está completamente dependente da nossa capacidade em avaliar com justeza a dinâmica da situação económica, seja a um nível global, regional ou nacional. Se tais instrumentos forem escamoteados ou falseados, é inevitável que as pessoas cometam erros de avaliação, tanto maiores quanto mais forte for a sua crença na propaganda disfarçada em «factos económicos», produzida pelas agências governamentais  ou afins.

O cálculo dos índices de inflação, é - em resumo - uma enorme trapaça, servida pelos governos, para enganar as pessoas comuns, os «servos da gleba» modernos.