terça-feira, 9 de maio de 2017

HOMO NALEDI - A IMPORTÂNCIA DE UMA DATAÇÃO


 
Homo naledi viveu há cerca de 2,5 milhões de anos ou entre 250 mil e 400 mil anos, aproximadamente?

Parece que - afinal - esta espécie é contemporânea dos primeiros Homo sapiens, o que é um dado quase tão espectacular como a própria descoberta de «naledi». 
Parece que há condições para isolar o ADN: será determinado se houve cruzamentos interespecíficos (com a espécie H. sapiens ou outra) e quais as características ancestrais que partilha naledi com o ramo sapiens

Há uns anos atrás, li os primeiros relatórios científicos sobre esta espécie fóssil pelo seu descobridor Lee Berger: este fazia notar uma extraordinária mistura de características anatómicas ancestrais, com características muito mais evoluídas.

Sabe-se que H. naledi fabricava instrumentos. Talvez tenha havido transferência horizontal de tecnologia, de uma para outra espécie.

Há muito por descobrir, há muitos ossos fósseis que têm de ser analisados no complexo de grutas da África do Sul, onde foi descoberta esta espécie, há 5 anos atrás.

De qualquer maneira, os dados já apurados reforçam a tese de que a evolução humana procedeu por radiação, com episódios de hibridação e posterior diferenciação.   


CONCERTO PARA ÓRGÃO DE HAENDEL



Para mim, este concerto em sol menor Op. 4/1 HWV 289, tem sido um dos concertos mais inspiradores do genial Haendel. 




As pessoas que associam o órgão clássico exclusivamente às funções e ofícios religiosos, ignoram que também foi instrumento de corte - dançava-se nas cortes ao som de pequenos órgãos ditos «positivos» - ou do teatro. 
No caso dos concertos para órgão de Haendel, o seu propósito inicial era de entreter o público durante os longos intervalos das suas óperas. 
Haendel foi um músico genial e - tal como Vivaldi - foi empresário de teatro, tendo ficado quase falido devido a uma cabala dos aristocratas. 
Não se sabe muito bem quais foram os motivos dessa hostilidade; talvez tenham temido um excesso de influência do músico saxão na corte do rei da dinastia de Hannover. 
Porém, hoje Haendel é considerado tão inglês como muitos outros. A música nas Ilhas Britânicas não seria a mesma sem Haendel. Elevou a música instrumental e vocal a níveis nunca antes atingidos, no Reino Unido.   

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Organ Concerto in G minor, Op. 4 No. 1, HWV 289 (Live) I. Larghetto, e staccato II. Allegro III. Adagio IV. Andante Soloist: Richard Paré Orchestra: San Francisco Symphony Conductor: Bernard Labadie Composer: Georg Friedrich Händel (1685 - 1759)

segunda-feira, 8 de maio de 2017

UM NÃO-MANIFESTO PELO PRESENTE





No presente, existe uma profusão de ruído que impede muita gente de ver o que importa mais. São impedidos, pela gritaria propagandística, de se concentrarem na realidade. Estamos sempre a ser atordoados por ribombantes declarações, brilhantes manifestos, doctíssimas teses...
Por isso mesmo, eu vou apenas dizer o que sinto que este momento da história da Europa e do Mundo parece representar. Vou dizê-lo sem qualquer ilusão de ser detentor da verdade ou de especial lucidez.
Não me importo de repetir o que outros disseram, desde que seja o meu pensamento também; não me importo que outros vão buscar aos meus ditos ou escritos, não tenho «copyright» em relação aos meus textos de análise. Se os meus textos inspiram o pensamento doutros por afinidade ou por oposição, tanto melhor!

A desmontagem do chamado «Estado Social» ou «Wellfare State» está - a partir de agora - na sua etapa terminal.
Com a eleição de Macron, o continente europeu vai alinhar-se cada vez mais com os «valores» do ultra-liberalismo, permitindo que o nível de exploração e de obtenção de lucros atinja valores que satisfaçam os grandes capitalistas. Mas estes nunca estarão contentes, pois o próprio mecanismo da globalização implica a liberdade total de circulação dos capitais e os investimentos continuarão a procurar paragens onde as margens de lucro sejam mais elevadas que as europeias.
Mesmo quando a classe trabalhadora europeia está de rastos, como agora, ela tem um salário médio 5 a 10 vezes superior ao dos países produtores emergentes...

