A IIIª Guerra Mundial tem sido, desde o início, guerra híbrida e assimétrica, com componentes económicas, de subversão, desestabilização e lavagens ao cérebro, além das operações propriamente militares. Este cenário era bem visível, desde a guerra na Síria para derrubar Assad, ou mesmo, antes disso.
Mostrar mensagens com a etiqueta armas nucleares. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta armas nucleares. Mostrar todas as mensagens

segunda-feira, 7 de agosto de 2017

UM CRIME CONTRA A HUMANIDADE, HÁ SETENTA DOIS ANOS ATRÁS

Leiam «72nd Anniversary of Hiroshima...» aqui.


                          Sou incondicionalmente pela paz e não sou daqueles que se regozija por ver os «fantasmas» de guerras passadas serem agitados para uso e benefício dos que agora pretendem suscitar ódio e adesão a políticas nacionalistas ou imperialistas.
Porém o 72º aniversário deste horrendo crime contra a humanidade que foram os bombardeamentos nucleares de Hiroshima e Nagasaki ocorre num contexto mundial de perigo acrescido para a paz e a segurança dos povos. Todos os observadores estão de acordo que esta «guerra fria 2.0», além de ser carente de qualquer significado e justificação aceitáveis colocam o Globo terrestre inteiro numa situação de perigo idêntica ou superior à «Crise dos Mísseis de  Cuba» que colocou as duas super-potências de então à beira do confronto nuclear.
Acho importante rever e divulgar as circunstâncias históricas que rodearam o lançamento de bombas nucleares deliberadamente sobre populações inteiramente indefesas, num país absolutamente derrotado e cujo governo implorava pela abertura de negociações com vista à rendição. 
Muito mais do que um ato bárbaro de vingança por parte dos vencedores, foi um ato bárbaro de afirmação de poderio da superpotência triunfante e de aviso e ameaça muito direta aos aliados da véspera (a União Soviética). 
Assim, este crime contra a humanidade está inteiramente por julgar, por avaliar seriamente, por historiadores e pelos cidadãos, pelos professores e pelos autores de manuais escolares. Enquanto tal assim for, será mais difícil para muitas pessoas compreenderem porque razão a luta pela paz, pelo desarmamento geral, pela interdição das armas nucleares, é uma luta absolutamente prioritária. Será mais difícil, porque as pessoas comuns não imaginam que dirigentes e governos supostamente «democráticos» e lutando contra o fascismo, como foi o caso de Truman (e de Roosevelt), possam dar ordens criminosas, não por engano, mas com pleno conhecimento das consequências, para jogarem no tabuleiro do «jogo de xadrez das superpotências».

Quem pensa que eu estou interessado em levantar esta questão por «anti-americanismo», está completamente equivocado, pois eu amo o povo americano assim como todos os outros povos da terra. Não deixo de ver, justamente por isso mesmo, a necessidade de nos educarmos em relação aos poderes estatais que se autorizam (a si próprios!) a usar todas as armas proibidas e que as proíbem aos outros (menos fortes), sem a mínima preocupação humanitária, usando cinicamente os discursos do medo e do engano permanente para manterem adormecidas as consciências dos seus cidadãos.  

quinta-feira, 20 de julho de 2017

CAMINHOS DE PAZ NA PENÍNSULA COREANA

         

Pode-se ter uma opinião muito negativa sobre a dinastia vermelha que reina em Pyongyang. A media ocidental gosta de retratar o líder da Coreia do Norte com roupagens de extravagante e cruel déspota. Tudo o que fazem é reforçar preconceitos, como o de que o «comunismo» necessariamente conduz a monstruosidades como esta, ou ainda que a «raça amarela» é fanática e tem uma obediência cega ao líder carismático. 

Mas, interessará discutir numa base moral ou racial os regimes e as suas políticas? Não seria mais produtivo e inteligente fazer-se uma avaliação pragmática das políticas internas e externas dos diversos países? 

Com efeito, a estratégia da Coreia do Norte, no que toca à sua defesa, é tudo menos estúpida
É uma estratégia destinada a meter medo aos EUA, o país que nos anos da guerra da Coreia, ameaçou o Norte com o lançamento de uma bomba nuclear, que efectuou sistemático «carpet bombing» contra áreas industriais e aldeias na Coreia do Norte, crime de guerra na escala do genocídio. 
Evidentemente, isso não é ensinado nas escolas ou difundido na media de nenhum país ocidental, nem tãopouco nas escolas e media da Coreia do Sul. 
Os seus episódios dramáticos estão presentes na memória do povo da Coreia do Norte. 

