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sábado, 13 de março de 2021

MINHA FILOSOFIA


Ao escrever este blogue, não estava na minha intenção inicial fazer dele um blogue de actualidade política ou económica. Estava antes com determinação em procurar afinar os meus próprios instrumentos conceptuais, para melhor estar comigo próprio, com o mundo e capaz de tomar os desafios da melhor maneira.

Sim, temos todos desafios a tomar, qualquer que seja a fase da nossa vida, pois é a realidade social e global que nos questiona. É ela que nos obriga a sair do conforto do «em si mesmo». 

Não se trata, para mim, de escrever sob o impulso do momento, nem de tentar fazer adeptos dos meus modos de pensar e de ser. Apenas creio ser minha prerrogativa dizer o que penso, o que acho realmente importante, fazendo valer argumentos, não indo buscar ao lado emocional, ao slogan, à frase feita, à adesão a este ou aquele credo. 

As pessoas são tesouros de sabedoria, de inteligência e de bondade, mas estão sob a permanente falsa narrativa, que mantém o seu cérebro fora da realidade. É como se estivessem sempre sob hipnose. Claro que há coisas com efeito hipnótico, algumas delas activamente procuradas pelos indivíduos, pois encontram algum alívio nisso. 

Mas, eu refiro-me a coisas de ordem bastante mais obscura. O jogar com forças/energias que se encontram no âmago dos seres: falo de manipulações dos sentimentos mais profundos, como sejam o medo da morte, do desconhecido, o desejo sexual e de poder, a necessidade de amor e de se sentir apreciado, acarinhado, a pertença ao grupo como forma de escape à angústia da solidão... etc...etc.

O que está a levar as sociedades - especialmente no Ocidente - a um grau de autodestruição, não é meramente a política ou a economia. Por muito profundas que sejam as feridas sociais resultantes destas décadas de destruição do tecido social, do chamado «pacto social», ou ainda «wellfare state», estas são as consequências de um fenómeno de outra ordem. 

Estamos perante uma regressão, uma forma de denegação de responsabilidade, um estado de infância prolongada, indefinida, acometendo adultos de todas as idades, dos 18 aos 88 anos. Esta crise está a socavar lentamente o fundamento da sociedade em que todos nós vivemos, mas não nos damos conta disso. De facto, estamos inconscientemente a nutrir esse monstro, que eu chamaria de «irresponsabilidade social» e que se correlaciona com a entrega da capacidade em nos auto-determinarmos, a entrega da responsabilidade por nós próprios e pelos outros. Tivemos esse sentido durante milénios, durante toda a evolução conduzindo à forma humana «moderna», o Homo sapiens, que temos sido durante trezentos mil anos. 

Face a este estado de coisas convém, antes de mais, especificar as consequências práticas que ele traz, antes de pensar fazer qualquer coisa de concreto, ou delinear uma estratégia.

A primeira consequência, é o controlo das sociedades por um punhado de indivíduos: Muito poucos, na verdade, embora assistidos, ajudados, por um grande número de peritos, não somente nas áreas tradicionais da repressão, como a polícia, as agências de espionagem, o aparato militar, etc., mas por técnicos e especialistas nos campos mais variados, incluindo as «ciências humanas», psicologia, sociologia, ciências da comunicação... com o objectivo de manter as pessoas sob controlo.

Assim, estamos sujeitos a um condicionamento, dito «soft», mas que na verdade é muito forte, porque envolve todo o campo da realidade social, com que a maior parte de nós se confronta dia-a-dia. Há uma parte de consentimento, uma parte apenas, porque nós não somos informados verdadeiramente, não conhecemos o que está do outro lado do ecrã. Não existe consentimento informado num processo de manipulação porque, para que tal processo tenha possibilidade de se exercer sobre nós, é indispensável que não tenhamos consciência dele. Assim que a tivermos, haverá repúdio, revolta e tomada das coisas em mãos. Ninguém gosta de ser manipulado; é uma violação da nossa mente, do nosso íntimo. 

Mas, o campo da «fábrica do consentimento» não se fica por aqui, pois intervém o medo: ele impede que as pessoas raciocinem, que façam um exame crítico das situações. Ele vai buscar os traumas da nossa mais tenra infância, que se encontram profundamente ancorados no nosso cérebro. Tal como uma criança pequena, a pessoa adulta com medo, com uma angústia vaga, mas permanente, vai procurar mecanismos ilusórios, para não sofrer a sensação. A fuga não é opção, nestas situações. Restam-nos as opções de encarar o mal de frente, ou a passividade. O que a maior parte de nós escolhe é a passividade, com uma data de «boas razões», que -afinal- se resumem a não querer correr um risco, seja ele verdadeiro ou não, seja ele avaliado no seu justo valor, ou hipertrofiado. 

