É verdade que Verlaine foi buscar o título «Romances sans Paroles» a uma célebre recolha de peças de Mendelssohn para piano.
Porém, não me parece que haja muito mais do que uma importação de título, neste caso.
Pelo contrário, já a atmosfera das três peças de Gabriel Fauré, intituladas do mesmo modo e publicadas posteriormente à recolha de poemas de Paul Verlaine (recolha de poemas agrupados em três partes), se coaduna com a atmosfera de poesias de Verlaine, não apenas de «Romances Sans Paroles», como de outras recolhas.
O impressionismo musical foi buscar tanto ao impressionismo pictórico quanto aos poetas «parnassianos», do qual Verlaine foi o expoente.
A musicalidade dos versos de Verlaine inspirou muitos músicos a musicarem os mesmos.
Se a poesia é toda ela música, não existe, a meu ver, poeta mais musical, em língua francesa.
Romances sans paroles de G. Fauré
Green
Voici des fruits, des fleurs, des feuilles et des branches Et puis voici mon coeur qui ne bat que pour vous. Ne le déchirez pas avec vos deux mains blanches Et qu'à vos yeux si beaux l'humble présent soit doux.
J'arrive tout couvert encore de rosée Que le vent du matin vient glacer à mon front. Souffrez que ma fatigue à vos pieds reposée Rêve des chers instants qui la délasseront.
Sur votre jeune sein laissez rouler ma tête Toute sonore encore de vos derniers baisers ; Laissez-la s'apaiser de la bonne tempête, Et que je dorme un peu puisque vous reposez.
Soleils couchants
Une aube affaiblie Verse par les champs La mélancolie Des soleils couchants. La mélancolie Berce de doux chants Mon coeur qui s'oublie Aux soleils couchants. Et d'étranges rêves, Comme des soleils Couchants, sur les grèves, Fantômes vermeils, Défilent sans trêves, Défilent, pareils A de grands soleils Couchants sur les grèves.
Art poétique
De la musique avant toute chose, Et pour cela préfère l’Impair Plus vague et plus soluble dans l’air, Sans rien en lui qui pèse ou qui pose.
Il faut aussi que tu n’ailles point Choisir tes mots sans quelque méprise : Rien de plus cher que la chanson grise Ou l’Indécis au Précis se joint.
C’est de beaux yeux derrière des voiles, C’est le grand jour tremblant de midi ; C’est par un ciel d’automne attiédi, Le bleu fouillis des claires étoiles !
Car nous voulons la Nuance encor, Pas la couleur, rien que la Nuance ! Oh ! la nuance seule fiance Le rêve au rêve et la flûte au cor !
Fuis du plus loin la Pointe assassine, L’Esprit cruel et le Rire impur, Qui font pleurer les yeux de l’Azur, Et tout cet ail de basse cuisine !
Prend l’éloquence et tords-lui son cou ! Tu feras bien, en train d’énergie, De rendre un peu la Rime assagie. Si l’on y veille, elle ira jusqu’où ?
Ô qui dira les torts de la Rime ! Quel enfant sourd ou quel nègre fou Nous a forgé ce bijou d’un sou Qui sonne creux et faux sous la lime ?
De la musique encore et toujours ! Que ton vers soit la chose envolée Qu’on sent qui fuit d’une âme en allée Vers d’autres cieux à d’autres amours.
Que ton vers soit la bonne aventure Éparse au vent crispé du matin Qui va fleurant la menthe et le thym… Et tout le reste est littérature.
A figura de Marine le Pen surge -por muito triste que isto seja - como uma tábua de salvação a muitos eleitores franceses, face à enorme podridão moral que infesta toda a casta política gaulesa.
Como cidadão francês, causa-me especial nojo pensar que os socialistas abrigaram Cahuzac, o ministro das finanças, encarregue de perseguir pessoas culpadas de evasão ao fisco, sendo ele próprio um «belo» exemplo dessa mesma evasão! Ou agora, o candidato da direita, dita «civilizada» (supostamente republicana e gaullista), Fillon, que dá o exemplo de «combate ao desemprego» recrutando sua esposa e filhos em empregos fictícios, pela bagatela dum milhão de euros subtraídos ao erário público!
Lamento dizê-lo, mas não existe possibilidade de outro desfecho senão a eleição de Marine le Pen. Não há hipótese de um sobressalto popular, pois o povo miúdo sente-se traído por um partido de «esquerda» que esqueceu completamente as suas raízes operárias e embarcou numa deriva de subserviência canina ao grande capital, ao imperialismo.
Agora, parece-me inevitável que, em França, seja eleita como presidente alguém da extrema-direita.
Este processo é «exemplar do que se não deve fazer». Os partidos tradicionais de esquerda e direita, com o seu comportamento deram a aparência de legitimidade à extrema-direita.
Esta aparência de legitimidade foi potenciada pela política-espetáculo (= endoutrinamento massivo dos eleitores pela mass-media e sistema estatal), a qual foi habilmente utilizada pela extrema-direita, o que não surpreende, pois os seus inspiradores (Mussolini, Hitler, entre outros...) eram mestres em propaganda.
O resultado está aqui:
Daqui a uns dias, o score para a faixa etária dos 18-35 anos será ainda mais negativo para os políticos «convencionais» e melhor para a candidata de extrema-direita.
Remeto para o meu artigo de 18 de Janeiro deste ano.
Escrevo isto com imenso pesar, porém sem aligeirar as responsabilidades das pessoas, organizações e dirigentes «de esquerda»!
O QUE CARACTERIZA A EVOLUÇÃO/CAPITULAÇÃO DA ESQUERDA NESTE
SÉCULO É A SUA TOTAL RENDIÇÃO À POLÍTICA IDENTITÁRIA E TER DESERTADO O TERRENO DAS LUTAS DE CLASSE.
