A GUERRA DE NARRATIVAS É A MAIS MORTÍFERA... Porque ajuda a manter e prolongar a guerra militar e seus morticínios.
No que respeita às guerras acesas entre ucranianos e russos, ou entre palestinianos e israelitas, a propaganda ou narrativa, de ambos os lados, tornou-se o fator que predomina sobre a realidade do terreno.
A forma totalmente distorcida das notícias relativas a estes conflitos na media mainstream desempenha um papel de relevo, mas a iniciativa não vem dos jornalistas, «proletários ou prostitutos da pena e da palavra»: Estes recebem as ordens dos poderes. O controlo da narrativa vem das oligarquias, de pseudo-elites que controlam o poder, qualquer que seja o campo. No século XXI, quem controla a narrativa, consegue manter-se no poder; a narrativa -portanto - torna-se o veículo principal para manutenção no poder.
Já Machiavel tinha antecipado esta viragem, quando enunciou no famoso tratado «O Príncipe», que o detentor do poder deveria - de preferência - seduzir os súbditos, adormecê-los com histórias que os confortassem nos seus anseios e esperanças, porque - dizia Machiavel - é muito mais fácil governá-los pelo engano - hoje diríamos pela propaganda - do que pela força bruta, pela repressão.
Não quero, com isto, dizer que a repressão esteja ausente nos dias de hoje. Pelo contrário, numa tradução prática dos ensinamentos de Machiavel, os poderes têm-se dedicado seletivamente a ostracizar, reprimir, deportar ou prender as vozes dissidentes, quando estas desmascaram as narrativas do poder e revelam as facetas mais cruéis e obscuras desse mesmo poder. Para todos os dissidentes a tarefa de levar o esclarecimento às massas tornou-se mais difícil pois enfrentam, além da hostilidade dos poderes, a difamação da média e a indiferença do público.
Esta indeferença é fabricada, ao longo do tempo, através da supressão selectiva das narrativas contraditórias e, sobretudo, pela afirmação obsessiva da narrativa oficial, pelo que resulta daí o condicionamento total das massas.
O nosso Mundo evolui em deriva acelerada para regimes totalitários. Este fenómeno tem maior expressão nos países que não eram classificados como totalitários, as chamadas «democracias liberais» ou o «campo ocidental».
Hoje, ainda existe alguma expressão de dissidência nesses regimes, mas ela é - cada vez mais - uma expressão da "oposição controlada".
Com efeito, o facto de ser possível e mesmo provável que a manifestação de dissidência tenha consequências na vida das pessoas, desencadeia um reflexo de medo. Por exemplo, a pessoa dissidente pode perder o emprego, pode ser ostracizada, como certas figuras públicas sujeitas a «black-out»: O facto de já não serem entrevistadas ou citadas na media mainstream; ou quando seus artigos ou livros deixam de ser publicados ou encontram muita dificuldade em sê-lo. Este ambiente hostil vai inibir muitas pessoas de exprimir sinceramente e sem auto-censura, aquilo que pensam.
O poder «neo-feudal», ou como queiram chamá-lo, está mais dependente da conquista da opinião pública, que da conquista de território inimigo, ou da derrota militar dos adversários.
Aliás, a quantidade de destruição, mortes, feridos e deslocados numa guerra é secundária para os senhores do poder e da guerra. Ao contrário dos senhores da guerra típicos das eras feudais, os atuais 'chefes' comandam os exércitos a partir de seus palácios do Governo. Eles obrigam estes exércitos a fazer mil e uma manobras absurdas, suicidárias, ou vãs. São frequentes tais ordens, que não se destinam, sequer, a atingir um objetivo genuinamente militar. Pois os senhores da guerra contemporâneos estão preocupados, sobretudo, em mostrar que são os «bons», que pertencem ao «campo do bem». Portanto, o que realmente procuram não é a vitória no terreno militar (ao contrário, aliás, dos senhores da guerra nos séculos passados); interessa-lhes - sobretudo - alimentar a narrativa do poder, dos bons contra os maus. É assim que se mantêm no poder. Se morrerem milhões, assim seja: Os poderosos garantiram para eles próprios e para suas famílias, que não irão padecer de nenhum daqueles males. Os danos patrimoniais também não os sofrerão, pois asseguraram uma «confortável reforma» com suas contas na Súiça ou noutros paraísos fiscais e um «exílio dourado» em vivendas de luxo em locais seletos (Miami, Riviera, Côte d'Azur, etc). Quanto mais uma guerra durar, mais estes «senhores da guerra» enriquecem.
Eu poderia dar muitos exemplos concretos do quadro que descrevo acima. Mas, penso que os meus leitores têm vontade e meios para pesquisar na Internet, os factos, os indícios e as realidades que contrariam os discursos dos poderes.
Sejam quais forem as simpatias ou antipatias dos leitores, parece-me que devem ter a máxima simpatia por eles próprios e não se deixarem enganar, seja por quem for. Infelizmente, nesta sociedade atual, o comportamento de autonomia e de independência, não é valorizado e até chega a ser incompreendido, por uma parte da cidadania.
Para defesa dos valores humanos fundamentais, torna-se imperioso denunciar a verdadeira causa das guerras de hoje: Elas resultam do poder exercido de um modo totalitário - seja abertamente, ou de modo camuflado - pelos «nossos» governantes. Claro que seus crimes e cobardias não surgem do vazio, ou de mentes intrinsecamente perversas e malévolas: Os dirigentes estão rodeados por uma corte de bajualdores e de conselheiros, que os manipulam. Mas - obviamente - neste caso, tanto manipuladores como manipulados estão na barca do poder.
A necessidade imperiosa de salvar da morte muitos milhares de inocentes, ou destes ficarem estropiados para sempre na guerra e suas famílias ficarem destruídas, obriga-nos a repudiar a forma suja como os poderosos usam e abusam criminosamente das alavancas do governo para iniciar, continuar e prolongar a guerra. Infelizmente, não existe Tribunal da Haia, de Nuremberga ou doutra juridisção, capaz de os prender e julgar. Os muito poderosos, hoje, têm muitas probabilidades de ficar impunes pelos crimes hediondos de são os responsáveis máximos.
O que nós precisamos não é do regresso ao tempo «em que a cabeça do monarca derrubado por uma insurreição, era exibida na ponta de uma lança». Mas, o regresso à visão universalmente partilhada do Direito Internacional e da jurisprudência que decorre da sua aplicação, durante os 80 anos após o fim da IIª Guerra Mundial.
A 25 de Abril de 2025 (*)
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(*) No dia 25 de Abril de 1976 foi aprovada a Constituição democrática de Portugal, dois anos depois da revolução não-sangrenta do 25 de Abril de 74. Depois, esta revolução foi desvirtuada por muitos, mas tal não impedíu o facto de ter sido viabilizada tal transformação política.