Digo que a maior parte das pessoas estão em psicose de medo, porque vejo à minha volta tantas pessoas em estado de denegação. A denegação é o auto-ocultar das evidências que contradigam a narrativa oficial, ou universalmente difundida. Aqui joga uma percepção distorcida - mas muito comum - dos mecanismos sociais, que faz com que aquilo que é dito constantemente, em todos os tons, por todos os órgãos da comunicação social, «deve ser» verdadeiro (a célebre frase, atribuída a Goebbels: «uma mentira mil vezes repetida, torna-se verdade»). Mas, também joga o medo de estar «fora do rebanho», de ser ostracizado, de perder amigos, de ser acusado disto e daquilo... 

Atingiu-se o estádio de negação do Estado de Direito, que Hanna Arendt tão bem caracterizou, no seu famoso ensaio «Origens do Totalitarismo», quando as constituições não são abolidas, porém os direitos humanos individuais e colectivos (políticos, sindicais, associativos...) nelas consagrados, assim como os limites e a separação dos poderes, desaparecem. Isto acontece dum momento para o outro, sem que a cidadania se aperceba realmente o que estão a fazer com ela: Estão a espoliá-la dos seus direitos mais significativos, apenas bastando o poder acenar-lhes com o medo do invisível (do «terrorismo islâmico», do vírus «mortífero»...), para «justificar» estado de excepção, arbítrio e impunidade para os poderosos...

As condicionantes desta situação são muitas. Apenas posso apontar algumas evidências (como tenho feito abundantemente neste blog), em como o discurso do poder é falso, é uma falsa narrativa destinada a obter a nossa submissão. Não se trata já do consentimento, mais ou menos esclarecido e informado, como terá existido nas chamadas «democracias liberais». Mas, isto é o passado, ele não voltará a existir, pois as forças que conseguem moldar a visão das pessoas, não o querem. Elas são donas dos média, até mesmo dos órgãos ditos estatais. A média, ao contrário de um «quarto poder», tem sido antes um instrumento da ditadura dos muito poderosos, um auxiliar para fabricar o medo.Tem sido a câmara de eco da qual emana a falsa sensação de «consenso», sem qualquer preocupação em falar verdade, em dar a conhecer os pontos de vista contraditórios sobre a realidade. Hoje, trata-se da «ortodoxia» sobre o SARS-Cov-2 e o modo de combatê-lo, amanhã, será outra coisa qualquer. Eu não faço ideia o que seja, mas terá - aposto - assim como os prévios «espantalhos», a característica de infundir a ameaça de um terror difuso, incompreensível, indescritível, a que apenas especialistas e autoridades governamentais estariam em condições de fazer frente, devendo nós dar toda a confiança aos dirigentes, para eles nos «salvarem» desse perigo. 

Neste contexto, devemos dizer não! Não vamos contemporizar, não vamos acreditar na possibilidade de uma discussão pausada, racional. Pois, do outro lado, não existe desejo de uma discussão leal, mas de anátema da dissidência, de domínio absoluto, totalitário. Vamos dar a conhecer o que estas fórmulas de manipulação da opinião pública e das mentes têm de primitivo, de ensaiado repetidas vezes, por déspotas, por criminosos que querem levar-nos à guerra. Se eles o fizeram tantas vezes no passado, nós podemos aprender com a História, como enfrentar este estado de coisas, como contrariá-lo, como não cair nos erros do passado. 

A leitura (crítica, como sempre) de autores como Hannah Arendt, George Orwell, Aldous Huxley e mais recentemente Noam Chomsky, Naomi Klein e sem pretender citar todos os nomes importantes, pode ajudar-nos a adquirir os instrumentos conceptuais que permitam ver a manipulação, ocorrendo no presente. O interesse disto não é académico, pois o indivíduo que vê a manipulação, está - em simultâneo - a subtrair-se à mesma e mais capaz de fazer-lhe frente ou de salvaguardar-se, se comparado com alguém que seja o objecto passivo da mesma.

O re-conectar será uma resposta concreta perante o estado presente. É um processo de reestabelecer laços de troca social e afectiva, antes de mais, com todos os que se encontram no campo da nossa vivência. Talvez a Internet não seja apropriada para isso; as pessoas são inundadas por tanto lixo informativo, que podem simplesmente ignorar, ou fingir que ignoram, algo que queiramos dizer-lhes. 

Talvez seja mais eficaz uma troca pessoal /presencial, o dar um texto impresso, seja de nossa autoria, seja de outrem. Quer seja um livro ou um folheto, o conteúdo deve ter significado, não apenas para quem o dá, mas para quem o recebe. Isso tem de ser feito de modo a afastar qualquer equívoco; não se trata nem de proselitismo, nem de publicidade, de qualquer tipo. 