Nós sabemos que o Iraque não tinha «armas de destruíção maciça» e o Pentágono e a CIA também sabiam o mesmo; porém houve uma campanha de provocações, culminando com uma cena teatral de Colin Powell na ONU, agitando um frasquinho como «prova» de que os iraquianos tinham armas de destruíção maciça e que se tinha de derrubar o ditador. 
O mesmo se passou em 2014, quando fizeram crer que um ataque usando armas químicas contra civis, da autoria dos terroristas islamitas que combatiam Assad, tinha sido obra do regime sírio. O que evitou uma invasão pelo «virtuoso» polícia mundial e seus vassalos, foi - por um lado - a Câmara dos Comuns britânica ter negado ao primeiro ministro Cameron o apoio à guerra na Síria, com o «Grande Irmão» americano, e - por outro lado - a proposta russa de desactivar e retirar todas as armas químicas na posse do regime sírio, proposta essa que foi aprovada e implementada pela ONU. 
Podemos ver pelos exemplos acima que os EUA atacam, bombardeiam, invadem, quando têm a certeza que o outro país está incapaz de se defender, de realizar um contra-ataque devastador. 

Como dissuasor de tais ataques, o programa  norte-coreano de desenvolvimento de mísseis balísticos intercontinentais e de bombas nucleares faz todo o sentido. 
O regime da Coreia do Norte não poderia aguentar-se face às ameaças permanentes da maior potência militar que jamais existiu no Planeta, sem uma forma ou outra de retaliação, suficiente para deter o ímpeto dos neocons, com suas delirantes doutrinas de hegemonia planetária. Estes têm dominado a política externa de Washington, desde de Bill Clinton, até hoje.  

Outro dado do problema, a política de mais de seis décadas (!) na região manteve sempre o status quo entre as duas Coreias, por uma simples razão: durante o período da guerra fria, de 1954-91, e depois, mantiveram-se e consolidaram-se dois regimes totalmente opostos, em termos de valores, de política, de economia, de alianças, de modos de vida e de cultura, na península da Coreia
A unificação da Coreia parece apenas um objectivo longínquo, que os dirigentes costumam introduzir nos seus discursos, para ir ao encontro dos sentimentos das massas, as quais têm parentes ou amigos de um e outro lado da linha de demarcação que faz as vezes de fronteira entre as duas Coreias. Mas, do ponto de vista das potências externas esta situação de «nem paz, nem guerra» permitiu que elas se imiscuíssem nos assuntos da península coreana. 
Nomeadamente, os EUA mantiveram - desde o tempo da guerra da Coreia até hoje - um exército de 35 mil homens, pelo menos, além de um número elevado de civis que dão apoio a bases militares americanas na Coreia do Sul. 
Esta situação não poderia continuar se os dois regimes se entendessem, se baixarem as ameaças de parte a parte, se houvesse um tratado de paz, passados 63 anos sobre o fim da guerra da Coreia. Este tem sido repetidas vezes proposto por parte da Coreia do Norte e persistentemente negado do lado americano, sob os mais diversos pretextos.  
Os mísseis THAAD, supostamente defensivos, são - na verdade - ofensivos. Com efeito, a decisão de serem disparados como retaliação contra o inimigo do Norte, ou em «prevenção» contra uma (suposta) ameaça, está inteiramente nas mãos dos americanos. 
O novo presidente da Coreia, Moon Jae-in, teve um primeiro amargo de boca diplomático e militar, pouco depois de ter assumido a presidência, ao verificar que o número e localização desses sistemas de mísseis lhe tinham sido ocultados e que se preparavam para instalar ainda mais sistemas sem o seu conhecimento, sem a prévia autorização do chefe de Estado da Coreia do Sul.
Neste contexto, o duo Rússia-China tem feito esforços para apaziguar, para levar os lados a sentarem-se à mesa de negociações. 

Contrariando a rígida política de «guerra fria», a Presidente destituída Park Geun-hye, apesar do seu conservadorismo, continuou e aprofundou as boas relações com a China. 
As relações económicas e comerciais desenvolveram-se: muitos produtos industriais coreanos são hoje fabricados na China e há um constante afluxo de turistas chineses à Coreia do Sul. 

