segunda-feira, 8 de agosto de 2016

DIGITAL - QUE FUTURO?

O que espera o livro, a leitura e as bibliotecas? 
A digitalização implicará um novo padrão de leitura, com livros digitais a substituir os livros de papel, ou haverá extinção do leitor, pura e simples? 
Haverá outros suportes mas continuidade de apetência pela leitura ou extinção da leitura como hábito, como atitude, como civilização? 









DIGITALIZAÇÃO E CULTURA... ABORDAGEM EM ANTROPOLOGIA CULTURAL




sábado, 6 de agosto de 2016

SABERES XAMÂNICOS VERSUS «CIVILIZAÇÃO» COLONIAL



 

Vivemos numa época bruta, estúpida. Não que a humanidade se tenha tornado repentina ou progressivamente estúpida. Porém, todos nos deixamos «enfeitiçar» por uma pseudo-civilização da matéria, do vazio, das coisas, dos gadgets, do dinheiro e do poder. 

O nosso culto do corpo, do prazer, até mesmo isso, está contaminado pela estúpida mentalidade da «performance». Na realidade, já não existe o ingénuo, o espontâneo prazer. 

Destruindo o homem, destroi-se correlativamente a Natureza, pois o homem é um ser muito importante na ecologia natural

 Quem tem dúvidas disto, que estude o papel de guardiães, que os povos ditos primitivos têm tido ao longo das eras, quer no Amazonas e noutras florestas tropicais-equatoriais, quer nas gélidas estepes da Ásia Central, dos povos siberianos, dos mongóis, etc. 

Se tivermos em atenção a verdadeira história desses lugares recônditos (para nós, «civilizados») e do seu processo de colonização pelos «civilizados»; se virmos a extensão das depredações causadas, sempre com o objectivo do lucro, do aproveitar ao máximo os recursos, não importa de que maneira, então veremos que a civilização (suposta) que trazemos a esses povos nada mais é que morte.


São eles - os povos indígenas em todo o globo - que estão do lado da vida, da natureza, da comunhão com o Todo, são eles os nossos guias, para saírmos do mundo fechado em que nos encerrámos a nós próprios, «civilizados».
  
Vejam o filme «O Abraço da Serpente», vejam as imagens do álbum de Sebastião Salgado «Povos indígenas»:



                                                     O ABRAÇO DA SERPENTE




                                        POVOS INDÍGENAS - SEBASTIÃO SALGADO

sexta-feira, 5 de agosto de 2016

A POLÉMICA EM TORNO DO IMI (IMPOSTO MUNICIPAL SOBRE IMÓVEIS)

COM LAIVOS DE «AGIT-PROP» ESTIVAL… uma certa direita revanchista, amiga  e serventuária do grande capital lança, à laia de «balão de ensaio», uma polémica completamente idiota sobre as regras do IMI, que ela própria contribuiu – no passado – a instaurar.

Não há imposto justo, todos nós sabemos isso. É do B - A BA de toda a teoria política e social.
- O imposto sobre o rendimento penaliza quem é mais produtivo, quem se esforça mais e que tem mais mérito, por isso ganha mais.
- O imposto sobre capitais é uma punção aos lucros dos capitalistas e, de uma e de outra forma, essa classe vai compensar agravando a extração do lucro, a exploração dos trabalhadores, quer como assalariados de suas empresas, quer como consumidores de bens e serviços.
- O imposto sobre propriedade tanto taxa a propriedade adquirida com esforço e honestamente como a que resulta de toda a espécie de falcatruas. Os índices do imposto sobre imóveis não dependem da forma como foi adquirida a referida propriedade, mas sim do valor estimado da mesma.

...E poderia continuar a desfolhar a ladainha de como são injustos os impostos. Mas, em vez de nos lamentarmos, ponhamos como base de raciocínio, que os impostos são um mal necessário.

É um mal necessário, enquanto houver Estado de «democracia liberal» ou seja, num regime capitalista «temperado» por alguma dose de «Estado social». A justiça não deve ser vista então como absoluta, mas sim em termos relativos.
O Estado precisa de ir buscar quase todos os recursos para o seu funcionamento à sociedade (quase, porque há um património do próprio Estado, donde pode obter rendimento direto, mas em termos globais é uma parte muito reduzida.)
O problema DE FUNDO é então saber se é lícito manter propriedade não produtiva, de forma intencional e indefinidamente. É esta a situação que impera no nosso país. Isto manteve-se por uma visão absolutista do direito de propriedade (direito que não ponho em causa, neste artigo).
Em parte alguma onde existe direito à propriedade, este é um direito absoluto. Uma propriedade pode até estar a ser utilizada em prejuízo da comunidade, da sociedade… Os Estados mais conservadores, mais amigos do capital, têm legislação que prevê a expropriação de propriedade, por motivos de interesse público…
O direito à propriedade é um direito como outro qualquer e tem os seus limites. O mau uso do que é a propriedade, seja qual for essa propriedade, tem de ser penalizado, nalguns casos até deveria ser criminalizado, por exemplo, quando se verificam atentados notórios ao ambiente, à conservação das espécies protegidas, etc. Possuir propriedade produtiva sem produzir deveria ser considerado crime.
- Quem argumenta que não produz porque a despesa seria maior que o benefício, coloque a dita cuja propriedade para venda no mercado.
- Quem diz que ninguém a compra, é porque está a pedir mais do que o mercado quer aceitar.