ABAIXO, PONTOS DE VISTA CONVERGENTES SOBRE A ESQUERDA PELOS AUTORES Iman Safi e Paul Craig Roberts
«To say that the Western “left” merged into the establishment would be an
understatement. If anything, it underpinned the establishment’s position by
setting itself up as one of its corner stones. In more ways than one, the
“left” in the West did not only merge into the so-called “Imperial Empire” it
was meant stand up against, but also became its face and organ. It was no
longer a force for the kind of change that was initially promised and expected,
and thus has inadvertently lost its stature and very definition of being
“left”.» (Iman Safi)
«The liberal/progressive/left is demonstrating a mindless hatred of the American
people and the President that the people chose. This mindless hatred can
achieve nothing but the discrediting of an alternative voice and the opening of
the future to the least attractive elements of the right-wing.» (Paul Craig Roberts)
A cegueira da «esquerda» em relação aos crimes de guerra e
contra a humanidade de Obama e seus antecessores, o embarcar em campanhas de
ódio e de deslegitimação do novo presidente dos EUA; no caso da Europa, a
intervenção criminosa na guerra imperialista de agressão contra a Líbia e o
apoio a terroristas apelidados de «rebeldes» na Síria... depois vertendo lágrimas
de crocodilo sobre os refugiados.
A esquerda está completamente
desautorizada. Não tem nenhuma legitimidade moral (aqui, ou do outro lado do
Atlântico) para falar de defesa dos direitos humanos.
A sua política é vesga; o
seu pacifismo é vesgo; a sua preocupação humanitária é vesga.
A esquerda está a
entregar o «palco político» à direita, conservadora, xenófoba, nalguns casos
fascizante, porque as pessoas encontram nesta mais bom senso e uma defesa dos seus
interesses.
A política identitária substituiu-se completamente à política de
classe. A direita não se tornou mais inteligente e mais populista; a esquerda é
que se tornou mais estúpida e mais elitista.
A elite do poder e do capital só tem uma verdadeira preocupação: sobreviver!
A técnica apurada de lançar sucessivos casos com que entreter a opinião pública, generosa, mas crédula, tem-se verificado nos últimos tempos... basta pensar em toda a histeria inflamada pela media (ao serviço da elite) em torno da eleição de Trump, ou nas inúmeras reportagens sobre os refugiados que são retidos nas fronteiras da Europa (refugiados causados pela destruição de países, pela NATO e seus aliados do Estado Islâmico, Al Quaida, e outros... como está mais que provado).
Assim a extrema direita ou extrema esquerda têm «água para o seu moinho»... Mas o principal não é colocado nas primeiras páginas dos jornais! Isso é cuidadosamente mantido nos segmentos de negócios e nas publicações especializadas em finanças. Falo do maior ataque à liberdade nos países «ocidentais», mas que ninguém considera como grave. O plano agora até já é oficial, na UE, mas não emociona as «massas» entretidas com causas humanitárias que parece terem sido infladas a preceito para que não olhem para onde deveriam olhar!
Trata-se de banir o «cash», o que já está em curso pela impossibilidade de se pagar somas em «cash» para além de um certo montante, variando de país para país. A fase seguinte é o desaparecimento de notas de elevado valor. Veja-se o caso da Índia; funcionou como balão de ensaio.
A oligarquia que nos rege diz que se trata de banir o «cash» para evitar a evasão fiscal e melhor lutar contra o terrorismo. Esta falsidade já foi desmontada por mim aqui, assim como por outros autores, porém este assunto não tem eco nenhum nos media, porque o que se vê são transcrições acríticas das decisões das «autoridades monetárias e outras». Volto a insistir porque quando os poderes apresentam uma coisa como sendo em benefício da população é preciso desconfiar. Neste caso há vastas razões fundamentadas de desconfiar, pois a luta contra a evasão fiscal é simplesmente uma anedota, estes anos todos, em que os muito ricos (incluindo governantes) têm contas off-shore em paraísos fiscais, com pleno conhecimento das autoridades fiscais, policiais e judiciais!
Quanto ao combate ao terrorismo: acabem com o apoio em armas, material, fundos etc. ao ISIS e outros grupos e deixem de chamá-los «rebeldes moderados», podiam ter feito isso desde 2014 pelo menos, teriam evitado a tragédia da Síria. Já agora, expliquem-me porque votaram a Arábia Saudita (culpada de crimes de guerra contra os civis no Iemen!) para presidir à comissão dos direitos humanos da ONU???
São «pequenos» factos como estes que lhes «destapam a careca»... espero as pessoas de boa fé deixem de ser enganadas!
O problema de a totalidade das transações ser feita electronicamente é o seguinte: os governos vão ter um controlo a 100% SOBRE O QUE CADA CIDADÃO FAZ OU DEIXA DE FAZER. Ou seja, o sonho molhado de qualquer TOTALITARISMO. Pior ainda: vão poder «matar economicamente», bloqueando o acesso às SUAS contas bancárias, qualquer indíviduo suspeito de «terrorismo»: pode ser qualquer pessoa, basta uma denúncia anónima... Tu, leitor/a, podes estar a ser discretamente investigado/a, as tuas contas devassadas, os teus mails lidos, os teus telefonemas escutados...sem saberes rigorosamente nada sobre isso.
Esta mortal ameaça à liberdade está a pairar sobre todos nós, assim a elite globalista terá maior controlo, garantindo a transição para o GOVERNO DA NOVA ORDEM MUNDIAL.
É certo que eles não o instalam de uma só vez, este processo está em curso... fazem-no discreta e camufladamente.