A política sul-coreana em relação ao regime do norte foi, em momentos recentes da História, pautada por realismo e por um desejo de aproximação passo a passo: isso traduziu-se pela abertura de centros de manufatura industrial sul coreanos, em território da Coreia do Norte. 
Kim Dae-jung, o presidente que protagonizou essa política, recebeu o prémio Nobel da paz, mas o seu partido não conseguiu manter-se no poder e entretanto, com a «guerra contra o terror» decretada por George W. Bush, houve um re-alinhamento mais estricto da política externa coreana com as posições americanas.

Durante os dois mandatos de Obama, tanto em relação ao Irão como à Coreia do Norte,  a política de sanções e a ameaça do uso da força têm levado ao fechamento (previsível) e à consolidação (previsível) destes regimes em face da ameaça externa. 
A guerra económica é uma forma de guerra e não menos cruel do que as guerras «quentes»; lembremos que Madeleine Albright (secretária de Estado de Bill Clinton) declarou que as sanções contra o Iraque «tinham valido a pena», apesar da entrevistadora lhe ter lembrado as cerca de 500 000 mortes de crianças iraquianas provocadas pelas mesmas. 

Analogamente, as fomes de que se fala em relação à Coreia do Norte, não terão a ver, tanto com a incompetência ou insensibilidade dum regime ditatorial em relação à sua própria população, mas antes com as severas sanções económicas que o «Ocidente», sob a batuta dos EUA, impõe a este país. 

Agora - apesar duma adminstração Trump incapaz de se libertar da chantagem e sabotagem dos «neocons», que continuam a dominar o «Estado profundo» - surgiu uma  nova possibilidade de abertura, com o novo presidente Sul-coreano propondo conversações directas  Norte - Sul, ao nível de chefias militares e da Cruz Vermelha. 
Isto seria uma boa base para diminuir as tensões e riscos de uma guerra se desencadear devido a um simples erro humano, como tem hipóteses de acontecer nos cenários onde existem armas sofisticadas, programadas para automaticamente detetar e reagir a quaisquer invasões inimigas do espaço aéreo.

               Foto de Ann Wright.

Na guerra fria Nº1 houve várias circunstâncias em que se esteve próximo de se desencadear uma guerra EUA- URSS por engano. Lembro-me do exemplo de um bando de gansos selvagens ter sido captado nos radares de um dos lados e tomado por uma esquadrilha de aviões invasora ...

Igualmente prometedora é a linha de comboio trans-coreana, que permitirá o transporte de produtos da Coreia do Sul por via terrestre, via Sibéria, para a Europa: esta será um importante troço do gigantesco projecto One Belt One Road, levado a cabo pela China, Rússia e pelos países seus aliados.
Os interesses económicos partilhados, a estratégia «win-win», são o meio mais seguro de garantir que se preserva a paz. 



Uma potência mundial em ascenção, a China, tem esta postura. Outra, em decadência acelerada, os EUA, agarra-se à política do «pau e da cenoura». 
- Como evoluirão a curto-médio prazo? 
Não sei, mas vendo os conflitos e guerras presentes e o potencial de destruição das grandes potências, parece-me que nunca foi tão necessário evitar a guerra, consolidar a paz.

quinta-feira, 3 de novembro de 2016

UM FATOR QUE PODERÁ MUDAR TUDO

É bem conhecido o conceito de «Cisne preto» de Nassim Taleb. Resumindo, ele assume que - em qualquer situação - existe sempre um risco não avaliado e impossível de avaliar. O risco de algo devastador vem então, muitas vezes, de um acontecimento com muito pouca probabilidade estatística, ou que é percebido como irrelevante pelo público, ou ainda cujo grau de verosimilhança é considerado muito baixo. 


Porém, existe outro conceito, o de «Dragão branco», ou seja, quando um acontecimento é praticamente certo, está à vista de todos, mas cuja importância é sistematicamente menorizada, cujo desenlace não é considerado. Este conceito também está relacionado com o preconceito de que «o que foi ontem, será também hoje e de novo, amanhã», o preconceito da normalidade.

Tudo isto vem a propósito de momentos ímpares que estamos a viver na História Mundial e... Não, não me estou a referir à disputada eleição para a presidência dos EUA entre Trump e Clinton! Este fenómeno, os prognósticos que enchem a média do mundo inteiro, é o epifenómeno, o qual não mudará um iota ao conteúdo do «Dragão branco». 
Justamente, os factos que irei brevemente descrever são importantes, são relevantes, estão à vista de todos, porém apenas algumas pessoas conseguem avaliá-los ao seu justo valor. Poucos conseguem ver para lá do instante presente, conseguem equacionar corretamente este momento como sendo um momento charneira do Mundo.

