Se quiser saber porque uma boa parte da Humanidade considera que os EUA é governado por loucos senis (tanto Trump como Biden), leia o seguinte artigo de Philip Giraldi! https://www.unz.com/pgiraldi/in-america-its-another-week-to-be-proud-of/

sábado, 28 de janeiro de 2017

UMA «REVOLUÇÃO COLORIDA» ESTÁ EM CURSO, DESTA VEZ NOS EUA?

A violenta e incessante campanha, em todas as frentes, para deslegitimar Donald Trump, como 45º presidente dos EUA, está em curso, desde o momento da sua eleição e continua agora, para além da sua tomada de posse.
Como de costume, nas «revoluções coloridas» anteriores, as massas são manipuladas pelas ONGs ao serviço de interesses ocultos, financiadas discretamente por fundações Soros e outras. A própria CIA tem uma postura sediciosa, ao tomar a iniciativa de investigar pessoas altamente colocadas, da confiança do actual presidente. 
Não ficaria surpreendido se Donald Trump fosse deposto por um golpe palaciano. Não sei, de facto, qual o processo que irão utilizar, irão recorrer a todos os artifícios para fazer valer um «impeachment». 
Lamento o que acontece. Não por ter alguma simpatia pela política ou pela personagem de Trump. Mas porque sei que os neo-cons - instalados no «Estado profundo»-  estão interessados em verem-se livres de Trump para levar a cabo a sua política criminosa, belicista, e que irá fatalmente desembocar numa guerra mundial.
Esta realidade é obscurecida pela enorme onda de propaganda que serve sobretudo para neutralizar as massas de «esquerda». Elas estão a ser usadas como massa de manobra para alcançar objectivos dos quais não têm a mínima consciência
Foi assim, aliás, que muitos ucranianos fartos da corrupção no seu país, foram utilizados como massa de manobra para o golpe levado a cabo por neo-fascistas, em Kiev, com o apoio ativo de serviços secretos ocidentais.
A inteligência é não nos deixarmos embarcar por campanhas políticas de uns e de outros. 
As facções políticas conseguem fazer os seus golpes e manobras sujas, graças à inconsciência e impreparação de muitas pessoas generosas, mas iludidas, incapazes de ver o que se passa por detrás dos panos de cena.

Oxalá eu me engane, mas tenho tido lucidez bastante para prever, em textos anteriores a 2008, a ascenção da extrema-direita e a desagração das esquerdas, transformadas em meros peões dos grandes interesses corporativos. 
Também tive a lucidez para ver que a «Obama-mania»,  desde a sua primeira eleição, era completamente vazia de fundamento, sendo o «reinado» do anterior presidente o mais anti-paz no mundo que jamais existiu, nem sequer sendo favorável aos pobres do seu país, que ficaram em desemprego ou emprego precário, enquanto o seu mandato foi uma benesse para os muito ricos.
Previ, contra todos os vaticínios à minha volta, que o referendo pela saída do Reino Unido iria ser uma enorme derrota para o establishment britânico e da União Europeia. 
Por fim, devido a ter compreendido o porquê da campanha mediática contra Trump, estimei que este tinha reais hipóteses de ser eleito e disse-o em várias ocasiões.
Posso estar errado, mas parece-me que na Europa também, uma «esquerda pós-moderna» arrimada a um modelo de ativismo segundo «campanhas» identitárias, completamente divorciada das classes laboriosas, vai cair na mesma armadilha que a esquerda dos EUA, preparando o terreno para que Marine Le Pen e seus adeptos vençam as eleições.

Se assim fôr, o mais certo é que seremos nós a sofrer na pele as consequências da estupidez de outros!



ERIC SATIE: «LES OISEAUX» + MANUEL BANET: TRANSFIGURAÇÃO E INÉDITOS DE 1987





TRANSFIGURAÇÃO

O azul nascente do céu
Recobre de um véu
O corpo imaterial,
Imenso, imortal,
Do passado e do futuro
Ignoto.


VERSOS TRAZIDOS DE UM POÇO

Eu fui ao fundo do poço,
do poço do meu ser
e trouxe um lírio roxo,
roxo pra me conhecer.

O que pode uma vontade
de ferro em brasa?
Poderá varrer tua vaidade
de ter dos anjos a asa?

Não creio que me iludam
as lágrimas e os suspiros
Pois, quando os ventos mudam,
mudam-se dos meus retiros.
  

OS CORVOS DA MADRUGADA

Corvos brancos do mar
Tendes asas pra voar
No meio da tempestade

E eu, do cais
húmido do desejo
vos vejo, vos oiço...