Importa exercitar a meditação, mas não a meditação que certos auto-proclamados «gurus» nos querem impingir, não a meditação de «fazer o vazio» na nossa mente! A meditação filosófica é um exercício de nós connosco próprios, em que uma parte da nossa mente questiona, interroga, e a outra parte tenta compreender, interpretar, não só em termos teóricos, mas em termos de realidade interior e social. 

A realidade é determinante, como critério de verdade. Mesmo quando temos poucas certezas, pois a vida parece-se muito mais aos raciocínios dos detectives, nos romances policiais, do que às equações descritivas dum fenómeno, nas ciências físicas. 

O meu princípio realista impõe-me que só posso saber algo da realidade, se estiver em contacto com esta; a realidade é o conhecimento que emana da experiência. A Teoria é algo respeitável, na medida em que foi a conclusão a que se chegou na busca da verdade, a partir de fenómenos e experiências. Em ciência, uma teoria é uma hipótese que resistiu a uma série de objecções, mantém-se «não-invalidada», mas esse estatuto é provisório. Não existem verdades definitivas em ciência. Aquilo que é somente vaga hipótese, sem base nos dados da experiência, pode ser considerado um devaneio, uma fantasia, uma adivinha, mas não é uma hipótese científica. Uma hipótese científica tem a preocupação de estar em consonância com os dados conhecidos, respeitantes ao fenómeno em causa. Não é qualquer um que formula uma hipótese científica sobre um dado assunto. Tem de conhecer muito bem o campo em causa, tem de mostrar aos outros, seus pares, que esta hipótese é digna de ser considerada. Estes, por seu turno, irão inspeccionar e criticar tal hipótese, pois é essa (também) a sua função. É importante pois, se a tal hipótese tiver potencial, vale a pena investir nela tempo, energia, dinheiro, para desenhar e realizar um dispositivo experimental que a ponha à prova. 

Vemos agora meros propagandistas do poder, quer tenham ou não diplomas ou títulos, que estão sempre a colocar-se numa postura de autoridade «científica». Mas, eles querem fazer passar como «verdade» aquilo que é apenas seu íntimo convencimento e isto, no melhor dos casos. O discurso do poder reveste-se da aparência da ciência: para dar credibilidade, alguns cientistas de formação não têm pudor e fazem o frete ao poder. Há múltiplas maneiras de se ser comprado, com honrarias, prestígio, posições académicas, etc. As pessoas que o são, podem nem ter clara consciência de se terem vendido. Note-se que não é o facto de aconselhar o poder que eu critico; mas antes, a lealdade (ou a falta  dela) para com os outros colegas, os que têm opiniões sensivelmente diferentes: quantos casos de perseguição, difamação, de exclusão, etc. temos presenciado, agora, nas chamadas «democracias liberais»? E muitas das pessoas sujeitas a esses tratamentos infames, nem eram marginais, mas cientistas respeitados e com carreira nas mais diversas instituições. Em resumo, eram pessoas do meio académico-científico. Agora, pensem na perseguição, discriminação, etc. dirigida a pessoas que não estejam escudadas por uma carreira prestigiosa: Não estaremos já nos primeiros passos duma viragem para uma forma de fascismo-totalitarismo tecnocrático, científico?

A verdade, ninguém a conhece, a priori. Por isso, deveria ser lícito defender qualquer ponto de vista. Em democracia, o emissor duma opinião tem a responsabilidade pelo que diz. Se houver, não apenas falsidade, como desejo de enganar o próximo, tal pessoa é susceptível de ser sujeita a um processo. Era assim, antes, nas democracias liberais genuínas: não existia nada que impedisse o dislate, ou até a mentira mal intencionada, a priori: Apenas o receio de processo judicial, ou a desaprovação pela sociedade. A existência dos «fact-checkers», censores anónimos, faz-nos recuar várias centenas de anos. Quando havia censura, estatal e eclesiástica, com livros proibidos e pessoas presas e torturadas, por escreverem certas coisas. 

Os ditos «liberais», os ditos «de esquerda», são quem mais se conformam com tal estado de coisas. Pior, são os que montam este aparato de censura e o defendem, com o pretexto de que o público está a ser «enganado» (segundo o critério DELES). Mas, os verdadeiros defensores da liberdade não têm medo das mentiras; combatem-nas, argumentando com os mentirosos. É uma atitude totalmente diferente de se colocar uma mordaça nos seus opositores e bani-los das plataformas sociais: Estes são métodos típicos dos tiranos e dos seus homens-de-mão.

Perante tudo isto, estou confiante, não de que detenha a razão, mas de que guardo o espírito lúcido, crítico e autocrítico. Tento aperceber-me da realidade real, não da «realidade» balizada por etiquetas ideológicas, sejam elas quais forem. Este é o meu ideal. 

Segui-lo, tem tido repercussões práticas importantes na minha vida. Tem minorado a hipótese de me autoiludir, ou de ser iludido por outros; e tem-me permitido, nestes tempos conturbados, conservar o equilíbrio e o bom-senso.