Não estou a exagerar: a dívida mundial - quer privada quer dos Estados - está fora de qualquer noção humanamente concebível, dizem-nos os especialistas em finanças que atinge os quatriliões.
maior devedor do Mundo inteiro é sem sombra de dúvida os EUA, sendo a sua dívida PÚBLICA per capita muito maior do que chamadas «repúblicas bananeiras». Este grande devedor é, perigosamente, detentor do maior arsenal de armas nucleares e outras armas de destruição maciça, além de que o seu orçamento bélico ultrapassa as despesas armamentistas dos restantes países do globo combinados. Os gastos com «defesa» nos EUA equivalem a 37% desses gastos no mundo inteiro.
O banco central dos EUA tem liderado a hiperinflação monetária, ou seja, a produção de dinheiro eletrónico sem qualquer contrapartida, o qual vai para as contas dos bancos mais poderosos. Ele é acompanhado, verdade seja dita, pelos bancos centrais da maior parte dos países «ocidentais» (Japão incluído), fazendo a compra de ativos tóxicos dos diversos bancos, permitindo assim que bancos tecnicamente falidos continuem a existir e  - pior ainda  -permitindo que o valor do dinheiro seja completamente sabotado por dentro. Isto traduz-se na maior investida contra as poupanças, contra os direitos das pessoas a receberem as suas pensões, na proporção daquilo que ganharam durante uma vida de trabalho. 

Tudo isto terá em breve um fim inevitável, pois não existe de facto, nenhum mecanismo para eliminar uma dívida de maneira real e autêntica, além do seu pagamento. A política dos bancos centrais ocidentais é supostamente para «ajudar» a economia, a retoma económica. Desde quando é que a inflação e deflação conjugadas podem causar «um choque, uma chicotada» para fazer disparar a economia? É evidente, mesmo para quem não tem a mínima noção do funcionamento da economia que esta é uma justificação absurda! Não, eles procedem assim para tornar os juros da dívida mais suportáveis e pensam também que, se cada dólar, ou euro, ou outra divisa, valer muito menos, embora nominalmente a dívida desse banco ou desse Estado se mantenha, ela diminui na prática, será mais fácil pagá-la. Mas, ao se atribuírem o poder de destruir o valor do dinheiro (que é uma representação de valor: ou seja,  o dinheiro é valor que foi recebido  - algures no passado - em troca de bens ou serviços) estão a destruir a base do sistema financeiro capitalista, no qual assenta a ordem económica mundial.

A desordem é causada, não por imperícia, não por estupidez, mas por cálculo: a ordem mundial não pode perpetuar-se mais nos termos em que está. A oligarquia que nos governa percebe isso. Está apostada em modificar o sistema mundial, não para nosso benefício, mas para manutenção do poder imenso de meia-dúzia. Tem estado a socavar, a destruir a base monetária do sistema, porque se considera capaz de substitui-lo por um novo sistema, mais favorável ainda do que o anterior.
No sistema ainda em vigor, os ativos de qualquer espécie eram/são contabilizados numa moeda. Esta moeda (seja ela qual for) funciona aqui como unidade de contabilidade. Mas ela também é um repositório de valor. A situação catastrófica de hiperinflação é aquela em que uma pessoa recebe o seu salário e no dia seguinte ele já vale muito menos, em termos de poder de compra. Isto faz com que as pessoas vão tentar livrar-se do dinheiro o mais depressa possível, comprando coisas que necessitam ou que pensam venham a necessitar algum dia, ou mesmo que pensem que poderão de futuro trocar por outras coisas, antes que esse dinheiro do salário perca ainda mais valor. 
Ao fornecer somas colossais aos bancos comerciais para os manter «a flutuar», os bancos centrais estão, não apenas a criar dinheiro a partir de nada, como estão a fazer crescer um risco, o de que o tal dinheiro passe das contas dos mesmos bancos e seja «lançado na corrente» da economia real, nos negócios, nas empresas, nas famílias... É como um rio que está bloqueado por uma barragem: a montante, a água vai acumulando-se e apenas corre para jusante uma quantidade pequena e controlada; mas uma brecha pode fragilizar o betão da barragem e esta pode ceder à enorme pressão da água... Todas as terras a jusante serão inundadas bruscamente, sem possibilidade de salvar seja o que for. Este é o risco que os bancos centrais dos países ocidentais estão a criar. 
Mas, pior ainda, é isto: Eles estão conscientes, fazem isso deliberadamente para obterem a justificação para a tal nova ordem mundial em que a respetiva divisa internacional e de reserva seria apenas e só uma... 
Tem todas as probabilidades de ser decalcada sobre o SDR (Direitos de Saque Especiais - moeda contabilística do FMI) controlada por um FMI «reformado», transformado para o efeito numa espécie de «ONU financeira». 
Enquanto divisa de reserva mundial não seria possível ser possuída por pessoas ou instituições privadas, seria antes uma moeda inteiramente digital, regulada pelo consórcio dos bancos centrais. Dentro de cada país continuaria a circular a respetiva moeda; mas eles querem abolir o papel-moeda, para que nenhuma transação deixe de ser processada digitalmente, o que poria os cidadãos inteiramente à mercê dos bancos e dos Estados. O câmbio duma moeda nacional noutras já não poderá flutuar, porque quaisquer moedas nacionais terão como referente essa tal divisa única mundial (no fundo, um retomar da ideia do «Bancor» de Keynes, que ele não conseguiu fazer vingar em Bretton Woods).

