quinta-feira, 31 de outubro de 2024

O NAUFRÁGIO DA UNIÃO EUROPEIA [Frédéric Farah]

 

https://www.youtube.com/watch?v=ZpxX0EPPJCc&t=2849s

COMENTÁRIO:

A União europeia tornou-se - a partir de Maastricht - numa modalidade de dominação neocolonial dos países nórdicos sobre os países do Sul. 

Apesar de todo o chinfrim e lamúrias feitas por alemães e outros, os países do Sul (os «PIGS»= Portugal, Itália, Grécia, Spain), foram sistematicamente arredados da competição nos domínios mais tecnológicos, embora à partida devessem ser os favorecidos, isto se a «fábula» da aproximação dos níveis de desenvolvimento e de vida, fosse mais do que a forma de «embrulhar» os povos na ilusão, para aceitarem o desaparecimento de uma parte considerável da sua soberania, ou seja, a renúncia a cunhar moeda própria. 

A incapacidade de desvalorizar a moeda nacional (visto não existir mais este instrumento de soberania) obriga a que a desvalorização do trabalho assalariado seja a única variável possível - em regime de mercado único - para conseguir aguentar a competição com países concorrentes comerciais mais fortes. 

Assim, de forma institucional, os governos do Sul foram «convidados» a implementar políticas de austeridade, que significam estagnação e sofrimento económico e social para os respetivos povos: Basta comparar os níveis de desemprego no Norte da UE e no Sul, no período considerado, nos anos entre 1992 e 2022.  

Durante algum tempo, as pessoas dos países do Sul foram iludidas e julgaram que realmente iriam alcançar os padrões de bem-estar dos países do Norte. Mas, as sucessivas políticas de austeridade, além da enorme fuga de capitais, fizeram com que - numa proporção maior que os ricos - fosse a classe trabalhadora (operariado + classe média) a sustentar a maior parte das despesas do Orçamento, com os seus impostos. 

- Na ausência de significativo investimento nos domínios tradicionais suscetíveis de crescerem numa primeira fase (por exemplo, as indústrias alimentares, as confeções, etc.) houve uma invasão dos produtos do Norte. 

- Não só a viabilidade de pequenas e médias empresas industriais dos países do Sul ficou posta em causa, com o desemprego correlativo, como também foram destruídos muitos postos de trabalho a montante e a jusante, na agricultura  e nos serviços. 

O balanço destas 3 décadas de União Europeia pós-Maastricht, para os países pobres, não poderia ser mais triste. 

- Perderam a possibilidade de desenvolver aquelas áreas onde possuíam reais vantagens, em relação aos concorrentes europeus e mundiais. 

- Houve destruição de sectores inteiros, como as pescas em Portugal, por exemplo.

- Agravou-se a miséria, que somente foi minorada com o renovo de fluxos migratórios em direção às economias do Norte. 

- As indústrias do Norte europeu ficaram com um vasto mercado cativo, não apenas em relação a automóveis e outros produtos industriais, mas também em relação a produtos antes fabricados no Sul, cujas empresas agrícolas e industriais foram liquidadas. 

- Parte da classe política (incluindo à «esquerda») em Portugal, continua a alimentar o mito do sucesso do projeto da UE. Trata-se daquela pequena casta, muitíssimo beneficiada com prebendas e privilégios da UE e suas agências, mas sem qualquer contributo positivo para este país.


Frédéric Farah é autor de um artigo recente, sobre como se originou e quais as consequências da bolha no imobiliário em Portugal:

 https://elucid.media/economie/flambee-immobiliere-portugal-malheurs-deregulation-europeenne-frederic-farah

quarta-feira, 30 de outubro de 2024

PAÍSES OCIDENTAIS PRETENDEM CANCELAR O NOVO SISTEMA DE TRANSFERÊNCIAS DOS BRICS (MBRIDGE)



Se aquilo que Lena Petrova relata se confirma, que o BIS está na disposição de cancelar o M-BRIDGE, isto significa que o BIS está totalmente alinhado com os EUA e o «ocidente», já não é mais uma organização independente.
É um nível mais elevado na escalada da guerra económica do Império USA contra  os BRICS.
 
