Muitas pessoas aceitam a situação de massacres de populações indefesas em Gaza e noutras paragens, porque foram condicionadas durante muito tempo a verem certos povos como "inimigos". Porém, as pessoas de qualquer povo estão sobretudo preocupadas com os seus afazeres quotidianos e , salvo tenham sido também sujeitas a campanhas de ódio pelos seus governos, não nutrem antagonismo por outro povo. Na verdade, os inimigos são as elites governantes e as detentoras das maiores riquezas de qualquer país. São elas que instigam os sentimentos de ódio através da média que controlam.
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sábado, 9 de setembro de 2017

TSUNAMIS, SISMOS E FURACÕES

Todos nós sabemos acerca das catástrofes naturais que se abatem, num ponto ou noutro do globo. 
Recentemente, um sismo devastador assolou uma parte do México. O receio de um tsunami acompanhando o terramoto está sempre presente, nestas ocasiões. 
Os furacões tropicais Harvey e Irma devastaram o Texas e as Caraíbas, causando prejuízos incalculáveis, além dos mortos, dos feridos e dos muito milhares de deslocados.
Todas estas ocorrências são de natureza pouco previsível no que toca às circunstâncias em que ocorrem e ao tempo em que ocorrem. 
Porém, nenhuma destas ocorrências é uma surpresa completa, pois conhecem-se as falhas na crosta terrestre, a atividade do magma e o desenvolvimento de tensões no rebordo de placas geológicas, que estão na origem dos sismos. 
Analogamente, são conhecidos os movimentos das massas de ar e de humidade nas zonas tropicais e equatoriais, que estão na origem de furacões, os quais têm muito mais probabilidade de se formar em determinadas áreas do globo, do que noutras.  
Estamos relativamente bem informados sobre estes acontecimentos naturais, que consideramos fatalidades fora do alcance dos homens. 
Porém, as circunstâncias em que as sociedades humanas enfrentam estas ocorrências podem agravar ou - pelo contrário - minorar, numa grande medida, os aspetos piores de tais tragédias. Sobre as referidas circunstâncias, já nos informam muito menos, já é pouco discutido, a não ser -talvez- nos próprios países onde tais ocorrências se verificam. 

                    


O domínio da atividade económica, pelo contrário, pode dizer-se que é inteiramente dependente da capacidade e da visão humana. Neste domínio, usam-se com frequência expressões como «tsunami», «terramoto», «furacão», etc. para designar metaforicamente os períodos de crise e o seu desencadear, mais ou menos súbito. No entanto, não somos informados nem sobre as forças subjacentes a tais situações de crise, nem sobre todas as medidas que as sociedades poderiam tomar para impossibilitar ou diminuir muito o impacto de tais crises. 
Com efeito, as forças em jogo são suscetíveis de serem conhecidas e estudadas, tão bem ou melhor que as forças em jogo nos fenómenos geológicos ou climáticos. 
Claro que, tal como na Geologia ou Climatologia, haverá - na economia e na política - uma investigação científica e um debate entre especialistas. 
Mas a conversa entre especialistas, por si só, não irá permitir, ao nível do público em geral, uma compreensão mais aprofundada e portanto uma atitude preventiva e racional, no que toca aos modos das sociedades produzirem, consumirem, se organizarem.  
Em tais domínios do saber, creio que há muito mais ignorância do público em geral, há muito menos preocupação em fornecer os instrumentos cognitivos durante a escolaridade, a um nível não específico. Ou apenas terão acesso a estes saberes, os alunos do ensino secundário ou superior que tenham escolhido áreas de especialidade relacionadas de perto com a economia. 


O mesmo se passa em relação à informação «mainstream», que noticia acontecimentos, quer políticos, quer económicos, sem nunca os contextualizar ou, sequer, dar pistas que permitiriam aos mais curiosos consultar trabalhos mais aprofundados e completos.

Penso que a analogia entre catástrofes naturais e político-económicas pode ser adequada ao nível das consequências humanas. 
Mas não é de todo adequado usarmos um modelo como os sismos ou os furacões, no sentido mecânico: não são análogas as forças que estão em jogo, no caso das catástrofes naturais e nas catástrofes desencadeadas pelos humanos. 
Porém, existe uma tendência em usar e abusar da metáfora natural para «explicar» o mecanismo de fenómenos da economia. 
Assim, produz-se um discurso que tem as aparências de científico, mas é vazio de conteúdo verdadeiro. Ele veicula apenas preconceitos embutidos no pensamento dos produtores e recetores do discurso.


quarta-feira, 2 de agosto de 2017

SERÃO ALGUM DIA AS CRIPTOMOEDAS UMA FORMA DE DINHEIRO?

Hoje em dia, a maior parte das pessoas ouviu falar de bitcoin e de outras criptomoedas. 
Não irei repetir o que já escrevi, aqui e aqui
Mas, irei dizer que, face a um universo em delírio de especulação, como seja nos mercados de acções e de obrigações, a forte subida nas cotações das criptomoedas tentará muitos. 

Porém, as pessoas deveriam compreender que, o que é criado a partir de nada e não tem utilidade em si mesmo, não é um bom investimento. 
Assim, eu desaconselho que se tenha uma «fé» nas «moedas fiat», ou seja, nas que são emitidas por algum governo/banco central. 
Os valores das moedas não assentam sobre nada - a não ser sobre a «garantia» (o «fiat» em latim) de que o governo que a emitiu aceitará esta mesma moeda como pagamento (nomeadamente para pagar impostos, criados pelo respectivo governo). 
Mas também não tenho «fé» nenhuma no bitcoin e noutras cripto-moedas, embora por razões diversas. 
Os problemas das criptomoedas vão começar, logo que os governos acharem que estão a deixar demasiado campo para as pessoas fugirem a taxas e impostos. 
Sabe-se que estão em estudo nos bancos centrais de alguns países formas de criptomoedas, mas com controlo dos próprios governos. 
Paralelamente, estão a tentar encontrar um meio de capturar a mais-valia gerada, através de regulamentações que, por um lado, vão dar-lhes um estatuto oficial, como meio de pagamento; mas por outro, vão permitir que sejam controladas, sujeitas a impostos, a taxas. 