No contexto francês, o efeito paradoxal da vitória de Macron é de uma dupla «vitória de Pirro».
A maioria da esquerda reformista exangue pode clamar vitória, porque o «seu» candidato bateu a candidata da extrema-direita. Mas esta vitória para tal esquerda é o mesmo que um harakiri, o mesmo que tecer a corda que a vai enforcar...
No lado da classe possidente, os muito grandes capitalistas, o 0,01%, TAMBÉM é uma vitória de Pirro, pois nada será resolvido, as crises sobrepostas de decadência da economia, do tecido produtivo, das instituições e da sociedade serão cada vez mais patéticas, criando o «meio de cultura» ideal para rupturas.

O clima será favorável a tentações de regimes ultra-conservadores, de extrema-direita e muito menos favorável para tentações vanguardistas de extrema-esquerda.
Porém, a existirem, estas últimas não virão de Melenchon ou equivalentes, pois o fenómeno Mélenchon, goste-se ou não, é um anacronismo. É uma desesperada tentativa de sobrevivência das esquerdas herdeiras do «Programme Comum» da era Marchais-Miterrand... A esquerda institucional tem sempre uma batalha de atraso sobre a realidade.

A transformação está do lado das pessoas - principalmente jovens - que recusam envolver-se numa lógica partidária mas que, no entanto, não se colocam numa postura de marginalidade egoística. Participam em projectos ao nível local ou global, em redes de afinidade, em conexão múltipla e aberta.
Este tipo de relacionamento vai forjando, pela prática, a sua visão da sociedade. Pelo método, é anarquista na sua essência, mesmo que não tenha uma clara orientação ideológica, teórica, neste campo. Será este o caminho que traz maior fecundidade no longo prazo, não por uma superioridade qualquer ideológica destas experiências, com estes colectivos. Antes, por uma colagem maior ao real.
A esquerda que cola ao real é a que sabe que o parlamentarismo é uma ilusão, que a pugna eleitoral é um terreno nada favorável para fazer prevalecer as posições dos trabalhadores, que existem muitos domínios da vida social que escapam ao controlo do grande capital e dos seus sequazes, sendo portanto possível uma alternativa real.

A luta não violenta continua ... construindo calmamente uma nova sociedade, na concha esvaziada da anterior. Uma maturação orgânica é o que eu vejo como caminho possível e fecundo. A insurreição, as barricadas, mesmo a greve geral, são instrumentos caducos, porque perderam sua eficácia, sua acuidade...
Uma «greve geral» actual - com eficácia - é desinvestir da sociedade da exploração, do consumo, do espectáculo... criando comunidades autónomas, solidárias, plurais, capazes de banhar e difundir a cultura nova, horizontalmente.
Já estão presentes em muitos sítios, nos grandes centros urbanos, nos subúrbios, no campo...Têm demonstrado, em vários casos, serem melhores que a pseudo-cultura da media, das televisões, das escolas...

Por isto tudo, há que ter esperança.

sábado, 6 de maio de 2017

CHINA PROMOVE OURO COMO FORMA DE PAGAMENTO DO PETRÓLEO


Muito esclarecedor!
https://www.youtube.com/watch?v=ZwToPW7edjI

Apesar dos muitos problemas económicos e financeiros que possa ter o gigante asiático, o certo é que tem acumulado em mãos do estado e dos particulares quantidades de ouro muito superiores aquilo que contabilizam nas estatísticas oficiais.
Tal como muitos outros analistas, Macleod está ciente de que uma nota comercial denominada em Yuan vai ser um veículo cada vez mais aceite e desejado. Até agora o que preenchia esse papel importante para o comércio mundial eram as «treasuries» ou seja as obrigações do tesouro americanas. 
Os chineses pagam em Yuan, ou em notas de crédito comercial denominadas em Yuan, o petróleo que recebem dos russos, com as quais estes compram ouro no mercado de Xangai. 
Igualmente, os sistemas de pagamento interbancários e os cartões de crédito actualmente em vigor na China (em breve também na Rússia) são completamente independentes do sistema SWIFT (Ocidental). 
Assim, a China isola o seu sistema financeiro do dollar sem se auto-excluir do mercado mundial.

sexta-feira, 5 de maio de 2017

WANG, MENDELSSOHN, TALEB E O «DAR O CORPINHO AO MANIFESTO*»

(*HAVING YOUR SKIN IN THE GAME)

Eis um ponto muito importante, a razão pela qual eu não tenho a mínima consideração por certas pessoas, que se arvoram em defensoras de ideias... as quais, nalguns casos, até compartilho!
... é que elas não dão o corpinho ao manifesto, como explica Taleb, aplicando esta noção aos intervencionistas...