Este é o plano. Parece-me muito perigoso, pois muitos milhões de pessoas ficarão empobrecidas, nomeadamente, as pessoas que detêm grande percentagem do seu património sob forma de ativos financeiros, como obrigações (quer de empresas, quer de Estados), ações, contas-poupança, participações em fundos de investimento: todos estes ativos poderão ser desvalorizados, em termos reais, na ordem de 50 a 70%.
As alternativas aos ativos financeiros são diversas; irei apresentar os casos do imobiliário, dos metais preciosos, da terra agrícola, da arte e objetos de coleção:
- Podia-se pensar que o imobiliário é um valor-refúgio. Porém, no imobiliário também há uma grande parte que está inflacionada. Inevitavelmente, neste setor, a porção mais inflacionada - o setor de imobiliário de luxo ou de elevadas rendas - sofrerá: porque é este que está sujeito a uma maior perda de valor quando a hiperinflação se libertar.  
- Outras pessoas apostam em metais preciosos como forma de contrariar a grande onda de desvalorização acelerada das moedas. O risco, neste caso, é a dificuldade em conseguir uma transação justa. Um metal precioso (ouro ou prata) é visto como repositório de valor, uma função tipicamente monetária, mas é negociado como mercadoria, matéria-prima, sujeito a momentânea variação de preço, em função da oferta e da procura. 
Os países do Oriente (Estados e particulares) estão a comprar grandes quantidades de ouro, nomeadamente na China, pois estimam que podem assim contrariar os desígnios dos países ocidentais de levar as divisas próximo de zero. Além do que é comprado oficialmente, no caso da China, há muito mais ouro que é comprado e mantido fora das estatísticas oficiais. Desde a transição de Deng Xiao Ping e sobretudo desde os anos 2000, que os chineses são encorajados pelo próprio governo a adquirirem ouro.  
- Outras pessoas apostam nas terras cultiváveis, com rendimento agrícola no presente ou que possam facilmente ser cultivadas. Há também notícia de grandes investidores privados e de Estados (novamente, o caso da RP da China) a comprarem terras em múltiplos locais: principalmente, na América Latina e África subsaariana, mas noutros locais também, na Europa e nos EUA.  
- Um mercado que tem estado a crescer imenso é o das obras de arte e de objetos de coleção, mas no segmento de mercado dos preços apenas abordáveis por bilionários, ou bancos, ou grandes firmas. Uma obra de dezenas de milhões torna-se um veículo de investimento, na medida em que daqui a uns poucos anos o seu detentor possa vendê-la de novo por uns milhões mais do que seu valor de compra atual. Para peças de baixo valor (abaixo de 5 mil euros, por exemplo), por contraste, tem havido uma descida ou estagnação dos preços. Neste último caso, os compradores potenciais serão sobretudo pessoas da classe média, a que tem estado a perder mais com a crise.   

Para a esmagadora maioria das pessoas, o que se está a passar é realmente um pesadelo económico, um acréscimo de incerteza e um aumento de angústia em relação ao amanhã. 
Muito poucas têm consciência clara de quem são os atores e as forças realmente responsáveis pela crise mundial. 


A média corporativa tem tido um papel avassalador: de facto, estão constantemente a emitir propaganda favorável aos grandes interesses corporativos e financeiros. Porém, esta é apresentada como sendo «notícias»! A imensa maioria das pessoas ainda não percebeu como está a ser manipulada na sua perceção. Se as pessoas comuns tivessem uma noção clara da realidade que se descreveu acima, o jogo dos poderosos não seria tão fácil ou mesmo, não seria possível.