A bolha especulativa, nesse momento, irá esvaziar-se e não se sabe ao certo para quando haverá esta mudança. Porém, pode-se pensar que, se rebentar uma crise realmente séria (e os sinais precursores estão a avolumar-se), os governos farão tudo para regulamentar este «mercado de capitais», totalmente  fora do seu alcance. Já estão a tentar isso nos EUA, por exemplo, com legislação que obriga as pessoas a declararem os bitcoins e outras moedas que possuem, quando vão para o estrangeiro.

Face a uma crise sistémica, as únicas formas de conservação de valor comprovadas são as que correspondem a bens ou serviços reais (imobiliário, terrenos, ouro e prata, obras de arte e de colecção)Para estes bens ou serviços o Estado não pode ir além de um certo montante-limite de imposto, pois -caso contrário - anularia a rentabilidade do investimento, logo afastaria as pessoas de investir e diminuiria a colecta total de imposto. 

O pior investimento, quando se está perante o risco de uma crise de grandes dimensões, é o investimento tipicamente especulativo. 

O funcionamento dos mercados especulativos baseia-se somente em factores psicológicos: Os movimentos devem-se a boatos, ao medo e à ganância. 
Subidas e descidas  de cotação raramente são baseadas em factos comprováveis, em verdades sólidas, mas apenas nas percepções subjectivas dos investidores. Estes são manipulados de mil e uma maneiras, através de boatos ou mitos, propagados com determinados objectivos.  

Quando existem bolhas, muitas pessoas auto-convencem-se de que não há risco, que se está num novo «paradigma», etc. Porém, isso não é senão auto-ilusão. 

              

No caso das cripto-moedas, está-se claramente numa situação de bolha. Só faz sentido aplicar nelas somas modestas, como quando se joga na lotaria ou totoloto.

terça-feira, 16 de maio de 2017

OS DERIVADOS... OU WARREN BUFFETT SABE O QUE FAZ, COM CERTEZA.

Um «derivado» é um activo com preço dependente ou derivado de um ou mais bens subjacentes. O derivado propriamente é um contrato entre duas ou mais partes baseado nesse bem ou grupo de activos. O seu valor é determinado pelas flutuações do activo, que pode ser acções, obrigações, matérias primas, divisas, taxas de juro ou índices de mercados. Quem negoceia derivados está essencialmente a efectuar uma espécie de jogo de apostas legalizado. Muitos nomes sonantes dos meios financeiros têm dado avisos sobre a possibilidade potencialmente destrutiva deste tipo de instrumentos, no longo prazo.
Numa carta escrita aos detentores de participações do fundo Berkshire Hathaway, em 2003, Warren Buffett chegou a referir os derivados como «instrumentos financeiros de destruição maciça»…

O «génio» saído da garrafa irá com certeza multiplicar-se e expandir-se até que um acontecimento torne a sua toxicidade evidente. Não foi encontrado, quer pelos bancos centrais, quer pelos governos, meio de controlar ou mesmo de monitorizar os riscos que colocam estes contratos.  Penso que os derivados são instrumentos financeiros de destruição maciça, portadores de perigos que, embora latentes agora, são potencialmente letais.

Warren Buffett tinha razão – sabia do que estava a falar – e claro que hoje a bolha dos derivados é muito maior do que na altura em que lançou o aviso.
Com efeito, considera-se que exista um total superior a 500 triliões de dólares envolvidos em derivados, neste momento.
Os efeitos em cadeia de um não pagamento (um «default») num sector qualquer, mesmo algo muito pequeno em comparação com a economia global, serão potenciados por esta incrível alavancagem.
Por isso, faz todo o sentido que grandes investidores, como Buffett, se posicionem em função da inevitabilidade do grande «crash».
De acordo com o perito financeiro Jim Rickards, a companhia de Buffett, Berkshire Hathaway, acumulou uma pilha de 86 biliões de dólares em «cash» (dinheiro liquido) porque prevê uma acentuada diminuição do mercado de acções.
Este facto, a acumulação de cash por Buffett, é o contrário duma indicação de alta dos mercados: este comportamento só tem explicação como preparação para um crash dos mercados financeiros. Quando o crash tiver ocorrido, Buffett poderá deambular pelos destroços e comprar as companhias por um preço muito inferior ao seu valor real.

Warren Buffett não se tornou um dos homens mais ricos do mundo… sendo estúpido. Ele sabe como os valores das acções estão ridiculamente sobrevalorizados neste momento e está preparado para agir quando o pêndulo se deslocar para o outro extremo.
Os mercados financeiros continuam a flutuar num mundo irreal, completamente desconectado da economia real que - pesem embora as estatísticas falseadas e os cantos de sereia da media ao serviço dos grandes interesses - dá sinais inequívocos. Desde os EUA à China, passando pela Europa e mesmo nas economias emergentes, não se pode dizer que houve verdadeira recuperação da crise de 2008, em termos de economia real.
Mesmo um Warren Buffett está claramente preparado para enfrentar a crise vindoura.

É bastante trágico que o comum dos mortais, que vão sofrer na pele o pior dessa crise, não estejam conscientes dela e não se preparem, como se fossem um povo de cegos e surdos…