Seja-me permitido ilustrar o assunto dando o exemplo contrário:




 Yuja Wang, o maestro e os músicos da orquestra que interpretaram magistralmente este concerto para piano de Mendelssohn e o próprio compositor... deram o corpinho ao manifesto:


 Com efeito, como poderiam eles fazer de outro modo? Expõem-se à critica, aos aplausos ou pateada do público, estão vitalmente dependentes do que fazem e de como o fazem. 



Não tenho nenhuma hesitação em dizer que os admiro e respeito muito acima de outros contemporâneos: políticos, opinadores, académicos, generais, «CEOs», etc. Mesmo os artistas com talento bem mais modesto que os exemplos aqui escolhidos são superiores, moralmente, aos que - desde um lugar seguro - comandam as tropas, no sentido próprio ou figurado.


quinta-feira, 4 de maio de 2017

UM COLAR DE PÉROLAS...

                                  SWINGLE SINGERS & MODERN JAZZ QUARTET - 1966

Oiço, passados decénios, estes trechos que me encantaram na adolescência: além da nostalgia, fica-me o espanto de como é possível conjugar de forma tão inteligente o swing do jazz e a escrita contrapontística cerrada de Bach e de outros. 
Lewis, do Modern Jazz Quartet, é autor de  4 dos trechos gravados, juntamente com 2 composições de J.S. Bach e uma de H. Purcell.

quarta-feira, 3 de maio de 2017

ESQUERDAS EUROPEIAS: NO PONTO DE VIRAGEM?

A esquerda francesa e europeia deixou-se encurralar. Isto passou-se ao longo de um processo de decénios, mas os seus resultados nunca foram tão visíveis como agora, na véspera da segunda volta das eleições presidenciais em França.
Na era da globalização capitalista, com o triunfo do «pensamento único», a esquerda tornou-se largamente neoliberal, na sua essência. 
A que não o fez, não soube, lamentavelmente, renovar a sua perspectiva do marxismo, de maneira a poder olhar de frente para os monstruosos erros do passado bolchevique e aprender com eles. 
A esquerda, neo-liberal ou autoriária, teve o poder de transformar a realidade em várias ocasiões, antes e depois do virar do milénio. Tristemente, em vez disso, ela virou a cara e assobiou... no melhor dos casos. 
Na política, substitui o critério de classe, como eixo central da avaliação de uma dada conjectura, pela ideologia dos direitos humanos, passando a ser uma esquerda das «causas fracturantes», uma «esquerda sentimental», mas certamente não a força exterior ao complexo do pensamento único, dos impérios mediáticos, etc. Deixou de ser a esquerda que assustaria o capital e seus representantes. Então, ainda bem que essa esquerda, a «esquerda do capital», se está a esfacelar e a desaparecer na irrelevância... pouco me importam os rótulos que ela a si própria se dá. 
O que me importa é a tarefa imediata e urgente, de classe, de barrar o caminho a dois monstros:
- o do neoliberalismo e da mundialização/globalização (cujo significado exacto e último é o governo mundial, ou seja, um fascismo mundializado) 
- o da direita retrógada, reaccionária, identitária, mas que apela a um número muito grande de pessoas (fartas de serem enganadas por políticas neoliberais de esquerda e de direita).

Face à enormidade das tarefas, parece não haver saída, de tão fortes e poderosas que são as forças opositoras às nossas.
A saída, porém, está presente, é real, nem é particularmente nova nos seus princípios: ela chama-se esquerda libertária ou socialismo libertário. 
Nas suas diversas formulações, pode encontrar-se o necessário para reconstruir uma esquerda de classe, com um projecto libertário e socialista, no sentido amplo destas expressões. 
Refiro um «projecto libertário e socialista» no sentido civilizacional, no de fazer sentir que o poder, o Estado, a autoridade, são palavras que recobrem uma grande dose de violência; que os meios da humanidade em suprir às suas necessidades e confortos, sem recorrer à exploração, existem e não são «utopias». 
Mas tal implica que as pessoas percam as vendas/ lentes deformantes, que elas colocaram a si próprias. Sei que, na medida em que elas verdadeiramente o desejem, o conseguirão: outras já o fizeram no passado e no presente. 
O problema central é dar expressão política a uma esquerda libertária, anti-capitalista, classista... e não interessa repetir os erros, imitar acriticamente a esquerda estalinista ou neoliberal; obviamente, isso seria suicidário. 

Mas é necessário inventar o caminho, pois os meios devem ser adequados aos fins... Não será com violência e intolerância que se fará a revolução anti-autoritária...