Nesta sessão do dia 3 de Novembro, vamos apresentar na Fábrica de Alternativas de Algés o trabalho de José António Antunes que fez , com a Tertúlia Liberdade, uma notável reportagem, há cerca de 3 anos, sobre os movimentos sociais no campo, na Andaluzia. O principal protagonista desta gesta é o Sindicato de Obreros del Campo (SOC), um sindicato autogestionado e que tem baseado as suas acções em El Coronil e em Marinaleda.
Vamos portanto saber como um sindicato autogestionado, em assembleia com toda a população, pode organizar, não apenas os momentos de luta, como também a produção, os espaços de habitação e o quotidiano de milhares de pessoas.
Um grande amigo meu, José António Antunes, enviou-me um lindíssimo vídeo que fez, com base em fotografias do Alhambra de Granada, resultantes de uma recente estadia na Andaluzia.
O seu canal do Youtube tem muitos outros vídeos, em que conjuga uma excelente fotografia, sobretudo de paisagem, com um fundo sonoro sempre adequado e de qualidade.
O envio deste vídeo inspirou-me esta crónica, num momento em que as pessoas das várias regiões da Península parecem esquecer o muito que têm de comum, para o bem e para o mal, apesar de nós vivermos numa civilização mundializada.
O mundo transformou-se numa aldeia e todos os grandes centros se equivalem, de certa maneira.
Claro que existem particularidades, monumentos, gentes diferentes. Mas a tecnologia, a uniformidade de costumes, vestuário, transportes, etc. faz com que, de facto, não saiamos da mesma «bolha» global.
Neste contexto, é paradoxal e anacrónico um ressurgir dos nacionalismos.
Acho que devíamos reflectir sobre o mal que a ambição ou ganância dos poderosos fizeram ao expulsarem os Árabes do Reino de Granada - por Isabel a Católica, de Castela - e a expulsão dos judeus de Espanha e de Portugal. Sabemos como, no reinado de D. Manuel I, tal expulsão foi acompanhada de massacres e de conversões forçadas.
A decadência da península Ibérica começou nesse preciso momento, pouco depois de Colombo atingir a América e de Vasco da Gama chegar à Índia.
Os árabes trouxeram uma civilização requintada, preservando muito da ciência da antiguidade, nomeadamente dos filósofos, naturalistas e matemáticos gregos. Sem dúvida, o nosso conhecimento da produção intelectual da Grécia clássica seria muito menor sem o contributo árabe. Além disso, os árabes tinham avançado em várias ciências (Álgebra, Geografia, Alquimia) muito mais do que o mundo cristão.
Quanto aos judeus, povo sem Estado desde o primeiro século da era cristã, eles tinham uma maior protecção sob o império Otomano ou nos Reinos árabes do Norte de África, do que em quaisquer partes da cristandade ocidental.
Mas, ainda assim, tinham sido tolerados nos reinos cristãos, após a chamada «reconquista» e estavam relativamente bem integrados na era medieval, na Ibéria. Eles tinham sinagogas, podiam exercer o seu culto, embora fossem discriminados de várias maneiras.
Os judeus forneceram a Portugal e Espanha uma elite de cientistas e de eruditos, capazes de fazer avançar várias ciências associadas com a navegação e a expansão marítima: as matemáticas, a astronomia, a geografia, a decifração de códices e manuscritos em grego, árabe e noutras línguas...
A migração forçada dos judeus deu-se para paragens menos fanáticas, mais tolerantes: a Inglaterra e a Holanda. Não será este o factor suficiente da decadência dos impérios ibéricos e da ascensão dos impérios marítimos de Inglaterra e da Holanda: mas, estou certo que este factor teve o seu peso em tal mudança.
Hoje em dia, as pessoas estão completamente esquecidas ou ignorantes da sua própria história:
- Por exemplo, não sabem que os reinos visigóticos eram constituídos por uma elite guerreira, vinda do centro e norte da Europa, que mantinha e subjugava as populações autóctones (já convertidas ao cristianismo antes deste domínio visigótico).
- Foi a Península Ibérica um dos principais focos de arianismo, mas quase ninguém sabe o que foi esta heresia e como foi implantada nestas terras.
O facto de que continuem - na Ibéria - a ignorar a verdadeira história de seus povos tem consequências graves. Vai exacerbar o vírus do nacionalismo, quer seja insuflado pelos «vencedores», com as suas dinastias e reinos, sua língua e cultura... quer pelos «vencidos», os da Catalunha, do País Basco, de Andaluzia, da Galiza e de Portugal...
Assim, deve-se responsabilizar pelo crime de instigar à rivalidade entre comunidades que podiam e deviam ter boa vizinhança, tanto mais grave quanto se verifica estar correlacionado com actos violentos, os que, nos Estados Ibéricos (português e espanhol), descrevem a História de seus países de modo a perpetuar mitos de força e glória nas mentes das crianças e adolescentes; estes não têm, praticamente, outra fonte para conhecerem o seu passado.
Quando alguns se rebelam contra o poder central, fazem-no muitas vezes hipertrofiando momentos da História em que a sua etnia, a sua cultura, foi brilhante, dando crédito a uma contra-História, tão mítica e enviesada como a História oficial.
A causa da paz e do entendimento entre os povos só ganharia em que a História de cada povo, de cada nação, deixasse de ser leccionada do modo como tem sido, reforçando estereótipos, avivando sentimentos bélicos em relação a vizinhos: nomeadamente, os povos do Norte da África, além de todos os povos da Ibéria.
Aprendemos muito com nossos vizinhos, trocámos mercadorias, participámos em empresas comuns, sofremos sob os mesmos opressores, participámos iludidos ou contrariados nas mesmas aventuras coloniais, etc.
Além do mais, também casámos e procriámos e portanto, partilhamos um fundo genético ao nível das populações. Eis um facto hoje incontestável, com o extraordinário desenvolvimento das técnicas de ADN; mas, desde há muitas décadas, já era conhecido de biólogos populacionais e demógrafos.