PS1: Esta louca corrida para a frente dos que controlam ainda parte substancial das finanças mundiais (bancos centrais ocidentais, o BIS, o FMI...) deve ser avaliada em função de dois fenómenos inquietantes (para eles):

1) A subida vertiginosa dos mercados na China (30% em dez dias), em resposta à descida das taxas pelo banco central chinês. 
2) A dificuldade em colocar obrigações do tesouro dos EUA (treasuries) a 2 e a 5 anos, levou ao aumento da taxa de juro e portanto, à diminuição do valor destas treasuries. 
Isto deve-se à expetativa dos investidores de que irá disparar a inflação nos EUA. Num primeiro momento, os EUA poderão conseguir exportar a inflação, como tem acontecido no passado. 
Mas, a partir de certo ponto, haverá uma relutância e depois recusa, nos outros países, em aceitar dólares em pagamento. Então, será o fim do domínio do dólar. 

 

COMPLEXO DE CULPA ALEMÃO E WOKISMO

 DISSECADO POR UM FILÓSOFO ALEMÃO

 

 O prof. Hans-Georg Moeller é professor na universidade de Macau.

terça-feira, 29 de outubro de 2024

SAIRMOS DAS ILUSÕES E ESTARMOS PREPARADOS

 

                                     https://www.youtube.com/watch?v=5x76O5lJcj0&t=2391s
(Entrevista com Yves Cochet,  ex-ministro da ecologia num governo da França)


COMENTÁRIO por Manuel Banet :
Os processos caóticos de crescimento das urbes em todo o mundo, fizeram com que a maioria da humanidade se acumule hoje em mega cidades. Estas, não apenas atraíram populações rurais que viviam nesses países, deixando extensões enormes de terras semicultivadas ou abandonadas, como também concentraram recursos económicos e consumindo cada vez mais matérias-primas, num ciclo de reforço positivo (ou «ciclo vicioso»). É muito visível que as fronteiras citadinas não cessam de se alargar, abrangendo vilas situadas em zonas periféricas, que se transformam em subúrbios da mega-urbe. 
A mega urbe como forma de organização do espaço, obriga a que crescentes quantidades de matérias-primas, sobretudo alimentares, sejam importadas e consumidas a  milhares de quilómetros dos locais onde são produzidas. Quanto aos países produtores e exportadores destes alimentos e matérias-primas, são - em regra - países com grandes carências económicas e humanas. Estão metidos noutro ciclo vicioso, complementar do ciclo vicioso do consumo nas grandes urbes. Como países frágeis economicamente, têm sido mantidos assim pelo neocolonialismo e pela «economia de mercado», por uma série de processos que implicam a troca desigual e o bloqueio do desenvolvimento autóctone. Entendo por «autóctone», o que é originado dentro destas sociedades e capaz de as emancipar da dependência externa.
Por outro lado, as tecnologias informática, cibernética, da Internet e outras, atingiram um desenvolvimento tal, que a vida em zonas rurais, outrora desprezada pelas classes ricas e médias nos países avançados tecnologicamente, se torna muito atrativa agora, enquanto a qualidade de vida nas grandes cidades se degrada. Se houver núcleos urbanos novos, ou antigos, mas rejuvenescidos, os entornos vão tornar-se produtores de bens agrícolas, artesanais e outros, se lhes for dada a oportunidade de escoar seus produtos e se não forem esmagados pelos hipermercados. 
Estas transformações não implicam uma revolução, implicam a planificação inteligente de espaços urbanos e rurais, a flexibilidade nos serviços de apoio, a visão clara e a determinação em criar condições favoráveis às pequenas e médias explorações agrícolas, às empresas da indústria transformadora e às redes locais de comércio e serviços, como as escolas, os centros de saúde, a construção e manutenção de estradas e caminhos-de-ferro, etc.
Este tipo de sociedade não é uma utopia, pelo contrário, é muito realista. Em várias zonas da Europa existiu e, nalgumas províncias, ainda subsiste. A geografia destas zonas inclui aglomerados urbanos de média dimensão, 10 a 50 mil habitantes, uma distribuição espalhada das aldeias e explorações agrícolas bem dimensionadas. 
Penso que o maior obstáculo para a concretização duma tal sociedade, mais equilibrada, reside na visão estreita e a curto-prazo, de políticos e de empresários.