Ó meus corvos negros
da madrugada!     


sexta-feira, 27 de janeiro de 2017

O CORPO E A PAISAGEM (POEMA INÉDITO DE 1978)

O CORPO E A PAISAGEM*




Na rota do Sol luzente
Astro sempre escuro
Segue um cortejo de anjos
Anunciando a aurora
Que se adivinha
E surge repentinamente
Em todo o seu esplendor





Na brisa misturam-se os cantos das aves
O rumor das árvores sussurrando ao pé do rio
Guinchos pacientes de uma nora
As vozes dos galos e das lavadeiras
Vibram como ecos longínquos
Que o vento transporta longe

Terra de barro queimado
Teus pomares são frescura remanescente
Tuas casas guardam segredos jamais contados


Da chaminé caiada ergue-se
Uma espiral de fumo branco
Uma prece de povo humilde
Lançada ao céu azul de chumbo

Aqui a transparência do ar recorta
As sombras como se fossem o duplo dos objectos
Não há mistério ... só beleza imóvel




Jardim de musgo e  vento
Água morta peixes silenciosos
Guardais segredos antigos
Como a pedra os seus gemidos
Quem poderá cantar o perfume
Das laranjeiras em flor?

Numa tarde quente de Verão
Afundado no prazer contemplativo
Sequioso mas não de água
Apenas da luz de uma estrela
Que se remira no riacho
Cristalino de teus olhos


  



Paisagem de penedos
Musgo ruço sobre cinzento
Verdes dourados de ramagens
Aqui e acolá telhados
Apoiados na aspereza da rocha
Um oratório na curva do caminho pedregoso

Há fogueiras no horizonte
Abrasam a planície de ouro e vinho
Minha terra entre rochas e troncos retorcidos
Sabem a sal, a dor, os teus frutos




Sabor de sombra e de Sol
Maçãs de ouro frutos da China
Abris vosso perfume na noite
Enchendo o ar de fragores suaves
Assim te quero no amor
Frescura
Sumo brotando da pele lustrosa
Fruto ardente do desejo




Entre o céu e a terra
Jardim de sombras misteriosas
Gotas de orvalho
Luar caindo sobre o olival
Olhos espreitam fulgentes
Grilos cantando na noite

Afago o teu corpo docemente
Te amando pela noite fora
Até ao amanhecer
Sem tréguas

Como a onda no mar





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*Este poema longo abre o volume «Lábios do Vento», livro inédito de poemas escritos entre 1978 e 1982.

quinta-feira, 26 de janeiro de 2017

OBJECÇÃO DE CONSCIÊNCIA E PACIFISMO

A lei que estabelece a objecção de consciência ao serviço militar é a própria constituição portuguesa. 
Porém, este direito fundamental, associado a outros direitos fundamentais como o de pensamento e de religião, foi parcialmente esvaziado de conteúdo pelas legislações que vieram «regulamentar» esse tal direito. 
A objeção de consciência - uma vez reconhecida - implica um serviço cívico em substituição do serviço militar obrigatório. Ora, embora não existindo obrigatoriedade desse serviço actualmente, considerar o direito à objecção de consciência como um «direito vazio» seria um grave erro.

Tenho refletido e lido alguns estudos. Tenho ideias a esse respeito, que quero partilhar convosco.

1- Temos de afirmar esse direito consitucional, para nós enquanto indivíduos, seja em que circunstância for. 
Se as condições internacionais fizerem com que Portugal se veja envolvido em conflito armado ou se as autoridades acharem que a situação é suficientemente grave, irão repor o serviço militar obrigatório. Quaisquer pessoas sinceramente pacifistas, seja por motivos de convicções religiosas ou filosóficas, terão a maior dificuldade em fazer reconhecer nessa altura o seu direito de objeção de consciência, na prática.
A objecção de consciência em relação aos deveres militares faz todo o sentido, independentemente de haver ou não serviço militar obrigatório para todos os(as) cidadãos (cidadãs) em idade de serem recrutados(as). 
A obtenção do estatuto de objector protege-nos de sermos forçados(as) a pegar em armas, amanhã.

2- A objecção fiscal a gastos com as forças armadas, no quadro da objeção de consciência.
A objecção fiscal às despesas militares (as quantias astronómicas que são absorvidas em orçamentos militares é uma questão grave na atualidade), deveria ser logicamente reconhecido como extensão do direito de objecção de consciência.
 Infelizmente, os políticos, os professores de direito e todas as pessoas imbuídas de idolatria pelo Estado, consideram a casta militar como «indispensável à soberania nacional», coisa que de facto não é, se é que jamais foi. 
Hoje em dia, em Portugal, certamente que não o é, pois está reduzida ao triste papel de instrumento do imperialismo para manter a sua «ordem» e para garantir internamente que não haja «subversão» de qualquer espécie. As forças armadas exercem, sem dúvida nenhuma, uma função de opressão e em clara violação do que a própria constituição institui na matéria. 
Penso ser totalmente incoerente reconhecer-se o direito dos objectores não participarem no serviço militar e - no mesmo momento - exigir dos mesmos que contribuam com uma parte dos seus impostos, para equipar, manter, sustentar as forças armadas.
Devia-se reconhecer a objecção de consciência no domínio fiscal, recusando fornecer dinheiro sob forma de imposto para matar, destruir e oprimir.