É curioso que os pró-capitalistas só aceitam e esgrimem o argumento das «leis do mercado» quando essa argumentação os favorece!  Se são tão favoráveis ao «mercado», por que motivo protegem aqueles que – de forma clara – estão a «emperrar» o mercado,  a impedir que o mercado «livre» funcione e se encontre o preço certo?
Seria uma coisa ótima que esta estúpida polémica estival sobre o IMI desembocasse, numa outra polémica muito mais interessante e que tentasse esclarecer o seguinte: 
1- quais os critérios para a coleta de imposto? 
2- como se explica que - neste país- quem mais paga é quem menos tem e quem detém maior capital - sob as diversas formas, imobiliário, fundiário, industrial, capitais, etc. - não paga quase nada, comparativamente?


ABEL SALAZAR, CIENTISTA, ARTISTA E RESISTENTE


Abel Salazar foi muito acarinhado pela geração dos médicos e biólogos à qual pertenceram os meus Pais. Ele estava sempre disponível para ajudar jovens. Uma tal Georgette Banet trocou correspondência com ele sobre questões de Histologia, às quais respondeu gentilmente. Também lhe ofereceu uma obra sua de Histologia e Patologia, um importante recurso para o estudo da finalista ou jovem médica, que era minha Mãe. 
Guardo com muito carinho este livro científico do Prof. Abel Salazar, com uma dedicatória manuscrita à minha Mãe. Guardo também uma àgua-forte do Mestre Abel Salazar, oferecida aos meus pais, como afirmação da sua estima pelo trabalho do casal de jovens médicos. 

O tema da referida àgua forte é semelhante ao do quadro a óleo, visível abaixo, recentemente vendido numa leiloeira de Lisboa




Na casa-museu, existem muitas obras e recordações do Homem multifacetado que veio a ser homenageado, depois da queda da ditadura fascistóide.  Deram o seu nome a um dos centros de investigação e ensino mais dinâmicos do país, o «Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar», no Porto. 

O óleo abaixo (que se pode ver na Casa-Museu Abel Salazar) representa vendedeiras no mercado ao ar livre no Porto. 

                            


A preferência por cenas representando o povo trabalhador, humilde, faz dele precursor ou iniciador do movimento neo-realista. 
Porém, acho que é muito redutor - para qualquer artista - tentar enquadrá-lo dentro de uma determinada corrente. Qualquer artista verdadeiro é multifacetado, tem uma procura e uma evolução natural, intríseca, da sua arte. 
Aqui e agora, lamentavelmente, o realismo tem sido posto de lado, por críticos de arte que apenas se interessam e valorizam as ditas «vanguardas». Mas esta visão é tão parcial como a visão académica oposta, pois na nossa sociedade -como em todas - coexistem diversas correntes estéticas e isso, afinal de contas, é muito positivo. 
Porém, esse efeito de «moda» - ou seja, a obsessão com algumas correntes, apenas e a sistemática omissão do que esteja em contradição ou não se conforme com uma determinada visão da arte - não apenas é redutor, como empobrece e distorce aquilo que o grande público pode captar das principais correntes estéticas, num dado país. 




RAFAEL - A ESCOLA DE ATENAS*




                                             


[*Graças à Khan Academy podemos ver e aprender imensas coisas! Agora em português, também!]

quinta-feira, 4 de agosto de 2016

«Segue o teu destino» RICARDO REIS/ FERNANDO PESSOA




Segue o teu destino

Segue o teu destino,
Rega as tuas plantas,
Ama as tuas rosas.
O resto é a sombra
De árvores alheias.

A realidade
Sempre é mais ou menos
Do que nós queremos.
Só nós somos sempre
Iguais a nós-próprios.

Suave é viver só.
Grande e nobre é sempre
Viver simplesmente.
Deixa a dor nas aras
Como ex-voto aos deuses.

Vê de longe a vida.
Nunca a interrogues.
Ela nada pode
Dizer-te. A resposta
Está além dos deuses.

Mas serenamente
Imita o Olimpo
No teu coração.
Os deuses são deuses
Porque não se pensam.

               Ricardo Reis

VILLARET DIZ «O MENINO DA SUA MAE» (FERNANDO PESSOA)



O MENINO DA SUA MÃE

No plaino abandonado

Que a morna brisa aquece,

De balas traspassado

— Duas, de lado a lado —,

Jaz morto, e arrefece.

Raia-lhe a farda o sangue.

De braços estendidos,

Alvo, louro, exangue,

Fita com olhar langue

E cego os céus perdidos.

Tão jovem! que jovem era!

(Agora que idade tem?)

Filho único, a mãe lhe dera

Um nome e o mantivera:

«O menino da sua mãe».

Caiu-lhe da algibeira

A cigarreira breve.

Dera-lha a mãe. Está inteira

E boa a cigarreira.

Ele é que já não serve.

De outra algibeira, alada

Ponta a roçar o solo
,
A brancura embainhada

De um lenço... Deu-lho a criada

Velha que o trouxe ao colo.

Lá longe, em casa, há a prece:

«Que volte cedo, e bem!»

(Malhas que o Império tece!)

Jaz morto, e apodrece,

O menino da sua mãe.
s. d.
Poesias. Fernando Pessoa. (Nota explicativa de João Gaspar Simões e Luiz de Montalvor.) Lisboa: Ática, 1942 (15ª ed. 1995). 
 - 217.
1ª publ. in Contemporânea , 3ª série, nº 1. Lisboa: 1926.