O problema que se coloca, não é, portanto, o de procurar novas soluções técnicas; estas já existem e podem ser melhoradas no futuro próximo. O mais importante é a transformação das mentalidades. Urge sairmos da cultura de acumulação, típica do capitalismo, para uma cultura de autonomia funcional. Esta última não poderá ser implementada por uma elite ou oligarquia, que saberia o que é melhor para o povo, o qual apenas se poderia conformar com as ordens que emanam do alto.  
A cultura da autonomia funcional implica a transição dos atributos e das prerrogativas das instâncias centrais para as locais, sempre que isso seja possível e desejável. O objetivo desta transição seria de que nada continuaria a ser do domínio central, quando pudesse ser do domínio local, ou regional. 

Claro que tal processo é muito complicado. Aquilo que eu delineei acima é apenas a visão esquemática duma organização autenticamente sustentável. A minha ênfase é deliberadamente na organização social e política, em detrimento da insistência na mudança dos comportamentos individuais dos cidadãos. Considero que esta ênfase, não apenas está mais de acordo com o conceito de justiça social, mas também que aponta o caminho mais realista. Como implementá-lo, é a grande e decisiva questão. 
Mas, qualquer grande caminhada tem de começar com um primeiro passo...

segunda-feira, 28 de outubro de 2024

RECORDANDO BILLIE HOLIDAY (Segundas-f. musicais, nº24)


 A voz de Billie Holiday tem-me acompanhado nos bons e maus momentos, como se fosse uma secreta mensagem, dando-me coragem ou alegria, conforme as situações...   Porque tudo me soa perfeito nestas gravações, a voz e o acompanhamento dos músicos. Uma «cançoneta na moda», interpretada por ela, transforma-se num pequeno cofre cheio de joias.  Confesso-me incapaz de fazer uma lista definitiva das gravações da Lady 'Day, embora tenha tentado. Há uma autenticidade nestas gravações, uma perfeita adequação interpretativa, que raramente encontro noutras vozes do jazz. Há interpretes de quem gostamos tanto, que queremos nos apropriar das suas canções, da sua arte. Mas, afinal, acabam por ser eles a apropriarem-se de nós!!

Aqui têm a «playlist» RECALLING BILLIE. Mergulhem no seu universo sonoro: Verão que as melodias e letras, na sua voz, carregam muita energia. Não sei explicar a atração que sinto, mas acabo sempre por voltar à Billie Holiday.

  Playlist RECALLING  BILLIE 



ATUAÇÕES AO VIVO:









sábado, 26 de outubro de 2024

OPUS VOL. III nº 28: IMPENITENTE

 


Há um cadafalso que te espera

Impenitente verdadeiro

Fugidio relapso 

Insensato herege

Amante da vida 'té à morte

"Ela que entre" dizes, sorrindo

"E nos teus braços se extinga 

O fraco pulsar do coração".


Murtal, Parede

Outubro, 2024


OPUS. VOL. III nº27: REGISTO



Vivi em parte incerta, em tempo remoto

Dos humanos desprezado, confidente dos bichos

Sua língua falei;  foi também a minha

Desenhei quantas nuvens se desdobram no céu

Fui escrivão de sonhos, as palavras eu comi

E o vento, d'erva fresca temperado, eu bebi 

Debaixo de terra permaneço; aqui fico

Tranquilo espero a eternidade.