Gostava de saber a vossa opinião. 

quarta-feira, 25 de janeiro de 2017

VIVALDI, TRANSCRIÇÕES PARA CRAVO

               Concertos de Vivaldi, transcritos para cravo
                                      por J.S. Bach
                      


Sempre fui adepto de Vivaldi, desde que me conheço. A sua música é penetrante pela melodia endiabrada ou de pathos contido; suas orquestrações deixam-nos sempre agradavelemente surpreendidos. A sua criatividade é imensa, como imensa é a sua obra. Nunca me deixa indiferente. Tenho de confessar que a sua música foi, é, e será sempre o meu grande amor. Mesmo que não seja exclusivo, é uma espécie de âncora para nós podermos mergulhar no universo do barroco. Todos os grandes compositores tinham as suas fórmulas de sucesso. Tinham alguns processos de composição que gostavam de usar sistematicamente. O caso de Vivaldi não difere, neste aspecto, do de Haendel ou Bach. Porém, a capacidade do público erudito apreciar Vivaldi dependeu - em primeiro lugar - do renovo de interpretação da música barroca. Sem este renovo, a música de Vivaldi não soa com todo o seu brilhantismo, como uma joia que fosse encaixada em moldura de baixo valor. Só com a maturidade desse movimento de renovo do Barroco, foi possível finalmente, que o grande público honrasse Vivaldi e a sua imensa produção ao mesmo nível dos maiores génios do barroco, Haendel e Bach. A «boutade» de Stravinsky, de que Vivaldi seria «um compositor que reescreveu 555 vezes o mesmo concerto» , embora tenha piada não é apenas maldosa, é completamente injusta. Para prova da injustiça desse juízo, basta escutar a enorme diversidade estilística e temática, presente no álbum de Enrico Baiano. Este consiste em reduções para cravo de vários concertos para violino e orquestra de arcos, concertos que se tornaram muito célebres em toda a Europa. 
Muito célebres transcrições, tanto para cravo, como para órgão, fez Bach dos vários concertos aqui apresentados, pelo que o especialista poderá comparar com proveito as versões para cravo às partituras para orquestra de cordas. 
A prática da transcrição para instrumentos de tecla era comum na época barroca e foi usada por Bach como forma de assimilar o melhor da música italiana, não apenas Vivaldi, como Benedetto Marcello, Albinoni e outros mestres.
A criação barroca não estava estritamente ligada a um determinado conjunto de instrumentos: a orquestração era deixada ao sabor dos interpretes. A maioria das composições era interpretada por pequenas capelas musicais, dependentes de um príncipe, ou de um rico mecenas, mas com uma composição nada fixa. Os compositores estavam naturalmente conscientes dessas limitações e sabiam que as composições poderiam ter várias leituras, várias instrumentações, sem considerar isso uma «traição» ao espírito da obra. Assim, os baixos contínuos eram sempre improvisados, os ornamentos, das linhas melódicas solistas, muitas vezes deixados ao gosto do intérprete, que deveria doseá-los de acordo com a música e também com o instrumento solista empregue. Na ópera, o canto pressupunha, da parte dos célebres solistas, uma ornamentação elaborada da linha melódica. 
A forma concerto que foi utilizada durante mais de dois séculos, teve origem na escola italiana e em particular veneziana, dos músicos compositores/interpretes para violino. O concerto com instrumentos solistas, tornou-se depressa a forma predominante. No concerto «grosso», em que a orquestra é responsável pela peça na sua totalidade, há lugar para um «concertino», ou seja, um grupo restrito de músicos, enquanto o «tutti» tem como função formar o substrato harmónico e expor os temas principais da peça. 

Não me canso de ouvir estes autores barrocos, em especial Vivaldi. Todo o período é servido por gravações com diversos interpretes, muitos em instrumentos originais ou em cópias de instrumentos da época. Como não existe uma norma universal para interpretar Vivaldi ou Bach ou outros barrocos, podemos encontrar exemplos de gravações bastantes diferentes no pormenor, mas com igual qualidade quer estilística, quer técnica.




[POESIA DE MANUEL BANET] DESEJO DE AZUL (25 Jan. 2017)

Desejo de azul

Com brumas no horizonte

De mar e céu abertos

De montes e planuras



Desejo de azul

Na montanha, no oceano

Onda e vento escutados

Segredos ao anoitecer



Desejo de azul

No olhar de uma criança

Maravilhamento dum mundo

A cada dia por descobrir



Desejo de azul

Na asa da borboleta

Na anémona-do-mar

No reflexo do riacho



Desejo de azul

 Em cada olhar

Fugaz e terno

De nosso encontro


terça-feira, 24 de janeiro de 2017

POEMA EM PROSA «ABSINTO» (obras de MANUEL BANET)

 ABSINTO (AB-SINTO)*
 O doce amargo, que sabe a conchas entreabertas, quando a maré se retira sobre a areia... o teu corpo nu, resplandecente sob o Sol... o horizonte está raiado de mil estrelas que anunciam a madrugada que nunca chega... a poesia ergue-se como Vénus dos fluxos ondulantes, astro roxo e sempre pleno de mistério... a tua pele de âmbar, os teus olhos vagos, negro da China... a beleza do luar banhando estas paragens desertas... vento que varre a penumbra de todos os restos de pudor da virgem... seu seio cor de malva ilumina as alforrecas, velhos senhores que o mar não deixou subir as escadas do céu... nos canaviais do meu desespero uma esperança desponta... cresce como o fluxo que arrasta montanhas até aos lugares delineados por veios de esmeralda... grés quando se toca no fundo do mar... longe de tudo o que alma humana jamais viu... nem sequer restam as esferas, poliedros e outras figuras que declinam a sua secreta identidade... assim se constrói o final de uma canção sussurrada por vozes longínquas mas sempre presentes no lugar mais escuro da mente...nas salvas de marfim, os reflexos nacarados dos corais emprestam uma bruma ao seu mais precioso segredo... amor de seixos rolados por eras de lágrimas choradas sobre a túnica vestigial da única sombra que enche o ar da noite... não descerres os olhos, ó poeta de olhar triste, lábios carcomidos pelos vermes, não sabes que o teu fim se aproxima? ...E nem sentirás o perfume de uma flor selvagem colhida no desespero do gélido paradigma da Ciência? Não recuses a palavra do que te salvou das trevas obscuras ... as estrelas falam calmamente de alguns terrestres que ficaram esquecidos das suas origens de anjos... as coisas vibram e o teu corpo não pode senão se entregar ao suplício de Grande Perversidade, escrevendo o destino nas veias até atingir as carótidas como a flor do lótus... a mediocridade invade o Mundo, mesmo que lutes, nada a fazer... tomaram tudo, despiram a Noite do sonho, o sonho que Édipo sempre escondeu, mas não desesperes. A manhã chegará. – Não sejas tão presunçoso! Ou será que o Ascaris não tem guarida no teu mundo intestino?! ...Na poesia a única pétala que pode ser colhida é aquela que se desdobra em mil delírios de ópio com os seus estranhos espectros. No entanto, a crueldade não poderá moldar jamais  a tremenda voz do que se nomeia do nome de Deus. Nas fráguas do Oceano, o puro ar ecoa de gritos: Sem réstias de ternura, os dentes da pantera rasgam a pele dos pequenos príncipes... Dizei-me caminheiro, de onde vem o vosso bornal escrito nas areias sempre móveis do deserto? ...Nas faldas de um tam longo sonho só enxerga a luxúria o que passou a instrumento do temível astro da alba... percorre o fundo da abjecção, ó abutre que te nutres de carne podre, de restos ainda quentes de meus irmãos... – Abutre, não temas os caçadores; apenas estão aqui para te avisar que o azul do céu engana mesmo os mais fortes... E que é a vida senão um curto instante derramado duma cuba de vinho cujo mosto se leveda, para jamais retornar ao estado de uva... – Sim, jamais.
                 No vazio de todas as tuas especulações, a tua mente ergue uma muralha de invencível orgulho que a impede de sorrir no momento exacto em que milhares de pessoas atingem as margens da luz... não durmas; a tua salvação reside no ténue fio de uma aranha tecido... só podes fazer o que o destino não te ordena... cobre do teu véu o espanto de teres nascido neste tremendo lamaçal  que te envolve, que te toma a garganta e te faz clamar: “ A Vida é uma grande ilusão!”
             - Dêem-me  um círio, quero perder toda e qualquer esperança de inverter a marcha temerosa do Grande Frenesim da Noite...
             ... A minha pena escreve sem saber que tudo o que derrama se está perdendo num mar de loucura.
 

* Publicado em 1984 nos «Cadernos O Fingidor» (edições MIC), faz parte da coletânea de poemas «Lábios do Vento»